sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

06/01/2025-Segundaf Após a Epifania

FÉ, AMOR, E CONVERSÃO SE ALIMENTAM

Segunda-Feira Após Epifania

Primeira Leitura: 1Jo 3,22-4,6

Caríssimos: 22 qualquer coisa que pedimos recebemos dele, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é do seu agrado. 23 Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu. 24 Quem guarda os seus mandamentos permanece com Deus e Deus permanece com ele. Que ele permanece conosco, sabemo-lo pelo Espírito que ele nos deu. 4,1 Caríssimos, não acrediteis em qualquer espírito, mas examinai os espíritos para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas vieram ao mundo. 2 Este é o critério para saber se uma inspiração vem de Deus: todo espírito que leva a professar que Jesus Cristo veio na carne é de Deus; 3 e todo espírito que não professa a em Jesus não é de Deus; é o espírito do Anticristo. Ouvistes dizer que o Anticristo virá; pois bem, ele está no mundo. 4 Filhinhos, vós sois de Deus e vós vencestes o Anticristo. Pois convosco está quem é maior do que aquele que está no mundo. 5 Os vossos adversários são do mundo; por isso, agem conforme o mundo, e o mundo lhes presta ouvidos. 6 Nós somos de Deus. Quem conhece a Deus, escuta-nos; quem não é de Deus não nos escuta. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.

Evangelho: Mt 4,12-17.23-25

Naquele tempo, 12 Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galileia. 13 Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galileia, 14 no território de Zabulon e Neftali, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: 15 “Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galileia dos pagãos! 16 O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz”. 17 Daí em diante, Jesus começou a pregar, dizendo: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. 23 Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo. 24 E sua fama espalhou-se por toda a Síria. Levaram-lhe todos os doentes, que sofriam diversas enfermidades e tormentos: endemoninhados, epilépticos e paralíticos. E Jesus os curava. 25 Numerosas multidões o seguiam, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia, e da região além do Jordão.

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A Fé Em Jesus Cristo Se Realiza No Amor Fraterno

Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu”. Escreveu o autor da Primeira Carta de são João (1Jo 3,23).

Através desta afirmação (1Jo 3,23) o autor da Carta quer nos relembrar que devemos manter simultaneamente a dimensão horizontal e a dimensão vertical do mandamento de Deus (mandamento do amor). O mandamento que nos dará segurança diante de Deus e garantirá sua permanência entre nós é duplo: acreditar no nome de Jesus Cristo e amar uns aos outros (v. 23). Estes dois preceitos (amar a Deus e amar ao próximo) nos são apresentados por João de tal maneira que não parecem constituir senão um. João acredita, de fato, que não existem duas virtudes distintas: a fé, por um lado, e a caridade, por outro, mas que estas duas virtudes nada mais são do que as dimensões transcendentes e imanentes de uma única atitude (cf. Jo 13, 34-36; 15, 12-17): somos filhos de Deus pela nossa fé e caridade entre irmãos que deriva dessa filiação (1 Jo 2, 3-11). Com efeito, crer no nome de Jesus Cristo significa amarmo-nos uns aos outros (1Jo 3,23). Nossa fé em Deus se expressa através do amor para o próximo. Fé e amor são conectados. Esses dois preceitos (amar a Deus e amar ao próximo simultaneamente) são apresentados pelo autor da Carta de tal maneira que parecem formar apenas um mandamento. Para o autor da Carta não há duas virtudes distintas: de um lado, a fé e de ouro lado, a caridade. Mas duas virtudes formam a dimensão transcendente e a dimensão imanente de uma única atitude (Cf. Jo 13,34-36). Somos filhos de Deus pela fé e a caridade entre irmãos decorre desta filiação (Cf. 1Jo 2,3-11).  A fé em Deus nos leva a amarmos o próximo. O amor ao próximo nos leva a Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Não dá para um cristão dizer que tem fé, mas não ama ao próximo. Mas amar ao próximo significa ter fé em Deus, mesmo que a pessoa não tenha consciência disso (Cf. Mt 25,40.45).

Portanto, segundo o autor da Primeira Carta de são João, a salvação do homem depende de uma única palavra: o amor, porém o amor que encontra sua raiz na própria vida de Deus. Devemos amar como Deus nos amou (Cf. Jo 15,12). Deus nos amou até o fim (Jo 13,1; 3,16). Consequentemente, crer em Jesus, segundo o autor da Carta, é admitir que Jesus é o que melhor responde ao amor do Pai, e é desejar imitá-Lo em sua renúncia total a si próprio e em sua filial obediência ao Pai.

