quarta-feira, 31 de julho de 2024

02/08/2024-Sextaf Da XVII Semana Comum

É PRECISO FICAR ATENTO, POIS DEUS SE MANIFESTA NO COTIDIANO

Sexta-Feira da XVII Semana Comum

Primeira Leitura: Jr 26,1-9

1 No início do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, foi comunicada da parte do Senhor esta palavra, que dizia: 2 “Assim fala o Senhor: Põe-te de pé no átrio da casa do Senhor e fala a todos os que vêm das cidades de Judá, para adorar o Senhor no templo, todas as palavras que eu te mandei dizer. Não retires uma só palavra; 3 talvez eles as ouçam e voltem do mau caminho, e eu me arrependa da decisão de castigá-los por suas más obras. 4 A eles então dirás: Isto diz o Senhor: Se não vos dispuserdes a viver segundo a lei que vos dei, 5 a escutar as palavras dos meus servos, os profetas, que eu vos tenho enviado com solicitude e para vossa orientação, e que vós não tendes escutado, 6 farei desta casa uma segunda Silo e farei desta uma cidade amaldiçoada por todos os povos da terra”. 7 Os sacerdotes e profetas, e todo o povo presente ouviram Jeremias dizer estas palavras na casa do Senhor. 8 Quando Jeremias acabou de dizer tudo e que o Senhor lhe ordenara falasse a todo o povo, prenderam-no os sacerdotes, os profetas e o povo, dizendo: “Este homem tem que morrer! 9 Por que dizes, em nome do Senhor, a profecia: ‘Esta casa será como Silo, e esta cidade será devastada e vazia de habitantes?’” Todo o povo juntou-se contra Jeremias na casa do Senhor.

Evangelho: Mt 13, 54-58

Naquele tempo, 54 dirigindo-se para a sua terra, Jesus ensinava na sinagoga, de modo que ficavam admirados. E diziam: “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres? 55 Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? 56 E suas irmãs não moram conosco? Então, de onde lhe vem tudo isso?” 57 E ficaram escandalizados por causa dele. Jesus, porém, disse: “Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!” 58 E Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé.

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Os Maus Caminhos Terminam Na Desgraça, Os Bons Caminhos Estão Cheios Da Graça e Bênção Do Senhor

O texto da Primeira Leitura se encontra no conjunto de Jr 26,1-35,19. Este conjunto de textos (Jr 26,1-35,19) se situa durante o reinado de Joaquim, rei de Judá (609-597 a.C). Mas a parte central deste conjunto, isto é, Jr 27-29 acontece na época de Sedecias, rei de Judá (597-586 a.C. Cf. 2Rs 24,17ss) contra os falsos  profetas, e já ocorrida a primeira deportação. Neste conjunto, o profeta Jeremias lança suas denúncias contra as autoridades e o povo em geral que não vivem de acordo com a lei de Deus. Apesar de tudo isso, este conjunto termina com uma benção aos Recabitas em Jr 35. Com Jr 26 iniciam-se as reações bem violentas diante do discurso do profeta Jeremias contra o templo, como lemos no texto da Primeira Leitura.

“Se não vos dispuserdes a viver segundo a lei que vos dei, a escutar as palavras dos meus servos, os profetas, que eu vos tenho enviado com solicitude e para vossa orientação, e que vós não tendes escutado, farei desta casa uma segunda Silo e farei desta uma cidade amaldiçoada por todos os povos da terra”, são Palavras de Deus através do profeta Jeremias, que lemos na Primeira Leitura. Deus suspenderá seu julgamento se o povo se arrepender e observar a lei. Isso quer nos dizer que o povo em geral vive fora da Lei.

A cena representa um dos momentos culminantes da vida do profeta Jeremias: diante do povo e das autoridades (o rei Joaquim acaba de subir ao trono), ele anuncia, em nome de Deus que eles devem abandonar seus maus caminhos. Se não o fizerem, Deus permitirá desgraça total e o Templo será destruído, como o de Silo, séculos antes (o templo onde o jovem Samuel havia crescido).

A reação é violenta. Como sempre é diante da voz de um profeta autêntico, que não anuncia coisas agradáveis ​​aos ouvidos do povo ou dos líderes, mas o que Deus lhe impõe em consciência: "você é um prisioneiro da morte!" Assim como, cem anos antes, Deus havia salvado o povo da ameaça de Senaqueribe. Jeremías anuncia que a infidelidade das autoridades e o povo em geral à Aliança foi longe demais.

