segunda-feira, 17 de outubro de 2011

SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA

(+ cerca de 110).

Segunda-feira, 17 de Outubro de 2011

Texto de Leitura: Lc 12, 13-21

No dia 17 de outubro celebramos a festa de Santo Inácio de Antioquia. Ele é bispo de Antioquia no começo do século II, no momento em que a Igreja tem 50 anos de existência. Sob o imperador Trajano da Síria (85-117) ele foi preso e condenado às feras na arena em Roma. Durante a travessia a Roma, ele escreveu sete cartas: quatro de Esmirna dirigidas às Igrejas de Éfeso, Magnésia e Trales, na Ásia menor e três de Trôade. Em seguida escreveu aos romanos. Quem lê a carta dele aos Romanos aí encontra um dos testemunhos mais comoventes da fé, o grito do coração, que não pode enganar nem ser enganado, que comove porque diz a verdade.

Ele possui senso humano e respeito ao homem. Ele escreveu: “A dificuldade não está em amar os homens todos, mas em amar cada um deles; e em primeiro lugar, o pequeno, o fraco, o escravo, aquele que nos magoa ou que nos faz sofrer. Amar suficiente homens para corrigi-los sem feri-los”.

Ele conquistou o domínio de si a custa de paciência, palavra que lhe é querida e que o caracteriza e chegou ao amadurecimento que muda sua lucidez em vigilância, sua força em persuasão, sua caridade em delicadeza. À vaidade ele opõe a humildade, às blasfêmias a exortação, aos erros a firmeza da fé, à arrogância uma educação sem falha. Ele não dá ordens, mas prefere convencer. Não precipita nada, mas acha melhor esperar. Ele transforma sua crítica em humildes sugestões.

Inácio não tem outra paixão senão a de imitar o Cristo. Para ele só importa uma coisa: alcançar Deus: “Como é glorioso ser um sol poente, longe do mundo, em direção a Deus. Que eu me possa levantar em sua presença”.

Sobre a eucaristia ele escreveu: “Em mim já não existe atração pela matéria; só há uma água viva que murmura dentro de mim dizendo-me: Vem para o Pai. Não encontro mais prazer no alimento corruptível nem nas alegrias desta vida; o que desejo é o Pão de Deus, este Pão que é a carne de Jesus Cristo, o Filho de Davi; e, como bebida, quero o Seu Sangue, que é o amor incorruptível”. E acrescentou: “Não ofereçais ao mundo quem deseja ser de Deus, não o enganeis com a fascinação da matéria. E não sejais dos que invocam Jesus Cristo mas desejam o mundo”.

Inácio não tem outra paixão senão a de imitar o Cristo: “Que nada de visível ou de invisível me impeça de alcançar Cristo. Que todos os tormentos do demônio se desencadeiem sobre mim, contanto que eu alcance o Cristo... Para mim, é mais glorioso morrer pelo Cristo do que reinar até os limites extremos da terra. E a ele que busco, ele, este Jesus que morreu por nós. É ele que eu quero, ele que ressuscitou por nossa causa. Neste momento é que começarei a viver”.

A todas as comunidades ele recomenda a caridade e a fé. A fé é o princípio, a caridade, a perfeição”. A união das duas é o próprio Deus; todas as outras virtudes formam o seu cortejo, para conduzir o homem à perfeição”.

E diante do seu martírio iminente ele escreveu: “Deixai-me ser pasto das feras, pelas quais chegarei a Deus. Sou o trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras para tornar-me o pão puro de Cristo. Para mim, é melhor morrer para ir ao encontro de Cristo Jesus do que reinar sobre as extremidades da terra. É a ele que procuro, ele que morreu por nós; é a ele que quero, ele que ressuscitou por nós. Meu nascimento aproxima-se...Permiti que eu seja um imitador da paixão de meu Deus...Meu desejo terreno foi crucificado e já não há em mim ardor para amar a matéria, mas uma água viva que murmura em mim e que diz no meu interior: Vem para o Pai...”.

Ele foi o primeiro a empregar a expressão “Igreja Católica” numa carta que escreveu aos cristãos de Esmirna pelo ano 110 em que diz: “Onde está o Bispo, aí deve estar a multidão dos crentes; assim como onde está Jesus Cristo, aí está a Igreja Católica”(Ad Smyr.8,2). A expressão “Igreja Católica” não se encontra na Bíblia; a idéia, porém, que Jesus Cristo e os Apóstolos nos dão da Igreja está bonissimamente expressa no vocábulo grego “católica” que significa “universal”.

