sábado, 8 de março de 2025

11/03/2025-Terçaf Da I Semana Da Quaresma

PAIZINHO NOSSO QUE ESTÁ NO CÉU É UMA ORAÇÃO QUE NOS CONVIDA PARA UMA INTIMIDADE PROFUNDA COM DEUS

Terça-Feira da I Semana da Quaresma

Primeira Leitura: Is 55,10-11

Isto diz o Senhor: 10 assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, 11 assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la.

Evangelho: Mt 6,7-15

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. 8Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. 9Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. 11O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. 12Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, 13e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. 15Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes”.

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A Primeira Leitura nos apresenta a imagem viva da eficácia da Palavra, da qual Deus diz: " A Palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”.

O termo que se usa no AT para “palavra” é dabar (hebraico) que vem do verbo dibber: “falar”. “Dibber é usado freqüentemente para denotar a atividade reveladora de Deus (cf. Gn 12,4;Ex 7,13;Lv 1,1;Nm 1,1;Am 3,8;Is 8,5;Jr 23,35.37;Ez 2,1ss;Os 1,2;etc.). Assim este verbo indica que Javé é o Deus que fala com seu povo. Ele não somente age, como também fala para seu povo. Isso indica seu poder, amor, e sua singularidade            (os ídolos não falam). O que Javé diz Ele cumpre (cf. Gn 1,1ss;Is 55,10-11). Com uma simples palavra Deus criou o universo (cf. Gn 1,1ss). Sua palavra é firme, fonte de temor, ação e esperança. A Palavra de Deus é “a fonte que satisfaz a tua sede, não a tua sede que esgota a fonte”(São Efrém). “Escuta a Palavra de Deus e guarda-a em teu coração. Abastece tua dispensa interior durante os dias felizes do verão e assim poderás encarar os dias difíceis da tentação durante os invernos de tua alma” (Santo Agostinho: Serm. 38, 4,6) “Aproveita os momentos de paz e solidão para recolher os grãos da Palavra de Deus e armazená-los em teu coração. Nos momentos de perturbação, quando não consegues encontrar fora a paz que necessitas, terás sempre a oportunidade de retirar-te para o teu interior e sentir-te à vontade contigo mesmo e com Deus(Santo Agostinho: In ps. 66,3). “Quando lês a Bíblia, Deus te fala; quando rezas, tu falas a Deus” (Santo Agostinho: In ps. 85,7)

Deus se aproxima de nós para nos fecundar a fim de sermos mais produtivos na convivência com os demais, como a chuva que cai e rega as plantas, istoé, dá vida para as plantas. Quem se aproxima do Deus da fecundidade se transforma em pessoa fecunda e generosa. Da parte de Deus a produtividade, a fecundidade está garantida. A Palavra de Deus, intrinsecamente, é eficaz, isto é, tem a capacidade de ter efeitos favoráveis para quem a pratica. A sintonia com a vontade de Deus, vivendo conforme Sua Palavra, resulta na vida fértil e frutuosa. Quem se aproxima da Palavra de Deus torna-se fecundo e generoso para com o próximo. O generoso acaba com o reinado dos egoístas. A fecundidade acaba com uma vida estéril. Onde o egoísmo não sobre vive, pela presença da fecundidade e da generosidade, a abundância se torna realidade.

Vamos nos aproximar dessa imagem (palavra, chuva, neve) e descobrir seu sabor e sua força nutritiva. Neve e chuva "descem do céu". Elas pertencem ao âmbito do qual o homem não domina. Assim é também a Palavra de Deus. Chuva e neve "retornam" para o céu. Assim também a Palavra: vem a nós e de nós sai. Ela vem sozinha, mas não retorna sozinha, porque tornou possível o milagre do pão e da semente. A Palavra vem do céu como ensinamento e retorna ao céu como oração e como louvor. Em nossas súplicas de filhos e em nossa atitude de gratidão de redimidos a Palavra fala com a força de seus frutos.   Há que “encharcar” a terra para fecundá-la. Assim também a Palavra faz o seu trabalho nos "encharcando", isto é: enchendo-nos internamente, penetrando-nos, enchendo nosso vazio interior. Quando permitimos isso, a Palavra nos fecunda e nos faz dar frutos.

A Palavra De Deus É Poderosa e Eficaz Para Quem Está Aberto Diante Dela

Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”.

