quarta-feira, 26 de julho de 2017

27/07/2017
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DEUS NOS FALA ATARVÉS DE NOSSA VIDA E DE SUAS OBRAS


Quinta-Feira Da XVI Semana Comum


Primeira Leitura: Ex 19,1-2.9-11.16-20b
1 No dia em que se cumpriam três meses da saída do Egito, Israel chegou ao deserto do Sinai. 2 Partindo de Rafidin, chegaram ao deserto do Sinai, onde acamparam. Israel armou ali suas tendas, defronte da montanha. 9 E o Senhor falou a Moisés: “Virei a ti numa nuvem escura, para que o povo ouça quando falar contigo, e creia sempre em ti”. 10 Tendo Moisés transmitido ao Senhor as palavras do povo, o Senhor lhe disse: “Vai ao povo e santifica-os hoje e amanhã. Eles devem lavar as suas vestes, 11 e estar prontos para o terceiro dia, pois nesse dia o Senhor descerá diante de todo o povo sobre a montanha do Sinai”. 16 Quando chegou o terceiro dia, ao raiar da manhã, houve trovões e relâmpagos. Uma nuvem espessa cobriu a montanha, e um fortíssimo som de trombetas se fez ouvir. No acampamento o povo se pôs a tremer. 17 Moisés fez o povo sair do acampamento ao encontro de Deus, e eles pararam ao pé da montanha. 18 Todo o monte Sinai fumegava, pois o Senhor descera sobre ele em meio ao fogo. A fumaça subia como de uma fornalha, e todo o monte tremia violentamente. 19 O som da trombeta ia aumentando cada vez mais. Moisés falava e o Senhor lhe respondia através do trovão. 20b O Senhor desceu sobre o monte Sinai e chamou Moisés ao cume do monte. E Moisés subiu.


Evangelho: Mt 13, 10-17
Naquele tempo, 10 os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: “Por que tu falas ao povo em parábolas?” 11 Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não é dado. 12 Pois à pessoa que tem, será dado ainda mais, e terá em abundância; à pessoa que não tem, será tirado até o pouco que tem. 13 É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não veem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem. 14 Deste modo se cumpre neles a profecia de Isaías: ‘Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver. 15 Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure’. 16 Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17 Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”.
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Estar Conectado Com Deus Para Ter Uma Visão Ampla Sobre a Vida e Para Estar Forte Diante Das Dificuldades da Vida


A Primeira Leitura é tirada do Ex 19. Os capítulos 19-24 constituem a parte central do livro de Êxodo. Nesta parte encontramos o relato da preparação da Aliança (Ex 19,1-25; 20,18-21), o Decálogo (Ex 20,1-17); o Código da Aliança (Ex 20,22-23,19) e o relato da Celebração da Aliança. As três tradições (Sacerdotal, Javista e Eloísta) e as adições do redator deuteronomista interferem de maneira complexa nestes capítulos. Nestes capítulos o(s) autor(es) sagrado(s) quer colocar em destaque, como o ponto central, a aliança entre Deus e o povo eleito. Nesta recordação o que se explica é o nascimento de Israel como povo eleito. Todas as outras alianças do AT  serve como algo fundamental a aliança de Sinai. Sem esta Aliança fundamental seria impossível a existência de outras alianças futuras.


No dia em que se cumpriam três meses da saída do Egito, Israel chegou ao deserto do Sinai. Partindo de Rafidin, chegaram ao deserto do Sinai, onde acamparam. Israel armou ali suas tendas, defronte da montanha”, relatou o autor sagrado.


O relato sobre o acampamento é impressionante: em um deserto com o sol esplendoroso, uma montanha. Ao pé da montanha é que o povo eleito faz seu acampamento.


"O deserto", para os judeus, é o lugar privilegiado do encontro com Deus. Foi no deserto que o Povo experimentou o amor e a solicitude de Deus e foi no deserto que Deus propôs a Israel uma Aliança. Foi também no deserto, que Israel tentou Deus.


Além do deserto, outro alimento neste relato é monte. No AT, “o monte” ou “a montanha” dão o sentido da proximidade de Deus. São lugares que Deus escolhe para se manifestar ou de onde procede sua atividade. No “monte” são realizadas ações de grande significado que estão em conexão com a esfera divina.


