quinta-feira, 13 de junho de 2024

15/06/2024-Sábdo Da X Semana Comum

SINCERIDADE E VERACIDADE NO USO DAS PALAVRAS: SOMOS CHAMADOS A SER SINCEROS

Sábado da X Semana Comum

Primeira Leitura: 1Rs 19,19-21

Naqueles dias, 19 o profeta Elias partiu dali e encontrou Eliseu, filho de Safat, lavrando a terra com doze juntas de bois; e ele mesmo conduzia a última. Elias, ao passar perto de Eliseu, lançou sobre ele o seu manto. 20 Então Eliseu deixou os bois e correu atrás de Elias, dizendo: “Deixa-me primeiro ir beijar meu pai e minha mãe, depois te seguirei”. Elias respondeu: “Vai e volta! Pois que te fiz eu?” 21 Ele retirou-se, tomou a junta de bois e os imolou. Com a madeira do arado e da canga assou a carne e deu de comer à sua gente. Depois levantou-se, seguiu Elias e pôs-se a seu serviço.

Evangelho: Mt 5,33-37

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 33 “Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não jurarás falso, mas cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor’. 34 Eu, porém, vos digo: Não jureis de modo algum: nem pelo céu, porque é o trono de Deus; 35 nem pela terra, porque é o suporte onde apoia os seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do Grande Rei. 36 Não jures tampouco pela tua cabeça, porque tu não podes tornar branco ou preto um só fio de cabelo. 37 Seja o vosso ‘sim’: ‘sim’, e o vosso ‘não’: ‘não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno”.

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 Cada Um É Chamada Por Deus Para Ser Seu Instrumento. A Graça Divina Não Admite Demora Para Não Adiar 

Elias, ao passar perto de Eliseu, lançou sobre ele o seu manto”.

O relato da Primeira Leitura expõe a vocação de Eliseu e intenta acreditar-lhe como sucessor legítimo do profeta Elias. 

Elias, que se considera possuidor do Espírito de Yahweh, acredita que esse espirito não pode terminar com ele. “Elias lançou sobre Eliseu o seu manto”. O gesto de jogar em cima o manto transforma-se em uma autêntica eleição, visto que o manto simboliza a personalidade e os direitos de seu dono. Elias impõe seu manto sobre Eliseu para significar que Elias transfere a missão profética para Eliseu. É como uma imposição de mãos (cf. At 6,6). O vestido era considerado como parte da pessoa que o vestia. Portanto, o gesto de Elias significa que Eliseu participa, a partir daquele momento, do espírito de Elias (cf. 1Sm 17,4-5). Por isso, o ato de Davi ter cortado um pedaço do manto do rei Saul entendia-se como uma injúria à pessoa sagrada (Saul) que era seu rei. Podemos entender a razão do arrependimento de Davi por esse ato (1Sm 24,6-7).

O manto une a mestre (Elias) e discípulo (Eliseu) na missão profética. Esse discípulo (Eliseu) dá provas de uma enorme fidelidade ao desejo, à forma de viver, aos caminhos e até às palavras de Elias. Eliseu, discípulos de Elias, acompanha seu mestre (Elias) em vida, e repete a maior parte de seus gestos depois que seu mestre morreu (arrebatado).

A chamada divina é muito diversa, mas não por isso menos autêntica. A chamada de Elias se assemelha muito à de Moisés: os dois se encontram com o Senhor no monte Horeb, ainda que um entre raios e trovões e outro no meio da brisa suave. Deus é livre e inclusive paradoxal em sua forma de manifestar-se. Os dois deixam um sucessor como continuador de sua missão: Josué, que recebe o bastão de comando, e Eliseu, sobre quem se atira um manto como sinal de investidura e invocação (1Rs 19,19). Pelo contrário, a chamada de Eliseu não está envolta em teofania alguma e sim que é muito mais prosaica: enquanto realiza seus labores agrícolas (da mesma maneira Davi, Amós, Gedeão, Samuel, Saul Simão Pedro, André etc.).

Eliseu se despede de seus pais e o celebra com um banquete: “Com a madeira do arado e da canga assou a carne e deu de comer à sua gente. Depois levantou-se, seguiu Elias e pôs-se a seu serviço”. A chamada implica um mudança generosa de vida e por isso, sacrifica os bois com os quais arava e obtinha sua renda de vida. Mas toda chamada deve ser alegre, e por isso, a celebra com um banquete.