Para quem vivia no Oriente Médio tão seco, a chuva ou a água era um bem precioso. O povo desse lugar sabia muito bem da eficácia e do poder da água ou da chuva.  O local seco ou deserto onde a chuva cai vira um lugar cheio de plantinhas. Basta jogar um balde de água numa terra seca, em poucos dias vai nascer uma variedade de plantinhas. A água ou a chuva como se acordasse as sementes escondidas de baixo da terra para se tornarem plantinhas e plantas. O local que era seco e deserto passa a ser um lugar verde cheio de vida. Quando a vida de Deus for derramada sobre qualquer pessoa aberta para a graça de Deus, ela se torna uma pessoa fecunda e generosa. A verdadeira vida vem de cima, isto é, vem de Deus, para fecundar tudo que está neste mundo. “Vir de cima” significa dom que deve ser recebido com gratidão.

O Deutero-Isaias (Is 40-55: os capítulos escritos durante o exilio na Babilônia em torno de século VI) compara o poder da Palavra de Deus com a chuva que cai do céu sobre a terra que irriga e fecunda a terra. A Palavra de Deus que entra no homem transforma este numa pessoa cheia de vida. Isto supõe que o homem, como a terra aberta para a chuva, deve estar aberto para a Palavra de Deus para torná-la eficaz e frutífera em sua vida.

O profeta Isaias nos convida, através da primeira leitura (Is 55,10-11) a crermos firmemente na força salvadora da Palavra de Deuse a estarmos abertos a ela. Porque não somente fomos salvos pelo sangue e o sacrifício de Cristo na Cruz. É verdade que a maldade do homem levou Jesus Cristo para a ignomínia da Cruz. Mas a salvação nos veio pela Palavra de Deus, empenhada um dia e cumprida na plenitude dos tempos. Deus nos ama e nos perdoa em Seu Filho encarnado. A Palavra é poderosa e eficaz, mas também perigosa. Não podemos abusar da palavra para não nos destruir e destruir os outros. Ao contrário, temos que usar a palavra para o bem e a edificação da vida dos outros.

A Palavra de Deus é a Palavra do Pai, do amigo, do confidente, do animador, do despertador da consciência. Com a autoridade ela nos convoca, ilumina, anima, consola, fortalece amorosamente. Ela não quebra liberdades nem aniquila personalidades. Ela grita na nossa consciência. Ela é como alguém que está à porta de nossa casa: espera a abertura para poder entrar. E “a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”, assim diz Deus para nós.

Deus É Nosso Papaizinho, Nosso Abbá

E o texto do evangelho deste dia faz parte do Sermão da Montanha (Mt 5-7) onde podemos encontrar vários ensinamentos fundamentais de Jesus para nós, seus seguidores. No evangelho de hoje Jesus nosseu conselho sobre oração. A oração é um dos pilares ou dos temas da caminhada quaresmal (além de esmola e jejum) rumo à Páscoa. Tratata-se de uma abertura a Deus. Orar/rezar é ser eu mesmo, finito e aberto ao Infinito. Orar é estar diante de Deus, do qual somos imagem e semelhança. Diante de Deus sou o que realmente sou. Longe de Deus que me criou não sou o que sou para Deus. Rezar é um ato humano e somente humano.  A oração não é uma opção para o ser humano, criatura, e sim a salvação do homem como homem. Rezar não é fechar-se em si mesmo e sim o abrir-se, pois a salvação está em Deus. A oração enfatiza e expressa nosso relação profunda com Deus. Jesus nos dá seu modelo de oração: o Pai Nosso. É uma oração que pode ser considerada como o resumo da espiritualidade do AT e do NT, equilibrada e educativa por seguinte. Primeiro, o Pai Nosso nos faz pensarmos em Deus que é nosso Pai: Seu nome, Seu Reino, Sua vontade. Mostramos nosso desejo de sintonizar com Deus. Por isso, logo passa para nossas necessidades: o pão de cada dia, o perdão de nossas faltas, a força para não cair em tentação e vencer o mal. 

Quem viver seriamente e conscientemente todos os dias, todos os dias ele também reza em qualquer lugar e tempo. Como dizia São João Crisóstomo: “É possível, mesmo no mercado ou durante um passeio sozinho, fazer oração freqüente e fervorosa. É possível rezar, mesmo sentados na vossa loja, a tratar de compras e vendas, ou até mesmo a cozinhar”.

A Igreja, neste tempo da Quaresma, insiste na urgência da oração e na escuta da Palavra de Deus. Conversar, dialogar com Deus é uma fonte de luz e de força. Estar à escuta da Palavra de Deus é vital, exigente e comprometido. Nós cristão sabemos que a Palavra que Deus Pai nos dirige e propõe tem um nome próprio: Jesus Cristo (cf. Jo 1,1-3.14). Dialogar com Jesus é abrir-nos à verdade, à esperança e ao amor: à vida. 