O tema da “montanha” se repetirá no evangelho: o monte da transfiguração, o monte das bem-aventuranças, o monte das Oliveiras, a montanha da ascensão. Jesus, que promulgará o código da Nova Aliança, sobe ao monte como Moisés subiu ao Sinai e fala do monte como Deus ali o fez, como aconteceu no Sermão da Montanha (Mt 5-7). Os místicos, como são João da Cruz (e santa Teresa de Jesus ou Teresa d´Ávila) fala da “Subida ao monte Carmelo” para simbolizar o itinerário da vida espiritual.


No monte se encontra o silencio. Somente no silêncio Deus tem chance para falar conosco e sobre nós. O silêncio torna presente a eternidade. A partir do monte tem-se uma visão maior sobre o planície. Aproximar-se de Deus torna nossa visão maior sobre a vida e os acontecimentos. Olhar a partir de Deus tudo tem seu sentido. Fazer silêncio é reconhecer-se criatura necessitada da presença do Divino. O silêncio é o ambiente normal no que se vive e se desenvolve a comunhão com Deus. É urgente reconquistarmos o silêncio nas nossas celebrações, sem o qual sairemos da celebração do jeito que entramos: perturbados, confusos, desorientados, tristes, decepcionados, etc....


“Deserto” e “monte” são indispensáveis para o crescimento espiritual, psicológico, familiar e social. Quem não aprender a criar o silêncio e o deserto, será incapaz de pronunciar palavras de conteúdo, palavras de vida, palavras que constroem.


Virei a ti numa nuvem escura, para que o povo ouça quando falar contigo, e creia sempre em ti. Vai ao povo e santifica-os hoje e amanhã. Eles devem lavar as suas vestes, e estar prontos para o terceiro dia, pois nesse dia o Senhor descerá diante de todo o povo sobre a montanha do Sinai”, falou o Senhor para Moisés.


Foi espetacular a cenografia com que Deus se manifesta a seu povo:Quando chegou o terceiro dia, ao raiar da manhã, houve trovões e relâmpagos. Uma nuvem espessa cobriu a montanha, e um fortíssimo som de trombetas se fez ouvir. No acampamento o povo se pôs a tremer”. Deus se serve dos fenômenos naturais para dar conhecer sua presença salvadora, como a sarça ardente no encontro com Moisés. Deus prepara psicologicamente o povo antes de ditar as cláusulas da Aliança. E o povo reconhece a grandeza de Deus e se purifica para encontrar-se com Ele ainda que somente Moisés seja convidado por Deus para subir ao monte.


É preciso purificar nosso coração, nossa mente, e nossa alma para poder reconhecer a grandeza de Deus. O nosso encontro com o Senhor acontece diariamente. Na liturgia, nosso encontro com o Senhor acontece na proclamação de Sua Palavra, na celebração dos sacramentos, sobretudo, na Eucaristia. Na vida cotidiana, o Senhor faz o encontro conosco através das palavras e dos exemplos das pessoas que nos rodeiam. O caminho que nos ensinou Jesus é o da simplicidade e o da cotidianidade. Se contemplarmos profundamente a grandeza e a força de Deus através do universo que é uma das grandes obras de Deus, sentiremos a necessidade de agradecer-Lhe e começaremos a viver como pessoas agradecidas e agraciadas. Quem sou eu para Deus dar essas grandes obras para a humanidade? Quem sou eu para ter atitude de prepotência diante da grandeza do universo, obra de Deus? Quem sou eu para ter o espirito de ganância diante da riqueza infinita do universo criado por Deus? Ninguém pode colocar ouro e prata (riqueza material) acima de Quem os criou. Tudo é de Deus. Por isso, no fim de nossa caminhada terrestre, tudo será deixado aqui, neste mundo.


Deus Nos Fala Através de Nossa Vida e De Seus acontecimentos


Estamos ainda no terceiro discurso de Jesus sobre o Reino de Deus em parábolas (Mt 13). Para a multidão entender a realidade do Reino de Deus Jesus usa parábolas da vida cotidiana como comparação.


No texto do evangelho de hoje os discípulos lançaram a seguinte pergunta para Jesus: “Por que tu falas em parábolas ao povo?”. As parábolas de Jesus têm claridade e pedagogia para fazer entender sua intenção para todos, menos aos que não querem entendê-las.


