segunda-feira, 31 de março de 2025

02/04/2025-Quartaf Da IV Semana Da Quaresma

DEUS TRABALHA ATRAVÉS DE NÓS EM PROL DO BEM DA HUMANIDADE

Quarta-Feira da IV Semana da Quaresma

Primeira Leitura: Is 49,8-15

8 Isto diz o Senhor: “Eu atendo teus pedidos com favores e te ajudo na obra de salvação; preservei-te para seres elo de aliança entre os povos, para restaurar a terra, para distribuir a herança dispersa; 9 para dizer aos que estão presos: ‘Saí!’ e aos que estão nas trevas: ‘Mostrai-vos’. E todos se alimentam pelas estradas e até nas colinas estéreis se abastecem; 10 não sentem fome nem sede, não os castiga nem o calor nem o sol, porque o seu protetor toma conta deles e os conduz às fontes d’água. 11 Farei de todos os montes uma estrada e os meus caminhos serão nivelados. 12 Eis que estão vindo de longe, uns chegam do Norte e do lado do mar, e outros, da terra de Sinim”. 13 Louvai, ó céus, alegra-te, terra; montanhas, fazei ressoar o louvor, porque o Senhor consola o seu povo e se compadece dos pobres. 14 Disse Sião: “O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim!” 15 Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém não me esquecerei de ti.

Evangelho: Jo 5,17-30

Naquele tempo, 17Jesus respondeu aos judeus: “Meu Pai trabalha sempre, portanto também eu trabalho”. 18Então, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque, além de violar o sábado, chamava Deus o seu Pai, fazendo-se, assim, igual a Deus.  19Tomando a palavra, Jesus disse aos judeus: “Em verdade, em verdade vos digo, o Filho não pode fazer nada por si mesmo; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho o faz também. 20O Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que ele mesmo faz. E lhe mostrará obras maiores ainda, de modo que ficareis admirados.  21Assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, o Filho também dá a vida a quem ele quer. 22De fato, o Pai não julga ninguém, mas ele deu ao Filho o poder de julgar, 23para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou.  24Em verdade, em verdade, eu vos digo, quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, possui a vida eterna. Não será condenado, pois já passou da morte para a vida. 25Em verdade, em verdade, eu vos digo: está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem viverão. 26Porque, assim como o Pai possui a vida em si mesmo, do mesmo modo concedeu ao Filho possuir a vida em si mesmo. 27Além disso, deu-lhe o poder de julgar, pois ele é o Filho do Homem. 28Não fiqueis admirados com isso, porque vai chegar a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a voz do Filho e sairão: 29aqueles que fizeram o bem, ressuscitarão para a vida; e aqueles que praticaram o mal, para a condenação.  30Eu não posso fazer nada por mim mesmo. Eu julgo conforme o que escuto, e meu julgamento é justo, porque não procuro fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

----------------------------------

Na Primeira Leitura, o profeta Isaías (Deutero-Isaías) descreve o retorno do exílio (Babilônia) - sinal e penhor da libertação messiânica - com renovados temas e imagens do antigo Êxodo do Egito. O amor eterno do Senhor pelo seu povo, semelhante ao amor de uma mãe pelos seus filhos, exprime-se de forma concreta em toda a sua gratuidade e fidelidade infalível. “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém não me esquecerei de ti.

No Evangelho, Jesus revela seu poder divino, que recebe do Pai, para dar vida. Ele comunica esta vida pela proclamação da Palavra e anuncia a hora em que os mortos pelo pecado poderão encontrar a salvação e ter acesso à vida divina, e a hora em que os que jazem nos sepulcros ressuscitarão para o julgamento de o Filho. No Evangelho de hoje, Jesus anuncia, então, as maravilhas da "vida" que marcam o Reino inaugurado: o Filho dá vida aos mortos. Isaías já prometeu esses bens messiânicos, para o retorno do exílio.

Deus Nos Ama Com Um Amor Materno Eternamente

Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém não me esquecerei de ti” (Is 49,15).

Esta é a resposta de Deus para a lamentação do povo de Israel na Babilônia que diz: “O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim!”. A resposta de Deus acentua o paixão de uma mãe pelo filho pequeno. Através do amor materno se revela o amor divino. O amor divino é muito mais elevado e constante do que o amor materno. O amor divino é incondicional (cf. Jo 3,16; 13,1). O amor divino é tão incondicional a ponto de se fazer homem: “O Verbo estva com Deus. O verbo era Deus. O verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,1-3.14). O amor materno é válido, porém limitado, pois nenhuma mãe faria a mesma coisa para os filhos de outras mães como ela faz para seu próprio filho. O amor divino é para todos, sem exclusão.

A Primeira Leitura, tirada do Livro do profeta Isaías, faz parte do conjunto chamado Segundo Isaías, Deutero-Isaías (Is 40-55). Esta parte foi escrita durante o exílio na Babilônia. Por isso, percebe-se o desespero dos israelitas exilados: “O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim!”. O sofrimento durante o exílio é tanto a ponto de o povo se sentir abandonado por Deus. O povo fica longe do Templo de Jerusalém onde adora o Deus de Israel.

Temos a mesma tentação de questionar a existência de Deus quando somos dominados pelos sofrimentos. “Será que Deus existe?”, assim perguntamos. “Por que as minhas orações, até agora, não foram antendidas por Deus? Por que Deus demora em responder minhas orações?”. Mas fiquemos atentos, pois Deus sempre dá resposta através de tantas pessoas ou acontecimentos ou de alguma forma que não conseguimos enxergar. Nossa oração não muda Deus, mas muda quem reza. Paradoxalmente, muitos vezes, Deus não atende como uma forma de atender, pois Ele quer nos salvar.