Crer em Jesus Cristo, como pede São João, é acreditar que o Pai ama todos os homens através do seu próprio Filho e querer participar dessa mediação de amor. Acreditar em Jesus Cristo é também admitir que Jesus é a melhor réplica humana do amor do Pai e querer imitá-lo na sua total renúncia a si mesmo e na sua filiação obediente ao Pai.

Cada Eucaristia coloca o cristão numa relação simultânea com Deus e com todos os homens: Unirmo-nos para dar graças a Deus e depois voltarmos para os homens para amá-los.

Será que realmente cremos em Jesus Cristo? 

Crer Em Deus Se Manifesta Também Através Da Conversão Permanente

Nos dois primeiros capítulos de seu Evangelho, Mateus narrou o nascimento de Jesus, e no terceiro nos apresentou a atividade de João Batista: o Batismo. No capitulo quarto, sem se preocupar em satisfazer a curiosidade dos que quiseram saber de todo o itinerário formativo de Jesus, nos apresenta Jesus atuando na Galileia, uma região ao norte da Palestina onde conviviam, com dificuldade, judeus e pagãos. Por isso, Mateus evoca o texto do profeta Isaias que fala da iluminação dos que “viviam nas trevas e nas sombras de morte”. A festa da Epifania nos mostra que a vinda de Jesus é em favor de todos os homens, sem distinção nem de etnia, nem de condições nem de crenças.

O evangelho deste dia nos relata que quando fica sabendo da prisão de João Batista, Jesus vai para a Galileia. A missão de João Batista como Precursor termina de modo semelhante a do próprio Jesus. Mais tarde Jesus será preso e morto. Diante da notícia da prisão de Joã0 Batista, Jesus se retira para a Galileia, estabelecendo o centro de sua atividade em Cafarnaum.

Galileia era um território longe de Jerusalém, do poder central legalista e intransigente. Galileia tinha fama de região pagã contaminada pelos pagãos, desinteressada da Lei e da oficialidade do Templo.

Na Galileia Jesus pode andar com liberdade, junto aos empobrecidos e marginalizados. Toda a história dos pobres gravitava sobre os pobres do tempo de Jesus: a fome, a carência de trabalho, a opressão política e militar dos Herodes e de Roma, opressão religiosa do Sinédrio (Sanedrin), o abandono e a marginalização. Esse povo pedia e exigia ser redimido. O que o povo esperava era respostas concretas para suas necessidades. Por isso, a figura de um rei poderoso, como Davi, continuava a alimentar o sonho do povo para libertá-lo de toda essa situação.

A pregação de Jesus se inicia, então, na “Galileia dos pagãos”, isto é, numa região onde a situação do povo é mais precária devido a uma grande quantidade de população pagã. É claro que o paganismo é muito mais no sentido do modo de viver do que no sentido de não pertencer a uma crença ou religião. Por isso, existem “pagãos” que se comportam como homens de Deus, por exemplo, o oficial romano (cf. Mt 8,5-13). Como também são muitos os que se dizem crentes (do Povo de Deus), mas se comportam como “pagãos”, sem nenhuma vivência da fraternidade, por exemplo, o sacerdote e o levita na parábola do bom Samaritano que não querem ajudar que está sofrendo (cf. Lc 10,31-32). 

De propósito o evangelista Mateus inicia a missão de Jesus entre os pagãos para nos dizer que os primeiros destinatários da pregação de Jesus vão ser as pessoas necessitadas, os marginalizados, os excluídos, os pobres e os que ainda não conhecem a luz de Deus porque vivem nas sombras do paganismo. Jesus vai onde necessita de sua Judá. Aqui Mateus mostra a universalidade da pregação de Jesus.

A mensagem de Jesus se resume nesta frase: “O Reino de Deus está próximo”. O Reino de Deus, expressão existente no povo de Israel, se contrapõe a todos os demais reinos ou poderes humanos que pretendem um domínio total sobre o povo e este mesmo poder é oferecido a Jesus em suas tentações (cf. Mt 4,8-10). O Reino que Jesus prega começou nele, pois ele veio para fazer reinar o amor fraterno (cf. Mt 23,8). 

O menino de Belém, adorado pelos magos, agora se manifesta como o Messias e o Mestre enviado de Deus que ensina, proclama o Reino de Deus, que cura os enfermos e liberta os possessos. A proposta do Reino de Jesus é diferente: tem que descobrir e destruir o egoísmo e as estruturas que o fomentam. Para que isso possa acontecer há uma exigência: convertei-vos! 

Por isso, Jesus exige para todos os lados (dos poderosos e das vítimas do poder) que se convertam: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. Os pobres, as vítimas, precisam construir um projeto de humanização sem ódio e por isso, Jesus coloca o amor como o maior mandamento (Jo 13,35; 15,12). Para os poderosos, que devolvam e respeitem a dignidade do povo, respeitando seus direitos. Em outras palavras, para Jesus o problema do Reino era um problema de transformação do coração. Trata-se de uma transformação real que deve se demonstrar na prática e se experimentar em todos os setores da vida. 