Na sua resposta Jesus enfatiza que Deus é “mistério”. A palavra “mistério” é usada no AT, a partir de Daniel, para denotar uma realidade dos tempos finais que Deus somente pode revelar (Dn 2,27-30.47), a realidade de um Reino eterno (Dn 2,44). Por Deus ser mistério trata-se, por isso, de uma realidade difícil de entender e de conhecer. Jesus conhece o mistério de Deus. Ele sabe que as coisas do Espírito necessitam de uma certa sensibilidade para poder captar seu sentido. Deus não está no nível das coisas. Deus não é da ordem das coisas. O mistério de Deus, em toda sua riqueza, não é uma verdade que se impõe para a inteligência humana. É um mistério que somente se dá aos que estão dispostos a escutar. Por isso, o ouvinte tem que se esforçar para escutar. Escutar é ouvir com atenção. É participar da mensagem ouvida para entender seu recado. É estar no outro para entender e compreender aquilo que ele quer transmitir.


Olhando, eles não veem e, ouvindo eles não escutam nem compreendem”. É a segunda razão dada por Jesus. Há duas maneiras de “ver” e de “ouvir”. Há um modo estritamente material: eu ouço palavras ditas por alguém, ruído de vozes etc. E outro modo é o modo espiritual; é “ver” e “ouvir” com o coração. O mistério de Deus somente é entendido com o coração. Deus cabe no nosso coração e não na nossa cabeça. É preciso compreender tudo com o coração. Quando calarmos a inteligência, o coração começará a compreender. O coração entende e compreende aquilo que a razão desconhece.


Toda nossa vida é uma parábola na qual Deus está escondido e pela qual Deus nos fala. Um pode ficar no exterior das coisas e dos acontecimentos, ou pode “ouvir” e “ver” Deus no fundo e na profundidade dos acontecimentos da vida. Uma pessoa com coração sempre vê além das coisas, pois o coração entende aquilo que a inteligência desconhece. Com efeito, uma pessoa que “vê” e “ouve” com coração os acontecimentos de cada dia, capta as mensagens de Deus e vive com mais sabedoria e prudência. Mas aquele que vive sem coração, vê apenas as coisas negativas e reclama da vida apesar de ela ser um dom de Deus. Aquele que vê e ouve com coração vê longe e vê além das aparências. Aquele que vê e ouve com coração compreende os outros e entende o significado do silêncio do outro.


Uma pessoa com coração é uma pessoa profunda, próxima, compreensiva, capaz de ir ao fundo das coisas e dos acontecimentos. Uma pessoa com coração não é dominada pelo sentimentalismo e sim é uma pessoa que alcançou uma unidade e uma coerência, um equilíbrio e uma maturidade. Ela nunca é fria, mas cordial, nunca é cega diante da realidade, mas realista, nunca é vingativa, mas pronta para perdoar e para reconciliar-se.  A espiritualidade do coração é uma verdadeira espiritualidade, pois inclui a oração, a conversão, a escuta do Espírito, o cuidado para o próximo, a compaixão, a solidariedade e a partilha. o amor transforma tudo que é pesado em leveza e a oração se torna prazerosa.


Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”, disse Jesus aos seus seguidores.


Os olhos dos simples são os que descobrem os mistérios do Reino e o sentido da vida, em geral e de cada acontecimento em particular. Jamais acontecerá isso para os olhos dos arrogantes ou complicados. Recebemos de Deus o dom da fé com o qual somos capacitados a descobrir o sentido das coisas, pois a “fé é a antecipação daquilo que se espera e a certeza daquilo que não se vê” (Hb 11,1).


A revisão de vida consiste, por isso, em “olhar de novo” com os olhos da fé, os acontecimentos, que na primeira vez eram vistos com um olhar simplesmente humano, para entender os “recados” de Deus para cada um de nós em particular e para a humanidade toda, em geral. Esta revisão é necessária, pois também pode acontecer conosco aquilo que Jesus disse: “... olhando, eles não veem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem”. Muitas das vezes, não queremos ouvir ou entender algo porque, no fundo, não nos interessa em aceitar o conteúdo daquilo que ouvimos ou que vemos. Não há pior surdo do que aquele que não quer ouvir e não há pior cego do que aquele que não quer ver. Porventura, fazemos caso, cada dia, da Palavra de Deus que ouvimos/escutamos? Será que nos deixamos interpelar por ela quando ela se torna exigente para nossa maneira de viver? Nós, que temos ouvido a Palavra de Deus, devemos dar mais frutos do que os outros que nunca ouviram diretamente a Palavra de Deus. Se levássemos a sério a Palavra de Deus que temos escutado, nossa vida seria bastante distinta e faríamos diferença na família, na comunidade, no trabalho e na sociedade em geral.


Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Dai-nos, Senhor, uns olhos novos e uns ouvidos finos, para podermos ver e entender seus mistérios na nossa vida.


P. Vitus Gustama,svd

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