Para a pergunta dos israelitas desterrados se o Senhor os abandonou e se esqueceu deles, Deus dá sua resposta através da boca do profeta Isaías: “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém não me esquecerei de ti.

A dor e o sofrimento parecem ter a habilidade especial de nos mostrar quanto nós necessitamos uns dos outros porque, de fato, somos frágeis e fracos. Nossa lutas nos recordam quão frágeis nós somos realmente. Inclusive, a debilidade dos demais pode nos sustentar quando nossa própria fortaleza ou força se esgota. Deus nos faz depender uns dos outros. A dor une as pessoas de todas as classes, pois a dor ou sofrimento não tem religião. Temos muito que oferecer aos que sofrem, e os demais tem muito que oferecer a nós quando temos problemas. O sofrimento nos ajuda a ter consciência de que necessitamos uns dos outros. E o sofrimento nos ajuda a aliviar as necessidades dos demais à medida que deixamos que Deus viva dentro de nós e através de nós. O amor nos capacita a detectarmos instintivamente daquilo que os outros necessitam e nos faz estendermos nossas mãos para ajudá-los.

O amor eterno de Deus por seu povo, especialmente pelos israelitas desterrados, parecido ao amor de uma mãe por seus filhos, se expressa de uma maneira concreta em toda a sua gratuidade e fidelidade indefectível: “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém não me esquecerei de ti. Deus jamais pode esquecer-se de seu povo, pois lhe professa um amor mais forte do que o amor maternal, o amor mais sincero e profundo, e com um acento enfático Deus diz ao povo confidencialmente que o tem gravado nas palmas de suas mãos: “Eis que estás gravada na palma de minhas mãos, tenho sempre sob os olhos tuas muralhas” (Is 49,16). Deus leva o povo eleito nas palmas de suas mãos de modo que Deus possa tê-lo sempre presente para não esquecê-lo. Deus me leva na palma de Sua mão e me ama com amor uterino.

O profeta Isaias quer nos relembrar que Deus jamais nos abandona, como uma mãe que jamais abandona seu filho mesmo que este esteja muito doente. Deus está dentro de nós. Ou melhor dizer, nós estamos dentro de Deus, pois somos filhos e filhas seus. Sofrimento ou dor não sinaliza o abandono de Deus, mas mostra que somos finitos e criaturas dependentes de Deus. As duas frases do profeta Isaias servem como força para nós em qualquer momento: “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém não me esquecerei de ti” e “Eis que estás gravada na palma de minhas mãos, tenho sempre sob os olhos tuas muralhas”. Seja na alegria, seja no sofrimento e dor Deus está conosco todos os dias (Mt 28,20). O sofrimento nos faz procurarmos os outros e Deus.

Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém não me esquecerei de ti. Há que deter-se prlongamente diante destas frases tão ardentes, diante de tais declarações de amor maternal da parte de Deus! Sou amado assim por Deus. Eu preciso continuar minha meditação sobre esta frase com um longo silêncio contemplativo. Deus não pode esquecer-se de mim. Tu, Senhor, jamais te esqueces de mim!

Temos Que Viver e Trabalhar Como Filhos de Deus

“Em verdade, em verdade vos digo, o Filho não pode fazer nada por si mesmo; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho o faz também”.

O evangelho deste dia é a continuação do evangelho do dia anterior. Seus contemporâneos judeus perseguem Jesus porque Ele “violou” o Sábado porque curou o paralítico nesse dia que para eles é o dia muito sagrado. Jesus justifica sua atuação com umas palavras que acabam agravando a situação: Jesus chama Deus de Pai e faz igual ao Pai: “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho”.

Precisamos sublinhar a diferença sobre o tema do Sábado nos sinóticos (Mt, Mc e Lc) e no evangelho de João. No evangelho de João a cura no Sábado não tem como objetivo relativizar a lei do Sábado como nos evangelhos sinóticos, embora acabe relativizando o Sábado em função da salvação do homem. O evangelho de João quer nos demonstrar a autoridade de Jesus sobre o Sábado que vem por sua igualdade com Deus, como lemos no texto: “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho... O que o Pai faz, o Filho o faz também”.  Se Deus salva qualquer homem em sua necessidade vital em qualqur circusntâncias, então, Jesus que o Verbo de Deus feito carne continua a salvar o homem, pois para isso é que Ele foi enviado (cf. Jo 3,16).

As razões para esta interpretação se encontram no Gn 2,2-3 onde Deus descansa no mesmo dia que termina a obra da criação. Nesta perspectiva Jesus resgata a dimensão criadora do Sábado devolvendo a vida e a liberdade ao homem enfermo, ao mesmo tempo, demonstra a união perfeita entre a ação de Jesus e a ação do Pai. O ponto de partida é que o Pai continua sendo o Autor da obra e o Filho seu cumprimento definitivo. O projeto de Jesus atualiza o projeto de Deus que continua tendo como fundamento Deus Pai, o amor, a fé, a Palavra e a vida. Se quisermos unir nosso projeto com o projeto que vem do Pai e passa pelo Filho, devemos trabalhar em torno desse fundamento. Os projetos são muitos, mas o problema se eles estão em comunhão com o projeto de Deus. Ao fazer qualquer obra ou trabalho pastoral devemos lançar primeiro nosso olhar para o Pai e o Filho, pois “O que o Pai faz, o Filho o faz também”.  E o que Jesus Cristo faz é isso que devemos fazer também.

