sexta-feira, 9 de junho de 2023

X Domingo Comum,11/06/2023

VIVER CONFORME A MISERICÓRDIA DE DEUS

X DOMINGO DO TEMPO COMUM “A”

Primeira Leitura: Os 6,3-6

3É preciso saber segui-lo para reconhecer o Senhor. Certa como a aurora é a sua vinda, ele virá até nós como as primeiras chuvas, como as chuvas tardias que regam o solo. 4Como vou tratar-te, Efraim? Como vou tratar-te, Judá? O vosso amor é como nuvem pela manhã, como orvalho que cedo se desfaz. 5Eu os desbastei por meio dos profetas, arrasei-os com as palavras de minha boca, como luz, expandem-se meus juízos; 6quero amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.

Segunda Leitura: Rm 4,18-25

Irmãos: 18Abraão, contra toda a humana esperança, firmou-se na esperança e na fé. Assim, tornou-se pai de muitos povos, conforme lhe fora dito: “Assim será a tua posteridade.” 19Não fraquejou na fé, à vista de seu físico desvigorado pela idade – cerca de cem anos – ou considerando o útero de Sara já incapaz de conceber. 20Diante da promessa divina, não duvidou por falta de fé, mas revigorou-se na fé e deu glória a Deus, 21convencido de que Deus tem poder para cumprir o que prometeu. 22Esta sua atitude de fé lhe foi creditada como justiça. 23Afirmando que a fé lhe foi creditada como justiça, a Escritura visa não só à pessoa de Abraão, 24mas também a nós, pois a fé será creditada também para nós que cremos naquele que ressuscitou dos mortos Jesus, nosso Senhor. 25Ele, Jesus, foi entregue por causa de nossos pecados e foi ressuscitado para nossa justificação.

Evangelho: Mt 9,9-13

Naquele tempo: 9Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me!” Ele se levantou e seguiu a Jesus.10Enquanto Jesus estava à mesa, em casa de Mateus, vieram muitos cobradores de impostos e pecadores e sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos. 11Alguns fariseus viram isso e perguntaram aos discípulos: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?” 12Jesus ouviu a pergunta e respondeu: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. 13Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício.’ De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”.

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 Mateus, Cobrador de Impostos

Palavras de alguns Padres da Igreja:

1.   Os outros evangelistas (Mc 2 e Lc 5), por respeito e honra do mesmo Mateus, não quiseram chamá-lo pelo nome com que era vulgarmente conhecido, mas chamaram-no de Levi, pois ele usava esses dois nomes. Mas o próprio Mateus, seguindo o que diz Salomão- O justo é o primeiro acusador de si (Pr 18,17)- chama a si mesmo de Mateus e de publicano, para mostrar a todos os que o lerem que ninguém deve desesperar de sua salvação, como se converta a uma vida melhor, já que ele mesmo foi repentinamente transformado de publicano em apóstolo” (São Jerônimo. In Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea Vol.1: Evangelho de São Mateus, 1ª Edição. Ecclesiae, Campinas, SP, 2018 p.334).

2.   Por esse acontecimento nos é mostrado o poder d´Aquele que chama: pois arranca do meio do mal um homem que não renunciava a um ofício perigoso, como fez com Paulo, que estava enloquecido. Por isso segue-se: e disse-lhe: “Segue-me”. Assim como viste o poder d´Aquele que chama, aprende também a obediência do que é chamado. Ele não lhe opõe resistência, nem pede para voltar até sua casa e comunicar sua decisão aos seus (São João Crisóstomo. Idem).

