sábado, 10 de junho de 2023

12/06/2023-Segundaf Da X Semana Comum

SER FELIZ NO CRITÉRIO DE JESUS

Segunda-Feira da X Semana Comum

Primeira Leitura: 2Cor 1,1-7

1 Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto, e a todos os irmãos santos que estão em toda a Acaia. 2 A vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo! 3 Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, 4 que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia! 5 Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações. 6 Se, pois, somos atribulados, é para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, a qual se efetua em vós pela paciência em tolerar os sofrimentos que nós mesmos suportamos. 7 A nossa esperança a respeito de vós é firme: sabemos que, como sois companheiros das nossas aflições, assim também o sereis da nossa consolação. 

Evangelho: Mt 5,1-12

Naquele tempo: 1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2 e Jesus começou a ensiná-los: 3 “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. 4 Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. 5 Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão sa­ciados. 7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8 Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9 Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. 11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. 12 Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vós.

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Viver Na Graça e De acordo Com a Misericórdia De Deus Para Viver Na Paz Com Os Outros

Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto, e a todos os irmãos santos que estão em toda a Acaia. A vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo. Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia!”. 

Durante duas semanas a Primeira Leitura será tirada da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios.

Corinto do NT foi construída por Júlio César no ano 44 a.C sobre as ruinas da antiga cidade destruída pelos romanos no ano 146 a.C. Corinto do NT, com seus quase 400 mil habitantes, era uma importante cidade portuária, rica e famosa e de cultura greco-romana. Mas nessa cidade reinavam também a imoralidade, a corrupção e a ganância. O luxo de alguns contrastava com a miséria do povo em sua maioria (escravos e pobres). Além disso era uma cidade onde era praticado o politeísmo, isto é, com adoração dos mais diversos deuses romanos, gregos e egípcios. 

São Paulo esteve nessa cidade quase dois anos (At 18,1-18): do final do ano 50 a meados de 52. E fundou ali uma pequena comunidade entre os pobres e marginalizados (1Cor 2,26-28). Nessa comunidade havia conflitos e sofrimentos, brigas. Por isso, as palavras que aparecem mais vezes: consolo, consolação, alento, ânimo, esperança. Quando deixou Corinto, São Paulo escreveu para a comunidade de Corinto pelo menos quatro vezes. A Primeira Carta, escrita mais ou menos no ano 55 foi perdida, como podemos ler em 1Cor 5,9. Em 56 escreveu segunda carta. Esta Carta é a atual Primeira Carta aos Coríntios. Pelo fim do ano 56 São Paulo escreveu outra carta, depois de sua visita à comunidade de Corinto. Essa Carta é conhecida como “carta das lágrimas” (2Cor 2,4; 7,8) porque nela São Paulo se lamenta pela falta de obediência dos Coríntios e por isso, vivem se brigando na comunidade. Essa Carta, infelizmente, também foi perdida. Finalmente, no ano 57, São Paulo escreveu pela quarta vez à comunidade de Corinto, elogiando-a porque se corrigia e passou a ser modelo de vida comunitária. Essa quarta Carta é a atual Segunda Carta aos Coríntios que vamos ler durante duas semanas nas Primeiras Leituras. 

Esta Segunda Carta é considerada pelos biblistas como “a mais enigmática das Cartas de Paulo”, pois ao lê-la, comparando com a Primeira Carta aos Coríntios, surge a pergunta: A situação da comunidade cristã de Corinto teria mudado em relação à Primeira Carta para a mesma comunidade, e quais são as causas dessa mudança? O panorama que a Segunda Carta reflete é um panorama de crise, isto é, algo novo e perturbador aconteceu entre 1Cor e 2Cor que mudaram profundamente as relações entre Paulo e seus queridos cristãos de Corinto. Trata-se de um movimento ou grupo  anti-paulino que atua nos círculos judeus-cristãos. Esse grupo (novos pregadores em Corinto) decidiu desvirtuar as colocações doutrinais e missionárias do apóstolo Paulo. Nesta Carta Paulo vai combatendo esse grupo através de uma boa orientação, reconduzindo a comunidade de Corinto para o bom caminho.

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A Carta começa com a saudação de Paulo que deseja a graça e a paz do Pai e do Senhor Jesus Cristo à Igreja de Deus que está em Corinto: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto, e a todos os irmãos santos que estão em toda a Acaia. A vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo. Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia!”. 