O estilo da atuação de Jesus Cristo que ama e se sacrifica pelos homens deve ser o estilo de cada cristão: ajudando, curando feridas, libertando os outros de suas angústias e seus medos, anunciando a Boa Notícia do amor de Deus. E que somente o amor salva, enquanto que o egoísmo destrói e mata. O egoísmo mata a fraternidade e uma convivência mais humana. É preciso aprender a ver Deus nos demais (cf. Mt 25,40.45), sobre tudo nos pobres e nos débeis, nos marginalizados e excluídos da sociedade. Trata-se de que esse amor fraterno que aprendemos de Jesus Cristo nós o traduzamos em obras concretas de compreensão e de ajuda. O amor não é dizer palavras solenes, bonitas e comovedoras, e sim imitar o amor de um Cristo que se entregou pelos demais. Este é o caminho da salvação. Por este caminho nãooutro que possa nos salvar e nos levar para o Céu, poisDeus é amor” (1Jo 4,8.16). A em Jesus Cristo e o amor aos irmãos são provas de autenticidade da que professamos. 

Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. A conversão, dentro do contexto das leituras de hoje consiste em crer em Deus e amá-Lo amando o próximo. Crer e amar são duas atitudes básicas de cada cristão e são inseparáveis: “Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu” (1Jo 3,23). Quem crê verdadeiramente em Deus, ama o próximo. Quem ama o próximo, é porque pertence a Deus, mesmo que ele não tenha consciência disso. A e o amor coexistem e fecundam mutuamente. A linha vertical () se expressa na linha horizontal (amor fraterno). A que salva é a que atua pela caridade. Por isso, a e o amor devem configurar a vida de cada cristão. Não existe a sem o amor fraterno. E não existe o amor fraterno que não leve a pessoa que ama até Deus. Não existe uma verdadeira fé sem conversão permanente. A conversão nem a fé conhecem aposentadoria.

P. Vitus Gustama,svd

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Epifania Do Senhor, Domingo 05/01/2025

EPIFANIA DO SENHOR

Primeira Leitura: Is 60,1-6

1Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor. 2Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. 3Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora. 4Levanta os olhos ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti; teus filhos vêm chegando de longe com tuas filhas, carregadas nos braços. 5Ao vê-los, ficarás radiante, com o coração vibrando e batendo forte, pois com eles virão as riquezas de além-mar e mostrarão o poderio de suas nações; 6será uma inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir; virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor.

Segunda Leitura: Ef 3,2-3ª

Irmãos: 2Se ao menos soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a vosso respeito, 3ae como, por revelação, tive conhecimento do mistério. 5Este mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: 6os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho.

Evangelho: Mt 2,1-12

1 Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, 2 perguntando: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. 3 Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém. 4 Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. 5 Eles responderam: “Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6 ‘E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo’”. 7 Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. 8 Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”. 9 Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. 10 Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. 11 Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. 12 Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.

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Epifania- Natal

Neste Domingo celebramos a festa de Epifania. É uma das festas mais importantes do ano cristão, e celebra a manifestação ou as manifestações de Jesus Cristo. Epifania é uma palavra grega que deriva de epi e faino (brilhar, maifestar-se).

Em outras palavras, a própria palavra, do grego “Epiphaneia” (manifestação”) ressalta o significado original da festa. No uso secular a palavra Epifania podia referir-se a chegada. A chegada de um rei era registrada como Epifania. A vinda de Cristo para este mundo, segundo são Paulo é uma Epifania (Cf. 2Tm 1,9-10). No uso religioso, a palavra Epifania denotava toda e qualquer manifestação do poder divino em favor do homem. Dentro do contexto do Natal, através da Encarnação, Deus manifestou o seu poder benevolente e misericordioso para nós homens. Deus, na sua Encarnação, vem para nos amar e perdoar a fim de nos salvar.

A celebração da Epifania teve a sua origem nas Igrejas do Oriente. No século III aparece no Egito, para dali passar facilmente a Jerusalém e à Síria no século IV, como festa celebrativa da manifestação do Senhor, entendida como Seu Nascimento. E rapidamente, passou atmbém a Roma e ao Ocidente, apesar de ali, nessa mesma época, ter surgido a festa da Natividade, do nascimento do Salvador.