Rezar é uma nova experiência na qual entramos em relação vital com Deus. Rezar significa abrir-se para Deus. Nossa vida não pode estar centrada em nós mesmos ou nas coisas deste mundo. Rezar é saber escutar a Palavra d’Aquele que é maior do que nosso cérebro e dirigir-lhe, pessoal e comunitariamente nossa palavra de louvor e de súplica com confiança de filhos. A oração é mais do que recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção íntima de que Deus é nosso Pai e que quer nosso bem. A oração nos situa diante de Deus e nos faz reconhecer tal como somos que somos criados à imagem de Deus. A oração vai nos descobrindo o que temos de ser em cada momento. A oração nos humaniza, faz-nos mais humanos, mais criaturas, e não criadores. Se não rezarmos é impossível que nos conheçamos a fundo, porque não saberemos o que poderíamos ser, não saberemos até onde vamos. A oração nos possibilita dizermos em profundidade o que somos, o que pensamos e o que vivemos e para onde vamos.

Jesus, no seu ensinamento sobre a oração, quer nos evitar de uma noção mágica de Deus: “Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. ..., pois vosso Pai sabe do que precisais”. Deus é o melhor juiz de nossas necessidades do que nós mesmos, e Suas prioridades podem não ser iguais às nossas. Por isso, o que Jesus quer com o Pai Nosso é que confrontemos nossa vida pessoal e comunitária com seu projeto original: que com nosso proceder façamos que o Reino de Deus aconteça.

Vós, portanto, orai assim: Pai nosso que estás nos céus…”, diz nos Jesus. De todas as revoluções do Evangelho, a mais profunda e a mais radical é a revelação de Deus como Pai, e consequentemente Deus como amor, como o Pai mais carinhoso e entranhável. O Pai-Nosso não é uma simples oração apesar de ser breve. O Pai-Nosso é uma síntese de tudo o que Jesus viveu e sentiu a propósito de Deus, do mundo e de seus discípulos.

Vós, portanto, orai assim: Pai Nosso...”. Em sua oração Jesus sempre se dirige a Deus chamando-O de Abbá. Para Jesus Abbá é o nome próprio de Deus. Esta expressão aramaica é um termo que era usado especialmente pelas crianças pequenas para dirigir-se ao seu pai carinhosamente. O termo Abbá tem como tradução literal “papai” ou “papaizinho”. É um tratamento de muita ternura. Ao chamar Deus de Abbá Jesus quer nos revelar sua relação íntima que ele vive com Deus. A atitude de Jesus diante de Deus é a atitude de uma criança cheia da confiança, do afeto e da ternura de uma criança. Diante do Abbá são eliminadas as preocupações.

Jesus quer que seus seguidores vivenciem a mesma experiência ao se dirigir a Deus na oração: “... orai assim: Pai nosso que estás nos céus...”. Jesus quer despertar em cada um de nós o espírito de filho, quer que cada um de nós fale com Deus com segurança, com afeto, com ternura e com confiança de filhos. Jesus quer que cada um de nós se abandone com alegria em Deus, nosso Papaizinho, pois ao chamar Deus assim todo medo desaparecerá e toda preocupação deixará de nos dominar. Deus é nosso Abbá, nosso Papaizinho que nos ama com amor incondicional e insondável e que “sabe de nossas necessidades antes mesmo de pedirmos” (Mt 6,8).

Mas devemos prestar bem atenção de que o Pai-Nosso, desde o começo até o fim, é rezado em plural: “Pai Nosso”, e não “Pai meu”. Deus é o Pai de todos nós. Ninguém deve ficar excluído. Não podemos nos apresentar diante de Deus só com os nossos problemas, alheios aos outros homens e mulheres. Rezar o Pai-Nosso é reconhecer a todos como irmãos e irmãs, é sentir-se em comunhão com todos os homens e mulheres, é ficar atentos para os problemas e necessidades dos outros, é não desprezar nenhum povo.

Mas ser filho deste Abbá não significa ser infantil. Jesus nunca foi débil e infantil. Não rezamos a Deus para que nos defenda da dureza da vida ou para que faça aquilo que devemos fazer ou para que resolva os problemas que nós mesmos devemos resolver. Pedimos, sim, ao nosso Papaizinho do céu para que saibamos atuar a partir de sua graça, de sua ternura, de sua bondade e de sua verdade e viver com responsabilidade na nossa liberdade de filhos e filhas.

