quinta-feira, 18 de julho de 2024

XVI Domingo Comum Ano "B",21/07/2024

PERMANECER EM CRISTO, NOSSO GRANDE PASTOR, NOS TORNA MAIS COMPASSIVOS

XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM “B”

Primeira Leitura: Jr 23,1-6

1“Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem, diz o Senhor! 2Deste modo, isto diz o Senhor, Deus de Israel, aos pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes o meu rebanho, e o afugentastes e não cuidastes dele; eis que irei verificar isso entre vós e castigar a malícia de vossas ações, diz o Senhor. 3 E eu reunirei o resto de minhas ovelhas de todos os países para onde foram expulsas, e as farei voltar a seus campos, e elas se reproduzirão e multiplicarão. 4Suscitarei para elas novos pastores que as apascentem; não sofrerão mais o medo e a angústia, nenhuma delas se perderá, diz o Senhor. 5 Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei nascer um descendente de Davi; reinará como rei e será sábio, fará valer a justiça e a retidão na terra. 6 Naqueles dias, Judá será salvo e Israel viverá tranquilo; este é o nome com que o chamarão: ‘Senhor, nossa Justiça’”.

Segunda Leitura: Ef 2,13-18

Irmãos: 13 Agora, em Jesus Cristo, vós, que outrora estáveis longe, vos tornastes próximos, pelo sangue de Cristo. 14 Ele, de fato, é a nossa paz: do que era dividido, ele fez uma unidade. Em sua carne ele destruiu o muro de separação: a inimizade. 15 Ele aboliu a Lei com seus mandamentos e decretos. Ele quis, assim, a partir do judeu e do pagão, criar em si um só homem novo, estabelecendo a paz. 16 Quis reconciliá-los com Deus, ambos em um só corpo, por meio da cruz; assim ele destruiu em si mesmo a inimizade. 17 Ele veio anunciar a paz a vós, que estáveis longe, e a paz aos que estavam próximos. 18 É graças a ele que uns e outros, em um só Espírito, temos acesso junto ao Pai.

Evangelho: Mc 6,30-34

Naquele tempo, 30os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. 31Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer. 32Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles. 34Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.

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As leituras deste Domingo nos colocaram o contraste: Jeremias, na Primeira Leitura, se queixa do modo de atuar dos pastores de seu povo. Como em outras páginas proféticas (Ezequiel, por exemplo), Deus denuncia que os falsos pastores se buscam e pregam a si mesmos, que buscam seu próprio interesse e não o das ovelhas, descuidando de seu dever: “Vós dispersastes o meu rebanho, e o afugentastes e não cuidastes dele” (Jr 23,2). Os falsos pastores são acusados de cometer uma das maiores injustiças contra o povo: dispersá-lo e não cuidar dele. Mas o verdadeiro pastor, que é o próprio Deus, agirá para reverter essa situação de três modos:: reune as ovelhas (contra a dispersão), traz de volta as ovelhas para as pastagens e, finalmente, nomeia pastores que realizem eficientemente sua função. Acima de tudo, Deus promete que suscitará um bom pastor (Primeira Leitura e Salmo Responsorial). Nós vemos em Cristo a imagem perfeita deste Pastor que une as ovelhas dispersas (Evangelho). Como diz São Paulo na Segunda Leitura: “Agora, em Jesus Cristo, vós, que outrora estáveis longe, vos tornastes próximos, pelo sangue de Cristo. Ele, de fato, é a nossa paz: do que era dividido, ele fez uma unidade. Em sua carne ele destruiu o muro de separação: a inimizade. (Ef 2,13-14). A partir de Jesus Cristo, a Igreja não é mais exclusivamente o povo de Israel e sim é formada por um só povo que reune gentios e judeus. “Ele, de fato, é a nossa paz”, escreveu São Paulo. A paz deve ser entendida no sentido bíblico que envolve harmonia total dentro dos seres humanos, entre eles, entre todas as forças do universo e harmonia com Deus. A unidade é a consequência ou fruto da harmonia com tudo e com todos. Cristo é nossa paz: “Paz para os que estavam longe e paz para os que estavam perto” significa que a distância estre as pessoas sempre será marcada pela inimizade. Mas em Jesus  encontramos  expressões como “um só povo”, “um só homem novo”, “um só sporo”. São expressões sobre a Igreja como totalidade. 

