quinta-feira, 13 de junho de 2024

XI Domingo Comum Ano "B",16/06/2024

SER SEMADOR DO BEM DIARIAMENTE PARA ESTAR PREPARADO NO ENCONTRO DERRADEIRO COM DEUS

XI DOMINGO COMUM ANO “B”

Primeira Leitura: Ez 17,22-24

22 Assim diz o Senhor Deus: “Eu mesmo tirarei um galho da copa do cedro, do mais alto de seus ramos arrancarei um broto e o plantarei sobre um monte alto e elevado. 23 Vou plantá-lo sobre o alto monte de Israel. Ele produzirá folhagem, dará frutos e se tornará um cedro majestoso. Debaixo dele pousarão todos os pássaros, à sombra de sua ramagem as aves farão ninhos. 24 E todas as árvores do campo saberão que eu sou o Senhor, que abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa; faço secar a árvore verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço”.

Segunda Leitura: 2Cor 5,6-10

Irmãos: 6 Estamos sempre cheios de confiança e bem lembrados de que, enquanto moramos no corpo, somos peregrinos longe do Senhor; 7 pois caminhamos na fé e não na visão clara. 8 Mas estamos cheios de confiança e preferimos deixar a moradia do nosso corpo, para ir morar junto do Senhor. 9 Por isso, também nos empenhamos em ser agradáveis a ele, quer estejamos no corpo, quer já tenhamos deixado essa morada. 10 Aliás, todos nós temos de comparecer às claras perante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito ao longo de sua vida corporal.

Evangelho: Mc 4, 26-34  

Naquele tempo, 26 Jesus disse à multidão: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. 27 Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. 28 A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga. 29 Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou”. 30 E Jesus continuou: “Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? 31 O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. 32 Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra”. 33 Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. 34 E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo.

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Os projetos ou os planos de Deus não nascem grandes, prontos e acabados. Eles são comparados como um broto que nasce do tronco e cresce (Primeira Leitura) ou como uma semente cujo crescimento é despercebido (Evangelho).  O processo de crescimento é invisível, mas o resultado se tornará visível. É na pequenez que se revela a grandeza e a força do Reino de Deus. nesse processo todo é necessário manter a esperança. No desejo do imediato, o processo de cerscimento é inviabilizado. Não podemos força uma flor para florescer, pois não veremos a sua beleza toda.

A Primeira Leitura nos apresenta uma visão fundamentada na esperança, pois a história continua a estar nas mãos de Deus. É Deus quem tem a última palavra sobre a história da humanidade. Nem por força nem por violência, mas Deus se faz presente através da ação libertadora no meio do povo.

As imagens usadas na Primeira Leitura retornam à fábula de Ez 17,1-10. O novo ramo do topo do cedro representa um rei futuro da casa de Davi (2Sm 7,13). Se o cedro (Ez 17,24) é o rei de Judá, as árvores são os reis das nações próximas (ao redor). Eles saberão que Deus humilha o poderoso e traz um novo rei de Deus para a glória, a partir do estado humilde. O novo e verdadeiro rei vai sair da linhagem davídica. O novo rei da linhagem davídica não inaugurará a nova era através da força militar, mas o próprio Deus sozinho trará novos tempos com característica pacífica: “Eu, o Senhor, digo e faço”.  Por isso, aquele que tem fé em Deus deve manter a esperança para a vitória final.

A pregação de Jesus, no Evangelho de Marcos, começa com o anúncio da presença do Reino: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15). Em Jesus cumpriu-se toda a profecia do Antigo Testamento. É deste Reino que nos falam as duas parábolas de hoje, explicadas aos discípulos “quando (Jesus) estava sozinho com os discípulos”.

O evangelho de hoje, através das duas parábolas, nos ajuda a entendermos como conduz Deus nossa história. Se esquecermos seu protagonismo e a força intrínseca que tem seu Evangelho, seus sacramentos e sua Graça poderão acontecer duas coisas: se tudo for bem, pensamos que mérito seja nosso. Se tudo for mal, nos afundamos. Não teríamos que nos orgulhar nunca, como se o mundo se salvasse por nossas técnicas e esforços. Não podemos esquecer aquilo que São Paulo nos aconselhou: Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer. Assim, nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas só Deus, que faz crescer. O que planta ou o que rega são iguais; cada um receberá a sua recompensa, segundo o seu trabalho.  Nós somos operários com Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus. Segundo a graça que Deus me deu, como sábio arquiteto lancei o fundamento, mas outro edifica sobre ele. Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo(1Cor 3,6-11).                        