Diante do mundo que prescinde de Deus, Jesus propõe como primeira petição, como ideal supremo do discípulo, o desejo da glória de Deus: “Santificado seja teu Nome”. Esta primeira petição está orientada na linha profética que situa Deus acima de tudo, exalta sua majestade e deseja que se proclame sua glória.

Diante do mundo onde predomina o ódio, a crueldade, a injustiça, Jesus pede que se instaure o Reino de Deus, o Reino da justiça, do amor e da paz. Recorre nesta petição o tema chave de sua mensagem, o Reino de Deus que se instaurará na terra como no céu.

Vós, portanto, orai assim: Pai nosso que estás nos céus…”. A oração do Pai-Nosso é um convite para estabelecer uma relação de confiança e de intimidade de uma dimensão comunitária (Pai Nosso) e em uma disposição constante de perdão. A partir desta dimensão os cristãos são chamados a construir espaços de oração que refletem o compromisso de construir o Reino de Deus, onde Deus é Pai de todos nós e nós somos filhos e os filhos e irmãos que vivemos em comunidade e fraternidade. “Pai-Nossoquer enfatizar uma nova relação dos cristãos com Deus que não é somente individual, mas também comunitária. São os filhos, ou cidadãos do reino, os que se dirigem ao Pai que é seu Rei.

Chamar Deus de “Pai” é algo insólito, inimaginável que expressa a máxima confiança, proximidade e ternura. Jesus quer nos dizer que Deus é o nosso Pai que está sempre ao nosso lado, cheio de cuidados e ternura para com cada um de seus filhos e filhas. Com a palavraPai” abre-se um mundo novo nas relações de Deus para com o homem. A vida cristã está banhada de alegria, pois sabemos que somos filhos e filhas de Deus independentemente de nossa situação e de nosso modo de viver.         

Além do mais, ao chamar Deus de Pai precisamos estar conscientes de que precisamos viver como irmãos e irmãs, como recorda Santo Tomás de Aquino: “Ao dizermos Pai, recordemos duas obrigações que temos para com os semelhantes: Primeiro, devemos amá-los porque são nossos irmãos, pelo fato de serem filhos de Deus (cf. 1Jo 4,20). Segundo, devemos reverenciá-los, tratando-os como filhos de Deus (cf. Ml 2,10; Rm 12,10; Hb 5,9) “.        

Rezar o Pai-Nosso é seguir Jesus Cristo, aprendendo dele a maneira de viver, de escolher e também o modo de enfrentar a morte; quais são as razões profundas, as raízes da própria existência. DizerPainos torna disponíveis, nos enche de confiança, facilita a nossa entrega, pois estamos certos de sermos ouvidos, e isto nos permite superar as barreiras do medo e da incerteza. DizerPai” significa que eu devo me comportar como filho (a) diante dele e como irmão diante dos outros, pois eu sou irmão de muitos outros irmãos. DizerPai” faz nascer a certeza de que somos amados, isto é, nos leva a um ato de inteiro abandono em Deus.

Vamos Meditar Mais Sobre Alguns Pensamentos do Papa Francisco sobre o Pai-Nosso do livro: PAI NOSSO (Editora Planeta, 2018)

1.   A sensação que experimento é de segurança. Começo a partir daqui: o Pai-nosso me dá segurança; não me sinto afastado de minhas raízes, não tenho a sensação de ser órfão. Tenho um pai, um pai que me recorda a história, revela minhas raízes, cuida de mim, que me leva para a frente, e até mesmo um pai diante do qual em me sinto sempre uma criança, porque Ele é grande, é Deus, e Jesus pediu isso, que nos sintamos como crianças (p.20).

2.    Dizer e ouvir o “nosso” do Pai-nosso significa entender que não sou filho único. Nós, cristãos, corremos o risco de nos sentirmos filhos únicos. Não, não: todos, até mesmo aqueles desprezados, são filhos do mesmo Pai (p.21).

3.   Pai” é uma palavra conhecida por todos, uma palavra universal. Ela indica uma relação fundamental cuja realidade é tão antiga quanto a história da humanidade. Hoje, no entanto, chega-se a afirmar que estamos em uma “sociedade sem pais” …. O problema dos nossos dias não parece ser tanto a presença invasiva dos pais, mas sim a sua ausência, a sua inoperância. Às vezes os pais se veem tão concentrados em si mesmos, no seu trabalho e em suas realizações individuais que acabam até por esquecer a família (pp. 23-24).