O que Deus faz pela humanidade nós podemos ler também na primeira leitura e no Salmo de meditação neste dia. A primeira leitura deste dia, tirada do Segundo Isaías e foi escrita durante o exílio na Babilônia, nos apresenta Deus não como o soberano onipotente e majestoso, nem como juiz implacável, mas como “aquele que tem compaixão”, que “consola”, que “conduz seu Povo às fontes de água”, como uma mãe carinhosa que cuida dos seus filhos e se comove por eles. São imagens cheias de calor humano. Imagens que dizem como Deus está ligado às criaturas e como Ele as ama com muita ternura! Deus dialoga com o homem nos largos espaços do amor, não no escrúpulo da observância dos preceitos. Deus ama todos nós mais do que uma mãe que ama seus filhos: “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti”, diz-nos Deus (Is 49,15). E a bondade, a ternura, a misericórdia, a justiça e a santidade de Deus são proclamadas no Salmo de meditação deste dia.

No NT o amor cheio de ternura de Deus se fez carne em Jesus Cristo, Deus-Conosco (Mt 1,23; 18,20; 28,20), pois Ele dá a vida por nós todos: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham abundantemente” (Jo 10,10b). Jesus coloca o homem acima de qualquer lei por sagrada que ela pareça ser como a Lei de Sábado para o Povo eleito. Para Jesus a salvação do homem é muito mais importante do que a Lei do Sábado por sagrado que ele possa ser considerado, como lemos no texto do evangelho deste dia. Toda a obra de Jesus é a obra do Pai que tem como foco o ser humano e sua salvação: “Em verdade, em verdade Eu vos digo, o Filho não pode fazer nada por si mesmo; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho o faz também” (Jo 5,19). Jesus trabalha como o Pai para salvar o homem. A glória de Deus é a salvação do homem. Jesus atua em perfeita sintonia com o Pai que O enviou. A plena unidade na ação brota de uma profunda comunhão de amor entre o Pai e o Filho. Por esta perfeita união Jesus tem o poder sobre a vida e a autoridade de juízo.

Os judeus acusaram Jesus por violar o Sábado. Mas Jesus respondeu: “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho” (Jo 5,17). Trata-se de uma revelação surpreendente. Palavra que deve continuar ressonando e ressoando em nós. Deus “trabalha”! A palavra “Sabbat” (hebraico), Sábado, significa repouso. Acusaram Jesus de não respeitar o repouso de Sábado. Resposta de Jesus: Deus não cessa de trabalhar. Sim, Deus continua “trabalhando” em mim e através de mim, na Igreja e através da Igreja, nas pessoas de boa vontade e através delas, nos que ajudam os necessitados e através deles, nos doentes e através dos doentes, nos que guiam e ensinam os demais para o bem e através deles, nos que acolhem os outros como irmãos e através deles, nos que visitam os doentes e através deles, nos que alimentam os famintos e através deles, nos que lutam pela dignidade de sua família e a família dos demais. Deus continua trabalhando através das pessoas ao meu redor, e assim por diante. Deus realmente continua trabalhando. Jesus, o Filho amado do Pai continua cooperando no trabalho do Pai em salvar a humanidade, em devolver a dignidade para os excluídos e marginalizados. Por isso, ele curou o paralítico no Sábado. A salvação e a dignidade do paralítico estão acima de qualquer lei por sagrada que ela pareça ser. O ser humano é mais sagrado do que qualquer lei, pois ele é o templo do Espírito Santo (cf. 1Cor 3,16-17).

O Pai não conhece o repouso, não cessou de trabalhar, porque enquanto o homem estiver/está oprimido pelo pecado e privado de liberdade, enquanto não tiver/não tem plenitude de vida, o Pai continuará trabalhando. Deus continua comunicando vida onde o homem coloca a morte, a esperança aos desesperados, a força aos debilitados, a guia e a luz de seu Santo Espírito para os desorientados e confusos. O amor de Deus pela humanidade está sempre ativo. Jesus atua como o Pai, não aceita leis que limitem sua atividade em favor da dignidade do homem.

Que nosso lema como cristãos seja o lema de Cristo: “O que o Pai faz, o Filho o faz também”. Não podemos parar de fazer o bem como Jesus “passou a vida fazendo o bem” (At 10,38). Deus quer trabalhar através de nossa inteligência, de nossos dons, através de nossas obras de cada dia, através de nosso coração, de nossos braços que ajudam e de nossos pés para ir ao encontro dos necessitados.  Se “Deus é trabalhador”, devemos, sim, como filhos d´Ele, ser trabalhadores do Pai. Se não for assim, deixaremos de ser chamados de filhos e filhas de Deus.

No fim do texto do evangelho de hoje Jesus fez a seguinte declaração: “Não fiqueis admirados com isso, porque vai chegar a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a voz do Filho e sairão: aqueles que fizeram o bem, ressuscitarão para a vida”. Os que praticam o bem não ficarão para sempre no túmulo. O túmulo nenhum é capaz de destruir quem pratica o bem a exemplo do próprio Jesus ressuscitado. A partir de Jesus e com Jesus a ressurreição e a vida começam para os homens que acreditam n’Ele e para aqueles que praticam o bem.

Jesus prosseguiu: “Em verdade, em verdade, eu vos digo, quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, possui a vida eterna. Não será condenado, pois já passou da morte para a vida”. A morte perdeu sua eficácia destruidora pela presença da vida, pela palavra vivificadora de Jesus, pela prática do bem. Crer é a orientação da vida para Jesus como centro da existência, ou orientar a vida para o bem. Vale a pena, então, fazer o bem todos os dias. Vale a pena não se cansar de praticar o bem apesar dos sofrimentos ou dificuldades. Uma vida dedicada ao bem do próximo é sempre uma vida glorificada. “Só a caridade, um dilúvio de caridade pode salvar o mundo (Maritain).

