terça-feira, 25 de junho de 2024

27/06/2024-Quintaf Da XII Semana Comum

ENTRE FALAR E FAZER NA VIDA DO CRISTÃO:

NOSSA PALAVRA JAMAIS ULTRAPASSA NOSSO TESTEMUNHO

Quinta-Feira da XII Semana Comum

Primeira Leitura: 2Rs 24,8-17

8 Joaquim tinha dezoito anos quando começou a reinar e reinou três meses em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Noestã, filha de Elnatã, de Jerusalém. 9 E ele fez o mal diante do Senhor, segundo tudo o que seu pai tinha feito. 10 Naquele tempo, os oficiais de Nabucodonosor, rei da Babilônia, marcharam contra Jerusalém e a cidade foi sitiada. 11 Nabucodonosor, rei da Babilônia, veio em pessoa atacar a cidade, enquanto seus soldados a sitiavam. 12 Então Joaquim, rei de Judá, apresentou-se ao rei da Babilônia, com sua mãe, seus servos, seus príncipes e seus eunucos. E o rei da Babilônia os fez prisioneiros. Isto aconteceu no oitavo ano de seu reinado. 13 Nabucodonosor levou todos os tesouros do templo do Senhor e do palácio real, e quebrou todos os objetos de ouro que Salomão, rei de Israel, havia fabricado para o templo do Senhor, conforme o Senhor havia anunciado. 14 Levou para o cativeiro Jerusalém inteira, todos os príncipes e todos os valentes do exército, num total de dez mil exilados, e todos os ferreiros e serralheiros; só deixou a população mais pobre do país. 15 Deportou Joaquim para a Babilônia, e do mesmo modo exilou de Jerusalém para a Babilônia a rainha-mãe, as mulheres do rei, seus eunucos e todos os nobres do país. 16 Todos os homens fortes, num total de sete mil, os ferreiros e os serralheiros em número de mil, todos os homens capazes de empunhar armas, foram conduzidos para o exílio pelo rei da Babilônia. 17 E, em lugar de Joaquim, ele nomeou seu tio paterno, Matanias, mudando-lhe o nome para Sedecias.

Evangelho: Mt 7,21-29

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 21 “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus. 22 Naquele dia, muitos vão me dizer: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos muitos milagres? 23 Então eu lhes direi publicamente: Jamais vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais o mal. 24 Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática, é como um homem prudente, que construiu sua casa sobre a rocha. 25 Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos deram contra a casa, mas a casa não caiu, porque estava construída sobre a rocha. 26 Por outro lado, quem ouve estas minhas palavras e não as põe em prática, é como um homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. 27 Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos sopraram e deram contra a casa, e a casa caiu, e sua ruína foi completa!” 28 Quando Jesus acabou de dizer estas palavras, as multidões ficaram admiradas com seu en­sina­mento. 29 De fato, ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os mestres da lei.

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Tudo Se Supera Quando a Força Humana Se Junta à Força Divina

Joaquim tinha dezoito anos quando começou a reinar, e reinou três meses em Jerusalém... E ele fez o mal diante do Senhor, segundo tudo o que seu pai tinha feito”.

O texto da Primeira Leitura é uma das páginas mais trágicas da história para Jerusalém e o povo judeu, pois houve a invasão do rei da Babilônia, Nabucodonosor, e a deportação dos elites de Jerusalém para a Babilônia que ocorreu em 597 a.C (cf. Sl 136/137). Na época quem reinava em Jerusalém foi Joaquim (Jeconias) cujo reinado durou apenas três meses.

