terça-feira, 19 de abril de 2016

22/04/2016




FÉ PROFUNDA EM DEUS RESULTA NO CORAÇAO SERENO


Sexta-Feira da IV Semana da Páscoa


Primeira Leitura: At 13,26-33


Naqueles dias, tendo chegado a Antioquia da Pisídia, Paulo disse na sinagoga: 26 “Irmãos, descendentes de Abraão, e todos vós que temeis a Deus, a nós foi enviada esta mensagem de salvação. 27 Os habitantes de Jerusalém e seus chefes não reconheceram a Jesus e, ao condená-lo, cumpriram as profecias que se leem todos os sábados. 28 Embora não encontrassem nenhum motivo para a sua condenação, pediram a Pilatos que fosse morto. 29Depois de realizarem tudo o que a Escritura diz a respeito de Jesus, eles o tiraram da cruz e o puseram num túmulo. 30 Mas Deus o ressuscitou dos mortos 31 e, durante muitos dias, ele foi visto por aqueles que o acompanharam desde a Galileia até Jerusalém. Agora eles são testemunhas de Jesus diante do povo. 32 Por isso, nós vos anunciamos este Evangelho: a promessa que Deus fez aos antepassados, 33 ele a cumpriu para nós, seus filhos, quando ressuscitou Jesus, como está escrito no salmo segundo: “Tu és o meu filho, eu hoje te gerei”.


Evangelho: Jo 14,1-6


Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 1 “Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus, tende fé em mim também. 2Na casa de meu Pai, há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós, 3e quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós. 4E para onde eu vou, vós conheceis o caminho”. 5Tomé disse a Jesus: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” 6Jesus respondeu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”.
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Os capítulos 13 a 17 do evangelho de João constituem um “Discurso de despedida” de Jesus. Como os patriarcas do AT e outros grandes personagens ao saber de sua morte iminente se despedem de sua família fazendo recomendações importantes para eles (cf. Gn 49,1-28; 50,24-25; Dt 33; 1Rs 2,-9 etc.), assim também Jesus faz a mesma coisa para seus discípulos. Nestes capítulos encontramos vários ensinamentos de Jesus para quem quiser segui-lo.


Na ultima Ceia os discípulos estavam tristes e desorientados ao saber da despedida do seu Mestre que iria morrer. Por isso, antes de passar deste mundo ao Pai Jesus diz no texto do evangelho deste dia: “Não se perturbe o vosso coração”. Diante de sua morte iminente Jesus fica perturbado (cf. Jo 12,27; 13,21). Nesta despedida Jesus sente o que os discípulos sentem: coração perturbado. O verbo “perturbar-se” ou “agitar-se” é a tradução do grego “trassein”. “Perturbar-se” é o mesmo que se usa para descrever a emoção de Jesus diante da morte de Lázaro (Jo 11,33) e diante da traição de Judas que entregará Jesus à morte (Jo 13,21). Dar a morte a Jesus será o último ato de hostilidade por parte do mundo representado pelo ato de traição de Judas.


Em seguida, Jesus dá uma solução para o coração perturbado: “Tende fé em Deus, tende fé em mim também”. Encontramos o paralelo temático em Mc 11,22-24 quando Jesus diz a seus discípulos que tenham fé em Deus e que não haja dúvida no coração deles. O término hebraico com que designa a fé procede da raiz “ ‘mn “  e tem o matiz de firmeza. Ter fé em Deus significa participar da firmeza de Deus. A exortação de Jesus para que os discípulos tenham fé nele é algo muito mais que um pedido de um voto de confiança. Os discípulos devem ter fé em Jesus porque a fé vence o mundo (1Jo 5,4) ao unir-se a Jesus que venceu o mundo (Jo 16,33).  Jesus é o nosso Caminho, nossa Verdade e nossa vida. Ninguém ficará perdido nem enganado nem ficará desanimado nesta vida, se estiver sempre com Ele.


Segundo a concepção do AT, a fé é um apoiar-se do homem no fundamento vital divino que lhe confere vida e existência; um entregar-se sem reservas, e confiado na promessa, bondade e lealdade de Deus. Justamente neste sentido não é possível crer em tudo. Ou o homem crê em Deus ou crê em nada que terminará no nada. Evidentemente não é possível crer em nada do mundo, e sim somente em Deus, pois só Deus, o Criador do universo, é capaz de responder aos anseios profundos do homem.


Qual é a maior mensagem de consolo ou de esperança que Jesus oferece aos discípulos e a todos nós através do evangelho de hoje? Em primeiro lugar, é o convite para viver a fé: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus e tende fé em mim também” (v.1). “Ter fé em Deus” e “ter fé em Jesus” não se trata de dois tipos de fé. Mas trata-se de uma só e única fé. No capítulo anterior Jesus já disse: “Quem crê em mim, não é em mim que crê, mas em quem me enviou...” (Jo 12,44). E na primeira carta de São João temos esta idéia expressa negativamente: “Todo aquele que nega o Filho também não possui o Pai. O que confessa o Filho também possui o Pai” (1Jo 2,23).