3.   Os fariseus eram psioneiros de dois erros: na altivez da soberba, julgavam-se justos a si mesmos, estando muito longe da justiça, e tinham por injustos todos aqueles que, arrependidos de seus pecados, aproximavam-se da justiça (Rábano Mauro. Idem)

4.   Lucas acrescenta a penitência (Lc 5,32), o que significa, desenvolvendo seu pensamento, que ninguém deve julgar que Cristo ama os pecadores pelo simples fato de serem pecadores; além disso, a comparação com os doentes dá-nos a inteligência clara do que Deus quer, chamando os pecadores como um médico chama os enfermos, isto é, para salvá-los da iniquidade como de uma doença, o que se consegue através da penitência (Santo Agostinho. In Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea Vol.1: Evangelho de São Mateus, 1ª Edição. Ecclesiae, Campinas, SP ,2018 p.335).

O trecho do evangelho deste domingo faz parte de um pequeno conjunto de Mt 9,9-17 onde se fala da controvérsia entre Jesus e seus discípulos contra os fariseus e judeus(inclusive, com os discípulos de João).          

Depois da segunda série de milagres(Mt 8,1-9,8), vem um intervalo onde o texto fala da chamada de um novo discípulo, que aqui é chamado de Mateus (veja os textos paralelos: Mc 2,13-17 chama esse novo discípulo de Levi, o filho de Alfeu; Lc 5,27-32 o chama simplesmente de Levi) a quem a tradição atribui como o autor do primeiro Evangelho na Bíblia (Evangelho de Mateus). Neste relato encontram-se duas controvérsias(Mt 9,10-13 e 9,14-17) cujo tema de fundo é o estilo de vida de Jesus e de seus discípulos. Nas duas controvérsias Jesus e seus discípulos aparecem intimamente unidos, pois para saber sobre Jesus, os adversários perguntam aos discípulos (Mt 9,11); e para saber sobre os discípulos, eles perguntam a Jesus (Mt 9,14). Falaremos somente a primeira controvérsia com alguns detalhes, de acordo com o que o evangelho deste domingo nos apresenta. 

Jesus Chama Um Cobrador De Impostos Para Ser Seu Discípulo

Como se sabe, ser cobrador de impostos (como profissão) era considerado como uma das profissões desprezíveis, até mesmo odiadas pela população judaica. O hábito chamava  categoricamente os cobradores de impostos de pecadores(Lc 19,7) ou publicanos.          

Por que os fariseus e judeus consideravam os cobradores de impostos como pecadores ou publicanos(pecadores públicos)?          

Em primeiro lugar, porque os cobradores de impostos colaboravam com o império romano. A população judaica os detestava pelo fato de eles terem o contato freqüente com os pagãos (os romanos) que os causavam impuros; e pelo fato de ter em casa e usar moedas com imagens dos imperadores que se proclamavam divinos e por não respeitar a lei do Sábado e outros mandamentos de Deus. Além disso, os cobradores tinham o direito de cobrar a parte deles em cada taxa além do limite. Conseqüentemente, eles eram exploradores, desonestos e viviam da exploração dos mais pobres do seu próprio povo.          

Por serem pecadores públicos, os cobradores de impostos, pela legislação judaica, não podiam ser testemunhas em tribunais, pois sua palavra não valia nada. E se convertessem-se, deveriam abandonar a profissão e restituir 20% de tudo o que possuíam como prova de conversão, o que era impossível para o pensamento da população judaica. Por isso, para eles não existia a possibilidade de salvação. Além disso, era proibido aceitar o dinheiro dos cobradores de impostos para a caixa dos pobres (como esmola), porque a injustiça impregnava esse dinheiro (dinheiro sujo). 

Eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”.         

Mas Jesus tem uma independência total diante da cultura do seu povo, quando se trata de romper com barreiras culturais que os “religiosos” tinham contra os “pecadores”. Ao enfrentar os judeus e fariseus, Jesus quer mostrar-lhes que sair ao encontro de um pecador é uma expressão maior da fidelidade ao Deus Santo, que é o Deus de amor e misericórdia, do que isolar-se para alardear a própria perfeição. Por isso, ele chama Mateus, o cobrador de impostos, para ser seu discípulo.

Eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”. A lei denuncia o pecado e pune o pecador. O Senhor rejeita o pecado, mas acolhe o pecador. Deus não é lei e sim é amor (1Jo 4,8.16). Deus não é punição e sim o perdão e remédio. Por isso, a nossa miséria fica muito menor do que a misericórdia divina. Basta ouvir a chamada do Senhor e seguir seus passos. Deus ama mais o pecador porque necessita mais, assim como o pecador amará mais, porque recebeu mais amor (Lc 7,36-50). Uma pessoa, quanto mais doente, mais tem direito ao médico. O pecado não impede o pecador de ter uma experiência de Deus, antes, precisamente por causa dele, Deus o chama pelo seu verdadeiro nome, que é Jesus, Deus salva (Mt 1,21; cf. Lc 1,77).           

Jesus escolheu esse homem, porque devia estar vendo o coração dele. Lá no fundo do coração desse homem devia ter bondade. No momento, sem dúvida, ele não era bom, pois era um ladrão diplomado. Mas a graça de Deus sempre faz surpresas. Com a graça e o convite de Jesus, e com a disposição interna do coração, Mateus iria se converter, iria seguir a Jesus e ser o seu grande testemunho pelo mundo afora. Com esse relato, Mateus faz questão de lembrar a todos os pecadores ou os que se acham pecadores para não terem medo nem fugirem ou se afastarem de Jesus. Um pecador convertido pode ser um grande evangelizador. Esse pecador pode ser que seja eu ou seja você que está lendo este texto que fala do testemunho da conversão de Mateus. A possibilidade  de converter-se e de ser evangelizador em seguida é sempre aberta para todos. 

Seguir a Jesus          

Jesus chama Mateus para segui-lo: “Segue-me”(Mt 9,9). E ele o segue(Mt 9,9). Ele diz a mesma coisa para Simão e André(Mt 4,19) e para Tiago e João(Mt 4,21). O termo “seguir”(akoloutheo, em grego) aparece 90 vezes no NT, das quais 11 vezes se encontram fora dos Evangelhos(em Atos, 4 vezes; em Ap, 6 vezes; e o resto em 1Cor 10,4). Nos evangelhos este termo se refere ao seguimento de Jesus(no total 73 vezes).           

O verbo “seguir”, em sentido próprio, significa “ir atrás de alguém”; e no sentido figurado significa “ser discípulo”, “ir em seguimento de alguém”. No NT, ambos significados se aplicam a Jesus, por exemplo, quando se diz que a multidão de gente seguia a Jesus e que, por outro lado, os discípulos iam em seguimento de Jesus. E os sujeitos do “seguir” são normalmente pessoas(somente Ap 14,13 constitui uma exceção: “as obras” dos que morrem no Senhor lhes seguem). E o objeto do “seguir” é sempre uma pessoa ou grupo de pessoas.          

O que significa seguir a Jesus? Seguir a Jesus significa romper todo o passado, abandonar tudo(cf. Mt 4,18-22;9,9s;19,21;Lc 9,61;Mc 10,28), submetendo-se com fé e obediência à salvação oferecida em Cristo. Seguir também tem sentido de imitação. Neste sentido seguir significa  unir-se com Jesus numa comunhão de vida e de destino; é modelar-se segundo o exemplo de Jesus(cf. Jo 13,15.34;15,12;1Ts 1,6;1Cor 11,1;Ef 5,2;1Jo 2,6 etc.). Assim, seguir a Jesus não é apenas aderir a um ensinamento moral e espiritual, mas compartilhar sua sorte. Por isso, Jesus exige o desapego total: renunciar às riquezas e à segurança, deixar os familiares(Mt 8,19-22;10,37;19,16-22), sem esperar o retorno(troca ou retribuição). Ao exigir de seus discípulos um tal sacrifício, Jesus se revela como Deus, única garantia e revela integralmente até que ponto vão as exigências de Deus. Pode ser que seja até o sacrifício da cruz e até se sentir abandonado pelos outros, como Jesus sentiu(Mt 26,56).           