A saudação de paz e a oração de louvor devem ser situadas concretamente no momento histórico que Paulo e a comunidade de Corinto estão vivendo. As realções entre Paulo e a comunidade acabam de passar por uma situação muito difícil, pois houve incompreensões, distanciamentos, injúrias e sofrimento de todo tipo. O cristão deve compartilha   os sofrimentos de Cristo (cf. Mc 10,38-39; Jo 15,20; Gl 6,17). “Compartilhar” é a palavra chave aqui e por isso é repetida duas vezes. Trata-se de compreender e sobretudo de acaitar que o sofrimento do crisão, por ser cristão e por viver fielmente os ensinamentos de Cristo, incompreensível tantas vezes, tem a mesma razão de ser que o sofrimento de Cristo. A partir deste ângulo o sofrimento perdeu o seu sentido mais doloroso e venenoso porque e por quem se sofre. 

Este bom desejo aflora nas leituras que tomamos da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios e do capitulo cinco do Evangelho de Mateus que lemos no Evangelho deste dia. 

Ao desejar graça aos outros estamos olhando para a bondade e a misericórdia de Deus, como fonte da graça, que nos quer amigos e filhos Seus, e pedimos que chegue a mensagem para os outros de que Deus nos ama: “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia!”. 

Ao desejar a paz lançamos nosso olhar de amor para todos os irmãos, um olhar com que Deus, Pai das misericórdias, nos olha. Deus sempre quer que haja a ahmonia com tudo e com todos, pois todos pertencem ao mesmo Deus. O próprio Deus, que é eterno amor e sabedoria, é a fonte de onde mana todo nosso ser e vida. Desejar a paz a todos é ser reflexo do Deus misericordioso e consolador para outros irmãos. Não há nada que seja divino e humano para o homem do que ser portador da paz e da misericórdia de Deus para os outros.

São Paulo e Timóteo, eleitos de Deus, desejam-nos graça e paz e confessam que Deus Pai é fonte de amor, de consolação e de misericórdia. Que experimentemos esta verdade, pela fé para que possamos sair ao encontro dos outros para comunicar essa verdade. Quando nos encontrarmos com alguém que vive essa experiência, devemos viver juntos a mesma experiência. 

Na vida experimentamos consolação e penas, pobreza e abundancia, êxitos e fracassos. Tanto quando nos toca o sofrimento como nos momentos de alegria devemos nos sentir, como São Paulo, unidos a Cristo: “Á medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações. Se, pois, somos atribulados, é para vossa consolação e salvação”, assim escreveu-nos São Paulo. O Salmo de meditação nos convida a estar em comunhão com Deus: “Provai e vede quão suave é o Senhor! Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!”. 

Somos Chamados a Ser Felizes 

O texto lido no evangelho de hoje é o início do Sermão da Montanha (Mt 5-7). O texto do evangelho deste dia é conhecido com as Bem-aventuradas. Através destas bem-aventuranças logo percebemos que o projeto de Jesus para os homens é a felicidade. Jesus quer que todos sejam felizes. As bem-aventuranças são descrições das qualidades que devem ser encontradas na vida dos que se submetem à soberania de Deus. Elas são também uma declaração das bênçãos ou uma proclamação da felicidade (não só promessas da felicidade) que já experimentam em parte e que irão gozar mais plenamente na vida futura todos os que revelem tais virtudes. As bem-aventuranças refletem a própria experiência, perpassada pelo sofrimento e pela perspectiva da cruz. Jesus é, por isso, garantia e modelo da existência feliz. 

Para nós, geralmente, é feliz o rico, o poderoso e o honrado: vale quem tem, quem pode e quem conta. Para Jesus, feliz é o pobre, o humilde e o desprezado: tem valor aquele que não tem, não tem poder e não é importante. É uma reversão radical de valores. 

Quais são pessoas declaradas felizes por Jesus e por quê? 

Jesus declara felizes àqueles que mantêm viva a confiança em Deus apesar de serem indefesos, oprimidos, marginalizados e perseguidos por causa do bem praticado e do amor vivido até o fim. 

Os felizes são os que têm coração pobre, um coração centrado em Deus e que se traduz no amor ao próximo e que rejeitam toda espécie de idolatria. Os pobres em espírito são aqueles se submetem interiormente, sem resistência à vontade de Deus. O espírito de humilde submissão à vontade de Deus, nasce da fé inabalável na soberania e na misericórdia de Deus e que se traduz em atitudes e condutas de bondade e de mansidão, de misericórdia e de compaixão, de tolerância e de compreensão na convivência com os outros. Esta atitude de humildade diante de Deus, nascida da fé, se traduz em atitudes e condutas de desapego aos bens materiais, de bondade, de partilha que é a alma do projeto/plano de Deus, e de solidariedade. É ser pobre no espírito, e não é pobre de espírito.          