Nabucodonosor em Hebraico e Aramaico significa “Ó Nabu (divindade babilônica) protege minha fronteira (ou, meu filho)”. Seu nome é encontrado na Bíblia nos livros de 2Reis, 2Crônicos, Esdras, Jeremias, Ezequiel e Daniel.  Nabucodonosor foi o rei da Babilônia de 604 a 562 a.C. A queda  de Nínive, em 612 a.C, marcou o fim do poderoso império assírio, dando lugar à Babilônia como força dominante do Oriente Próximo. Em 598 a.C atacou Jerusalém e a ocupou. Levou cativo o jovem rei Joaquim, colocando o tio deste, Sedecias, no trono. Nabucodonosor foi o mais poderoso e enérgico soberano do novo império babilônio. Sua capital, Babilônia, transformou-se no maior centro de comércio, rquitetura, arte e astronomia de seu tempo. Os jardisn plantados nos terraços elevados, no topo do plácio de Nabucodonosor, os “jardins suspensos da Babilônia, foram incluídos pelos gregos entre as ste maravilhas do mundo (2Rs 24,25; 1Cr 6,15; 2Cr 36; Esd 1,7; 2,1; 5,12.14 etc.,). Depois de sua morte, o poder do império Babilônico declinou, até que finalmente foi derrotado pela aliança medo-persa em 539 a.C.

O que chama nossa atenção deste rei Nabucodonosor, segundo o livro de Daniel, é que depois do episódio da fornalha ardente, o rei expressou louvores ao Senhor e decretou que ninguém devia falar contra o Deus dos judeus (Dn 3,29). E em Dn 4,34, Nabucodonosor reconheceu que o Senhor era o Rei sobre o céu e a terra e o glorificou. Ele se converteu? A Bíblia não falou expressamente.

Na verdade, o profeta Isaias já tinha profetizado essa tragédia experimentada pelo povo judeu por causa do rei Nabucodonosor (2Rs 20,17-18: interpretação dos redatores deuteronomistas).

O Salmo Responsorial descreve muito bem essa tragédia ao dizer: Invadiram vossa herança os infiéis, profanaram, ó Senhor, o vosso templo, Jerusalém foi reduzida a ruínas! Lançaram aos abutres como pasto os cadáveres dos vossos servidores; e às feras da floresta entregaram os corpos dos fiéis, vossos eleitos. Derramaram o seu sangue como água em torno das muralhas de Sião, e não houve quem lhes desse sepultura! Nós nos tornamos o opróbrio dos vizinhos, um objeto de desprezo e zombaria para os povos e àqueles que nos cercam”.

O próprio texto explica a razão da invasão babilônica e consequentemente, da brevidade do reinado de Joaquim: “Ele fez o mal diante do Senhor, segundo tudo o que seu pai tinha feito”. O mal praticado tanto pelo próprio Joaquim como pelo seu pai eram injustiças sociais, relaxamento/decadência moral, culto aos deuses, política unicamente humana sem referência à fé (confiar apenas nas forças humanas).

Por isso, podemos entender o motivo do pedido de perdão a Deus no Salmo Responsorial: “Não lembreis as nossas culpas do passado, mas venha logo sobre nós vossa bondade, pois estamos humilhados em extremo. Ajudai-nos, nosso Deus e Salvador! Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos! Por vosso nome, perdoai nossos pecados!”

Quando sucederam catástrofes, pandemias e outras tragédias humanas, tanto pessoais como comunitárias, é o momento oportuno para tirarmos lições e refletirmos sobre as causas que originaram essas catástrofes e sobre a parte de culpa que nós temos. De alguma forma, cada um de nós contribuiu alguma parte, mesmo que seja pequena, para acontecer este tipode tragédia. Muitas vezes acontece que a ruina de uma pessoa se deve aos erros ou falhas não refletidos e corrigidos, que, ao princípio eram insignificantes, porém foram-se crescendo a ponto de se perder o controle sobre eles e acabam arruinando a vida de quem os cometeu. Porém, ningué sofre sozinho, pois cada pessoa faz parte de um conjunto de pessoas, seja conjunto familiar, eclesial, nacional ou global. A ruina da sociedade ou de uma comunidade também tem suas causas: econômicas, políticas, pessoais e muitas vezes por causa da perda de valores que são necessários para qualquer convivência humana.

