quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

V Domingo Comum "A": 05/02/2023

SER SEGUIDOR DE CRISTO É SER SAL E SER LUZ DO MUNDO

Primeira Leitura: Is 58,7-10

Assim diz o Senhor: 7Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. 8Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. 9Então invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: “Eis-me aqui”. Se destruíres teus instrumentos de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; 10se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo o socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia. 

Segunda Leitura: 1Cor 2,1-5

1Irmãos, quando fui à vossa cidade anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri a uma linguagem elevada ou ao prestígio da sabedoria humana. 2Pois, entre vós, não julguei saber coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado. 3Aliás, eu estive junto de vós, com fraqueza e receio, e muito tremor. 4Também a minha palavra e a minha pregação não tinham nada dos discursos persuasivos da sabedoria, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, 5para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria dos homens.

Evangelho: Mt 5,13-16

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 13Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. 14Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. 15Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim num candeeiro, onde brilha para todos que estão na casa. 16Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus.

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Um Olhar Geral Para As Leituras Deste Domingo

Na Epifania do Senhor e no III Domingo Comum ciclo A (Mateus) tivemos a oportunidade de refletir sobre a "luz" no mistério cristão. Hoje o fazemos sob uma nova perspectiva: o cristão é luz e deve iluminar os homens com amor e caridade. Nestas palavras parece-nos encontrar um tema que unifica as três leituras deste domingo. O profeta Isaías diz-nos que as nossas trevas se tornarão luz quando praticarmos as obras de misericórdia e não fecharmos a nossa alma aos sofrimentos dos necessitados. São Paulo na primeira carta aos Coríntios fala de uma caridade ainda mais profunda: pregar a Palavra de Deus sem buscar a vanglória humana. O evangelho, ao contrário, nos oferece três metáforas que mostram que o cristão deve sentir-se comprometido com o mundo e não pode manter um olhar ausente e distraído e sim atento e vigilante. Para os outros: Ele é -deve ser- a luz que ilumina; ele é o sal que não pode perder o sabor; ele é a cidade elevada, que guia e anuncia o caminho. O tema subjacente é aquele amor cristão que não se reserva, nem se fecha no próprio egoísmo, nem no medo do sofrimento, nem no próprio interesse. O cristão sabe, de algum modo, ser responsável pelo mundo e ele não pode ficar indiferente diante do sofrimento humano. Ele ilumina (luz), dá sabor fraterno na convivência (sal) e aponta para o caminho certo como guia para os outros (cidade sobre um monte). 

Deus é luz (cf. Jo 8,12) e os cristãos devem se comportar como filhos da luz. Deus é luz, Deus é amor; nele não há trevas e na sua luz vemos a luz e somos transformados em luz, somos transfigurados em luz. Ao permanecer em Deus que é a luz, o cristão se tornará o reflexo da luz para o mundo, como a luz que ilumina nossas noites recebendo o reflexo da luz do sol. São Paulo enfatiza que o cristão é uma nova criatura que passou das trevas para a luz (Ef 5, 8-9). Assim, o cristão deve comportar-se como Filho da luz, a sua tarefa não é pequena, pois não é pequeno o que o próprio Deus colocou em suas mãos, e por isso, não é pequena a sua responsabilidade na construção do mundo. Os frutos que o cristão deve produzir como filho da luz são: amor, paz, mansidão, pureza de coração, justiça e verdade... como falam as bem-aventuranças. Os primeiros cristãos, mesmo em meio às perseguições, entenderam muito bem que deveriam ser luz. Eles sabiam que eram um "pequeno rebanho" no meio de um mundo paganizado, opressora e prepotente, e sentiam fortemente sua responsabilidade de iluminar, ser fermento e comunicar a "Boa Nova", pois todos são filhos e filhas do mesmo Pai do céu  que faz brilhar o sol para todos e faz cair a chuva para os justos e injustos (Mt 5,45). 