No dia da Epifania existe também o antigo costume de proclamar, depois do Evangelho, o calendário das festas móveis de todo o ano, sobretudo, a data da Páscoa. Pode ser usada a seguinte fórmula: “Amados irmãos e irmãs, a glória do Senhor se manifestou e sempre se manifestará em nosso meio, até o seu retorno. Nos ritmos e vicissitudes do tempo, recordamos e vivemos os mistérios da salvação. Centro de todo o ano litúrgico é o Tríduo do Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado, que culminará no Domingo de Páscoa.....(data e mês em que se comemero). Todos os domingos, Páscoa da semana, a santa Igreja torna presente este grande acontecimento, no qual Cristo venceu o pecado e a morte. Na Quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma, no dia.....; na Ascensão do Senhor, no dia....; no Pentecostes, no dia....; no Primeiro Domingo do Advento, no dia....; também nas festas da Santa Mãe de Deus, dos Apóstolos, dos santos e na comemoração dos fiéis defuntos, a Igreja, peregrina na terra, proclama a Páscoa do Senhor. A Cristo que era, que é, e que vem, Senhor do tempo e da história, seja dado louvor perene pelos séculos dos séculos. Amém”.

O Natal e a Epifania são festas complementares e mutuamente enriquecedoras. Ambas celebram, de perspectivas diferentes, o mistério da Encarnação, a vinda e a manifestação de Cristo ao mundo. O Natal enfatiza a vinda. A Epifania enfatiza a manifestação. A Epifania é a solenidade da manifestação do Messias, o Deus feito homem, aos povos pagãos, significados nos personagens vindos do Oriente. Importa muito não desligar a Epifania do Natal. O mistério, no fundo, é o mesmo, varia a perspectiva da amplitude e da universalidade da manifestação. Epifania é manifestação do Deus-Conosco aos povos pagãos.

Epifania aprofunda e estende o mistério celebrado no Natal. Este mistério se explica no prefácio: “Quando Cristo se manifestou em nossa carne mortal, vós nos recriastes na luz eterna de sua divindade”. Aqui reside a profundidade do mistério: Cristo Jesus é o Deus que assume toda a realidade do homem, exceto o pecado. Assim, ele nos enriquece com a glória de sua realidade divina. É a “admirável intercâmbio” daquilo que São Leão Magno fala: Damos a Ele nossa pobreza (humanidade) e Ele nos comunica sua riqueza (divindade).

Mas a Epifania estende este mistério a todos os povos. São Paulo na Segunda Leitura (Ef 3,2-3ª): “Este mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho”. Este é o núcleo da celebração de Epifania.

Em outras palavras, Natal e Epifania são festas complementares que se enriquecem mutuamente ou festas irmãs. Ambas celebram, de diferentes perspectivas, o mistério da encarnação, a vinda e a manifestação de Cristo ao mundo. Natal acentua mais a vinda (embora o próprio Natal seja uma manifestação do amor de Deus pela humanidade), enquanto que epifania enfatiza a manifestação.

Os Textos Bíblicos Da Festa da Epifania

A antífona de entrada da missa, que abre a celebração nos introduz no clima do mistério da Epifania. A antífona da entrada é um texto composto, inspirado livremente em Malaquias (Mal 3,1) e em 1Crônicos 19,11-12. A antífona de entrada canta poeticamente a grandeza e a solenidade do mistério: “Chegou o Senhor nosso Rei: em suas mãos está o reino, o poder e a glória”. Esse Senhor é o Menino pobre que nasceu em Belém. Deus nos revela que este Menino é o Filho unigênito do Pai. Jesus nascido em Belém é a Luz de todos os povos, como enfatiza a Primeira Leitura (Is 60,1-6). Por isso, os povos caminharão para esta Luz representados pelos magos. Epifania é, portanto, uma solenidade evangelizadora e missionária.

Na Primeira Leitura, o profeta Isaías contempla o espetáculo da cidade de Jerusalém.  Jerusalém está revestida de luz porque o Senhor chegou, e sobre ela aparece a sua glória. Ela é o sinal da presença de Deus. Levando como presentes ouro e incenso destinados ao sacrifício de perfumes, os povos caminharão em direção  à cidade santa, pois ela é o lugar da teofania e está iluminada pela presença de Deus. Onde Deus estiver presente pela abertura do coração do homem a Deus, a vida fica iluminada pela luz divina. A visão é dominada por um universalismo centrípeto, isto é, que cresce da periferia ao centro, do mundo inteiro para Jerusalém: a unidade do mundo em torno de Jerusalém, sinal visível da unidade de Israel.

A Igreja lê este texto com outra profundidade, isto é, em sentido cristológico e eclesiológico, oferecido também pela atual passagem do Evangelho: Cristo é a Luz das nações (cf. Jo 8,12), e essa Luz brilha no rosto da Igreja, difundida por toda a terra (c.Lumen Gentium n.1). Onde quer que a Igreja se reuna em torno do altar da Eucaristia, ela é sinal da presença do Senhor ressuscitado e da convocação universal dos povos que acolhem a salvação de Deus em Jesus Cristo.