As leituras de hoje nos convidam a colocarmos o nosso coração em harmonia com o coração de Deus. É preciso contemplarmos o mistério de Cristo, Deus-Conosco para que possamos alcançar o que diz São Paulo: “para termos o pensamento de Cristo” (1Cor 2,16) ou para termos “os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl 2,5). O que nos identifica com Cristo é o nosso amor fraterno (Jo 13,35; 15,12). Se Jesus coloca o homem acima de qualquer lei por sagrada que ela pareça ser, o cristão deve estar em plena unidade na ação com Cristo onde o ser humano é o foco de qualquer trabalho, pastoral e apostolado. Somente assim seremos chamados de irmãos, irmãs, mães, pais de Jesus: “Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,50). Se quisermos ser verdadeiros cristãos devemos trabalhar em nome de Cristo e em perfeita sintonia de amor com ele para que todos nós sejamos reflexos do amor de Deus neste mundo. O amor nos faz detectarmos as necessidades dos outros. Sem o amor nada se detecta.

Jesus disse: ‘Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho’, porque desejava mostrar que eram iguais. Segue-se do operar do Pai o operar do Filho; o Pai não opera sem o Filho (Santo Agostinho: De Cons. Evang., 4,10). Nesta Quaresma, especialmente, somos chamados a nos vestir do Espírito de Jesus. Converter-se a Cristo significa deixar Cristo presente na minha existência em todos os momentos da minha vida. Consequentemente, faremos tudo que o Pai quer: salvar a humanidade.

P. Vitus Gustama,svd

domingo, 30 de março de 2025

01/04/2025-Terçaf Da IV Semana Da Quaresma

JESUS, ÁGUA VIVA, SATISFAZ MEUS ANSEIOS MAIS PROFUNDOS DA MINHA VIDA

Terça-Feira da IV Semana da Quaresma 

I Leitura: Ez 47,1-9.12

Naqueles dias, 1 o anjo fez-me voltar até a entrada do Templo e eis que saía água da sua parte subterrânea na direção leste, porque o Templo estava voltado para o oriente; a água corria do lado direito do Templo, ao sul do altar. 2 Ele fez-me sair pela porta que dá para o norte, e fez-me dar uma volta por fora, até a porta que dá para o leste, onde eu vi a água jorrando do lado direito. 3 Quando o homem saiu na direção leste, tendo uma corda de medir na mão, mediu quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me aos tornozelos. 4 Mediu outros quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me aos joelhos. 5 Mediu mais quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me à cintura. Mediu mais quinhentos metros, e era um rio que eu não podia atravessar. Porque as águas haviam crescido tanto, que se tornaram um rio impossível de atravessar, a não ser a nado. 6Ele me disse: “Viste, filho do homem?” Depois fez-me caminhar de volta pela margem do rio. 7Voltando, eu vi junto à margem muitas árvores, de um e de outro lado do rio. 8Então ele me disse: “Estas águas correm para a região oriental, descem para o vale do Jordão, desembocam nas águas salgadas do mar, e elas se tornarão saudáveis. 9Onde o rio chegar, todos os animais que ali se movem poderão viver. Haverá peixes em quantidade, pois ali desembocam as águas que trazem saúde; e haverá vida onde chegar o rio. 12Nas margens junto ao rio, de ambos os lados, crescerá toda espécie de árvores frutíferas; suas folhas não murcharão e seus frutos jamais se acabarão: cada mês darão novos frutos, pois as águas que banham as árvores saem do santuário. Seus frutos servirão de alimento e suas folhas serão remédio”.

Evangelho: Jo 5,1-16

1Houve uma festa dos judeus, e Jesus foi a Jerusalém. 2Existe em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, uma piscina com cinco pórticos, chamada Betesda em hebraico. 3Muitos doentes ficavam ali deitados — cegos, coxos e paralíticos. 4De fato, um anjo descia, de vez em quando, e movimentava a água da piscina, e o primeiro doente que aí entrasse, depois do borbulhar da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse. 5Aí se encontrava um homem, que estava doente havia trinta e oito anos. 6Jesus viu o homem deitado e sabendo que estava doente há tanto tempo, disse-lhe: “Queres ficar curado?” 7O doente respondeu: “Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente”. 8Jesus disse: “Levanta-te, pega tua cama e anda”. 9No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou sua cama e começou a andar. Ora, esse dia era um sábado. 10Por isso, os judeus disseram ao homem que tinha sido curado: “É sábado! Não te é permitido carregar tua cama”. 11Ele respondeu-lhes: “Aquele que me curou disse: ‘Pega tua cama e anda’”. 12Então lhe perguntaram: “Quem é que te disse: ‘Pega tua cama e anda’?” 13O homem que tinha sido curado não sabia quem fora, pois Jesus se tinha afastado da multidão que se encontrava naquele lugar.  14Mais tarde, Jesus encontrou o homem no Templo e lhe disse: “Eis que estás curado. Não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior”. 15Então o homem saiu e contou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia curado. 16Por isso, os judeus começaram a perseguir Jesus, porque fazia tais coisas em dia de sábado.