Ser luz é tornar-se um dom para os outros. A luz brilha para todos. O cristão deve ser um dom para todos. Há pessoas que, pela sua caridade sem limites, cativam o nosso apreço e estima. São sacerdotes, religiosos, consagradas, leigos e assim por diante, que vivem em atitude de serviço desinteressado ao próximo. São pessoas que encontramos nos hospitais, nos asilos, em casa, na escola e na indústria, professores e trabalhadores, etc. A sua caridade, apesar dos seus fracassos e fraquezas pessoais, não conhece limites. Por um lado devemos abrir os olhos para esta realidade e descobrir tudo de belo e bom que existe em outras pessoas, no mundo. Mas, por outro lado, conscientes do mal e do pecado que espreitam no coração do homem, devemos sentir-nos chamados pessoalmente: Sou eu também uma luz para os meus irmãos, para as pessoas que vivem comigo? Eu sou o sal que dá uma razão para viver? Minha vida é realmente um presente para os outros? Será que percebo que minha vocação inata é o amor e enquanto não amar estarei no escuro, na tristeza e no desespero? O grande perigo que nos espreita está dentro de nós e tem nome: egoísmo. Diante das ameaças do mundo moderno, cada um deve redobrar esta convicção interior: eu tenho uma missão nesta vida e essa missão é o amor. Na minha família, no meu trabalho, na construção da sociedade civil, devo ser fermento de vida cristã e de amor cristão. Cada dia, cada minuto que eu deixar passar por egoísmo ou preguiça, será um dia perdido, uma oportunidade perdida. Pelo contrário, cada ato de amor e caridade que eu fizer engrandecerá o mundo, será revelada a face de Deus. 

Sal e luz são nossa vida, nossas obras (não apenas nossas boas palavras). E estes devem referir-se a Jesus. São Paulo disse aos cristãos de Corinto: "Pois entre vós, não julguei saber coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado” (Segunda Leitura). Entre tanta eloqüência e sabedoria, entre tantas palavras que se ouvem nos jornais, na rádio, na televisão, nas revistas de grande circulação, nas redes sociais; na boca de políticos, jornalistas, pessoas importantes... e que acabam por produzir desconfiança, desilusão, cansaço e sensação de vazio, os nossos trabalhos (em coerência com nossas palavras) deve referir-se a Jesus Cristo, e este crucificado: não temos outro mestre de sabedoria, nenhum outro modelo, nenhum outro caminho da nossa vida. Se o fizermos, podemos contar com "o poder convincente do Espírito" e basearemos o nosso trabalho "no poder de Deus". 

Ser sal e luz significa ainda, como nos lembra a Primeira Leitura, "Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne”. São as “obras corporais de misericórdia” do Catecismo, que brotam de um coração terno, compassivo, sensível, poroso para os outros, “que é a tua própria carne”. Assim é Deus conosco que se encarnou para nos salvar: tem o coração misericordioso. "Sendo rico, fez-se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza" (2Cor 8,9). Se nos comportarmos assim, Deus nos dirá: "Eis-me aqui", "a tua luz brilhará nas trevas", e seremos para os outros uma luz que brilha nas trevas (cf. Salmo). 

Ser luz e sal é ser evangelizador da Boa Nova. Evangelizar não significa apenas anunciar verbalmente uma doutrina, mas tornar presente na vida de um povo a força humanizadora, libertadora e salvadora que está contida no acontecimento e na pessoa de Jesus Cristo. Entendendo assim a evangelização, o mais importante não é ter meios poderosos e eficazes de propaganda religiosa, mas saber agir com o estilo libertador de Jesus e colocar uma força salvadora entre os homens. 

O decisivo não é ter homens e mulheres bem formados doutrinariamente, mas ser capazes de oferecer testemunhos vivos do evangelho. Crentes em cuja vida se pode ver a força humanizadora e salvífica que contém o Evangelho quando é acolhido com convicção e de forma responsável. Como escreveu o Papa Paulo VI: “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (Evangelii Nuntiandi,41). A Igreja precisa muito mais das testemunhas do Evangelho do que dos mestres.