Os felizes são os mansos que por não responderem à violência com violência, mas que estão prontos a perdoar. Jesus declara felizes não os que são mansos por temperamento, mas os que, apesar de não disporem de meios para fazer valer seus direitos, não são violentos nem agressivos, mas pacientes e indulgentes. Eles acreditam que a vida baseada no princípio “olho por olho” só resulta na cegueira, e na cegueira nada se vê. Só escuridão.  O manso aceita o tempo de Deus e a maneira de Deus. Por isso, o manso não é um fraco, mas um crente que tem força da alma. A mansidão é o sinal visível da benevolência e do respeito. Em Cristo encontramos o modelo perfeito da mansidão: “... aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração...” (cf. Mt 11,29).          

Os felizes são os indefesos que não têm como defender seus direitos por falta de recursos, mas que esperam somente a intervenção divina. Os felizes são os que não pactuam com a maldade, com a divisão, com a malícia, nem se deixam levar pela lógica da dominação e do autoritarismo. Jesus declara felizes os que estão aflitos(v.5) por experimentarem a ausência da justiça de Deus mas continuam esperando em Deus pois só Ele pode converter a tristeza em alegria e o pranto em canto.         

Os felizes são os que têm um coração cheio de misericórdia para com os semelhantes. Um misericordioso é aquele que é capaz de amar até a pessoa que não merece ser amada do ponto de vista humano. Mas por acreditar na misericórdia de Deus, ele sempre quer o bem da mesma. Os misericordiosos são aqueles que, efetivamente, abrem seu coração para os outros e executam gestos concretos para aliviar sua aflição. Os felizes não são os que, por índole natural, têm um coração sensível e sentimentos de compaixão, mas os que fazem gestos concretos de misericórdia, ajudando e servindo os necessitados.     

Os felizes são os promotores da paz que procuram criar laços de amizade e banir toda espécie de ódio, ajudar a superar as divisões para que mundo seja cada vez mais fraterno, e mais humano. Santo Agostinho dizia: “Não basta ser pacífico. É necessário ser promotor da paz. Quem são os pacíficos? Não os pacifistas, mas os promotores da paz. Não basta estar disposto a perdoar ou ignorar os inimigos, é preciso amá-los e ter compaixão por eles. Não odeias aos cegos, mesmo que ames a luz. Da mesma forma, deves amar a paz sem odiar os que fazem guerra”. Aos construtores da paz é feita a promessa solene de que no juízo final lhes será dado o maior de todos os títulos: “Serão chamados filhos de Deus”.          

Os felizes são os perseguidos por causa da justiça, por causa do bem que fazem, por viverem retamente. Quem sempre faz o bem, muitas vezes acaba sendo perseguido e crucificado como Jesus. Mas ele é feliz, pois até o fim ele é capaz de dizer sim para o bem e dizer não para o mal. Quem pára de crescer neste espírito das bem-aventuranças, começa a morrer. Quem, ao anunciar o Evangelho, for aplaudido por todos e, sobretudo, pelos donos de poder, pode estar certo de que ele ainda não é o profeta verdadeiro, pois ele deixou de ser o sal da terra para converter-se em adoçante. No caso de perseguição (como também na primeira bem-aventurança), a promessa é formulada no presente: “Deles é o Reino dos céus”. O reino lhes pertence desde agora          

Portanto, as bem-aventuranças são uma proclamação de amizade de Deus para as pessoas que participaram do espírito dessas bem-aventuranças e são um programa da vida de cada cristão (vocação á felicidade é para todos), e também são uma celebração da felicidade como dom ou graça presente, como uma realidade já presente e não apenas como algo depois da morte ou uma recompensa futura pela carência na terra. Se entendêssemos as bem-aventuranças somente como uma compensação para depois da morte, elas seriam “ópio do povo”. Em outras palavras, somos felizes já na medida em que pertencemos a Deus no presente que se traduz na vivência da fraternidade universal. Então, também o futuro de Deus nos pertence. A partir daí, o céu é a experiência de compartilhar a alegria, a paz e o amor de Deus na plena capacidade humana e vivida entre os homens. 

Será que posso me declarar que sou um dos bem-aventurados na declaração de Jesus?

P. Vitus Gustama,svd

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