P. Vitus Gustama,svdd

quinta-feira, 6 de março de 2025

10/03/2025-Segundaf Da I Semana Da Quaresma

AMOR A DEUS QUE SE EXPRESSA NO AMOR AO PRÓXIMO É O CRITÉRIO PARA ENTRAR NA VIDA ETERNA

Segunda-Feira da I Semana da Quaresma

Primeira Leitura: Lv 19,1-2.11-18

1 O Senhor falou a Moisés, dizendo: 2 “Fala a toda a Comunidade dos filhos de Israel, e dize-lhes: Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo.  11 Não furteis, não digais mentiras, nem vos enganeis uns aos outros. 12 Não jureis falso por meu nome, profanando o nome do Senhor teu Deus. Eu sou o Senhor. 13 Não explores o teu próximo nem pratiques extorsão contra ele. Não retenhas contigo a diária do assalariado até o dia seguinte. 14 Não amaldiçoes o surdo, nem ponhas tropeço diante do cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor. 15 Não cometas injustiças no exercício da justiça; não favoreças o pobre nem prestigieis o poderoso. Julga teu próximo conforme a justiça. 16 Não sejas um maldizente entre o teu povo. Não conspires, caluniando-o, contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor. 17 Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele. 18 Não procures vingança, nem guardes rancor aos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”.

Evangelho: Mt 25,31-46

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 31Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. 32Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! 35Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’. 37Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede e te demos de beber? 38Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? 39Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’ 40Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’ 41Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. 42Pois eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; 43eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar’. 44E responderão também eles: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ 45Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!’ 46Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”.

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Ser Santo Como Deus, e Ser Protetor Do Próximo

Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, Sou santo”, assim diz o Senhor para o povo de Israel através do legislador Moisés que lemos na Primeira Leitura de hoje. O texto da Primeira Leitura tem influência do Decálogo (Ex 20).

O texto da Primeira Leitura (Lv 19,1-2.11-18) faz parte das prescrições morais e cultuais (Lv 19,1-37). Este capítulo forma uma unidade, com sua própria introdução (vv. 1-2) e sua conclusão (vv. 36b-37). No horizonte maior, o capítulo 19 do Levítico faz parte de um conjunto homogêneo de leis, designado, com o título de “Código de Santidade” (Lv 19-26). Todo este código é como um texto constitutivo que contém os mais essenciais princípios que devem informar a vida cotidiana de Israel em sua relação com Deus e com o próximo. O capitulo 19, concretamente, contém uma série de leis sociais: deve-se tratar o outro com respeito: viver na justiça e no amor fraterno.

Os versículos 11-18 (Lv 19,11-18) estão centrados principalmente na responsabilidade pessoal de praticar justiça e caridade em relações sociais. A proibição contra a profanação do nome divino pelo prejúrio (v.12); contra qualquer forma de mentira e falsidade (v.11b); contra o roubo (v.11ª);  o forte não deveria tirar proveito do fraco, pelo engano e roubo (v.13ª), pela retenção de salários (v. 13b), ou mediante outras formas de tratamento inadequado (v.14): contra a maldição, pois uma vez pronunciada, era irrevogável e efetiva, quer fosse ouvida pelo acusado ou não. Os procedimentos da corte, presididos pelos membros mais velhos do clã, (vv.15-16) deveriam ser marcados pela aderência rígida aos interesses da justiça, que proibia tanto o favorecimento do poderoso quanto a compaixão exacerbada para com o simples. Ou seja, o israelita deveria manter a justiça refreando-se de fazer qualquer acusação falsa contra uma pessoa. As exigências da caridade (vv.17-18) excluem um espírito de hostilidade, vingança, e rancor. Que a correção fraterna fosse feita sempre que necessário. O pecado seria a falha em corrigir o culpado quando necessário (Ez 3,18-19; 33,8-9. Cf. também Mt 18,15). O mais célebre versículo do texto de hoje é o v.18b: Propõe o amor a si mesmo como medida de caridade para com o próximo. Para são Paulo, a caridade é o cumprimento de toda a Lei (Rm 13,10) que está de acordo com o ensinamento de Cristo (Mt 22,37-39; Mc 12,30-31).

Em outras palavras, no livro de Levítico, Moisés apresenta ao povo de Israel um código de santidade para que o povo possa estar à altura de Deus que é o todo Santo. Há mandamentos que se referem a Deus: Não faça juramento falso. Mas, sobretudo, insiste-se na caridade e na justiça com os demais homens. A enumeração é vasta e afeta até os aspectos da vida que não perde jamais sua atualidade: não furtar, não enganar, não oprimir, não cometer injustiças nos juízos ou no exercício de justiça (para os tribunais), não odiar, não guardar rancor. Há dois detalhes concretos muito significativos: não maldizer ao surdo (aproveitando que não pode ouvir) e não pôr tropeço diante do cego (que não pode ver). Positivamente pode-se dizer que é preciso respeitar e amar ao próximo. E amar ao próximo inclui também a ajuda na sua necessidade báscia quando ele se encontra numa necessidade.