Um Olhar Específco Para o Texto Do Evangelho Deste Domingo

O texto do evangelho deste domingo faz parte do Sermão da Montanha e é a continuação imediata das bem-aventuranças. Continuando seu discurso, usando pronome “vós”, que se iniciou na última bem-aventurança, Jesus dirige-se explicitamente aos discípulos para falar-lhes da sua missão no mundo (identidade do discípulo): ser “o sal da terra” e “a luz do mundo”, pois eles são como uma cidade construida no topo de um monte. Estas duas comparações formam parte do preâmbulo do Sermão da Montanha e estão muito relacionadas com a última bem-aventurança (Mt 5,11-12) que reflete a experiência de perseguição vivida pela comunidade de Mateus. Seu objetivo é animar aos discípulos perseguidos e mostrar qual é a missão daqueles que vivem segundo o espírito das bem-aventuranças.

Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo”. Jesus não diz isto porque o são: o são porque o Senhor Jesus o disse, porque os chamou e, uma vez recebida sua adesão, os instaura em sua missão de “sal e luz”, como fará mais adiante com Simão quando lhe confiará a missão de Pedro (cf. Mt 16,18-19). Simão é Pedro porque Jesus o fez assim. O discípulo é “sal da terra” e “luz do mundo” porque Jesus quer que o seja. São duas definições de discípulos que se unem aos precedentes, sobretudo, à de “misericordioso” e a de “portador de paz”, delineando o papel do discípulo na história ou no mundo.

A luz é fonte de vida, é alegria, é possibilidade de movimento, capacidade de saber para onde nos movemos. Quem “sai” de Cristo, quem está com Cristo é luz para os demais homens. É ser “outro Cristo” (alter Christus) para os demais homens. A identidade é transparente. A luz é o início da criação (Gn 1,3). Se o evangelista João defime Jesus como Luz do mundo (Jo 8,12), para o evangelista Mateus Jesus é visto como o surgir de uma grande luz sobre aqueles que habitavam nas trevas e na sombra da morte (Mt 4,12-17). Em Jesus Cristo somos iluminados, viemos à luz de nossa realidade, nascemos como filhos. Quem é iluminado por Cristo, por sua vez ilumina os outros. A vela (luz) não se preocupa em iluminar: simplesmente queima e, queimando, ilumina. A identidade cristã como luz do mundo não pode ficar escondida, mesmo que nada faça para ser vista: o sal é para salgar e a luz para iluminar. Como identidade próprio de cada cristão, o problema não é salgar ou iluminar, mas SER  sal e SER luz. Ninguém dá o que não tem. Os irmãos percebem o calor do amor que está em mim, se ele existe em mim.

O sal dá sabor aos alimentos, preserva-os, faz com que durem. Por outro lado, o sal é símbolo de sabedoria, amizade e disponibilidade para o sacrifício. Aquilo que dá sabor à terra, ilumina o mundo, fazendo-o ver a beleza. O “mundo” aqui se refere à ordem, à estrutura, à beleza, à humanidade, pois no NT possui também uma conotação negativa dentro do contexto em que se emprega a palavra “mundo”. A comunidade cristã é sal quando possui o sabor das bem-aventuranças. As bem-aventuranças nos dão o nosso saber e o nosso sabor (sapere = ter o sabor), preservam-nos da corrupção, dão-nos sabedoria, capacidade de fazer amizade, disponibilidade para pagar os custos (sacrifício): são a nossa identidade de filhos do Pai do céu. A nossa identidade como cristãos é “sal da terra”. Nossa existência como cristãos tem uma missão de dar sentido não somente à nossa existência pessoal, mas também àquela de cada ser humano a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo. A vida filial (Deus é nosso Pai) e a vida fraterna (somos filhos e filhas do mesmo Pai do céu como origem de todos nós) é para todos o próprio sabor da vida. A partir desta verdade primordial, se alguém não é filho e irmãos de ninguém na convivência, simplesmente não existe, do ponto de vista cristão. 

Ser luz ou ser sal, de forma real ou simbólica, é algo importante; tão importante que o próprio Jesus nos diz que somos e por isso devemos ser luz e sal para o mundo. Mas há sal em condições e há sal que não presta, como diz literalmente o Evangelho de hoje; e também há luzes e luzes.

A luz e o sal não podem ser para o cristão apenas o culto. O orante isolado de seus semelhantes não é luz e sal; o homem que estranhamente chama Deus de Pai e não ter os homens como verdadeiros irmãos é a luz e o sal do mundo. 