Como já sabemos que se queremos aprender a melhorar por amor, vamos aprender pela dor para melhorar a qualidade de nossa vida. As palavras do profeta Jeremias são duras para serem ouvidas para quem quer manter na sua vida infidelidade aos valores da lei de Deus. As palavras duras de Jeremias revelam a gravidade do pecado cometido. As palavras duras de uma mãe ou de um pai dirigidas a seu filho e a sua filha, de modo geral, mostram que o perigo para destruir a vida deles (dos filhos) está iminente. Quanto mais grave for uma situação, mais duras se tornam as palavras para uma pessoa que amamos. Deus emite vários alertas sobre o perigo de nossa vida, pois Ele nos ama. Deus usa os profetas para nos avisar e orientar.

Atrás das palavras duras perante o perigo iminente há apelo para a conversão; há apelo para afastar-se do pecado a fim de se aproximar de Deus. O pecado é sempre um afastamento. Com o pecado se estabelecem distâncias: de Deus, do próximo, de si próprio e da natureza. É um abandono de uma vida harmoniosa com tudo e com todos em nome do egoísmo, do prazer ou dos interesses egoístas que aos poucos vai destruindo a vida do pecador. O pecado torna-nos isolados de tudo e de todos. Pecar é ir longe demais de tudo e de todos, como o filho pródigo que termina numa vida destruída. 

A Boa Nova é que Deus tem planos de salvação para todos, quando há conversão. Jeremías coloca em seus lábios alguns propósitos de bondade: "Vamos ver se eles escutam e cada um se desvia de seu mau comportamento e lamento o mal que medito para fazer com eles". Deus não quer, em princípio, punição, mas "converte e vive". A conversão é uma profunda mudança interior que envolve toda a pessoa humana. Uma volta para Deus com todo o coração, a mente e a alma. Afeta a razão e a vontade.

Deus Está No Nosso Cotidiano: Prestemos bem a Atenção Sobre Esta Presença Misteriosa

“‘Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria... Então, de onde lhe vem tudo isso?’. E ficaram escandalizados por causa dele”.

Os conterrâneos de Jesus, os nazarenos, acham conhecer Jesus, mas na verdade eles não O conhecem na sua profundidade. Não há nada que seja tão perigoso do que a pretensão de saber de tudo. Uma pessoa que tem essa pretensão se fecha em si mesma e deixa de aprender. A humildade sempre nos move a aprender mais para poder partilhar com os demais. “Você sabe? Então, ensine. Você não sabe, então, aprenda”, dizia Confúcio que viver quinhentos anos antes de Cristo. Para ter resultados extraordinários precisamos ter humildade para aprender. A falta da humildade impede alguém de aprender mais e de continuar a crescer e impede alguém de ser irmão do outro. A pessoa que se fecha em si se torna conservadora. Todo conservador não tem futuro, pois não aceita qualquer novidade. Ela acha que não tenha mais nada para aprender. Certamente essas pessoas são os familiares de Jesus; são os mais próximos de Jesus.

Tenho medo de que essas pessoas sejamos nós também. Nós que achamos seguidores de Jesus, frequentadores de cultos ou celebrações, mas não queremos andar ou caminhar atrás de Jesus para segui-Lo. A palavra “seguir” supõe movimento, dinâmica, peregrinação. O verdadeiro seguidor é aquele que sempre olha para aquilo que seu Mestre faz, e escuta aquilo que o Mestre diz e ensina. O verdadeiro seguidor é aquele que mantém a mente e coração abertos, disponíveis, e prestes a renunciar tudo para aprender além do que já sabe ou supostamente sabe. Só seguindo atrás de Jesus é que poderemos ver muito mais coisas na vida e entenderemos o significado de cada coisa e acontecimento. Quem vive dentro de quatro paredes vê sempre as mesmas coisas e por isso, não há surpresa nem novidade. Ao sair do quatro para ir à rua, começam as surpresas para sua vida.

Não é ele o filho do carpinteiro?”. Os nazarenos reprovam a origem humilde de Jesus. Para eles, Jesus é nada mais do que um simples filho de um carpinteiro. Por ser filho de um carpinteiro, as palavras de Jesus não valem para eles embora nelas se encontrem toda a verdade. É preciso sabermos distinguir quem fala e o que se fala. Se na fala de alguém, mesmo que não gostamos dele, contiver a verdade, teremos que aceitar essa verdade. Jesus nos deu o seguinte critério: “Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem” (Mt 23,3). Não podemos estar do lado de ninguém e sim do lado da verdade e do amor. Os nazarenos esperam um Messias cheio de glória e poder; um messias misterioso, celestial e transcendente. Mas Deus não encaixa em nossas ideias estereotipadas. Deus cabe no nosso coração, mas não cabe na nossa cabeça, pois o coração sente aquilo que os olhos não veem. O coração compreende quando a mente se tranquiliza. Além disso, é preciso que ouçamos aquilo que alguém diz e não para aquele que o diz.

