28/10/2017
JUDAS
TADEU E SIMÃO-APÓSTOLOS
SER CRISTÃO É SER ENVIADO DO SENHOR E SER
FATOR DA UNIDADE
Primeira Leitura: Ef 2,19-22
Irmãos, 19 já não sois
mais estrangeiros nem migrantes, mas concidadãos dos santos. Sois da família de
Deus. 20 Vós fostes integrados no edifício que tem como fundamento os apóstolos
e os profetas, e o próprio Jesus Cristo como pedra principal. 21 É nele que toda
a construção se ajusta e se eleva para formar um templo santo no Senhor. 22 E
vós também sois integrados nesta construção, para vos tornardes morada de Deus
pelo Espírito.
Evangelho: Lc 6,12-19
12
Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração
a Deus. 13 Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles,
aos quais deu o nome de apóstolos: 14 Simão, a quem impôs o nome de Pedro, e
seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15 Mateus e Tomé; Tiago,
filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; 16 Judas, filho de Tiago, e Judas
Iscariotes, aquele que se tornou traidor. 17Jesus desceu da montanha com eles e
parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão
de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. 18 Vieram
para ouvir Jesus e serem curados de suas doenças. E aqueles que estavam
atormentados por espíritos maus também foram curados. 19 A multidão toda
procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele, e curava a todos.
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No dia 28 de outubro a Igreja celebra a festa
dos Apóstolos Simão, o Cananeu, e Judas Tadeu (que não se deve confundir com
Judas Iscariotes), juntos. Nos evangelhos e nos Atos dos Apóstolos, os dois
estão sempre juntos na lista dos Apóstolos, um ao lado do outro (cf. Mt 10, 4;
Mc 3, 18; Lc 6, 15; At 1, 13). Não há muitos dados a respeitos dos dois.
No Evangelho de Mateus Simão tem qualitativa de “cananeu”.
Em hebraico o verbo “qanà” significa “ser zeloso”. Não é por acaso que o
evangelho de Lucas chama-o de “zelota” ou “zelote” ou “dedicado”. Ser zeloso,
aqui, significa ser dedicado no serviço total a Deus e no serviço do povo para
o qual foi eleito (cf. Ex 20,5; 1Rs 19,10: Elias se dedica totalmente ao Deus
único, defensor do monoteísmo).
O segundo Apostolo cuja festa nós celebramos
também neste dia é Judas Tadeu (mais popular do que Simão, por ser
considerado, popularmente, como santo das causas e coisas impossíveis). Os
evangelhos Mateus e Marcos chamam esse Apostolo com um nome só: “Tadeu” (Mt
10,3; Mc 3,18); Lucas chama-o com dois nomes: “Judas de Tiago” ou “Judas filho
de Tiago” (Lc 6,16; At 1,13).
Sobre o Apóstolo Judas Tadeu, também, temos
muito poucos dados. O evangelista João registrou a pergunta desse Apostolo para
Jesus, cuja atualidade jamais perdida: “Senhor, por que te manifestarás a
nós e não ao mundo?” (Jo 14,22: durante a Última Ceia). De fato, o
Ressuscitado não se manifestou aos seus adversários para mostrar que quem vence
é sempre Deus e quem está com Deus (cf. Rm 8,31-39). Deus continua respeitando
a liberdade do homem, mas continua espera a volta de cada homem com misericórdia
(cf. Lc 15,11-32). O caminho de Deus é totalmente diferente dos caminhos dos
homens (cf. Is 55,8). O homem gosta de se exibir (cf. Mt 23,1-12). Deus prefere
o caminho simples, sem barulho (cf. 1Rs 19,1-18; Mt 11,25-28). Segundo Jesus,
na sua resposta à pergunta de Judas, Deus se manifesta e faz Sua morada no
coração que sabe amar: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai
o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14,23). O amor
no coração nos faz percebermos a presença de Deus. “Amando ao próximo tu limpas
os olhos para ver a Deus” (Santo Agostinho. In Joan. 17,8).
Uma das Cartas do NT, chamadas cartas
“católicas” (porque não são destinadas para determinada comunidade ou Igreja),
é atribuída a Judas Tadeu (Carta de São Judas tem apenas 25 versículos). Nesta
pequena Carta Judas Tadeu adverte a todos para não seguirem ensinamentos falsos
e inaceitáveis, pois capazes de criar divisão dentro da própria comunidade.
Segundo o autor dessa Carta, aqueles que seguem as doutrinas falsas e
inaceitáveis são comparados com “os anjos caídos”, “nuvens sem água que os
ventos levam”, “arvores sem frutos” (cf. vv. 11-13). Alem disso, nessa Carta, o
autor encoraja os leitores para não terem medo diante das dificuldades e
desafios, pois Deus vai guardar Seus fieis (v. 24). É preciso ter fé em Deus
(v.20). Mas, ao mesmo tempo, o autor pede que andemos pelo caminho de
indulgência: “Vocês, porém, amados, construam sobre o alicerce da santíssima
fé que vocês têm; rezem movidos pelo Espírito Santo; mantenham-se no amor de
Deus, esperando que a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo lhes dê a vida
eterna. Procurem convencer os vacilantes: salvem a uns, arrancando-os do fogo;
tenham compaixão de outros, mas com temor. Detestem até a roupa contaminada
pelos instintos egoístas dos ímpios..." (vv. 20-23).
Os dois Apóstolos nos ajudam a vivermos nossa
fé incansavelmente apesar das aparências poderosas das situações e dificuldades
que encontramos na nossa vida. Deus é bom e Ele é amor, e por isso, podemos
confiar nele em todos os momentos de nossa vida.