"Vós sois o sal da terra, diz-nos Cristo; mas se o sal perder o sabor, com que se há de salgar?". Somos chamados a ser o sal, não a terra. E o sabor do sal que somos é a fé. Não encontraremos este sabor na terra, mas no sal; não é no mundo que discerniremos a mensagem de Cristo, mas no evangelho e a partir do Evangelho que ilumina a realidade. E se é legítimo pensar que podemos ver Cristo agindo também entre os homens que não têm fé, se podemos discernir o seu rosto no do próximo não cristão, é porque o contemplamos primeiro no Evangelho, que revelou seu amor por nós. Quem se aproxima de Jesus, Luz do mundo, se tornará o reflexo da luz de Cristo para o mundo. 

No entanto, nem todas as luzes são iguais; há outras que nem sempre são reconhecidas como tal; há luzes que iluminam a simplicidade, que vem de vidas muitas vezes anônimas e ignoradas; luzes que não cegam nem deslumbram, mas iluminam com calor o caminho da vida, da própria vida e da vida das pessoas ao seu redor; luzes muitas vezes paradoxais: luzes que dão sentido à vida a partir do próprio sacrifício; há luzes que iluminam o obscuro anonimato de pessoas que morrem caídas na rua, como é o caso da santa Teresa de Calcutá e suas Missionárias da Caridade; há luzes que não se apresentam como a única luz, mas se conhecem e se sentem mediadoras da única Luz que pode iluminar verdadeiramente os homens, como é o caso de tantos catequistas, tantos agentes da Palavra, tantos evangelizadores chamados a anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. 

Todos eles, e muitos outros, sentem que suas vida foram iluminadas pela Luz de Cristo; e eles sabem que sua única possibilidade é converter-se em transmissores dessa Luz; uma luz da qual não são proprietários nem únicos administradores; uma Luz que é inesgotável em si mesma, inatingível por um só homem, incapturável em moldes, instituições e hierarquias. A Luz de Cristo, como tudo de Deus, é paradoxal: é a Luz da fé sempre tecida sobre a incerteza na caminhada humana, a Luz da vida que nasce com mais força justamente no momento da morte, a Luz do amor que se torna plena quando é capaz de renúncia total, a Luz da confiança que se sustenta num salto no vazio, a Luz da esperança que se mantém contra toda esperança, a Luz da convicção nascida no seio das aparências adversas, a Luz da felicidade descoberta na pobreza ou na perseguição, a Luz de Deus Rei encontrada na cruz em que morre.

Há homens que se sentem chamados a ser luz na vida dos outros, e procuram transmitir aos outros a sua convicção... por bem ou por mal; pessoas que, certamente qualificadas para o cumprimento de determinadas missões, começam por prestar um serviço. Mas a luz que eles forneceram no início acaba se tornando ofuscante e cegos os homens. Os cristãos insípidos, os cristãos-não-sal minimizam a fé para torná-la mais aceitável; são cristãos medrosos sem prudência. O cristão que não tem o sabor de Cristo não vale nada como cristão e não serve para nada.

Se Quiser Aprofundar mais.......

I. Vós Sois O Sal Da Terra (v.13). 

1. Sal Na Vida Cotidiana          

O sal é o elemento muito familiar para qualquer cultura, pois desde sempre foi empregado para dar sabor à comida. Até o surgimento do frio industrial(geladeira, freezer/frigorífico) era praticamente o único meio para preservar os alimentos(especialmente carne) de sua corrupção.  Sua presença discreta na comida não é detectada; mas sua ausência não pode ser dissimulada. O sal dissolve-se completamente nos alimentos e se perde  em agradável sabor. Sua condição é passar despercebido, mas atuar eficazmente. O sal pode fazer qualquer comida saborosa, mas pode fazê-la bem salgada. Por isso, é necessária uma medida certa ao colocá-lo na comida. Quem come excessivamente a comida salgada  causa a sede e prejudica a própria saúde. 

