segunda-feira, 5 de junho de 2023

CORPUS CHRISTI-Solenidade,08/06/2023

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO ANO “A”

Primeira Leitura: Dt 8,2-3.14-16

Moisés falou ao povo, dizendo: 2 Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor teu Deus te conduziu, esses quarenta anos, no deserto, para te humilhar e te pôr à prova, para saber o que tinhas no teu coração, e para ver se observarias ou não seus mandamentos. 3 Ele te humilhou, fazendo-te passar fome e alimentando-te com o maná que nem tu nem teus pais conhecíeis, para te mostrar que nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor. 14b Não te esqueças do Senhor teu Deus que te fez sair do Egito, da casa da escravidão, 15 e que foi teu guia no vasto e terrível deserto, onde havia serpentes abrasadoras, escorpiões, e uma terra árida e sem água nenhuma. Foi ele que fez jorrar água para ti da pedra duríssima, 16ª e te alimentou no deserto com maná, que teus pais não conheciam. 

Segunda Leitura: 1Cor 10,16-17

Irmãos: 16 O cálice da bênção, o cálice que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? E o pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? 17Porque há um só pão, nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão.

Evangelho: Jo 6,51-58

Naquele tempo, disse Jesus às multidões dos judeus: 51 “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”. 52 Os judeus discutiam entre si, dizendo: “Como é que ele pode dar a sua carne a comer?” 53 Então Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. 55 Porque a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue, verdadeira bebida. 56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. 57 Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que me recebe como alimento viverá por causa de mim. 58 Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram. Eles morreram. Aquele que come este pão viverá para sempre”.

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Esta solenidade é produto da devoção eucarística medieval ocidental que surgiu para afirmar a PRESENÇA REAL do Senhor na Eucaristia contra os erros do teólogo francês Berengário de Tours (998-1088) que aplica o uso da razão e lógica no campo da fé. A partir do raciocínio lógico Berengário nega a possibilidade do milagre da transubstanciação do pão e do vinho para o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, pois o pão continua sendo o pão. 

Esta devoção surgiu a partir do ano 1110 na França e sobretudo em Liège (Bélgica), e está relacionada também às revelações da beata Juliana de Rétine, religiosa agostiniano (1193-1258) em Liège no ano de 1209. O bispo de Liège marcou a festa em honra do “Corpus Domini” para a Quinta-feira da oitava da Solenidade da Santíssima Trindade e celebrou-se pela primeira vez em 1246. O Papa Urbano IV, em conexão com o milagre de Orvieto em torno da Eucaristia, instituiu essa festa para toda a Igreja em 11 de agosto de 1264.  Aconteceu que um sacerdote, assaltado por dúvidas sobre a presença real de Cristo na Eucaristia, enquanto celebrava a missa viu que da Hóstia consagrada manava sangue até tingir de vermelho o corporal que até hoje é conservado na cidade de Orvieto construída para esse fim. São Boaventura e Santo Tomas de Aquino (+ ambos em 1274) foram os delegados pontifícios para comprovar a veracidade do milagre. Mas com Clemente V (1314) é que esta festa se difundiu com mais rapidez. 

O missal romano de 1570 denomina esta festa “do Santíssimo Corpo de Cristo” (“Sanctissimi Corporis Christi”). O missal de 1970 denomina-a “Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo” (“Corporis et Sanguinis Christi). Ou seja, a reforma do Vaticano II menciona não apenas o Corpo (“Corpus Domini”), mas também o Sangue de Cristo, e com uma maior riqueza de textos bíblicos para exprimir uma visão do mistério eucarístico que leve em conta todos os seus aspectos. Completa-se assim a realidade integral do sacramento da eucaristia. 

O pensamento de Santo Tomás de Aquino sobre a Festa de Corpus Christi: (Santo Tomás de Aquino.S.Th.,IIIa,q.69,a.1 In Meditações Para a Páscoa e Pentecostes, Organização de Pe. Denys Mézard O.P, Tradução de Jefferson Bombachim, Eclessiae, Campinas,SP 1ª.Edição-março de 2019 pp.218-219): 

A Eucaristia Confere a Graça

 O Pão que eu darei, é a minha carne para a salvação do mundo (Jo 6,51).