Por isso, a consignação final é bem positiva: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Tudo isso tem uma motivação: “Eu sou o Senhor”, frase que se repete no conjunto da lei da santidade. Deus quer que sejamos santos como Ele, que O honremos mais com as obras do que com as orações, com os cantos e as palavras. O primeiro dom e mais necessário para a santidade é a CARIDADE com a qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor a Deus. O amor é a experiência espiritual mais profunda. “O amor é o único tesouro que se multiplica ao dividir-se, que tanto mais aumenta que mais se lhe tira. O único empreendimento no qual quanto mais se gasta mais se ganha” (Santo Agostinho).

Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais” (Papa Francisco: Exortação Apostólica Gaudete Et Exsultate n.14).

O Salmo Responsorial (Sl 18) nos faz aprofundarmos nesta chave: “Os preceitos do Senhor são precisos, alegria ao coração. O mandamento do Senhor é brilhante, para os olhos é uma luz”.

Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, Sou santo”. A “lei de santidade, seção central e mais compacta do Levítico (Lv 17-26) se trata de modelar a ordem humana a partir da santidade de Deus. Santidade é aqui um conceito que não fala tanto de Deus em si, quanto de Deus como fundamento do mundo ou da humanidade. Daí que seja uma exigência radical para a própria humanidade para ser verdadeiramente o que é ou é chamada a ser. A lei se dirige ao povo de Deus no mundo para ensinar-lhe o caminho de acesso à santidade de Deus ou à plena realização de si mesmo. O caminho para a santidade é o homem-irmão, o próximo. Dentro deste código de santidade, o próximo se chama também parente, concidadão, irmão. É o homem da comunidade humana, na qual todos têm direitos e deveres. O cumprimento dos deveres faz que o próximo obtenha seus direitos. Dentro deste contexto é que podemos entender o mandamento do amor fraterno: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. O homem não está nunca tão próximo da santidade de Deus como quando ama a seu próximo.

Por isso, depois do princípio da santidade de Deus, o legislador faz a enumeração dos preceitos morais. Em primeiro lugar, justiça com o próximo. O legislador proíbe o furto, cortando de raiz suas ocasiões ao proibir todo tipo de engano e falsidade com o próximo: “Não furteis, não digais mentiras, nem vos enganeis uns aos outros”. Também é condenada toda opressão violenta contra o próximo: “Não explores o teu próximo nem pratiques extorsão contra ele”. Em nome de Deus que sejam protegidos os pobres e débeis e por isso, é proibido maldizer o surdo e pôr obstáculos ao cego porque estes não podem contestar a sua conduta: “Não amaldiçoes o surdo, nem ponhas tropeço diante do cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor”. Nem pode profanar o Nome de Deus através de um juramento falso: “Não jureis falso por meu nome, profanando o nome do Senhor teu Deus. Eu sou o Senhor”.

Em segundo lugar, a retidão e a caridade para o próximo. Contra toda acepção de pessoas é ordenado que pode favorecer a ninguém nem ao pobre, nem ao rico: “Não cometas injustiças no exercício da justiça; não favoreças o pobre nem prestigieis o poderoso. Julga teu próximo conforme a justiça”. A justiça é a base da ordem social, e por isso é inculcada a objetividade nas causas judiciais. Quem ama pratica a justiça social. O legislador acrescenta que não se deve difamar ninguém com vistas ao derramamento de sangue: “Não sejas um maldizente entre o teu povo. Não conspires, caluniando-o, contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor”. E como base do sentido de justiça são proibidos os desejos adversos internos contra o próximo e é recomendada a correção fraterna: “Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele”. Os ódios reconcentrados no coração podem se transformar em explosões violentas contra o próximo. E por fim, o grande mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”. Mas aqui “próximo” se refere ao israelita ou compatriota. No comentário rabínico se diz que “o próximo não é o samaritano, nem o estrangeiro, nem o prosélito”. É a interpretação que davam os judeus no tempo de Jesus. Na mensagem evangélica, o amor ao próximo é uma consequência e projeção do amor ao Deus-Pai celeste que faz nascer o sol para os bons e maus e faz cair a chuva para os justos e injustos (Mt 5,43-48).