Elias não impede Eliseu de despedir-se de seus pais. Ser “chamado” não pode equivaler a marginalizar (colocar na margem) os pais e irmãos para servir a uma instituição religiosa. A chamada profética é dura, implica suportar tudo. Eleiseu mata os bois come com alegria no meio de seus. O discipulo de Jesus deve renunciar a toda segurança: cargos, poderes, insígnias, influencias, autocomplacência e assim por diante.

Não é irônico que entre os discípulos de Jesus pretendamos estabelecer graus e poderes? Não é embaraçoso que muitos clérigos guiem toda a sua vida à espera de algo material e social? E o que dizer daqueles que, mais do que atender ao povo de Deus, só vivem pendentes "caindo bem" para serem cuidados? Doçura com os seus, radicalismo e atitude sem compromissos com a "profissionalização". Essa é a dificuldade da chamada.

Eliseu é o homem que vai ser consagrado como profeta, sucessor de Elias. É um homem corrente que está em seu labor habitual. É simplesmente um agricultor. 

Eliseu recebe a chamada de outro profeta e renuncia a sua vida anterior para seguir sua nova vocação como discípulo. Será que nós somos Igreja que chama, ou uma Igreja que espanta? Seroiamos capazes de responder generosamente, como Eliseu, para trabalhar na missão de Jesus Cristo conforme os talentos que recebemos?

O Senhor sempre vem ao nosso encontro, ao encontro de cada um de nós pessoalmente, para nos chamar no meio de nosso trabalho cotidiano. Há vários modo de o Senhor nos chamar: inspiração, retiro, pregação, o exemplo de vida de alguém, convite, compaixão, solidariedade e outros tantos. O Senhor nos chama para que, com Ele, sejamos uma solução para determinada situação da humanidade. Será que somos suficientemente sensíveis às chamadas de Deus para chegar a ser capazes de fazê-las soar nos demais? com humildade, discrição, mas com a força de Deus.

Quem Vive Em Cristo Torna-se Uma Pessoa Sincera e Autêntica

Não jurarás falso, mas cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor... Seja o vosso ‘sim’: ‘sim’, e o vosso ‘não’: ‘não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno”.

Continuamos a acompanhar o Sermão de Jesus na montanha conhecido como Sermão da Montanha (Mt 5-7). Estamos na seção chamada de antíteses: “Ouvistes... Porém Eu vos digo...”.

No evangelho de hoje o evangelista Mateus nos apresenta outra antítese. Desta vez é sobre o juramento. Quando se pratica o juramento é porque se pratica também a mentira. Se não existisse a mentira não teria necessidade de fazer juramento.

Era recomendado o cumprimento, com fidelidade, dos juramentos e dos votos que a Lei exigia (Lv 19,12; Ex 20,7; Nm 30,3; Dt 23,22; Sl 50,4). Jurar significa chamar Deus como testemunha da verdade dita, pois Deus é verdade (Jo 14,6). Jurar significa fazer de Deus como garantia da própria vida de quem faz o juramento. Com efeito, o “juramento” é o ato que sacraliza ao máximo as relações humanas, pois Deus entra nesse juramento. Deus é verdade. Daí o mandamento: ”Não jurarás falso “. O livro de Levítico acrescenta: “Não jurareis falso em meu nome, porque profanaríeis o nome de vosso Deus. Eu sou o Senhor” (Lv 19,12; cf. Ml 3,5; Jr 7,9; Zc 5,3; Sb 14,25). Tudo isso quer dizer que a Lei e os Profetas proíbem o juramento falso. E está claro que Jesus está de acordo.

Mas Jesus vai muito além. Jesus propõe a exclusão de qualquer tipo de juramento: “Eu, porém, vos digo: Não jureis de modo algum”. Com o juramento a pessoa abusava, em certa forma, da autoridade de Deus. Era como querer desculpar a deficiência da veracidade das próprias palavras e compromissos com a intervenção de Deus. O juramento se praticava na sociedade pela falta de sinceridade entre os homens. A proposta na proibição de juramento de qualquer maneira significa ter uma conduta tão sincera e verdadeira que supere qualquer desconfiança.