1. É Preciso Ter Tempo Para Estarmos A Sós Com Deus

O Evangelho do Domingo anterior falava do envio dos Doze  como “apóstolos”(enviados) em pares (dois a dois) à missão com autoridade recebida de Jesus para dominar os espíritos impuros (Mc 6,7). O Evangelho deste Domingo relata a volta dos enviados dessa missão. Eles se reúnem ao redor de Jesus, contam-lhe o que fizeram e ensinaram.      

Ouvido o relato dos discípulos, sem dar-lhes nenhum sinal de aprovação, Jesus tem uma reação imediata: quer falar a sós com eles: “Vinde vós sozinhos à parte, a um lugar deserto, para descansar um pouco.” Nesta frase do evangelisa Marcos tem um conteúdo teológico profundo.  

Vinde”/”venham” recorda o primeiro chamado ao seguimento (Mc 1,17). O lugar deserto/despovoado alude à ruptura com os valores da sociedade (Mc 1,35.45). A expressão à parte indica que Jesus pretende de novo sanar as incompreensões dos discípulos (cf. Mc 4,34), porque muitas vezes os discípulos não captaram o sentido das palavras de Jesus. Consequentemente, o Evangelho de Marcos contém a pedagogia de Jesus. Entendemos por pedagogia o processo de formação que permite às pessoas crescerem em sua consciência e liberdade, tornando-as autônomas e livres para tomar as melhores decisões. O verbo descansar usa-se (em Is 14,3) para significar a libertação do cativeiro de Babilônia realizada por Deus. Marcos alude a essa passagem para indicar que Jesus quer libertá-los da ideologia que os domina, impedindo-lhes o seguimento e a liberdade como filhos de Deus.        

Antes de continuarmos a nossa reflexão, precisamos parar para tirar alguma lição do convite de Jesus para descansar. Este texto nos mostra, na verdade, o ritmo da vida cristã. A vida cristã é um ir contínuo à presença de Deus da presença de homens e um sair da presença de Deus para a presença de homens. Só na medida em que alguém descobrir e viver a oração/vida espiritual, poderá experimentar a obra de amor como serviço de Deus. E na medida em que ele adorar Deus no serviço ao próximo, sentirá o desejo insaciável de ir à parte, a um lugar deserto para estar só com o Cristo, só com Ele. Sem isto, a espiritualidade será trocada pelos espíritos do mundo e suas ideologias.          

Há sempre dois perigos no ritmo da vida de cada cristão. O primeiro perigo é o perigo de atividade constante/sem parar. Ninguém pode trabalhar sem descansar. E ninguém pode viver a vida cristã, se ele não tiver tempo para estar com Deus. O grande perigo de nossa vida é que não damos a Deus  nenhuma oportunidade para ele falar para nós porque não sabemos como ficar em silêncio e como aprender a parar nenhum minuto. Nós não damos a Deus tempo para ele nos reabastecer com sua força porque não temos tempo para esperá-lo e falar com ele. Temos que nos abrir ao que há de eterno nas coisas. Se alguém não for despojado, pobre no espírito, terá, inconscientemente, tendência a executar a obra que tem a fazer para a sua própria satisfação e não para a glória de Deus. Será virtuoso não porque ama a vontade de Deus, mas porque deseja admirar suas próprias virtudes ou obras. Ele esquece da fonte dessas virtudes que é Deus, como alguém que bebe a água e esquece de cuidar da fonte, por isso, acaba não tendo mais a água para sobreviver. Quanta carga pesada desta vida que temos que carregar, quando não tivermos contato com Deus que é o Senhor de tudo de bom nesta vida. Santo Agostinho dizia: “Em qualquer lugar para onde o homem se dirija, se não se apoiar em Deus, sempre encontrará dor”.          

O grande desafio à nossa felicidade é o desafio do demais: há coisas demais para fazer, distrações demais, barulho de mais. Achamos que precisamos fazer mais, ir a mais lugares, querer e realizar mais coisas. Enquanto o dia continua tendo vinte e quatro horas, e o ano com os seus doze meses.          