É interessante observar que se repete a frase como refrão: “Eu sou o Senhor”. Aqui Deus se faz como garantia, o Guardião, o Juiz da qualidade de nossas relações humanas. O fato de o homem explorar o outro homem, seu próximo, Deus fica indiferente, mas se encoleriza.

Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, Sou santo”. Entre homem e Deus há um certo laço. Deus não se desinteressa da conduta do homem. E Jesus dirá: “Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito” (Mt 5,48).

Roubo/Furto”, “Mentira”, “Exploração/Extorsão/Injustiça”, “Difamação/Calúnia”, “Maldição”, “Pedra de tropeço/Escândalo”, “Vingança/Guardar rancor”. Devo me deter em cada uma destas palavras. Qual é a minha forma de tratar o outro? Ajude-me, Senhor a amar sem cessar a todos.

O Amor Será o Critério De Deus Para Nos Examinar No Julgamento Final

O texto do evangelho lido neste dia se encontra no quinto e o último discurso de Jesus no evangelho de Mateus chamado o Julgamento final (Mt 23-25). O evangelista Mateus quer nos recordar que o homem jamais se esquece de que um dia sua vida na história terminará. Um dos seus dias será o dia de sua morte. Um poeta espanhol escreveu: “Partimos, quando nascemos, caminhamos enquanto vivemos, e chegamos no momento em que morremos”. São Paulo nos adverte: “Todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal” (2Cor 5,10; cf. Hb 9,27). Segundo São Paulo nós seremos julgados por Deus por aquilo que fizemos ou deixamos de fazer aqui neste mundo, durante a nossa história. E o critério de avaliação vai ser nosso amor para com os irmãos, para com todas as pessoas, principalmente para os necessitados (cf. 1Cor 13,1-13). O próximo é a passagem obrigatória para chegar até Deus.

Sabendo do término de nossa caminhada um dia aqui neste mundo, o texto do evangelho deste dia é uma das páginas mais incômodas de todo o evangelho. Uma das páginas do Evangelho que sempre temos mais medo é a da parábola do “Juízo final”. Trata-se do momento supremo do homem, do momento em que deverá prestar contas ao seu Criador, porque todos Lhe pertencem e que Ele esteve presente na história de todos (cf. Mt 28,20; 25,40.45; 1Cor 3,16-17 etc.). Por isso, fala-se de condenação e de salvação, de bênção e maldição, de chamada e de repulsa: de eternidade. Qualquer homem pode não encontrar Deus durante a vida, mas não tem como escapar do seu próximo com quem Jesus se identifica. O verdadeiro próximo é aquele em cujo caminho eu me coloco e não apenas aquele que eu encontro no meu caminho. 

No julgamento final, Jesus nos revela um Deus que não se pode medir com os nossos cálculos matemáticos, legais ou rituais; um Deus que, apesar de ser o mais próximo de nós, também é o mais afastado porque Ele é o “diferente”, o “diverso”, o “Outro”.

O critério usado no julgamento final é o AMOR ao próximo, de modo especial o bem feito aos pobres e marginalizados, pois o cerne da religião bíblica é a prática ou a vivência do amor. Todo o mais, por mais belo e importante que ele seja, como o conhecimento e a fé em Deus parecem ter valores apenas “parciais”. Mesmo o testemunho do sangue não significa nada em comparação com o amor ao próximo (cf. 1 Cor 13,1-13). Mas não se trata do bem, feito para atrair sobre si a bênção de Deus, ou com a esperança duma recompensa, servindo-se do próximo como instrumento da benevolência divina, mas trata-se do bem, feito ao homem pelo homem: o amor pelo amor. O ateu pode percorrer as ruas do mundo sem encontrar Deus, mas não pode deixar de cruzar-se com o seu próximo e com o próximo mais pobre, menos livre, mais oprimido, mais só. Jesus se identifica com eles.

No evangelho de hoje Jesus nos recorda que no último dia seremos julgados sobre o amor: “Todas as vezes que não fizestes isso (caridade) a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!”, diz o Senhor (Mt 25,45). Entre o homem e Deusum certo laço. Deus não se desinteressa da conduta do homem. As palavras do Senhor neste dia devem servir de exame de consciência sobre o estilo e a qualidade de nossas relações com todas as pessoas que tratamos: falta de caridade, mentira, agressão, falsidade, exploração, apatia, insensibilidade humana e assim por diante. Devemos nos deter em cada uma destas palavras e nas outras semelhantes. E cada um deve se perguntar: “Qual é o meu estilo ou meu modo de tratar os outros?”. Deus se faz juiz da qualidade de nossas relações com os outros, e não os comentários humanos.