Na Segunda Leitura, são Paulo afirma que o mistério “que não foi manifestado para as gerações passadas da mesma forma com que o revelou agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: em Jesus Cristo e por meio do Evangelho, os pagãos são chamados a participar da mesma herança, a formar  o mesmo corpo e a participar da mesma promessa” (Ef 3,2-3). São Paulo quer nos anunciar que com a vinda de Jesus, não há mais nenhuma discriminação. Todos são chamados a ser membros da única Igreja. A igualdade provém inteiramente do fato de que somos partícipes do mistério de Cristo. O verdadeiro herdeiro da promessa feita a Abraão é Jesus (Gl 3,16), e todos participarão dessa promessa enquanto são incorporados em Cristo.

No Evangelho (Mt 2,1-12) fala-se da narrativa da ida dos Magos a Belém para adorar o Messias nascido. A narrativa não é somente o centro desta liturgia da palavra, mas também de todo o mistério proclamado pelas duas leituras precedentes.

Em todo o Evangelho de Mateus sublinha-se a preocupação apologética de explicar a recusa de Cristo (Messias) pelos judeus e o acesso dos pagãos à fé. (por exemplo cf. Mt 18,11-20).

Através da narrativa da ida dos Magos em busca do Messias recém-nascido, o evangelista tem também uma mensagem essencial para transmitir: o Menino adorado pelos Magos em Belém inaugura um reino universal, e Jesus é o Rei do universo. Por isso, o evangelista Mateus sublinha mais a importância de apresentar o conteúdo da catolicidade do Reino messiânico do que em descrever-nos o nascimento de Jesus.

Por outro lado, Herodes e sua corte representam o mundo dos poderosos que não tem piedade em elimar seu rival. Para ele s tudo vale desde que assegure o próprio poder: a crueldade, o terror, o desprezo, homicídio, destruição de inocentes..... Os magos representam, ao contrário, o caminho de fé a ser seguido por aqueles que escutam e buscam os anseios mais nobres do coração humano. Para descobrir o divino no humano é preciso percorrer um caminho da fraternidade universal em que o sagrado é adorado e protegido, caminho oposto seguido por Herodes e sua corte.

O texto do Evangelho não diz que os Magos eram três nem quer eram reis. O primeiro testemunho sobre o número de três é de Orígenes, no século III, provavelmente por causa dos três presentes: Ouro, Incenso e Mirra. Os presentes são simbólicso: OURO para significar a realeza de Jesus; INCENSO para significar a divindade de Jesus; MIRRA, uma resina cheirosa, em pó ou líquido, usada para perfurmar e compor óleos sagrados, porque Cristo quer dizer “Ungido”. Ele é o Ungido de Deus e antes de sua morte Ele será ungido (Mt 26,6-7; Mc 14,3-). Também não sabemos como os Magos se chamavam. Os nomes hoje usuais: MELCHIOR, GASPAR e BALTHASAR, aparecem num manuscrito parisiense do século VI.

Ao lado dos Magos são relatados também no texto do Evangelho Herodes e sua corte que representam o mundo dos que se consideram poderosos. Sabemos muito bem que no mundo dos poderosos, no mundo dos gananciosos, no mundo dos soberbos tudo vale desde que assegura o próprio poder e o próprio interesse egoísta. Por isso, neste tipo de mundo entram o cálculo, a estratégia e a mentira. Entram, inclusive, a crueldade, o terror, o desprezo ao ser humano e a destruição de inocentes.

Além disso, Os Magos vindos do Oriente irrompem neste mundo de trevas. Alguns exegetas interpretam a lenda evangélica recorrendo à psicologia do profundo. Os MAGOS representam o caminho seguido por aqueles que escutam os anseios mais nobres do coração humano. A ESTRELA que os guia é a nostalgia do divino. O CAMINHO que percorrem é o desejo. Para descobrir o divino no humano, para adorar o Menino em vez de buscar sua morte, para reconhecer a dignidade do ser humano em vez de destruí-la, é preciso percorrer um caminho oposto ao seguido por Herodes.

Mais Lições Dos Magos Para Nós

Os Magos são verdadeiramente nossos pais e nossos mestres na fé. O caminho dos Magos em busca de um Salvador é uma história de fé. Destaquemos alguns ensinamentos dos Magos:

Primeiro, a capacidade para ver a estrela, abertos para a chamada de Deus, vigilantes, homens de oração. Eles sabem distinguir os sinais dos tempos. Não são homens distraídos nem sonolentos nem fechados. Eles escutam a voz do céu e a voz de seu próprio coração. Eles escutam seu Eu profundo. Somente aquele que está aberto a Deus tem capacidade de captar os sinais de Deus na vida.