2. Sal na Bíblia          

Na cultura bíblica o sal é polivalente e tem uma grande função. Ele tempera e conserva os alimentos (Jó 6,6). Ele purifica a água para torná-la potável ou sadia (2Rs 2,19-23). O sal se usava nos pactos como símbolo de sua firmeza e permanência. Por isso, “uma aliança de sal” é uma aliança inviolável (Nm 18,19; 2Cr 13,15). Para o povo antigo, o sal também simbolizava a amizade. Por isso, a expressão “comer sal com alguém” significava concluir amizade.  No AT, prescrevia-se que tudo o que se oferecesse a Deus devia estar condimentado com sal para significar o desejo de que a oferenda fosse agradável, principalmente como sinal da permanência da aliança (Lv 2,13). A criança recém-nascida é esfregada com sal não por motivo higiênico, e sim religioso (Ez 16,4).  Além disso, nos tempos antigos, derramava-se sal no terreno inimigo para torná-lo estéril (Jz 9,45; cf. Dt 29,22; Sf 2,9). O sal  também é o símbolo  de sabedoria e de pureza moral. E não é em vão que nas línguas latinas os vocábulos sabor, saber e sabedoria pertencem à mesma raiz semântica e família lingüística. Uma pessoa sem sal é uma pessoa pouco agradável, sem conteúdo. Uma pessoa- sal é aquela que tem muito sabedoria, uma pessoa sensata. No árabe popular, a expressão “homens salgados” designa homens virtuosos, piedosos. 

3. Os Discípulos São O Sal Da Terra          

“Vós sois o sal da terra”, diz Jesus aos discípulos. A “terra” aqui é a humanidade inteira, o mundo habitado (cf. Mt 9,6; 10,34;12,42; 24,30). Acentua-se, assim, o tema querido por Mt da universalidade da missão. Os discípulos de Jesus são o sal que assegura a aliança de Deus com a humanidade(terra) e como o sal é firme e permanente na comida, os discípulos devem ser fiéis ao programa de Jesus. A missão dos discípulos é dar um sentido mais alto a todos os valores humanos, evitar a corrupção, trazer com as suas palavras a sabedoria aos homens. O discípulo é aquele que consegue dar sabor e sentido a tudo aquilo que acontece, difunde uma palavra de sabedoria onde existe dor, e semeia bondade e amor onde existe ódio e rancor. Com a sua presença o discípulo impede que a humanidade se corrompa, não permite que a sociedade seja conduzida por princípios perversos, apodreça e descambe para a ruína.          

Se o sal torna-se insípido... Não serve mais  para nada: joga-se fora e é pisado pelas pessoas”.  O povo antigo costumava colocar uma placa de sal nas fornalhas de terra como substância capaz de catalisar o calor. Com o tempo a placa formada por sal ia perdendo sua capacidade catalisadora e então era descartada(nota-se que o texto não diz que o sal perde seu sabor, e sim se desvirtua, pois quimicamente o sal não pode perder seu sabor). Assim acontece com cada discípulo de Jesus. Se aqueles que se chamam cristãos/discípulos de Jesus não forem fiéis aos ensinamentos de Jesus, ao espírito das bem-aventuranças, sem dúvida, merecerão o desprezo dos homens cuja libertação deviam ter colaborado (veja Mt 7,26), e eles serão inúteis, inclusive perigosos e odiosos para os homens. A impropriedade da imagem serve, então, para sublinhar a gravidade daquilo que acontecerá com os discípulos caso eles não vivam segundo o espírito das bem-aventuranças.  Uma comunidade ou um discípulo que, em sua prática, trai a mensagem evangélica perde a razão de existir. A comunidade de discípulos perderá sua identidade como sal, se ela parar de viver no mundo. Consequentemente, o mundo que os discípulos buscam salvar, acabam o destruindo.

Vós Sois A Luz Do Mundo (v.14)     

Todos temos a experiência da luz(menos o cego de nascença). A luz não só torna claro e mostra a beleza do universo, mas também ela é condição de sobrevivência. As plantas sem o sol morrem. Na escuridão ninguém pode produzir nada. A luz nos faz percebermos a beleza das cores. A luz serve para iluminar os objetos. A luz existe não para ser olhada diretamente, pois pode causar a cegueira. Não se deve olhar para a luz, mas para as coisas iluminadas ou caminho iluminado. 