A partir deste sentido, somos convidados a refletir sobre o nosso seguimento de Cristo. Até que ponto estamos dentro deste padrão? Em outras palavras, o que significa para nós hoje seguir a Jesus? Para responder esta pergunta, devemos responder outra pergunta: quem é Jesus a quem seguimos?          

Seguir a Jesus é viver a sua vida. E a vida de Jesus foi marcada particularmente por amor ao Pai e ao homem, especialmente aos mais necessitados. Seu relacionamento profundo com o Pai se traduz na prática da solidariedade com os marginalizados e pecadores. Seguir a Jesus é viver segundo o seu projeto. Ele quer que as relações humanas e sociais se baseiem sobre a justiça, o amor, a fraternidade e o perdão. Tudo isso se tornará realidade , se o homem se descobrir como filho de um Pai amoroso. Seguir a Jesus é estar pronto para viver o seu destino. Viver segundo o projeto de Jesus leva o seguidor a viver o martírio. O martírio é o preço a pagar pela fidelidade à causa jamais traída. Quem se propõe seguir a Jesus deve estar pronto para viver a bem-aventurança das perseguições(Mt 5,10s). 

Os Publicanos e Os Pecadores Sentam-se à Mesa Com Jesus         

Os fariseus se escandalizam junto dos discípulos pelo fato de seu Mestre comer com os publicanos e pecadores: “Por que vosso Mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?”(v.11). Os fariseus usam a linguagem “nós/vocês, eles” em oposição: “vosso” mestre, em oposição aos mestres com quem eles estão familiarizados e com quem são benevolentes. É o primeiro exemplo de franca oposição dos fariseus a Jesus. A pergunta feita pelos fariseus, aqui, é uma tentativa de desacreditar Jesus, chamando a atenção para algo que muita gente ou todo o mundo acharia revoltante. É uma controvérsia sobre quem teria influência e constituiria a liderança e autoridade local.          

Por que os fariseus se escandalizam diante da atitude de Jesus? Porque comer com alguém ou partilhar à mesa, a quem se dava usualmente o nome de “amigo de mesa”, era sinal de amizade e compatibilidade. Não é qualquer um é convidado para uma refeição(jantar ou almoço), nem na época de Jesus e, creio que, nem também na nossa época. No Oriente, receber alguém em comunhão de mesa significa até os dias de hoje uma honra que quer dizer oferta de paz, confiança, fraternidade e perdão. Em outras palavras, comunhão de mesa é comunhão de vida. Ao comer com os pecadores, Jesus se identificava com eles. Enquanto na época não se podia comer com gente “impura” e isso era um costume apoiado pelas autoridades e pela tradição religiosa. Ao verem os companheiros de mesa de Jesus eram pessoas religiosamente impuras, os fariseus acreditavam que Jesus estava comprometendo sua posição de Mestre. 

O número de refeições tomados por Cristo com pecadores, o fato de o pai de família perdoar seu filho pródigo por uma refeição suntuosa(Lc 15,22-24), a atitude de Jesus de “pôr a mão” junto com Judas no prato(Mt 26,23) como sinal de intimidade, e sua preocupação em oferecer o pão e o vinho para a remissão dos pecados(Mt 26,28), manifestam claramente a consciência dos primeiros cristãos em face da eucaristia como sacramento do perdão(Mt 18,15-18). Existe aqui o elo entre a eucaristia e o sacramento do perdão. Jesus pronunciou o perdão não só por palavra, mas também por atos. A forma mais impressionante de anúncio do perdão através de atos para os homens daquele tempo foi sua comunhão de mesa com os pecadores. No judaísmo em particular, comunhão de mesa é comunhão perante os olhares de Deus, visto que ela é restabelecida enquanto cada um dos participantes, comendo um pedaço do pão partido, participa da bênção que o dono da casa pronunciou sobre o pão antes de parti-lo. Assim sendo, as refeições de Jesus com os publicanos e pecadores não são acontecimentos puramente de ordem social, não são apenas expressão de incomum cordialidade humana e de generosidade social, mas o seu sentido é mais profundo: a inclusão de pecadores na comunidade de salvação, realizada na comunhão de mesa, é a expressão mais patente da mensagem do amor redentor de Deus. Essas refeições são celebrações antecipatórias do banquete salvífico do fim dos tempos(Mt 8,11). 