O efeito deste sacramento deve ser considerado:

1º. Pelo que no sacramento se contém, que é Cristo, quem, vindo visivelmente ao mundo lhe conferiu a vida da graça, do mesmo modo que vindo ao homem sacramentalmente, efetua a vida da graça, como diz o Evangelho: o que me comer a mim, esse mesmo também viverá por mim (Jo 6,57). 

2º. Pelo que nele se representa, isto é, a Paixão de Cristo, e em consequência, este sacramento produz no homem o mesmo efeito que a Paixão de Cristo produziu no mundo. Daí que, comentando as palavras: Imediatamente saiu sangue e água (Jo 19,34), diga são João Crisóstomo: “Posto que daqui têm origem os sagrados mistérios, quando te aproximas do tremendo cálice, aproxima-te como se houvesse de beber do mesmo costado de Cristo” (Hom. 84 In Joan). Por isso, diz o mesmo Cristo: Isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, que será derramado por muitos para remissão dos pecados (Mt 26,28).

3º. Considera-se o efeito deste sacramento pelo modo com que é dado: como comida e bebida. E por isto, todo o efeito que produz a comida e a bebida materiais na vida corporal, quer dizer, que sustentam, acrescentam, reparam e deleitam, tudo isto o produz este sacramento quanto à vida espiritual. Por esta razão diz santo Ambrósio: “Este Pão é o da vida eterna, que sustenta a substância da alma”(De Sacramentis,I.IV,c.4.). São João Crisóstomo acrescenta: “Se nos dá aos que o desejamos para ser palpado, comido e abrasado” (Super Joan., hom. XLV). Estas palavras do mesmo Jesus Cristo: Minha carne e verdadeiramente comida, e o meu sangue verdadeiramente bebida (Jo 6,55). 

4º. Considera-se o efeito deste sacramento pelas espécies em que se dá. A este respeito diz Santo Agostinho: “Nosso Senhor pôs seu corpo e seu sangue nestas coisas que, de múltiples que elas são, reduzem-se a uma só: porque uma, quer dizer, o pão, resulta da síntese de muitos grãos; a outra, quer dizer, o vinho, produz-se de muitas uvas, que forma um só licor. Pelo qual exlama: “Oh sacramento de piedade, oh sinal de unidade, oh vínculo de caridade!” (Tract.26 in Joan.). e, posto que Cristo e sua Paixão são causa da graça e refeição espiritual, e a caridade não pode existir sem a graça, deduz-se de tudo o que foi dito que este sacramento confere a graça.

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A liturgia da Palavra do Ano litúrgico A (ano em que estamos) com o texto do livro de Deuteronômio (Dt 8,2-3.14-16) recorda os grandes prodígios do Êxodo: a água e o maná. A queda do maná do céu é considerada como prefiguração da Eucaristia. A experiência do deserto levou o povo de Deus a compreender “que o homem não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor”. O verdadeiro pão, do qual o homem tem necessidade absoluta, é a Palavra de Deus; Cristo é essa Palavras e esse Pão vivo. Quem come deste Pão vive eternamente, diferentemente dos hebreus no deserto, que comeram o maná e morreram (Evangelho, Jo 6,51-59). E em sua Carta ao Coríntios (1Cor 10,16-17), são Paulo lembra que a participação no cálice é comunhão com o Sangue de Cristo e participação no pão repartido é comunhão com o Corpo de Cristo. Havendo um só Pão, nós, embora sendo muitos, somos um só corpo. 

Ao celebrar na Quinta-feira, recordamos a Quinta-feira Santa, dia da instituição da Eucaristia. Ambos os dias têm um objeto similar, mas não são um simples duplicado. A festa do Corpus Christi nos proporciona uma segunda oportunidade para ponderar o mistério da Eucaristia e considerar seus vários aspectos. Esta solenidade nos convida a manifestar nossa fé e devoção a este Sacramento que é o Sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal no qual Cristo é comungado, e a alma se enche da graça. 

O que, sobretudo, distingue a festa de hoje de todas as outras festas cristãs é a procissão. É o mais exterior nesta festa. Mas quando o exterior nasce de dentro é também a manifestação de seu núcleo interior. A Procissão do Corpus Christi nos faz descobrir que somos peregrinos sobre a Terra; não temos aqui a pátria permanente, caminhamos pelo espaço e o tempo rumo à Pátria celeste. Somos pessoas que devem deixar-se transformar, porque ser homem significa deixar-se transformar. Nossa temporalidade e os distintos lugares onde se desenvolve nossa existência se manifestam através de uma procissão. 