Em segundo lugar, a exortação que Jesus dirige aos discípulos para que tenham fé nele é algo mais que uma petição de um voto de confiança, como foi dito anteriormente. A fé é a força que supera tudo. A fé é capaz de vencer o mundo: “Esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé” (1Jo 5,4). “Mundo” aqui significa tudo que se opõe ao plano ou à vontade de Deus. A verdadeira fé em Deus é capaz de vencer as influências nefastas do mundo, pois quem se mantém na profissão da verdadeira fé vive no mundo de Deus, e Deus está por cima do mundo. Por isso, mais tarde Jesus dirá aos discípulos: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33). Para que possamos vencer o mundo como Jesus o venceu, temos que nos unir a Jesus, ou temos que ter fé nele. O mundo pode seduzir qualquer cristão, mas não tem poder de decidir sobre a vida do cristão. Quem pode decidir é o próprio cristão para aceitar ou recusar tal sedução. “Deus é fiel; não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças. Mas, com a tentação, Ele vos dará os meios de sair dela e a força para suportar” (1Cor 10,13b). Basta permanecer unido a Jesus Cristo.


Em terceiro lugar, ao dizer “não se perturbe o vosso coração, mas tendes fé em Deus e em mim também”, Jesus quer nos mostrar outra função ou outro efeito da fé é o coração sereno, coração cheio de paz. Quanto mais profunda for nossa fé em Deus, mais sereno se tornará nosso coração, pois sabemos e cremos que Deus está conosco (cf. Mt 28,20).


Hoje como em qualquer momento Jesus diz a cada um de nós: “Não perca sua calma. Acredite em Deus. Acredite em mim. Eu estou perto de você, dentro de você, em teu coração. Feche seus olhos, entre dentro de tua alma, tome minha mão, eu estou com você”. Jesus é o nosso bom companheiro que nos acompanha mesmo que estejamos rodeados pelas dificuldades. “Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também”. Precisamos ouvir estas palavras permanentemente. Ao dizer isso Jesus quer nos dizer que nosso Deus não é indiferente nem frio, e sim um Deus sensível aos nossos anseios e aos nossos sofrimentos. Mas Jesus pede um ato de fé em sua pessoa, uma fé sem reserva. A paz profunda que supera toda perturbação vem da fé.


Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também”. A verdadeira fé em Deus sempre resulta em ter um coração sereno e pacífico, porque a fé é participação na vida divina, adesão a Deus como único Senhor, o apoiar-se total e exclusivamente em Deus. A fé consiste em nos alicerçamos unicamente em Deus, no seu poder infinito e no seu infinito amor. O poder de Deus e seu amor não estão sujeitos a qualquer manipulação humana. Não há outro caminho para alcançar a paz e a serenidade do coração senão o caminho do pleno abandono à vontade de Deus, isto é, ao seu amor infinito. A palavra “abandono” significa a renúncia aos planos e idéias próprios. Santa Teresa do Menino Jesus dizia: “Tem que ser como uma criança e não se preocupar com nada”(Conselhos e Lembranças). Nesta curta frase está contido todo um programa. Abandonar-se significa não se preocupar com nada, porque Deus nos ama e de tudo se ocupa. Somente quando isso acontecer, o nosso coração poderá começar a se impregnado da verdadeira paz. Não podemos nos desfazer dos perigos que geram o medo, mas é muito importante eliminar esse medo através de um ato consciente de abandono ao Senhor.


A fé em Deus também significa amá-Lo de todo o coração, pois no amor não há espaço para medo e perturbação. “No amor não há temor”, diz São João (1Jo 4,18). O homem é radicalmente temeroso ou medroso, porque lhe falta ontologicamente segurança em um mundo que se levanta contra ele. São João nos convida a abandonarmos todo nosso medo ou temor diante de Deus através da fé nele. Se vivermos no amor que Deus nos comunica, já não teremos mais medo já que Deus é nosso Pai e atuaremos em nossa vida como filhos e filhas dele. É preciso permanecer em Jesus para manter nossa fé, pois sem ele nada podemos fazer (cf. Jo 15,5).


Quando São Paulo suplicou a Jesus que afastasse da sua vida uma grande dificuldade, algo que contrariava os seus planos, o Senhor respondeu-lhe: “Basta-te a Minha graça porque é na fraqueza que a Minha força se revela totalmente” (cf. 2Cor 12,9). E Santa Teresa escreveu: “A confiança e a fé se aperfeiçoam na angústia”. E Para a Santa Margarida Maria Alacoque, a grande apóstola do coração de Jesus, o Senhor disse com grande ardor: “Deixa-Me agir”. Uma abertura de nosso coração permite ao Senhor viver em nós em toda a Sua plenitude. Quando assim for, poderá Ele fazer de nós a Sua obra-prima. O abandono a Deus é a suprema forma de confiança e de apoio no Senhor.


A ausência desta fé suscita a angústia e o pavor. Quando confiarmos apenas nas nossas forças, quando contarmos apenas com as nossas capacidades, com aquilo que possuímos ou somente com as relações que mantemos com as pessoas com as quais estamos ligados, mais cedo ou mais tarde ficaremos desiludidos. A confiança total em Deus nascida da nossa fé na Sua Palavra é a única resposta adequada ao Seu insondável amor por nós.


Para onde eu vou, vós conheceis o caminho”. O caminho para o Pai é a prática do amor fraterno. Jesus é o Filho, mas os que o seguem serão também filhos, irmãos de Jesus. Para isso, os que seguem a Jesus precisam praticar o amor fraterno para fazer parte da família de Deus.

P. Vitus Gustama,svd

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