Em segundo lugar, precisamos saber contar sempre com Deus em todas as situações de nossa vida. Precisamos duvidar de nossas forças e colocar uma margem de dúvida para nossas certezas. Trata-se da saber viver na sabedoria que nos torna humildes e que nos leva a reconhecermos o protagonismo de Deus na nossa vida. O profeta Isaias nos relembra com as seguintes palavras: “Cansam-se as crianças e param, os jovens tropeçam e caem, mas os que esperam no Senhor renovam suas forças, criam asas como as águias, correm sem se cansar, caminham sem parar” (Is 40,30-31). Deus tem poder de tirar bem, inclusive, de nossa misérias: purifica-nos, nos recapacita, nos ajuda a aprendermos as lições da vida para não voltar a cair nas mesmas falhas e infidelidades. 

Em terceiro lugar, quando Deus sempre faz seu apelo para que o homem se converta da maldade praticada. A maldade sempre causa um mal tremendo tanto para quem a praticada como para as pessoas ao seu redor. Se o homem não se converter o grau de seu sofrimento vai aumentando de acordo com o grau do mal praticado. Se o homem não se converter ou não se mudar pelo bem e pelo amor, um dia ele será obrigado a se mudar pela dor. Os apelos e as orientações nunca faltam. O que falta é o amor. A lei de Deus está escrita no coração de cada um dos homens.

Valor Do Dizer e Do Fazer Na Vida Cristã

Estamos ainda no Sermão da Montanha (Mt 5-7).  O texto do evangelho de hoje é a última parte da conclusão do Sermão da Montanha (Mt 7).

O evangelista Mateus se encontra diante de uma comunidade carismática, rica de fé e entusiasmo: adora o Senhor, profetiza em seu Nome, faz milagres e exorcismos. Porém, tudo isso não e suficiente para alcançar a salvação. Tudo isso careceria de sentido sem fazer a vontade de Deus. E a vontade de Deus se resumo no amor a Deus e ao próximo. Sem amor tudo se torna nulo (1Cor 13,1-3). Amar verdadeiramente significa estar com Deus que é Amor (1Jo 4,8.16). Cristão que ama e perdoa é um verdadeiro cristão.

Como podemos saber se alguém é um verdadeiro cristão ou somente tem nome de cristão, mas que não tem nada a ver com a maneira de viver?  De que vale ter o nome cristão se tua vida não é cristã? Há muitos que se denominam médicos e não sabem curar. Muitos que se dizem vigilantes noturnos não fazem mais que dormir a noite inteira. Assim também muitos se chamam cristãos, mas não o são em seus atos. Em sua vida, moral, fé, esperança e caridade são muito diferentes do que declara seu nome”, dizia Santo Agostinho (In epist. Joan. 4,4). O que conta para Deus é o bem que praticamos. Esta questão é que o texto do Evangelho deste dia quer nos transmitir.

Fazer e Dizer Devem Estar Em Sintonia Perfeita

Nem todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’”. Mais uma vez aparece no evangelho a dialética entre o dizer e o fazer. Há quem fale continuamente de Deus (“Senhor, Senhor”) e logo se esquece de fazer sua vontade. Há quem se faça a ilusão de trabalhar pelo Senhor (“profetizamos em teu nome, expulsamos os demônios, fizemos milagres”), mas logo, no dia das contas, no dia da verdade, acontece que o Senhor não o conhecerá: “Jamais vos conheci. Afastai-vos de mim”.

Por isso, existe o perigo de uma oração (“Senhor, Senhor”) que não é traduzida em vida e em compromisso. Por essa razão um sábio chegou a dizer: Não há nada que seja mais perigoso do que a oração, porque obriga ou leva quem reza a assumir os compromissos de Deus com seriedade e perseverança na convivência com os demais homens. Existe o perigo de uma escuta da Palavra que não se converte em nada prático e operante. Jesus fala bem claro neste evangelho: os que falam bem, os que “rezam bem”, os que “oram”, mas não “fazem” não entrarão no Reino. Em outras palavras, a oração precisa ser transformada em compromisso. Rezemos diante de Deus como uma criança, mas logo voltemos à nossa vida com nossa responsabilidade de adultos. O final de toda oração adulta é um só: “Amém”, isto é, aceito a realidade e minha responsabilidade diante dela.

