SER QUEIMADO E PURIFICADO PELO FOGO TRAZIDO POR JESUS
Quinta-feira, 20 de Outubro de 2011
Texto de Leitura: Lc 12, 49-53
“Eu vim lançar fogo à terra, e que tenho eu a desejar se ele já está aceso? Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas divisão”, diz o Senhor no evangelho deste dia.
A metáfora do “fogo” é muito usada em qualquer literatura antiga e moderna, com significados diversos: pode significar purificação, renovação, amor etc.. Na tradição bíblico-profética, o “fogo” é um elemento purificador que consome as impurezas. Na linguagem bíblica e apocalíptica “fogo” significa também juízo que supõe o fim do mundo e o início do outro. O fogo é o sinal do julgamento que, como o fogo, purifica e consome (cf. Lc 17,29-30). Vir trazer fogo à terra significa, então, que a presença de Jesus tem a força de purificar o mundo da impureza, do egoísmo, da desigualdade, da discriminação, da exclusão e assim por diante. Através da purificação dessas impurezas a graça tem seu lugar para brilhar em todo seu esplendor. Por isso, a divisão imposta por Jesus significa a eliminação da ilusória convivência do bem com o mal, pois ninguém pode servir a dois senhores.
O fogo de Jesus é o mesmo Reino de Deus que traz um elemento destruidor de pecado. É o fogo que vai queimando as impurezas dos homens, destruindo a arrogância (altivez) dos soberbos. Não poderá surgir a nova humanidade, se não forem destruídas as estruturas que oprimem o homem por dentro e por fora. Este fogo do Espírito destrói e purifica ao mesmo tempo. Jesus é o portador do fogo de Deus sobre a terra. Neste sentido sua missão fundamental consiste em purificar o homem velho ao destruir o que se encontra pervertido nele. Jesus proclama uma mensagem que é fogo, que coloca as consciências diante de sua própria verdade profunda. Conseqüentemente causa divisão: ou opta pela verdade que é o próprio Jesus (Jo 14,6) que significa salvação ou manter-se na falsidade e mentira que tem como resultado final, a perdição eterna.
Jesus acendeu um fogo e nos convida a mantê-lo aceso; um fogo que deve queimar dentro da Igreja tantas coisas inúteis, tanto organismos estéreis e paralizantes, tantas palavras vazias, tantas falhas morais e éticas, e assim por diante. É preciso morrer o que é velho em nós para surgir o novo.
O que acontece quando esse fogo não fica aceso na Igreja e em cada um em particular? Quando é que esse fogo não fica aceso? Ele não fica aceso quando vivemos o cristianismo não como novidade original que nos renova permanentemente, quando vivemos sem nos opor às estruturas que criam na humanidade um estado de injustiça, de fome, da violação dos direitos humanos, de exploração dos pequenos e assim por diante. Não haverá esse fogo de Jesus quando tudo continua igual, quando os sacramentos não significam mais que um ato social que não nos levam para uma vida transformada. Não haverá o fogo de Jesus quando a instituição religiosa se contenta com repetir mecanicamente gestos ou ritos que os homens de hoje não entendem nem lhes interessam.
“Mas devo ser batizado num batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra!”, acrescenta Jesus. Jesus vive sua vocação/ missão como uma paixão. Este batismo do qual Jesus fala é sua própria morte assassinada, conseqüência do seu amor incondicional pelos homens, esquecendo-se de si próprio.
Jesus traz a paz, dá a paz, mas não a qualquer preço. Pôr-se ao lado de Jesus supõe uma opção, uma decisão e com freqüência romper com a vida anterior ou com os laços humanos familiares e sociais que não salvam. Somente acontecerá tudo isto, se o fogo de Jesus permanecer aceso na nossa vida e no nosso coração. Por isso, diante de Jesus não se pode ficar neutro.
P. Vitus Gustama,svd
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