Segundo, sua disponibilidade para deixar tudo e pôr-se em caminho. Os Magos não são homens instalados nem apegados a coisas e lugares, porque vivem de esperança. Eles fazem parte daqueles que buscam a terra prometida. São homens livres de toda atadura e livres para toda aventura, famintos de luz e de Deus. Somente quem é livre de tudo pode libertar os outros. Quem vive instalado e isolado não pode ver a novidade da caminhada e as novidades da vida.

Terceiro, sua constância no seguimento da estrela. Não lhes faltaram dúvidas e provações no caminho. Às vezes a estrela desapareceu e sentiram a tentação de voltar ao conhecido, como os hebreus no deserto que queriam voltar para a escravidão no Egito. Os Magos passaram pela experiência da escuridão na vida, quando não se vê nada nem se entende nada. Mas na sua dúvida os Magos não têm vergonha de perguntar a quem sabe melhor como se deve viver a vida de melhor maneira. Assim pode acontecer também na nossa vida. Às vezes perdemos o guia de nossa vida ou alguma referência para nossa caminhada. Os Magos nos ensinaram a ter humildade em pedir socorro aos que tem mais conhecimento e experiência na vida para que possamos continuar com nossa missão neste mundo.

Quarto, sua responsabilidade na busca. A fé é dom de Deus, mas exige nossa colaboração continuada. A fé não está renhida com a reflexão, o diálogo e a oração. Até dos incrédulos se pode receber alguma luz.

Quinto, a generosidade dos Magos na oferta ou na oferenda. Eles compreenderam a necessidade de compartilhar. Escolheram presentes significativos, porque esperavam encontrar um Rei dos reis.

Sexto, sua capacidade da leitura dos fatos. Quando a estrela pára diante da casa pobre, onde se encontra o Menino Jesus, os Magos não se escandalizam. Ao contrário, eles O reconheceram como Messias. A maioria do povo eleito não tinha capacidade de fazer este tipo de leitura. Deus é sempre surpreendente: se veste de simplicidade e somente se manifesta aos humildes e aos pequenos.

Sétimo, diante do Messias os Magos se ajoelharam e O adoraram. Não basta ver. A fé é entrega e amor. Eles, mais que o ouro, o incenso e a mirra, ofereceram seu coração. Creram e adoraram: esse é o melhor perfume. Adoraram: essa será nossa definitiva vocação.

Oitavo, a capacidade de mudança dos magos. Eles foram capazes de voltar por outro caminho, pois foram avisados por Deus para fazer isso. É coisa segura que Deus muda sempre nossos planos. Crer é viver confiados na insegurança, é estar dispostos a iniciar sempre um novo caminho, é ter capacidade de renovação constante. No final, essa capacidade de renovação produz sempre uma imensa alegria.

Por fim, a transformação na vida dos Magos. Na viagem de volta já não necessitavam mais de estrela porque eles levavam a estrela dentro de seu coração. Era tal a luz e a alegria que receberam, que eles mesmos se converteram em estrelas. Voltaram com o rosto resplandecente, como Moisés depois que falou com Deus, como Jesus que foi transfigurado no monte Tabor. Por isso, os Magos se tornaram missionários de alegria e de amor. Desde então, as estrelas já não se encontraram no céu e sim entre nós, entre todos aqueles que de uma ou de outra maneira se encontraram profundamente com Deus. Quem contempla Deus profundamente se torna reflexo de Deus para os demais.        

Cada um tem sua luz própria. Por isso, não precisa nem deve apagar a luz dos outros. Juntar duas ou mais estrelas só resulta na claridade maior. Por isso, tem toda a razão aquilo que o ditado popular diz: “Para que a sua estrela brilhe, não é preciso apagar a minha”. Cada um tem sua luz dentro de si e é preciso que brilhe para iluminar a vida dos outros. Isto se chama amor na unidade, amor fraterno. Se realmente somos crentes, não podemos continuar dissimulando nossa fé.  

Estendamos um pouco mais nossa meditação sobre outros pontos da festa da Epifania!  

1. A Epifania Do Senhor Na Nossa Vida        

O termoepifania” vem do grego “epiphaneia” (manifestação). No grego clássico este termo podia expressar duas ideias: uma, secular e outra, religiosa.          

No uso secular, epifania podia referir-se a uma chegada. Por ex., quando um rei visitava uma cidade com uma entrada solene, esse acontecimento se considerava como epifania. São Paulo utiliza este termo para falar da vinda de Cristo. Para São Paulo, a vinda de Cristo ao mundo é uma epifania: “Essa graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, foi manifestada agora pela aparição (epiphaneia) de nosso Salvador, o Cristo Jesus” (2Tm 1,10). Com o uso neotestamentário do termo epifania entendemos facilmente que o nascimento de Jesus se entende também como epifania, porque celebram-se a vinda, a chegada e a presença da Palavra encarnada entre nós.       