-------------------

Em Deus Encontro a Fonte Para Fecundar Minha Vida

O anjo fez-me voltar até a entrada do Templo e eis que saía água da sua parte subterrânea na direção leste, porque o Templo estava voltado para o oriente; a água corria do lado direito do Templo, ao sul do altar”. É a visão do profeta Ezequiel. Ezequiel usa a imagem da água para falar dos efeitos vivificantes que produz a presença da glória do Senhor no Templo.

Nesta Primeira Leitura, o profeta usa a imagem da torrente (fluxo de água rápida). As torrents são no Antigo Testamento (AT) símbolo da vida que Deus dá, especialmente nos tempos messiânicos. E aqui Ezequiel usa a imagem da milagrosa corrente de água que flui do lado direito do templo (lugar da presença de Deus e centro de adoração que lhe agrada), e inunda tudo com sua saúde e fecundidade. Em São João (Jo 7,35-37) esta água é o Espírito que brota/emana do Cristo glorificado. E no evangelho de hoje, Jesus cura um paralítico perto da piscina. É o tema da água viva, água que vive e dá Vida. Jesus é esta Água Viva.

A água, como princípio da vida, é uma imagem frequentemente encontrada nos Livros Sagrados (por exemplo, Jl 4,18 Zac 14,8; Is 35, etc.). Não é de surpreender que Ezequiel use essa imagem ao falar dos efeitos vivificantes produzidos pela presença da glória do Senhor no Templo.

A palavra “água” aparece em torno de 582 vezes no AT e cerca de 80 vezes no NT. Mas em torno do termo “água” aparece toda uma constelação de términos que expressam mais diretamente à experiência humana de água. Assim na Bíblia se encontra:

1.    Terminologia meteorológica: chuva, orvalho, geada, neve, granizo, furacão etc. 

2.    Terminologia geográfica: oceano, abismo, mar, fonte, rio, torrente.

3.    Terminologia de provisionamento: poço, canal, cisterna.

4.    Terminologia do uso da água: beber, saciar a sede, submergir/batizar, lavar, purificar, derramar.

A água assume em todas as áreas geográfico-culturais um valor simbólico-evocativo. Para o AT o tema sobre água afeta uns 1500 versículos e mais de 430 versículos no NT. É uma massa enorme de textos que testemunham a quase contínua presença desse elemento na Bíblia, em suas diversas expressões e valorizações.

A Bíblia se abre (Gn 1,1ss) e se fecha (Ap 21-22) sobre um fundo de “visões”, em que a água é um elemento dominante. As duas tradições do Pentateuco (P: Gn 1,1ss; J: Gn 2,4bss) que se remontam às origens põem em cena a água como elemento decisivo da protologia (princípio). O mesmo faz o Apocalipse (Ap 21-22) com a escatologia (fim). Parece como se a protologia e a escatologia não pudessem pensar-se sem associar de algum modo o homem bíblico a este elemento que envolve a vida do ser humano: a água. Numa terra seca a busca de água e seu provisionamento era e é um problema constante e uma questão de vida e de morte. Por ser fator de vida que limpa sujeiras (além de outros benefícios), na Bíblia a água se converte em símbolo do Espírito de Deus que limpa e elimina o mal.

Para o homem bíblico a água é benéfica, condição do bem-estar e de felicidade, indispensável para a vida do homem e seus ritos religiosos. Mas o homem bíblico tem consciência de que a água também pode se converter em água de morte, de devastação, de purificação: dilúvio, mar, inundações, tempestades e assim por diante.

Em outras palavras, na Bíblia a água conserva ambos os sentidos simbólicos: símbolo destruidor e símbilo vivificante. O símbolo da água destruidora é o que estava na base do batismo de João.

“Estas águas correm para a região oriental, descem para o vale do Jordão, desembocam nas águas salgadas do mar, e elas se tornarão saudáveis. Onde o rio chegar, todos os animais que ali se movem poderão viver. Haverá peixes em quantidade, pois ali desembocam as águas que trazem saúde; e haverá vida onde chegar o rio. Nas margens junto ao rio, de ambos os lados, crescerá toda espécie de árvores frutíferas; suas folhas não murcharão e seus frutos jamais se acabarão: cada mês darão novos frutos, pois as águas que banham as árvores saem do santuário. Seus frutos servirão de alimento e suas folhas serão remédio”. Assim descreveu o profeta Ezequiel sobre a água.

São imagens simbólicas. Deus anuncia aqui uns tempos maravilhosos: do Templo sai uma fonte cujo curso cresce, cresce até chegar a ser uma torrente saudável. Isto quer nos dizer que Deus não retém Seus bens para Si, mas deixa os homens participarem das Suas bênçãos. Até o próprio Filho Ele enviou para o mundo a fim de salvar a humanidade (Jo 3,16). As abundantes graças de Deus continuam a nos inundar desde que estejamos abertos a Deus, como Maria, a Mãe do Senhor, está cheia de graça (Lc 1,28).

“Onde o rio chegar, todos os animais que ali se movem poderão viver. Haverá peixes em quantidade, pois ali desembocam as águas que trazem saúde; e haverá vida onde chegar o rio. Nas margens junto ao rio, de ambos os lados, crescerá toda espécie de árvores frutíferas”. Há aqui uma “água nova” como um poder de ressurreição: suscita seres vivos. É uma água que dá vida.

O sinal atual desta água é o Batismo. Com o Batismo entramos na força divina. Com Sua graça Deus é capaz de transformar o deserto de nossos corações em jardins florescentes de vida. Meu Batismo é uma fonte de Vida. Tenho que estar consciente disso.

Ezequiel usa a imagem da água para falar dos efeitos vivificantes que produz a presença da glória do Senhor no Templo.