Por que às vezes ou muitas vezes, a oração se encerra em si, a escuta da Palavra de Deus não se traduz em vida e o encontro com os irmãos não se abre ao mundo? A resposta implicitamente se encontra na própria Palavra de Deus: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6,24). Por servir a dois senhores, a pessoa, depois de “servir” a Deus com oração, com a escuta da Palavra e com a reunião eclesial logo serve ao mundo e a si própria com as opções concretas e cotidianas da vida longes dos valores cristãos.

Precisamos estar conscientes de que não existe verdadeira fé sem empenho moral. A oração e a ação, a escuta e a prática, são igualmente importantes. Há três coisas indispensáveis para a vida de um cristão: escuta atenta da Palavra de Deus com oração, prática da vontade de Deus e perseverança até o fim apesar das tempestades da vida.

Jesus não quer que os cristãos cultivem somente a relação com ele, e sim que sejam seguidores que, unidos a ele, trabalhem para mudar a situação da humanidade. É viver de acordo com a justiça e a caridade. Onde há justiça não há pobreza nem exclusão social. 

Construir a Vida Sobre a Rocha da Palavra de Deus

“Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática, é como um homem prudente, que construiu sua casa sobre a rocha”. A “casa” não simplesmente o local onde o homem se abriga. A casa é, principalmente, lugar de relações de intimidade, familiaridade e amor, onde o homem se realiza como imagem de Deus. A “casa” é nosso lar. A rocha é Deus, estabilidade completa. Um lar com Deus é uma rocha.

Jesus nos convida hoje a sermos seguidores “rocha” e não seguidores “areia”. Seguidor “areia” é aquele que vive de uma fé de simples aparência, sem fundamento. Um dia acredita em Deus, em outra ocasião perde a fé. Crê quando as coisas vão ao seu gosto e se desanima quando tudo não corresponde àquilo que imaginava. Os seguidores “rocha” são os que fundamentam sua vida na rocha que é Cristo e sua Palavra. Os seguidores “rocha” se mantêm firmes em qualquer situação, porque seguram na mão de Deus e sabem em quem acreditam (cf. 2Tm 1,12c).  Para sermos verdadeiros seguidores “rocha” devemos fazer próprias as palavras do Salmo 78: “Senhor, não lembreis as nossas culpas do passado, mas venha logo sobre nós vossa bondade.... Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos! Por vosso nome, perdoai nossos pecados!”. Não corrigir nossas faltas é o mesmo que cometer novos erros. Muito sabe quem conhece a própria ignorância e procura a viver mais com sabedoria e prudência.

O evangelho deste dia quer nos dizer que não importa “dizer Senhor, Senhor, nem falar em seu nome, nem sequer fazer milagres”. O que importa é a prática. O fazer. As obras. Não o dizer, nem o pensar, nem o rezar, nem o pregar, nem fazer milagres. A prática é a rocha, por isso, é firme até diante de Deus. Jesus nos convida a construir nossa vida sobre a prática. As obras boas praticadas são verdadeiros sinais da abertura diante da graça de Deus.

Para Refletir:

  • O Nome de cristão traz em si a conotação de justiça, bondade, integridade, paciência, castidade, prudência, amabilidade, inocência, e piedade. Como podes explicar a apropriação de tal nome se tua conduta mostra tão poucas dessas muitas virtudes? Não nos deixemos enganar pelo fato de nos chamarem de cristãos. Antes, admitimos ser merecedores de reprovação se usamos um nome ao qual não temos direito... Não existe uma só profissão que não carregue consigo a função correspondente. Como, pois, te atreves a chamar-te cristão, se não te comportas como tal? (Santo Agostinho: De vit. Christ. 6).

P. Vitus Gustama,SVD

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