A solenidade de Corpus Christi é a festa que exalta a presença real de Jesus Cristo no Sacramento da Eucaristia. Precisamente por ser “festa do Sacramento” exaltamos o Corpo e o Sangue, pão e vinho eucarísticos, de Jesus, sinal significativo e eficaz de sua presença entre nós. Mas neste caso o sinal aponta para a comida fraterna na qual o próprio Cristo se dá como alimento. E a comida fraterna e festiva não pode ser entendida sem comunhão, sem convivência com o Senhor Jesus e com os demais comensais (irmãos, próximos). É certo que a Eucaristia constrói a Igreja, mas a constrói como comunidade que compartilha. A Eucaristia significa a Aliança que nos vincula aos demais. Não sou eu o único aliado de Deus, individualmente. Todos somos solidários. Somos todo um povo de Deus. 

O mistério da Eucaristia tem muitas evocações: é memorial da Paixão, é Banquete de unidade, é antecipação da vida divina que compartilharemos com Cristo no Céu. Por isso, é necessário descobrirmos uma vez mais o que cremos e celebramos: o Corpo que se entrega, o Sangue que se derrama. A entrega é essência profunda e última do Corpus Chirsti que devemos renovar constantemente. O cristão deve ser pão que se multiplica, pão de vida, pão de união, pão que sacia a fome. A exemplo de Cristo que derramou seu sangue, o cristão deve converter-se também em vinho bom, de melhor colheita que vai passando de mão em mão e de cálice em cálice para que todos bebam a salvação e não a morte.

Além disso, a Eucaristia, dom de Deus, nos ensina a valorizar que o homem não somente vive do pão humano e sim de tudo quanto sai da boca de Deus. E nos assegura o socorro especial do Senhor na travessia do deserto da vida até chegar ao banquete eterno. Comer a carne do Senhor e beber seu sangue é habitar n´Ele e Ele em nós. 

A Eucaristia tem duas dimensões: sua celebração (a missa) e sua prolongação, com a reserva do Pão eucarístico no sacrário para os enfermos e para o caso de viático, e a conseguinte adoração que lhe dedica a comunidade cristã. A finalidade principal da Eucaristia é sua celebração e a comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo, que quis ser nosso alimento para o caminho da vida a fim de que sejamos vida também para os outros. 

Mensagem do Evangelho 

O evangelho desta santa missa (Jo 6,51-59) pertence ao conhecido discurso sobre o Pão da vida (Jo 6). Jesus diz que ele mesmo é o Pão descido do céu para ser comido. Mas comungar o Corpo de Cristo exige um ato de fé de muita intensidade. Comungar o Corpo de Cristo significa aceitar identificar-se com ele; oferecer-lhe a nossa pessoa, para que ele possa continuar a viver, a doar-se e a ressuscitar em cada um de nós. Somente quando nos mantemos nesta disposição de nos transformar na pessoa de Jesus, podemos afirmar que toda a nossa vida está iluminada pela Eucaristia. Nunca teremos a vontade de comungar o Corpo de Cristo, se não tivermos a fome de Cristo. Alimentar-nos de Cristo significa interiorizar suas atitudes mais báscicas e essenciais, acender em nós a vontade de viver como Ele, manter e despertar sempre nossa consciência de discípulos e seguidores para fazer d´Ele o centro de nossa vida e de nossas atividades pastorais e evangelizadoras. 

Na Eucaristia, Deus se encontra com nossa vida mortal, tão desejosa da eterna imortalidade. Na Eucaristia Deus pronuncia sobre nós Sua Palavra de Vida, reveste-nos da ressurreição de Cristo e deixa a nós estes angustiados pela morte, comer da sua imortalidade num convívio sagrado partindo e repartindo o que se tem e o que se é, como Cristo, Pão da Vida é partido e repartido nos nossos altares. Na Eucaristia, neste Corpo ferido e neste Sangue derramado, temos perenemente presente sua última palavra: O SIM de Jesus ao Pai, por nós e o SIM de Deus a nós, por causa de Jesus. 