Jesus É a Água Viva Que Satisfaz Nossos Anseios Profundos

Jo 5,1-16 como o texto de nossa reflexão neste dia se encontra na primeira parte do evangelho de João (Quarto Evangelho) conhecida como “Livro dos sinais” (Jo 2,1-12,50). Chama-se “Livro dos Sinais” porque, nesta parte, referem-se aos sete sinais realizados por Jesus. Os sete sinais são: a transformação da água em vinho (Jo 2,1-12), a cura do filho do funcionário real (Jo 4,46-54), a cura do paralítico (Jo 5,1-9), a multiplicação dos pães/partilha dos pães (Jo 6,1-15), Jesus anda sobre as águas (Jo 6,16-21), a cura do cego de nascença (Jo 9,1-41), e a “ressurreição” / reanimação de Lázaro (Jo 11,1-44).

O “sinal”, por definição, visa a outra realidade além de si mesmo. Por isso, este nome (sinal) indica que se trata de ações simbólicas, pois os sete sinais são as setas indicadoras que nos impulsionam a buscarmos muito mais além do episódio concreto, para uma realidade mais profunda para a qual aponta o relato narrado.

No evangelho de hoje, Jesus cura um paralítico perto da piscina. É o tema da água viva, água que vive e dá a vida. Podemos ler também este tema através da revelação na visão do profeta Ezequiel na primeira leitura (Ez 47,1-9.12). A água como princípio de vida é uma imagem que se encontra frequentemente na Bíblia (Por exemplo: Jl 4,18; Zc 14,8; Is 35 etc.).

A água de Ez 47 é protótipo de a água dos últimos tempos abertos por Cristo: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, do seu interior manarão rios de água viva” (Jo 7,37-38; cf. Zc 14,8; Is 58,1). Em Jesus se cumpriu a profecia do profeta Ezequiel. Dele nos vem a grande efusão do Espírito que simbolizava a água. Unicamente de Jesus nos pode vir a fecundidade, a vida individual e coletivamente, pois por onde a agua passa, aí surge vida. A única salvação, a única solução se encontra em Jesus Cristo, Deus que salva: “Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4,12), senão Jesus Cristo, nosso Senhor.

O evangelista João nos apresenta Jesus, no evangelho de hoje, como libertador, como aquele que vem salvar a humanidade. A libertação se adquire não por meios mágicos, como o correr da água da piscina de Betesda, e sim mediante um encontro pessoal com o Senhor. Buscar a proximidade de Deus, permanecer junto a Ele, respirar Sua própria vida é o único mandamento que Deus propõe ao homem para que o homem seja salvo.

1. Jesus É Água Viva

O nome da piscina onde se encontra o paralítico, como outros enfermos, é “Betesda”. Sua etimologia aramaica significaria “casa da misericórdia” (outros dizem que significaria “lugar do derramamento”: beth ‘eshdah, hebariaco). É uma espécie de refúgio para adoentados de todo tipo. Essa piscina foi descoberta pelos arqueólogos em 1931-1932 entre as ruínas da basílica de Santa Ana.

Os enfermos (cegos, coxos e paralíticos) estavam próximos dessa piscina porque acreditava-se que aquelas águas tinham poder curativo. Acreditava-se, conforme o relato, que quem pulasse primeiro nessas águas, ficaria curado de sua doença. Por isso, podemos imaginar cada disputa e concorrência sem piedade, pois cada um quer ficar curado. Nesse momento ninguém quer saber de ningué, pois cada um por si em nome da cura. Raiva, rancor e expectativa se misturam numa pessoa só. Raiva e rancor ao ver que o outro conseguiu rapidamente entrar na água. Expectativa porque cada um fica esperando o borbulhar da água para poder pular a fim de ficar curado. Mas isso supõe pessoas prontas para ajudar o doente a entrar na piscina. Mas até quando pode pular na piscina, tendo tanta gente doente perto da piscina. O nome “Betesda” que significa “casa de misericórdia” se torna um paradoxo, pois há mais miséria do que misericórdia.

Podemos imaginar também a solidão de um que sofria durante trinta e oito anos sem ninguém para ajudá-lo. Trinta e oito anos de sofrimento. Só faltavam dois anos para completar uma geração.  É um solitário que necessita da misericórdia de outras pessoas ali presentes, mas quem daria lugar para ele para pular na piscina? Cada uma dessas pessoas se preocupa com seu próprio doente.

O doente em questão está num estado desesperador: “Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente”.  O evangelista João gosta de ressaltar casos tão desesperadores, como Lázaro enterrado há quatro dias (Jo 11,39-44), o cego de nascença (Jo 9,1-41) para destacar o poder de Deus que ultrapassa os limites humanos, que faz o impossível em possível (Lc 1,37), o morto em uma pessoa viva etc....

Por esta razão o que mais importante neste relato não é saber se as águas tinham ou não tinham poder curativo. O ensinamento fundamental que o evangelista João quer nos transmitir é que a Palavra de Jesus é vivificante. A palavra de Jesus dá vida. Jesus é a água viva que purifica e sacia a sede eterna da felicidade do homem (cf. Jo 4,1-42). A palavra de Jesus tem poder vivificador, isto é, dá vida, vivifica. A vida eterna, a salvação só encontra em Jesus. Em são João esta água é o Espírito que mana de Cristo glorificado: “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, do seu interior manarão rios de água viva” (Jo 7,37-38). Unicamente de Cristo nos pode vir a fecundidade, a vida, tanto para o nível pessoal como para o nível coletivo. Nossa vida se rejuvenesce quando o Espírito de Deus nos inunda.