Na comunidade cristã, onde a sinceridade é regra (Mt 5,8: limpos de coração), o juramento é supérfluo; e mais, seria sinal de corrupção das relações humanas. A falta de sinceridade nasce da ambição, da mentira, da incoerência, da duplicidade e assim por diante.

Os cristãos, discípulos de Jesus, devem expressar-se através de uma linguagem sincera e coerente, sem nenhuma necessidade de recorrer a nenhum outro meio para demonstrar a veracidade de sua afirmação. “Seja o vosso ‘sim’: ‘sim’, e o vosso ‘não’: ‘não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno”. O juramento é, então, substituído pela transparência e a simplicidade ou clareza da linguagem. A palavra do cristão deve ser sim, quando é sim; e não, quando é não. Trata-se de uma linguagem veraz, seria e sincera, pois “Tudo o que for além disso vem do Maligno”.  Do maligno vem a mentira, as palavras insinceras, a linguagem dupla e incoerente.

Com as palavras do Evangelho de hoje Jesus convida o cristão a dar um passo adiante na sinceridade: “Seja o vosso ‘sim’: ‘sim’, e o vosso ‘não’: ‘não’. Tudo o que for além disso vem do maligno”. A mentira e o dolo são incompatíveis com o proceder do cristão. Quem recorre a expediente deste tipo, renega sua adesão ao Senhor.      

Outro objetivo da proibição de Jesus é evitar a vulgarização de Deus. O juramento falso infringe o mandamento que proíbe usar em vão do nome de Deus. O cristão autêntico não tem necessidade, a cada passo, lançar mão deste recurso para que se acredite em sua palavra. O sim do cristão é sim e o não é não. Não lhe interessa enganar. Tudo quanto é dito fora destes limites não vem de Deus. Por isso, tem de ser evitado. Enganar os outros significa deturpar o sinal da palavra, torná-la sinal de divisão e confusão, em lugar de comunhão e limpidez. A palavra do cristão deve ser verdadeira, pois ele é o seguidor da Palavra divina feita carne em Jesus (Jo 1,14). Deus é o dono da minha vida.

Através do evangelho de hoje somos chamados a ser sinceros com Deus, com o próximo e com nós mesmos. A palavra “sinceridade” provém do latim “sincérus” que significa 'puro, sem mistura; leal, franco, verdadeiro'. Ser sincero significa fazer ou falar sem artifício nem intenção de enganar ou de disfarçar o seu pensamento ou sentimento; é aquilo é dito ou feito de modo franco, isento de dissimulação. Uma pessoa sincera é uma pessoa em quem se pode confiar, pois ela é verdadeira, leal e pura de coração, que demonstra afeto e cordialidade para com os demais.

Em resumo, para o cristão é suficiente um sim ou um não. Se isto não é suficiente é porque há algo que vem do Maligno; é porque não somos puros de coração, não somos verdadeiros discípulos do Senhor, corremos o risco de nos dirigir a Deus de forma incorreta, de abusar de Seu nome. Em poucas palavras Jesus aboliu a lei do juramento nas relações interpessoais, pois o cristão deve falar a verdade.      

Ser verdadeiro no falar é uma forma de imitar o modo de ser de Deus. A religião de Israel era toda baseada na palavra de Deus. Seria impossível imaginar que Deus quisesse se enganar o seu povo. Do mesmo modo, seria inimaginável que o cristão abusasse da boa-fé de seu próximo. 

A palavra humana tem um valor por si mesma. Por isso, é inútil fazer qualquer juramento. Quando Jesus nos recomenda para não fazer qualquer juramento é porque ele quer que valorizemos a palavra usada. Ao proibir o juramento Jesus denuncia a mentalidade falsa em salvar as aparências.        

Que o Senhor Jesus nos dê a graça da sinceridade e da transparência, para que sejamos honestos no relacionamento com o nosso próximo e com o próprio Deus. E que saibamos usar cada palavra de açodo com seu sentido. Cada palavra representa uma realidade; cada frase contém várias realidades encontradas em cada palavra. Que saibamos usar com responsabilidade cada palavra. Que saibamos ditar ou pronunciar cada palavra de acordo com a realidade contida na palavra.

P. Vitus Gustama,svd

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