1. Luz Na Bíblia          

No AT, Deus é o Criador da luz. Ao criar a luz e dividir o tempo entre luz e trevas, Deus acabou com o primitivo estado de caos (Gn 1,3). A luz é criada por Deus, por isso, ela é um sinal que manifesta visivelmente alguma coisa de Deus. Em outras palavras, a luz é o reflexo da glória de Deus. O Sl 104,2 descreve a luz como vestimenta em que Deus se envolve. Como luz, quando Deus aparece, seu esplendor é semelhante ao dia e das suas mãos saem raios (Hab 3,3s). A luz é, então, a glória ou esplendor de Deus.          

No NT a luz é reflexo da divindade. A nuvem luminosa na transfiguração mostra a presença de Deus (Mt 17,5). Deus habita em luz inacessível (1Tm 6,16). Deus é luz (1Jo 1,5). E quem obedece aos seus mandamentos andam (Jo 3,19;8,12;9,5;12,35s) na luz (1Jo 1,7). A luz de Deus é vista em Jesus, que é a luz do mundo 46). Jesus é a luz que ilumina todo homem (Jo 1,9) por meio da vida que ele tem dentro de si (Jo 1,4) e brilha para os homens (1Jo 2,8-10). Jesus é também a luz para guiar os pagãos (Lc 2,32). O cristão através de sua participação na luz e na vida de Deus por meio de Jesus, transforma-se em instrumento de luz para aqueles que se acham nas trevas.

2. Os Discípulos São A Luz Do Mundo         

“Vós sois a luz do mundo”, diz Jesus aos discípulos. Os discípulos são chamados e enviados para orientar e indicar o caminho no meio da escuridão. A finalidade da missão dos discípulos é a de levar os homens a reconhecerem o Pai. E esse Pai se revela na existência operativa dos que fazem a sua vontade.  Imitando Deus, Pai, no amor por todos, até pelos inimigos, os discípulos se tornam a verdadeira luz para o mundo. Chamados a tornar-se “a luz do mundo”, os discípulos devem fazer tudo para garantir a continuidade da missão de Jesus. Essa luz há de ser percebida: a comunidade cristã e cada cristão não se podem esconder nem viver cerrados em si mesmos. A glória de Deus não mais se manifesta no texto da Lei nem no lugar do templo, mas no modo de agir dos que seguem Jesus. Os discípulos são a luz do mundo à medida que são os reflexos autênticos da vida e do ensinamento de seu Mestre Jesus, e não como os vaga-lumes que só piscam de vez em quando. Os cristãos devem estar bem visíveis e brilhar todos os que se aproximarem deles ou todos os que conviverem com eles. Apesar disso, eles não podem praticar as boas obras para chamar a atenção sobre si, para ser admirados e elogiados. Não é para eles que os homens devem olhar, mas para Deus de Bondade, fonte de todas as boas obras. Os discípulos devem permanecer discretos, pois se a luz bate diretamente nos olhos, somente prejudica, incomoda, irrita e cega.          

Sal e luz são duas coisas que devem ser bem dosadas. O sal dá sabor ao alimento, mas quando excessivo tira-lhe o sabor e faz o paladar provar apenas o dissabor do sal. Acontece mesma coisa com a luz. Precisamos da luz como um dos elementos da sobrevivência. Mas quando a luz é excessiva, pode até cegar, eliminando a capacidade de visão dos olhos. A prática da religião, das virtudes e o bom exemplo, quando mal dosada, pode causar efeito contrário. Se praticarmos as virtudes para criticar os que não as têm e querendo que os outros sejam como nós, nasce, então, a aversão e ainda impede os outros de serem melhores. Mas se as pessoas virem a nossa fé religiosa e a nossa conduta orientadas para a fraternidade e o amor, reconhecer-nos-ão como portadores da luz de Cristo e glorificarão o Pai.          

Por isso, devemos nos perguntar se os outros, os colegas, os nossos familiares, ao perceberem as nossas boas obras e vêem nelas a luz de Cristo, os levam a glorificar a Deus e os levam a praticar as mesmas? Quem crê verdadeiramente em Jesus se converte em luz para si mesmo e para os outros.

Pe. Vitus Gustama,SVD

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