Consequentemente, comer a carne e beber o sangue de Jesus significa incorporar-se, fusionar. É entrar em comunhão de amor e de destino de Jesus. Tomar o Corpo e o sangue, além disso, é reconhecer a vida do Espírito na carne e no sangue da humanidade, pois a Igreja é o Corpo místico de Jesus (cf. 1Cor 3,16-17). É a humanidade que sofre, que busca, que dá a luz ao mundo com dor; a humanidade que se alegra, que canta e dança. É a humanidade de ricos e de pobres, humanidade de pecadores e de santos. É a humanidade dos rápidos e dos atrasados em descobrir a graça de Deus. É a humanidade da humanidade.        

A eucaristia proporciona uma comunhão real de vida e de destino com a pessoa de Jesus. Seu Corpo nos faz participarmos na ressurreição, nos faz vivermos por Cristo que é vida para sempre, nos faz convivermos como irmãos, nos leva a vivermos na igualdade e na fraternidade, na partilha e na generosidade. 

A celebração eucarística, o mistério mais sagrado que a Igreja guarda como seu tesouro será cada vez menos compreendida, se esta celebração não for feita por uma comunidade viva que se preocupa com a bondade e o bem de todos e para todos. É na convivência fraterna, na experiência da generosidade de quem estima e me quer bem, que o mistério da Eucaristia tem sua plena realização. A missa se torna um espetáculo e um mito se a comunidade cristã não experimenta a beleza humana da bondade divinamente inspirada. Pouco adianta pregarmos o divino, se negarmos o humano.          

O Corpo e o Sangue de Cristo, isto é, a pessoa de Cristo, recebidos com fé são fonte de vida eterna, já desde agora, para o que comunga eucaristicamente. Não acontece a magia e o automatismo sacramentais. Sem fé não há sacramento, vida e comunhão com Jesus. Se Cristo se autodefine como a Vida, então, a Eucaristia comunica ao cristão a vida que Cristo recebe do Pai. Assim o comungante começa a participar da vida trinitária e da aliança de Deus com o homem por meio do sangue de Cristo. Cristo é a vida imortal prometida ao homem desde o princípio e à qual agora pode ter acesso efetivo mediante a comunhão do Corpo do Senhor com fé, isto é com a disposição de se deixar transformar na pessoa de Jesus.          

Portanto, a eucaristia é o centro de toda vida e liturgia de um cristão que quer viver o mistério de Cristo em profundidade.          

Mas “Corpo de Cristo” (Corpus Christi) é também a Igreja, quer dizer, todos os que acreditam em Jesus Cristo. O sacramento do Corpo do Senhor, a Eucaristia, relaciona-se, diretamente com a comunidade que o celebra. Daí que a Eucaristia, para ser autêntico do mistério profundo de amor que é a paixão, morte e ressurreição de Jesus, exija a união, o amor fraterno e completa unidade de grupo que celebra com fé a Eucaristia. É impossível celebrá-la sem comunidade de amor. Temos que nos converter, decisivamente, à dimensão comunitária da eucaristia e de toda a vida cristã, optando pelo amor e fraternidade na saudação cordial, no sorriso afável, no gesto acolhedor e compreensivo.  A nossa eucaristia deve ser uma reunião familiar.          

O dia de Corpus Christi oferece-nos a oportunidade de revisar nossa fé, celebração e comunhão eucarísticas. Queremos um teste para saber se elas estão qualificadas, como diz São Paulo, de dignas ou indignas, autênticas ou falsas. Há uma prova de autenticidade que não falha: é o amor no compartilhar com os homens nossos irmãos. Temos que nos purificar de tudo quanto nos separa deste amor para que nossa eucaristia seja agradável a Deus.          

A breve fórmula da comunhão: “O Corpo de Cristo: Amém”, é uma síntese admirável da fé eucarística, é todo um programa de vida, um amém muito sério, um gesto de compromisso maduro, um sinal total à união e ao amor fraterno do qual o Sacramento da Eucaristia é, e deve ser antes de tudo, um sinal eficaz e visível. 