“O martírio de S. Policarpo” (155) emprega a expressão “Igreja Católica” em três passagens diferentes (8,1;16,2;11,2).

No princípio do século III já era evidente o sentido dogmático da palavra “católica”; a verdadeira Igreja é a Igreja chamada “católica”. Tertuliano quando fala da Igreja, chama-lhe “católica”. Outros padres da Igreja como Clemente de Alexandria, Orígenes citam também este vocábulo. Santo Agostinho emprega a palavra “católica” 240 vezes como sinônimo da Igreja.

Que este santo nos interceda para que tenhamos o espírito de desprendimento, de maturidade, de caridade e fé inabalável diante de qualquer desafio e dificuldades e que saibamos testemunhar tudo isso.
 
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Reflexão sobre o evangelho do dia: Lc 12,13-21


POSSUIR OS BENS SEM SER POSUIDO POR ELES

Atenção! Guardai-vos de todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens”, alerta-nos Jesus através do evangelho deste dia (Lc 12,15).

O homem é sempre tentado a buscar sua salvação nos bens, a pôr nas riquezas sua segurança. O cristão deve estar vigilante contra essa tentação insidiosa /cheia de ciladas. Os bens não asseguram nem a mesma vida, menos ainda a salvação. Num leito de morte todo poder e toda riqueza caíram no chão. O homem da parábola dialoga consigo mesmo. Este diálogo falha na ordem de salvação. Faltam-lhe interlocutores. Não intervém Deus. Não intervêm os demais homens, pois esse homem fala consigo próprio (fala sozinho). O homem foi feito para a comunicação, foi feito para a comunhão. Ninguém foi feito para o isolamento. A comunhão sugere calor, compreensão e abraço. Quando ficamos isolados, estamos propensos a ser prejudicados. Sentir-se integrado mantém a pessoa em equilíbrio. Os antigos e eternos valores da vida humana: verdade, unidade, solidariedade, bondade, justiça, honestidade, amor e assim por diante, são afirmações da verdadeira comunhão ou integração. Podemos possuir tudo que o mundo tem a oferecer em termos de status, poder, realização, e bens, no entanto, sem nos sentirmos integrados, tudo isso parece vazio e inútil.


Bloquear a vida: este é o grande pecado do homem rico na parábola. Ele acreditava que podia comprar a vida, encerrá-la, dominá-la. Pensava “agarrar” a vida. Mas a vida se escapa dele: “Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?”, diz-lhe Deus (Lc 12,20).


A riqueza não é algo diabólica (diabólico é aquilo que divide o homem [por dentro ou entre si]. O contrário do diabólico é simbólico, isto é, duas coisas que se encaixam bem); o faz diabólico o uso que o homem faz dele. Tampouco é um poder que escraviza por si. A riqueza nenhuma tem poder de escravizar. O homem é que se faz escravo dos seus bens ou quem a utiliza para escravizar seus irmãos. O dinheiro é satânico quando o homem, ao servir-se dele, não tem outro horizonte. Mas o dinheiro é um bem quando o homem o utiliza para a felicidade dos demais. Mesmo sendo rico, quando o homem partir deste mundo, ele não terá mais poder sobre suas riquezas. São os vivos que determinarão o uso da riqueza deixada.


A cobiça pode ser de dinheiro, e também de fama, de poder, de prazer, de ideologias e assim por diante. Mas sempre é idolatria, porque pomos nossa confiança em algo frágil e caduco e não nos valores duradouros, e isso nos bloqueia outras coisas mais importantes. Tudo isto não nos deixa sermos livres, nem sermos solidários com os demais, nem estarmos abertos diante de Deus.


Ser rico diante de Deus significa dar importância àquelas coisas que levaremos conosco na morte: as boas obras, a caridade praticada na verdade. É saber compartilhar com os outros nossos bens que é uma riqueza que vale a pena diante de Deus.


No fundo, Jesus quer nos dizer que nem o trabalho nem o capital (dinheiro) será a última palavra sobre o homem; tanto o um como o outro se fica sem resposta diante da morte, e a morte é a maior questão que persegue o homem. É preciso buscarmos as coisas do alto para superar esta questão, pois Deus rico em misericórdia, que vivificou Jesus, nos vivificará também.

P. Vitus Gustama,svd

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