Parar é uma arte. Isto quer dizer que não se deve confundir ficar sem fazer nada com uma falta total de atividade. Parar significa permitir que a vida aconteça para que quando avançarmos, avancemos na direção que queremos e que, em vez de estarmos apenas sendo empurrados pelo ritmo das nossas vidas, estejamos escolhendo, a cada momento, o que é melhor para nós. Sem parar, além de recordarmos quem somos como objetivo de parar, vai ficar muito problemático ir adiante. Por isso, parar é uma manifestação de querer ir a frente e de querer melhorar a qualidade de vida e de convivência. Parar, mesmo por alguns minutos, faz com que percebamos os significados essenciais de nossa vida e recordemos constantemente o que é realmente importante para nós nesta vida, de modo a podermos manter nossas prioridades em ordem e em dia.           

O segundo perigo é o de afastarmo-nos de mais da realidade só para rezar. Devoção que não se coloca em ação/na prática não é devoção verdadeira. Oração que não se traduz na prática não é oração verdadeira. Nunca podemos procurar a amizade com Deus só para evitar a amizade com os homens, mas ao contrário, procuramos a amizade com Deus para melhorar nossa amizade com os homens. A vida cristã é o encontro recíproco com Deus no lugar deserto e servindo homens no lugar público.          

O senhor sempre nos convida para irmos com ele a um lugar à parte. Mas se vamos para lugar à parte para estar com Cristo apenas para nos livrarmos da companhia de pessoas que não nos agradam, não encontraremos nem a paz, estaremos num mero isolamento. Ir para lugar à parte não a fim de fugir dos homens, mas para encontrá-los em Deus. O simples fato de viver em soledade(solidão) não isola o homem, como simples fato de viver com outros nem sempre leva os homens à comunhão com os outros. Não vamos para o lugar à parte(estar com Jesus) com o intuito de fugir das pessoas e sim para aprender como encontrá-las. Não nos separamos delas, mas para encontrar o melhor modo de fazer-lhes bem. O silêncio é solidão em comunhão, e é assim que nos torna solidários com todos. Uma vida espiritual verdadeira nos faz alertas e conscientes em relação ao mundo à nossa volta, de forma que tudo o que é e acontece torna-se parte de nossa contemplação e meditação e convida-nos a uma resposta livre e sem medo.          

Portanto, temos duas grandes lições a aprender da primeira parte do Evangelho deste Domingo: A primeira, se cada Domingo somos enviados à missão, então, também nós voltamos sempre de novo para junto de Jesus, a fim de contar a ele o que fizemos e ensinamos durante uma semana que passou. O que é que tenho feito no campo da missão/evangelização ? Que tipo de participação que tenho na missão de Jesus ? Ou eu me preocupo apenas com meu próprio interesse ? Ao voltarmos dessa missão, com Jesus transformaremos nossa ação missionária em ação de graças. A segunda lição: cada cristão tem necessidade de ficar a sós com Jesus. Não é possível comunicar o que não se tem. É o grande ensinamento da necessidade do retiro, de aprofundar nossa vida espiritual.          

O desejo de Jesus de estar sozinho com os discípulos não se concretizou, porque a multidão chegou antes deles, no lugar para onde se dirigiam. Embora irrealizado, o desejo de Jesus não pode ser descartado, sem mais. O ativismo é um perigo que deve ser evitado. O ativismo, com o passar do tempo, poderá se mostrar prejudicial. O excesso de atividades levaria qualquer um de nós a se desviar do verdadeiro sentido de nossa missão neste mundo como cristãos. Um cristão que se envolve em muitas atividades, desempenha uma variedade muito grande de tarefas, às vezes/muitas vezes, faz tudo isso seguindo os próprios impulsos, as próprias idéias e se esquece de entrar em sintonia com a Palavra de Deus. Deste modo acaba por responder às necessidades e exigências segundo exclusivamente o que é sugerido pela lógica humana.          

Isto acontece porque não se aprende a ter a coragem de parar um pouco para meditar junto com Cristo, para rezar e para avaliar com ele o que se planeja e o que foi feito.