Jesus quer nos dar lição de que os meios podem ser muito pequenos, mas podem produzir frutos inesperados, não proporcionados nem a nossa organização nem a nossos métodos e instrumentos. A força da Palavra de Deus vem do próprio Deus e não de nossas técnicas. Quando em nossa vida há uma força interior, a eficácia do trabalho cresce notavelmente. Mas quando essa força interior é o amor que Deus nos tem, ou seu Espírito ou a Graça salvadora de Cristo ressuscitado, então, o Reino de Deus germinará e crescerá poderosamente. O que devemos fazer é colaborar com nossa liberdade. Mas o protagonista é Deus. Não é que sejamos convidados a não fazer nada e sim a trabalhar com o olhar posto em Deus, sem impaciência, sem exigir frutos a curto prazo, sem absolutizar nossos méritos e sem demasiado medo ao fracasso. Há que ter paciência como a tem o lavrador esperando a colheita. 

Basta ter um pouco de amor no coração, a paciência será nossa parceira inseparável para esperar os frutos abundantes que virão da própria mão de nosso Pai celeste. Por isso, Deus quer que entremos na aliança de amor com Ele. Ao entrar em comunhão de vida com ele, Deus quer nos fazer sinais de seu amor para com os outros. Mas Deus jamais deixa de nos amar, pois Ele é amor (1Jo 4,8.16). Deus nos ama e cremos no seu amor. Se quisermos que a Palavra de Deus chegue aos demais não somente como informação e sim como testemunho de vida, nós devemos ter a abertura suficiente ao dom de amor de Deus.                 

Em outras palavras, podemos dizer que o Reino de Deus, a Palavra de Deus, tem dentro de si uma força misteriosa que apesar dos obstáculos encontrados no seu caminho vai germinar e dar fruto. Com esta parábola Jesus quer sublinhar a força intrínseca da graça e da intervenção de Deus. O protagonista da parábola não é o lavrador nem o terreno bom ou mau e sim a semente. O Reino de Deus já está no meio de nós. Este Reino cresce em segredo em nosso mundo, alimentado pelo próprio Deus que o põe no coração dos crentes como uma semente que, pouco a pouco, dá abundantes colheitas de solidariedade e de serviço entre as pessoas de boa vontade. Essas duas parábolas podem alimentar e fortalecer nossa esperança. Pouco importam os aparentes fracassos e as grandes dificuldades. É o próprio Deus Pai que faz crescer e germinar seu Reino, muitas vezes, através dos caminhos misteriosos e desconhecidos por nós, pobres pecadores. Vamos semear o bem, a bondade, o amor e os resultados vamos deixar por conta de Deus. 

Nas duas parábolas há uma mesma dinâmica: produz-se algo que não parece proporcionado a seu princípio, porque há uma força misteriosa que trabalha. Em ambas é conjugado o trabalho da semente e da terra, e fica em segundo lugar o trabalho dos homens: “Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”. A Primeira Leitura afirma muito explicitamente que o Senhor Quem “abaixa a árvore alta e eleva a árvore baixa”. E o Salmo Responsorial comenta esta “plantação” do Senhor: “O justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados” (Sl 91/92). 

Mesmo que o trabalho dos homens esteja em segundo lugar, mas não significa que seja dispensável. Tal como no cultivo do trigo, assim também na obra da graça divina deve haver um semeador. A terra por si mesma jamais produziria o trigo. Sozinha a terra pode produzir espinhos e abrolhos, mas nunca o trigo. A mão humana precisa arar a terra e espalhar a semente, senão jamais haverá colheita de trigo.

Jesus Cristo precisa espalhar sobre o coração humano a boa semente de sua Palavra, através da mão cooperadora dos homens chamados para este trabalho. Ao conferir aos homens a sua graça, Deus opera normalmente através de meios apropriados pelo seu crescimento no coração de cada homem. 