Quero Misericórdia e Não Sacrifício          

Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado. ... A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo assume o comportamento do Filho de Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir ninguém.” (Papa Francisco: Bula de proclamação do jubileu extraordinário da misericórdia: Misericordiae Vultus n.2 e 12). 

Jesus responde à pergunta dos fariseus citando um provérbio: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes”(v.12). Como o médico cura os doentes, do mesmo modo, Jesus veio, exatamente, para a sua reconciliação, e deu sua vida por todos os pecadores: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores”(v.13b). Ao associar-se aos pecadores, Jesus não está defendendo o rebaixamento dos padrões bíblicos de retidão. A misericórdia de Deus não é cumplicidade e laxismo permissivo (laxismo é doutrina que restringe excessivamente a obrigação moral). Ao contrário, o propósito de seu ministério é possibilitar que os decaídos sejam levantados e vivam segundo o padrão de retidão de Deus.          

Jesus também cita um ensinamento bíblico de Os 6,6: “Quero misericórdia e não sacrifício”(v.13). Misericórdia significa o sentimento que se experimenta diante do infortúnio que aflige a outra pessoa, e a ação que brota desse sentimento. Ao citar Os 6,6  Jesus declara a primazia da misericórdia, da caridade ativa, acima do sacrifício(Mt 9,13;12,7;23,23).  Toda a experiência profunda de Deus nos leva à prática eficaz da misericórdia. As nossas pequenas mortificações, e exercícios ascéticos só tem valor na medida em que servirem de treino para o exercício da misericórdia.          

Através da citação de Os 6,6, Jesus (como faziam os profetas) está denunciando o culto vazio e a hipocrisia dos que se julgam em ordem com Deus (os fariseus) apenas por cumprirem certos ritos (dízimo, jejum, purificação etc.), enquanto se esquecem da justiça, do amor ao próximo e da reconciliação fraterna.  Segundo Jesus, a religião que agrada a Deus é aquela que se expressa na piedade e na misericórdia, no amor ao irmão, na praxis da reconciliação, na paixão pela justiça e libertação humana. Para Jesus, a pureza religiosa autêntica não é a legal, mas a conversão ao amor, à piedade e à misericórdia. Jesus não critica uma religião sem culto, mas uma religião alheia ao compromisso da vida, ao amor fraterno, à misericórdia.          

Neste dia somos convidados a verificar as nossas motivações religiosas, tanto as autênticas como as falsas na pratica da religião. Não podemos esquecer de que o Deus revelado pela palavra e pela ação de Jesus é um Deus de misericórdia, que acolhe os perdidos oferecendo-lhes uma possibilidade nova de refazer-se. E este mesmo Deus mostra sua compaixão a quem é compassivo, mas não a mostra a quem não o é. São Tiago diz categoricamente: “...o julgamento será sem misericórdia para aquele que não pratica a misericórdia. A misericórdia, porém, triunfa sobre o julgamento”(Tg 2,13; cf. também Mt 18,32s).

Deus nunca Se cansa de escancarar a porta do seu coração, para repetir que nos ama e deseja partilhar conosco a sua vida. A Igreja sente, fortemente, a urgência de anunciar a misericórdia de Deus. A sua vida é autêntica e credível, quando faz da misericórdia seu convicto anúncio.” (Papa Francisco: Misericordiae Vultus n.25). 

O amor apaixonado de Deus pelo seu povo, pelo ser humano, é, ao mesmo tempo, um amor que perdoa. E é tão grande que chega a virar Deus contra si próprio, o amor contra a sua justiça” (Bento XVI: Carta encíclica: DEUS CARITAS EST n.10).

Pe. Vitus Gustama,SVD

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