“... descansai um pouco”. Com esta frase Mrcos não só quer sublinhar a importância do repouso físico, mas quer também enfatizar a importância  sobre a fundamental paz do coração que se conquista com a coragem de afastar-se de tantas atividades ou de tantos ativismos e preocupações diárias para saborear, interiormente, aquela comunhão com Jesus, o Salvador da humanidade. Vir a Jesus e sair d´Ele para a missão são dois movimentos que se completam. Um não pode existir sem o outro. É preciso colocar a vida na oração e a oração na vida. Há que estar com Cristo no trabalho e no descanso. 

Por isso, é bom ouvirmos novamente o convite de Jesus: “Vinde vós sozinhos à parte, a um lugar deserto, e descansai um pouco”. Cada um tem que responder! 

2. Jesus Se Compadece Pela Multidão       

Assim que Jesus desembarcou, viu uma grande multidão e ficou tomado de compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas”(v.34). A passagem é entranhável e digno de meditação. 

A raiz da missão ou da atividade de Jesus e de cada cristão é, certamente, a compaixão que significa sofrer junto, sentir em si mesmo as dores e os problemas dos outros, significa compartilhar e tornar próprios os sofrimentos e os anseios dos outros, significa solidarizar-se. A atividade do Senhor Jesus Cristo precisamente nasceu de um olhar amoroso e de um sentimento de compaixão diante do povo abandonado, confundido, injustiçado, doente, exlcuido, carente e explorado. Povo que tem rosto concreto nos endemoninhados, nos doentes, nos cegos, nos paralíticos, nos desorientados, nas mulheres proscritas e que “andam como ovelhas sem pastor”. Para Jesus não lhe interessa a gente em massa e sim cada homem em particular, cada pessoa concreta. Ele conhece minha cara, meu nome e minha história, minhas falhas e meus sucessos. Eu existo para Ele com meus problemas, minhas dificuldades, minhas exigências e minhas esperanças. Deus nunca se ausentou da história de cada um de nós. A compaixão é a marca da vida de Jesus e deve ser a marca da vida de qualquer cristão. A compaixão é o motivo pelo qual Jesus pensa na necessidade da missão feita por seus discípulos 

Jesus é o Bom Pastor: não se converte em pastor porque há um rebanho, não se aproveita dos que andam soltos e desorientados, como fala a Primeira Leitura de hoje (Jr 23,1-6). Jesus não é um demagogo. Por isso, tem compaixão da multidão, uma compaixão que o leva a morrer por todos para que todos tenham vida (Cf. Jo 10,10), pois veio para servir e não para ser servido (Mc 10,45). No início do seu Evangelho, Mc relatou também que Jesus teve o mesmo sentimento de compaixão em relação ao leproso (cf. Mc 1,41). 

O verbo “Compadecer-se” ou “Comover-se” se usava no judaísmo somente ao falar de Deus; e no NT, somente de Jesus. Compaixão é o amor entranhado de Deus pelos homens manifestado em Jesus. A compaixão é a característica divina. A compaixão não conhece marginalização alguma, pois o reinado de Deus não exclui ninguém da salvação. Compaixão é sentir com outrem, achegar-se ao seu lugar, assumir-lhe a experiência e a dor. A compaixão atinge o próprio centro da pessoa, nas próprias vísceras. Assim se comporta Deus, segundo AT (cf. Is 63,15;Jr 31,20). A compaixão é comover-se até as entranhas, solidarizar-se profundamente, sentir a partir de outrem, é sofrer- com. A compaixão requer que eu esteja com as pessoas que sofrem, e disposto a partilhar meu tempo e meu coração com eles. Quando eu compartilhar meu coração com uma pessoa que sofre, uma parte dela não será tocada pelo sofrimento. O meu coração partilhado alivia a dor do outro. Assim é que vivia Jesus e é assim também que os seus seguidores devem viver.           

A resposta de Jesus aos ignorantes, aos famintos, aos cegos, aos leproso, às viúvas e a todos os que chegavam até ele com o seu sofrimento brotou da compaixão divina que levou Deus a tornar-se um de nós. Por causa da sua compaixão pela humanidade é que Deus escolheu ser um Deus-Conosco. O nosso Deus é chamado de Emanuel(cf. Mt 1,23;18,20;28,20; cf. também Jo 1,14), porque ele se comprometeu a viver em solidariedade conosco, a compartilhar conosco as alegrias e as dores, a nos defender e nos proteger, e a sofrer conosco tudo em nossa vida.          