2. A Primazia Do Amor Sobre A Lei Por Sagrada Que Ela Seja

Ora, esse dia era um sábado” e o homem curado carrega sua cama no sábado que é proibido para os judeus. Com isso, o relato da cura do enfermo da piscina Betesda nos coloca diante da polêmica típica dos evangelhos: a primazia do amor sobre a lei. Jesus enfatiza que a necessidade do ser humano está acima de qualquer lei ainda que uma lei seja sagrada. Jesus não se preocupa em cumprir o preceito de descanso (Jo 5,9b); para ele conta somente o bem do homem em qualquer circunstância, muito mais ainda quando se trata de uma vida em jogo.  Jesus comunica uma nova vitalidade que permite os homens se levantarem de prostração. Para os dirigentes do povo, ao contrário, conta somente a observância da lei ou do preceito (Jo 5,10). A observância da lei de descanso equivale à observância da lei toda; sua violação é a violação da lei inteira. O foco da atividade de Jesus é o homem e seu bem e salvação, e não a própria atividade. A lei suprema é o bem e a salvação do homem.                 

Precisamos nos examinar se frequentamos a Igreja só para cumprir preceitos ou para celebrar alguma coisa. Precisamos nos perguntar também se colocamos pessoas no centro de nossas atividades ou fazemos apenas uma agitação estéril. Se não colocarmos as pessoas como o centro de todas as nossas atividades pastorais, trabalharemos inutilmente na Igreja de Jesus Cristo. Ama menos quem se preocupa demasiadamente com as regras. As regras devem ajudar o homem a crescer e a se aproximar mais de Deus.

3. Jesus É A Nossa Única Esperança

Os enfermos estão próximos da piscina, não podem entrar no Templo, estão esperando uma possibilidade de encontrar-se com Deus. Para o paralitico do evangelho de hoje, símbolo de tantos que esperam, a agitação da água era algo que o mantinha na esperança ainda que essa esperança levasse já muitos anos sem ver-se realizada: 38 anos de sofrimento, quase uma vida inteira (o número 40 representa uma geração). com o número 38 o texto quer nos dizer que o homem estava à beira da morte.

A única coisa que mantinha o paralítico na esperança, apesar de um longo sofrimento, era a água agitada de cura. Mas apareceu o inesperado, maior do que a água agitada: Jesus Cristo, Água viva.

O Que Mantém Você Na Esperança Nesta Vida?  Qual É Sua Esperança Nesta Vida?

Jesus se aproxima do paralítico com esta pergunta: “Queres ficar curado?”. Apesar de seu relato pouco longo, Jesus compreende que o paralítico quer realmente a cura. Por isso, logo em seguida Jesus disse as seguintes palavras: “Levanta-te, pega tua cama e anda”. A cama carregava o paralítico durante tanto tempo e o fazia deitado nela. Agora é ele quem carrega a cama. É superação! A força de Jesus penetra na vida desse homem que o faz capaz de superar tudo na vida e de carregar tudo, pois a força que está dentro é a própria força do Senhor.

Queres ficar curado?” é a pergunta dirigida a cada um de nós. Queres ficar curado do teu pecado e de tua mesquinhez? Queres ficar curado da tua angústia, da tua confusão, e de tua preocupação? Queres ficar curado da tua doença, da tua depressão? Mas será que nós sabemos o que queremos? Será que ainda somos capazes de querer e de querer viver? Quem nos dará hoje a vontade de viver, de reviver? Quem nos dará forças para lutar e andar?

“Levanta-te e anda!”. Levantar-se e andar é o começo de uma vida nova. Deus quer um “homem de pé”, um homem que avança, um homem capaz de superar-se. O pecado é uma paralisia. O pecado paralisa o homem. O “homem de pé” é capaz de levar sua “cama” que o oprimia, é capaz de suportar-se a si mesmo. Para isso o homem precisa escutar atentamente a Palavra de Deus. Com Jesus a nossa vida continuará vitoriosa. Confiemos n´Ele e ouçamos sempre sua Palavra que é a Palavra da vida.

O que perturba não é o que aconteceu, e sim o modo de ver o que aconteceu; não o fato em si, mas a interpretação que se lhe dá. Os fatos passados jamais mudarão, mas o nosso modo de vê-los e de vivê-los pode mudar.

Levanta-te e anda!” é a ordem divina para cada um de nós. Ouvindo atentamente e acreditando profundamente na força da Palavra de Deus, nós poderemos andar com muita segurança para o futuro de Deus que ele prepara para quem o merece. Com Jesus os problemas que nos faziam deitados sem ânimo e sem força, podemos carregá-los, a exemplo do paralítico no evangelho de hoje. Que a ordem de Jesus penetre no nosso coração para reviver as forças divinas, adormecidas dentro de nós.

P. Vitus Gustama,svd

sábado, 29 de março de 2025

31/03/2025-Segundaf Da IV Semana Da Quaresma

CRER EM JESUS E NA SUA PALAVRA SIGNIFICA VIVER PARA SEMPRE

Segunda-Feira da IV Semana da Quaresma

I Leitura: Is 65,17-21

Assim fala o Senhor: 17 Eis que eu criarei novos céus e nova terra, coisas passadas serão esquecidas, não voltarão mais à memória. 18 Ao contrário, haverá alegria e exultação sem fim em razão das coisas que eu vou criar; farei de Jerusalém a cidade da exultação e um povo cheio de alegria. 19 Eu também exulto com Jerusalém e alegro-me com o meu povo; ali nunca mais se ouvirá a voz do pranto e o grito de dor. 20 Ali não haverá crianças condenadas a poucos dias de vida nem anciãos que não completem seus dias. Será considerado jovem quem morrer aos cem anos; e quem não alcançar cem anos, passará por maldito. 21 Construirão casas para nelas morar, plantarão vinhas para comer seus frutos.