Na Eucaristia, com os olhos da , não nos custa muito descobrir Cristo presente no sacramento do pão e do vinho. Mas nos custa muito descobrirmos Cristo fora da Eucaristia, no sacramento do irmão. Mas precisamente a partir deste ângulo é que será feita a pergunta final, se descobrimos Cristo no irmão ou não. O Cristo que escutamos e que recebemos na Eucaristia é o mesmo a quem devemos servir nas pessoas com as quais nos encontramos durante o dia.

Muitas vezes, e, sobretudo, em situações de crise perguntamos: “Onde está Deus?”. Hoje, através do texto de Mateus temos uma resposta clara: nos que sofrem, nos pobres, nos enfermos, ainda que não queiramos ver porque é incômodo, desagradável.  Mas comprometer-se, conviver, procurar qualidade de vida, calor, não é isso ser santo?

Se decidirmos realmente seguir a Jesus, teremos que escolher o caminho da vida. Optar pela vida é viver na solidariedade, na compaixão, na caridade, no perdão. Mas se escolhermos nossas ambições, o poder, a autossuficiência, etc., então estaremos escolher o caminho da morte eterna.

Portanto, viver não é simplesmente sorrir e sim fazer alguém sorrir. Viver não é medir ajuda e sim ajudar sem medida, pois Deus é o critério do bem. Viver não é somente ajudar que está próximo e sim estar sempre próximo para ajudar. Viver não é somente doar um pouco e sim doar sempre, pois nisto consiste a verdadeira vida. Viver não é somente compadecer-se e sim ajudar mesmo que por isso se torne incomodo. Quem ama não somente faz o que pode e sim faz até o impossível, poisDeus é amor” (1Jo 4,8.16) e “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37).

A quaresma é o tempo oportuno para praticar a solidariedade pela solidariedade (esmola é um dos tres pilares da Quaresma, além da oração e jejum). Dividir o que se tem com quem não tem nada para viver é uma das maneiras de viver a quaresma. Não basta fazer jejum. Não basta rezar. É preciso saber partilhar com o necessitado com quem Jesus se identifica. O modo de amar, de abraçar, de aceitar o meu irmão mais pequeno e mais oprimido é uma participação evidente da intimidade mesma de Deus- Amor, um valor absoluto em si próprio. Tudo o que é amor já é de Deus. Um critério que servirá, então, para crentes e ateus será a lei do amor aos irmãos, escrito no interior de cada ser humano, impulso para o bem, a chamada à fraternidade. Porque alguém pode ter fé em Deus sem amar ao próximo e alguém pode se considerar ateu, mas sabe amar ao próximo

Que no último dia de nossa vida terrestre possamos tirar uma nota boa neste exame final de nossas relações e de nosso tratamento para com os outros. O decisivo será a atitude de amor ou de indiferença que fizemos com os irmãos mais pequenos: os famintos, sedentos, enfermos, encarcerados, imigrantes e assim por diante. Revisar com que consciência nós atuamos é o próprio da Quaresma.

Lembremo-nos de que Deus não vai perguntar que tipo de carro você costumava dirigir, mas vai perguntar quantas pessoas que necessitavam de sua ajuda para transportá-las. Deus não vai perguntar qual o tamanho de sua casa, mas vai perguntar quantas pessoas você abrigou nela. Deus não vai fazer perguntas sobre as roupas do seu armário, mas vai perguntar quantas pessoas você ajudou a vestir. Deus não vai perguntar o montante de seus bens materiais, mas vai perguntar em que medida eles ditaram sua vida. Deus não vai perguntar qual foi o seu maior salário, mas vai perguntar se você comprometeu o seu caráter para obtê-lo. Deus não vai perguntar quantas promoções você recebeu, mas vai perguntar de que forma você promoveu outros para que pudessem crescer. Deus não vai perguntar qual foi o título do cargo que você ocupava, mas vai perguntar se você desempenhou o seu trabalho com o melhor de suas habilidades. Deus não vai perguntar quantos amigos você teve, mas vai perguntar para quantas pessoas você foi amigo. Deus não vai perguntar o que você fez para proteger seus direitos, mas vai perguntar o que você fez para garantir os direitos dos outros. Deus não vai perguntar em que bairro você morou, mas vai perguntar como você tratou seus vizinhos. A vivência do amor fraterno é decisiva para pode estar em comunhão com o Deus de amor na vida eterna.

P. Vitus Gustama,svd

11/03/2025-Terçaf Da I Semana Da Quaresma

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