Além disso, somos ensinados que na obra da graça há muita coisa que ultrapassa o poder de compreensão e de controle dos homens. O mais sábio e experiente agricultor jamais será capaz de explicar exatamente o que ocorre a um grão de trigo após tê-lo semeado. O semeador planta a semente e deixa o crescimento dela aos cuidados de Deus. Pois o Senhor Quem “abaixa a árvore alta e eleva a árvore baixa”. “Deus...dá o crescimento” (1Cor 3,7). 

Da mesma forma, as operações da graça divina, no coração de um homem, são inteiramente misteriosas e insondáveis. Não podemos explicar definitivamente e totalmente por qual razão a Palavra de Deus produz efeitos numa pessoa, e na outra pessoa nada produz. Nem sabemos explicar bem, que apesar de muitas exortações ou advertências, certas pessoas rejeitam a Palavra de Deus e continuam mortas e infelizes em seus delitos e pecados.

As habilidades mais elevadas, a mais poderosa oratória, a mais diligente atuação humana, não podem garantir o sucesso. Somente Deus é capaz de dar a vida eterna. A nossa principal tarefa consiste em semear a Palavra de Deus, e o seu crescimento está no poder de Deus. Feito isso, podemos esperar os resultados da fé e de nossa paciência. Devemos descansar, noite e dia, deixando nas mãos do Senhor o resultado de nosso trabalho. Somente o Senhor pode determinar o resultado, e se achar conveniente, Ele dár o sucesso. 

Além disso, aprendemos das duas parábola que a vida se manifesta gradualmente. A natureza nada faz rapidamente ou apressadamente. A planta precisa passar por vários estágios antes de atingir a maturidade.

Semelhantemente a obra da graça divina vai-se desenvolvendo no coração humano por etapas. Os filhos de Deus não nascem perfeitos na fé, na esperança, na caridade, no conhecimento ou na experiência cristã. Eles vão crescendo aos poucos e vão aprendendo aos poucos as lições que a vida lhes apresenta. Não há nada que eles não possam aprender diariamente. Com todas as suas debilidades e fraquezas, os filhos de Deus vão vivendo com dignidade. 

Outra coisa que aprendemos da parábola da semente é que nenhum agricultor pensaria em cortar o trigo que está brotando, quando ainda está verde. Quando as espigas estiverem cheias, maduras e douradas, então ele lançará a foice para recolher o trigo. “Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou”. Deus age precisamente dessa mesma maneira. Normalmente, Ele jamais remove o homem deste mundo enquanto não estiver maduro e preparado. O grande agricultor jamais arranca o seu trigo enquanto ele não está maduro. 

Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou”. Metaforicamente, esta frase nos leva a entedermos a lição da Segunda Leitura (2Cor 5,6-10). São Paulo nos relembra que um dia nossa vida é semelhante à colheita: haverá o momento de recolher o trigo ou sementes boas, e de jogar fora o que não presta, no encontro derradeiro com Deus: “Todos nós temos de comparecer às claras perante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito ao longo de sua vida corporal” (2Cor 5,10). Termos que que comparecer diante de Deus para prestar contas sobre nossa vida neste mundo. No fim de nossa vida colheremos aquilo que plantamos durante nossa presença neste mundo. 

O que eu tenho plantado ou semeado na minha vida? O que estou plantando neste momento da minha vida? Não basta plantar. É necessário antecipar também o que será colhido. Não basta fazer por fazer. É preciso projetar o que estamos fazendo para saber qual tipo de futuro teremos. 

PALAVRAS DO PAPA FRANCISCO:

"O Evangelho nos pede um olhar novo sobre nós próprios e sobre a realidade; pede-nos um olhar mais amplo, que saibamos ver além, especialmente além das aparências, para descobrir a presença de Deus que, com amor humilde, está sempre em ação no campo da nossa vida e da nossa história. ... Nunca esqueçamos que os resultados da sementeira não dependem das nossas capacidades: dependem da ação de Deus. Compete a nós semear, e semear com amor, esforço e paciência. Mas a força da semente é divina. ... Com Deus, até nos solos mais secos, há sempre esperança de novos rebentos" (Angelus: Praça São Pedro, 13 de junho de 2021)     

P. Vitus Gustama,svd

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