Os nazarenos preferem a imagem de Deus que eles têm na cabeça ao próprio Deus. Para eles, Jesus é cotidiano demais para ser Deus. Este é o maior perigo para qualquer adepto de qualquer religião ou Igreja: identificar a imagem que tem de Deus com o próprio Deus. Por isso, vale a pena cada um fazer esta pergunta: “A imagem de Deus que você tem será que é o próprio Deus?”. Muitas vezes abandonamos o próprio Deus para ficar com a imagem que achamos que seja Deus. Muitas vezes condenamos os outros a partir da imagem de Deus que temos. Quem sabe que os que se acham crédulos são muito mais incrédulos como os próprios conterrâneos de Jesus.

Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!”.  E Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé. As pessoas da cidade de Jesus (vilarejo de Nazaré), do lugar de seu trabalho não se dispõem de tempo para meditar se ali há um Profeta ou mais que um Profeta. Basta-lhes a vida rotineira. Falta-lhes a fome da verdade. Falta-lhes o discernimento. Falta-lhes a reflexão sobre a realidade. Deus se manifesta no nosso cotidiano sem espetáculo, como o vento que ao vemos, mas sentimos o efeito de sua presença ou de sua passagem. E a novidade do Reino trazida por Jesus suscita neles apenas dúvidas, suspeitas e gozação. É o grande desafio da própria encarnação. É o grande mistério da fé. A fé somente floresce em campos fecundos que se deixam regar com chuva do céu. Os mistérios de Deus somente são compreendidos com coração, pois o coração sente aquilo que a inteligência desconhece.

Ao longo da história tem tido muitas pessoas inspiradas por Deus para denunciar situações injustas e más condutas. Algumas são conhecidas. Mas há muitíssimos profetas anônimos, gente que se atreve a denunciar o que é injusto e desonesto. Muitos desses profetas pagam com a própria vida pela denúncia feita, pois os que defendem os próprios interesses, e não os interesses comuns não têm piedade de eliminar quem os denuncia.

Uma das funções como batizados é a função profética: anunciar o bem e denunciar o mal. Um batizado não pode ficar em silêncio diante da desonestidade e da injustiça. O silêncio nos faz cúmplices. Somos chamados a ser profetas na nossa atualidade.

Não somente somos chamados a denunciar, mas também a ouvir os que denunciam. Quem sabe que dentro dessa denúncia estamos nós também, pois muitas vezes nos sentimos tão cômodos em nossa vidinha tão perfeitamente organizada, em nossas próprias ideias tão formadas e preestabelecidas, em nossa maneira inflexível de entender as coisas, em nossa imagem estática de Deus que nos fazem surdos diante do apelo do Espírito de Deus para fazer e seguir o bem. Se há verdade na denúncia, temos que agradecer a Deus, pois é um chamado para voltarmos a trilhar o caminho do bem. Fé é caminhada. Quando ficamos incomodados, paramos de ter fé. É mais cômodo crer em um Deus todo-poderoso que controla tudo o que ocorre do que em um Deus que sofre com seus filhos, que é crucificado para salvar os outros filhos de Deus, e em um Deus que nos criou para que resolvamos as injustiças do mundo. No ritmo da velocidade do avanço tecnológico precisamos estar atentos para ver e ouvir o que Deus quer nisto tudo. Não tapemos nossos ouvidos nem fechemos nossos olhos nem paralisemos nossa mente. Precisamos tempo todo estar atentos ao que ocorre para que possamos nos posicionar como filhos e filhas de Deus, luz do mundo e sal da terra. Precisamos ter muita flexibilidade e disponibilidade para acolher aquilo que Deus nos quer dizer, inclusive através de quem menos esperamos, pois o Espírito de Deus sopra para onde quer e por quem quer.

Pare e verifique, Deus se manifesta na nossa vida cotidiana. Pergunte-se: “De que maneira Deus se manifesta a mim hoje? O que Ele quer me manifestar? Para que Ele se manifesta?”. Estejamos todos atentos. Em cada momento Deus se manifesta a nós.

P. Vitus Gustama,svd

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