A compaixão que Jesus propõe nos desafia a abandonarmos o nosso apego e a entrarmos com ele na vida corajosa do próprio Deus. Jesus nos convida a sermos tão próximos uns dos outros como Deus é em relação a nós mesmos. Jesus nos pede que desmascaremos a ilusão da nossa própria competitividade, que deixemos de nos apegar às nossas distinções imaginárias como fontes de identidade. Este novo eu, o eu de Jesus Cristo, nos torna possível sermos compassivos como nosso Pai é compassivo. Esta nova identidade, livre de da ganância e do desejo de poder, nos permite entrarmos tão plena e incondicionalmente nos sofrimentos dos outros e curarmos os doentes.          

Neste texto, Jesus se compadece porque o povo está “como ovelhas sem pastor” (veja a Primeira Leitura). A referência ao AT é evidente. Josué foi escolhido por Deus para ser sucessor de Moisés “para que a comunidade do Senhor não seja como um rebanho sem pastor(Nm 27,17). Ezequiel denuncia os líderes do povo que se preocupam mais com a própria vida do que com a do rebanho(Ez 34,3-4). Zacarias lamenta sobre o povo que “não tem pastor” por causa da falsa liderança(Zc 10,2)etc.. No AT o “pastor” significa autoridade ou liderança política, enquanto que as “ovelhas” representam o povo. Ao dizer que eles(povo) “... estavam como ovelhas sem pastor”, o texto quer dizer que os pastores, em vez de defender as ovelhas, as oprimem e exploram. A ganância dos “lobos” é tanta que as “ovelhas” não têm o que comer (cf. Mc 6,36). Os “lobos” devoram as “ovelhas”.          

Jesus assume o papel de pastor de Israel, e seu objetivo é dar alimento às ovelhas (cf. Mc 6,35-44 fala da multiplicação dos pães para alimentar o povo abandonado pelos líderes falsos em contraposição com o banquete dado por Herodes para os “grandes”. cf. Mc 6,21-29). 

A exemplo de Jesus, o cristão deve ter ternura no coração, comunicar a paz e derrubar os muros da divisão, do ódio e dos prejuizos. Em Cristo é estabelecida a profunda razão da união e da solidariedade entre os homens e, por conseguinte, da paz, como enfatiza São Paulo na Segunda Leitura de hoje: “Ele, de fato, é a nossa paz: do que era dividido, ele fez uma unidade. Em sua carne ele destruiu o muro de separação: a inimizade (Ef 2,14). Em Cristo temos acesso a Deus em um mesmo Espirito (Ef 2,18), temos também o mesmo fundamento (Ef 2,20) e a humanidade é um templo único e um corpo único. Por isso, os interesses particulares, os ódios e por isso, a falta de paz são algo absurdo para os cristãos autênticos. 

Em nossa vida corrente estamos muito acostumados aos extremismos classificatórios: bons e maus, amigos e inimigos, progressistas e conservadores, nacionalistas e separatistas e assim por diante. Algo parecido passava na Igreja primitiva: o normal era pensar e atuar segundo a grande divisão religiosa: judeus e pagãos. A Segunda Leitura de hoje (Ef 2,13-18) vem corrigir tudo isso. Os cristãos tem que olhar para o mundo da perspectiva do sacrifício salvador de Cristo. Em seu sangue já não há próximo e distante, nem bons nem maus, nem judeu nem pagão, e sim somente um único povo de irmãos, unidos pelo mesmo sangue de Cristo, pelo mesmo amor do Pai comum, pela mesma força do mesmo Espirito. A divisão cria incompreensão, desprezo, e até ódio. Cristo, nossa paz e fonte de nossa unidade, cria em si mesmo uma humanidade nova, na qual as diferenças ficam abolidas pelo amor: Deus ama todos nós e nós devemos nos amar mutuamente (Jo 13,34-35; 15,12). Esta é a nova criatura, nascida do sacrifício reconciliador de Cristo Jesus. 

Será que cada um de nós, como seguidor de Jesus, reflete  a liderança de Jesus Cristo, o Bom Pastor? Será que nos revestimos da compaixão na convivência com os demais, especialmente com aqueles que são mais necessitados?

P. Vitus Gustama,svd

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