No uso religioso, o termo epifania se usa para denotar alguma manifestação do poder divino em benefício dos homens. Dentro do uso religioso do termo estamos próximos do uso litúrgico da epifania, pois através da encarnação de Jesus, o Verbo divino, Deus manifesta seu poder benevolente para os homens. Por isso, a vinda de Cristo à terra é uma epifania em si mesma. Dentro do significado do termo, na verdade, a epifania não se limita na celebração da vinda histórica de nosso Senhor, Jesus Cristo, ao mundo, mas também dos diversossinaispelos quais durante sua vida, ele revela seu poder e sua glória. 

A partir do significado do termo, a epifania é uma festa de cada dia porque nãomomento nem acontecimento que não tragam uma revelação do Senhor. Para poder captar a manifestação divina em cada momento e acontecimento necessitamos ser pobres no espírito e estar abertos à novidade. Não podemos ter medo da novidade de Deus que se manifesta diariamente. Os ricos, Herodes, os sumos sacerdotes, os escribas e os fariseus temem a novidade e criam a guerra. A novidade é sempre uma ameaça para quem tem algo a perder. Para defender-se da novidade eles se refugiam nos costumes humanos. A epifania, que é a revelação de Deus que engloba tudo, nos abre para horizontes infinitos, fonte permanente da novidade e da surpresa de Deus. Uma grande novidade que aprendemos da encarnação de Deus em Jesus Cristo é o reconhecimento de Deus em cada homem para respeitar sua dignidade, porque Deus se fez homem. Santo Tomás de Aquino ao comentar o Pai-Nosso disse: “Devemos amar nossos semelhantes porque são nossos irmãos, pelo fato de serem filhos de Deus (leia 1Jo 4,20). Devemos reverenciá-los, tratando-os como filhos de Deus (leia Ml 2,10)” [In Orationem Dominicam: Pater Noster, Expositio].

2. Os Magos e a Universalidade Do Amor De Deus       

Os grandes Padres latinos como Santo Agostinho, São Leão, São Gregório e outros, nas suas reflexões sobre Mt 2,1-12 chegaram à mesma conclusão de que os Sábios do oriente (os magos) representavam as nações do mundo. Eles simbolizavam a vocação de todos os homens à única Igreja de Cristo.        

Com esta interpretação, a festa de epifania toma um caráter mais universal. Deus deixa de se manifestar somente a um povo privilegiado, a uma raça humana para se dar conhecer a todos, sem exceção. A boa nova da salvação é oferecida a todos os homens. Com a vinda de Deus feito carne, a humanidade forma uma família porque o amor de Deus abraça a todos. Isto significa que Deus jamais abandona seus fiéis. Este amor imenso de Deus por nós deve aquecer o nosso coração e animar nossa vida para levarmos adiante os nossos compromissos como filhos e filhas de Deus. São Paulo fala (na segunda leitura) com muita admiração sobre a grandiosidade deste mistério, que estava oculto nas gerações passadas, mas se revela agora através do Espírito, queos pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Ef 3,6). Da mesma forma São Pedro recordava aos pagãos convertidos: “Vós que outrora não éreis povo, mas agora sois o Povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia” (1Pd 2,10). Todos podem alcançar a misericórdia de Deus desde que tenham a vontade de alcançá-la, vivendo os ensinamentos de Cristo. E todos os que aceitarem Cristo e seus ensinamentos serão herdeiros das promessas de Cristo. Consequentemente todos devem ser servidores desta graça para todos que ainda não têm consciência da grandiosidade do amor de Deus que liberta e salva.

3. Os Magos e A Busca De Deus        

Os magos puseram-se a caminho e deixaram sua terra em busca do Rei recém-nascido. Guiados pela estrela e com uma grande esperança no coração, os magos puseram-se a caminho. São João Crisóstomo comentou: “Não se puseram a caminho porque viram a estrela, mas viram a estrela porque se tinham posto a caminho”. Põem-se a caminho porque têm perguntas e inquietações no coração. Os magos são o símbolo dos que buscam Deus, como diz Santo Agostinho: “Anunciam e perguntam, creem e buscam; simbolizando aqueles que caminham na fé e desejam a realidade”.          