A eucaristia é uma ceia fraterna na qual todos são tratados como irmãos e irmãs. A ceia fraterna não pode ser entendida sem comunhão fraterna, sem convivência com o Senhor e com os demais comensais ou com as demais pessoas. É certo que a Eucaristia constrói ou edifica a Igreja, mas a constrói ou edifica como comunidade que compartilha. Compartilhar é mais do que repartir o que temos, é mudar nossa forma de pensar e de viver para fazer possível uma convivência fraterna e solidária. Como dizia João Paulo II: “Nossa união com Cristo na Eucaristia deve manifestar-se, no dia de hoje, em nossa existência: em nossas atividades, em nossa conduta, em nosso estilo de vida e na relação com os demais”. Não é possível celebrar ou participar da Eucaristia sem a vivencia do amor fraterno, da caridade mútua e da solidariedade. Um escritor francês disse: “Não se pode crer impunemente”, isto é, não se pode crer sem que tenha consequências em nossa vida. Não se pode comungar o Corpo de Cristo sem que tenha consequências em nossa vida. Compartir o pão com os irmãos, especialmente com os necessitados é comungar com Cristo. Não tomaremos a sério a comunhão se não tomarmos a sério a vida, a justiça, a fraternidade e a honestidade. 

Comer o Corpo e beber o Sangue do Senhor significa comer e beber o amor à vida e tudo o que se refere à vida: liberdade, justiça, participação, fraternidade, igualdade. Uma Eucaristia que fica reduzida a um mero ato litúrgico é uma traição à última Ceia de Jesus da qual nasceu a Igreja. Trata-se de uma Igreja de irmãos, de apóstolos (enviados), de testemunhas, de mártires. Comer e beber a carne e o sangue de Jesus significa alimentar-se e alimentar uma humanidade necessitada de Jesus, Pão da Vida, necessitada do amor fraterno. É uma humanidade que para poder ser chamada de cristã precisa fazer desaparecer a injustiça, o ódio, a vingança, a discriminação, o racismo e assim por diante. Comungar com Cristo é comungar com sua causa. Todos somos chamados a seguir a Jesus Cristo, a ter fé nele, a caminhar pelo seu caminho. Todos nós sabemos que em Cristo temos o Caminho, a Verdade e a Vida. Na última Ceia Jesus nos recomendou: “Fazei isto em minha memória”. Toda Eucaristia é memorial que faz presente a entrega à morte do Mestre. Na Eucaristia, é o amor no Filho que se entregou para que possamos ter a vida eterna. Quem descobre o amor de um Deus que amou tanto os homens (cf. Jo 3,16), experimenta a chamada para difundir entre os homens este mesmo amor. Não se pode comungar com o gesto supremo de amor e ao mesmo tempo continua odiando, desprezando os outros. 

Senhor, pelo Santíssimo Mistério do Vosso Corpo e do Vosso Sangue com que, todos os dias, na Vossa Igreja, nos alimentamos, nos dessedentamos, nos purificamos e nos santificamos, que nos torna, enfim, participantes de uma mesma divindade, Vos suplico ainda que me concedais as Vossas santas virtudes que me encham e me permitam aproximar-me do Vosso altar com segura consciência, de sorte que estes celestes sacramentos para mim sejam salvação e vida.     

Pão dulcíssimo, sarai-me o paladar, para que eu sinta a suavidade do Vosso amor. Curai em mim toda languidez, para que, fora de Vós, não sinta doçura alguma. Pão puríssimo, que tendes todas as delícias e todo bom sabor, que incessantemente nos restaurais e nunca nos faltais, minha alma Vos receba, e minhas entranhas se encham da doce suavidade de tão saboroso alimento.     

Pão santo, Pão vivo, Pão cheio de pureza, que descestes do céu e dais a vida ao mundo, vinde ao meu coração; purificai-me de toda mancha, quer da carne, quer do espírito. Penetrai na minha alma, curai-me, purificai-me interior e exteriormente. Sede a minha salvaguarda, sede a contínua salvação da minha alma e do meu corpo! Afastai de mim os inimigos que me maquinam ciladas; afastem-se eles da vossa Majestade infinita, do Vosso infinito poder. Fortalecido por Vós, por fora e por dentro, Oxalá eu chegue, pelo caminho direto, ao Vosso Reino, onde nos veremos, não já em mistério como agora, mas face a face, porque todo o poder sobre as almas será dado ao Pai e a Deus, e Vós sereis, o Jesus, o Deus de todos. Então me saciareis de Vós de um modo maravilhoso; já não terei fome, já não terei sede. Vós que, com o mesmo Deus Pai e com o Espírito Santo, viveis e reinais por todos os séculos. Amém!  (Santo Ambrósio)  

P. Vitus Gustama,svd

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