“Vós
fostes integrados no edifício que tem como fundamento os apóstolos e os
profetas, e o próprio Jesus Cristo como pedra principal”, escreveu São Paulo
aos Efésios que lemos na Primeira Leitura.
Os apóstolos e os profetas são o cimento
sobre o qual foi edificado o novo povo de Deus pela sua pregação e doutrina. Os
profetas dos quais se fala são os do Novo Testamento que desempenharam uma
papel importante similar aos dos apóstolos. Por isso os profetas aqui são colocados
depois dos apóstolos.
Mas o próprio Cristo é a pedra angular da
nova “casa de Deus”. Pedra angular é aquela sobre a qual um edifício está alicerçado.
A pedra angular tem função de dar coesão e firmeza para os fundamentos e une as
diversas partes. Dizer que Cristo é “pedra angular” significa que sobre Ele que
está alicerçado o edifício da Igreja que tem poder de sustentar e consolidar os
fundamentos e une entre si os dois povos que o formam (judeus-cristãos). Em
Cristo se ergue e vai crescendo o edifício que é a Igreja para formar um templo
consagrado ao Senhor.
Se Cristo é o fator importante (pedra angular)
que une e dá firmeza ao todo, logo ser cristão significa ser fator da unidade. Os
cristaos devem estar ausentes de qualquer atitude diabólica, isto é, a atitude
que desune. Unir e reunir são termos que teologicamente significam salvar. Esta
união é o objeto da oração de Cristo na sua despedida de seus discípulos (Cf. Jo
17,11b.20-23)
A passagem do Evangelho de hoje é lida em
função da festa dos dois Apóstolos que narra a instituição solene dos Doze.
“Jesus
subiu ao monte”, assim Lucas começou seu relato. Monte é o lugar
das grandes decisões, um lugar solitário propício para a oração, um lugar de
amplos horizontes de onde se vê longe. Jesus nos ensina a aprendermos a ampliar
nosso horizonte. Quanto mais subirmos, mais ampla será a visão que teremos.
Para isso, temos que ter coragem de subir, de sair de nosso canto de sempre,
sem medo. É aprender a ver a vida de maneira multiangular. Eu posso fracassar em um modo de atuar, mas
não significa que eu seja um fracassado para minha vida inteira. Deus me dá
oportunidade para adotar outra maneira de viver tirando lição da maneira que eu
vivi. O conservador não tem futuro porque não aceita novidade e teme por aquilo
que é novo. Mas o mundo continua mudando e eu continuo parado e paralisado.
“Jesus subiu ao monte para rezar”.
Na escolha dos Doze Apóstolos Jesus entra em oração, porque ele não pode ser
movido pelos critérios humanos que não sejam aqueles do Reino de Deus.
Simpatia, riqueza, de uma família nobre e assim por diante não entram como
critério. Jesus quer alguém como apóstolo. A palavra “apóstolo” vem do grego
que significa “enviado”. “Apóstolo” era um termo de caráter jurídico na época.
O Apóstolo era o representante plenipotenciário de quem o enviava. Neste caso
Jesus precisa ter muito discernimento para escolher quem realmente pode
representá-lo como enviado. O sucesso da obra de Jesus depende do bom empenho
do seu enviado. O apóstolo é o prolongamento do Senhor neste mundo. Jesus
falará e agirá no mundo através de cada apóstolo.
A oração é tão importante na escolha dos
apóstolos a ponto de Lucas nos relatar que Jesus “passou a noite toda em oração a Deus”. Alguns
especialistas interpretam que a palavra “noite” aqui quer indicar a
perplexidade que invade Jesus. E a oração é meio de clarificação a fim de que
Deus dê luz verde naquilo que Jesus quer realizar com a ajuda dos apóstolos
para a salvação do mundo. Por isso, Lucas nos relatou que Jesus não escolheu
seus apóstolos à noite e sim ao amanhecer: “Ao amanhecer,
chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de
apóstolos”. Há aqui o objetivo da oração de Jesus durante toda a noite:
Sua Igreja. É o projeto que apesar de tudo continua durando até hoje (cf. Mt
16,18). Por isso, a instituição dos Doze é um momento solene para a história da
Igreja, particularmente, e para a história da humanidade de modo geral.
Segundo alguns especialistas a expressão “ao
amanhecer” indica que a oração obteve resultados positivos, pois não se pode
tomar decisões enquanto alguém estiver nas trevas ou na perplexidade de uma
escuridão de vida (“noite”). Estar na oração significa estar com Deus. E estar
com Deus é estar com a luz que ilumina tudo na nossa vida (“amanhecer”). Aqui
percebemos que a oração tem uma função de clarear nossa visão sobre tudo na
nossa vida.
Os Doze não são grandes personalidades. É o
estilo de Deus que vai escolhendo para sua obra pessoas débeis, mas que se
esforçam para dar o melhor de si para salvação do mundo, pois agente principal
desta obra continua sendo o próprio Deus. A lista dos que foram escolhidos como
apóstolos se abre com Pedro e se fecha com Judas. Pedro representa fidelidade
apesar das fraquezas. Judas representa infidelidade e se desespera. Pedro e
Judas, símbolos de fidelidade e infidelidade, resumem a historia da Igreja e a
historia pessoal de cada discípulo. O importante é que não cerremos nossa
relação com Jesus com uma traição.
Os Apóstolos já cumpriram sua missão. E por
causa dos missionários próximos de nós, conhecemos Jesus. Não podemos deixar
morrer na nossa mão está missão. Precisamos ser apóstolos do Senhor e fazer os
outros apóstolos. Ser apóstolo não é trazer os outros para si e sim orientá-los
para o encontro pessoal com Jesus, o Salvador.
P. Vitus Gustama,svd
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