Somos peregrinos nesta terra. Mas para onde caminhamos? Consciente ou inconscientemente, no fundo todos procuram Deus. “A busca de Deus é a busca da felicidade. O encontro com Deus é a própria felicidade, pois Deus é o bem perfeito, o sumo bem” (Santo Agostinho). O destino do homem é, certamente, a união plena com Deus. E na espera desse destino, o homem vive sobre a Terra com fé. A fé é ter confiança em Deus apesar das próprias dúvidas, perguntas e interrogações, queixas e murmurações; a fé é ter a coragem de agir apesar dos próprios medos; é esperar no amanhã apesar dos sofrimentos e dificuldades de hoje, porque Deus é fiel às suas promessas.  Deus veio antes ao nosso encontro e semeou no nosso coração a fome e a sede da justiça e da paz, da felicidade e da comunhão, enfim, da salvação que só podemos encontrar nele.     

Para chegar ao encontro de Deus é necessário pôr-se a caminho e encarar os desafios e vencer novos obstáculos e refutar argumentos velhos e novos a fim de chegar à meta desejada, isto é, encontrar o sentido da vida na união plena com Deus. Quem quer encontrar Deus, não pode ficar preso ao passado. Precisa partir sempre de novo, com o coração cada vez mais leve e livre, porque na nossa vida costumam acontecer fatos carregados de sentido, que exigem a nossa atenção e o nosso êxodo. Mas se a pessoa não se põe a investigar e a tentar perceber o que Deus lhe quer dizer, com certeza vive mais tranquilo, não se interroga, não levanta problemas. Consequentemente, não avança, move-se num horizonte estreito, mesquinho, sem dimensões, e priva-se do que as suas capacidades lhe proporcionam para progredir. E Deus, quando queremos encontrá-lo de verdade, vem em nossa ajuda, indica-nos o caminho, às vezes, através de meios menos aptos. Mas, com certeza, Deus não se encontra na soberba que nos separa dele, nem na falta de caridade que nos isola.          

Os magos iniciaram uma longa caminhada, desejando encontrar Deus guiando apenas pela estrela. Na vida, é preciso seguir uma estrela, um ideal, um modelo de santidade.  E tem que se seguir, apesar de todos os sacrifícios. Jesus, no fim, está à nossa espera.

4. Os Magos e A Estrela          

“Vimos sua estrela no Oriente”, dizem os magos. A estrela é um elemento indispensável na narração de Mateus. Mas o que a estrela representa?        

A estrela é a metáfora do rei messias, como pode-se ler em Nm 24,17: “Surgirá uma estrela de Jacó e surgirá um cetro de Israel”. Em Mt, porém, a estrela não é apenas uma metáfora ou imagem do Messias, porque ela guia os magos. Pela sua função de guia, ela é sinal de Deus. A estrela é a Providência divina que guia o homem no caminho de sua realização como homem e filho de Deus. A estrela também é símbolo da fé. A fé é a estrela que nos guia. A fé é a luz pela qual conhecemos Deus. A fé é um dom de Deus, é uma iluminação para nossa vida. Não se pode chegar à luz da verdade revelada através do recurso exclusivo da razão humana. Deus é quem revela; é Ele “mesmo quem reluziu em nossos corações, para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo” (2Cor 4,6). Mediante a fé conhecemos realmente Deus, ainda que este conhecimento seja escuro. É um conhecimento que nos une a Deus e leva consigo a “garantia” e a substância das coisas esperadas: “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb 11,1).        

A fé nos situa na nossa rota e nos mostra o caminho que temos que percorrer. De vez em quando perdemos nossa direção. Mas isto não quer dizer que estejamos perdidos. Esta obscuridade é momentânea e serve de prova para nossa fé. Temos que aprender dos magos. Eles não ficaram desanimados quando perderam a estrela. Ao contrário, eles pediram conselhos aos homens capazes de dizer-lhes onde nasceria Cristo. Nós também podemos pedir conselhos de quem tem mais fé do que nós ou nós mesmos podemos dar conselhos aos outros caso tenhamos fé profunda. A luz da fé é algo que pode e deve ser compartido, especialmente através do testemunho de nossa vida, pois o testemunho de uma vida correta, de uma fé viva é muito mais eficaz do que qualquer discurso bonito.        

Se a epifania é uma festa de cada dia porque não há momento nem acontecimento que não tragam uma revelação do Senhor, será que, algumas vezes, você parou para procurar perceber nos sinais de cada dia a vontade ou algum recado de Deus para você? Este relato levanta perguntas decisivas a todos nós e a cada um de nós particularmente. Diante de quem ou diante de que nós nos ajoelhemos? Como se chama o “deus” a quem adoramos no fundo do nosso ser? Será que, realmente, adoramos o Menino de Belém, Jesus Cristo? colocamos a seus pés nossas riquezas, nosso bem-estar, nossas capacidades para o bem comum? Quais são valores que guiam nossa vida de cada dia?

P. Vitus Gustama,SVD

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