Evangelho: Jo 4,43-54

Naquele tempo, 43 Jesus partiu da Samaria para a Galileia. 44 O próprio Jesus tinha declarado, que um profeta não é honrado na sua própria terra. 45 Quando então chegou à Galileia, os galileus receberam-no bem, porque tinham visto tudo o que Jesus tinha feito em Jerusalém, durante a festa. Pois também eles tinham ido à festa. 46 Assim, Jesus voltou para Caná da Galileia, onde havia transformado água em vinho. Havia em Cafarnaum um fun­cionário do rei que tinha um filho doente. 47 Ouviu dizer que Jesus tinha vindo da Judeia para a Galileia. Ele saiu ao seu encontro e pediu-lhe que fosse a Cafarnaum curar seu filho, que estava morrendo. 48 Jesus disse-lhe: “Se não virdes sinais e prodígios, não acreditais”. 49 O funcionário do rei disse: “Senhor, desce, antes que meu filho morra!” 50 Jesus lhe disse: “Podes ir, teu filho está vivo”. O homem acreditou na palavra de Jesus e foi embora. 51 Enquanto descia para Cafarnaum, seus empregados foram ao seu encontro, dizendo que o seu filho estava vivo. 52 O funcionário perguntou a que horas o menino tinha melhorado. Eles responderam: “A febre desapareceu, ontem, pela uma da tarde”. 53 O pai verificou que tinha sido exatamente na mesma hora em que Jesus lhe havia dito: “Teu filho está vivo”. Então, ele abraçou a fé, juntamente com toda a sua família. 54 Esse foi o segundo sinal de Jesus. Realizou-o quando voltou da Judeia para a Galileia.

---------------

Toda a liturgia deste dia nos fala da renovação e da alegria. O profeta Isaías anuncia que Deus vai realizar o novo céu e nova terra. A ação de Deus, através do Messias prometido, construirá uma sociedade nova, porque o Espírito de Deus palpitará em todos os homens e mulheres que escutam a Palavra de Deus e vivem em harmonia com Sua mensagem.

Mediante o Mistério Pascal de Cristo, Deus levou a sua plenitude o que hoje nos anuncia o profeta Isaías. Deus não somente perdoou nossos pecados, mas nos converteu em filhos seus, fazendo-nos participar de seu próprio Espírito, que nos capacita para que entremos em diálogo amoroso com Ele e para que, todos os dias, possamos ser cada vez mais perfeitos como filhos seus por nossa união, cada vez mais íntima com Jesus, seu Filho único e amado em quem Ele se compraz. Mantenhamos nossa fidelidade ao amor que Ele nos tem!

Segundo o Evangelho de João, Jesus começou sua vida pública com seus sinais visíveis em Caná da Galileia. E agora voltou outra vez ao mesmo lugar onde ele fez o primeiro sinal (Jo 2,1-12). Nesta volta Ele devolveu a alegria para uma família ao curar à distância um dos membros (filho) que está doente gravemente.

Voltar ao Estado Inicial Para o Qual Deus nos criou é Ser Nova Criatura

“Assim fala o Senhor: Eis que eu criarei novos céus e nova terra, coisas passadas serão esquecidas, não voltarão mais à memória. Um cardeal escreveu que Deus “não tem memória, pois toda vez que você voltar para Deus a fim de pedir o perdão, Deus perdoa”. Ou o próprio Papa Francisco disse: “Deus não se cansa em nos perdoar e  nós não podemos nos cansar em pedir o perdão a Deus”. O mais importante para Deus é voltar, e não quanto tempo você ficou afastado d´Ele. Até o “bom” ladrão crucificado ao lado de Jesus, foi perdoado (cf. Lc 23,43). A misericórdia de Deus é maior do que nossa miséria, desde que voltemos a Ele.

Is 56-66, onde se encontra o texto da Primeira Leitura, foram escritos depois da volta do exílio na Babilônia. A volta do desterro de Babilônia é descrita com tons poéticos, de nova criação em todos os sentidos: tudo será alegria, fertilidade nos campos e felicidade nas pessoas. “Eis que eu criarei novos céus e nova terra, coisas passadas serão esquecidas, não voltarão mais à memória”. Com esta expressão o profeta anuncia uma volta ao paraíso inicial: Deus está projetando um novo céu e nova terra. Deus quer que o homem e a sociedade voltem ao estado primordial de felicidade, equilíbrio e harmonia. Basta o homem voltar para o caminho de Deus, Deus não vai querer mais saber do passado do homem. Deus nos vê como somos e não como éramos quando decidimos nos converter: “...coisas passadas serão esquecidas, não voltarão mais à memória”.

A ideia de uma transformação cósmica que se fala na Primeira Leitura é um tópico na literatura profética, sobretudo, na literatura apocalíptica. São Paulo dirá que toda a criação está em dores de parto esperando a regeneração dos filhos de Deus. A natureza está violentada no estado de pecado do homem, pois o homem está contra os fins para os quais a criação foi feita (Rm 8,22.27). Nos tempos messiânicos, a transformação cósmica se associará ao estado de exultação dos novos cidadãos de Sião.  São João no Apocalipse vai aplicar a transformação cósmica (novo céu e nova terra) para falar da Igreja triunfante (Ap 21,1). Nesse novo estado de coisas já não se recordará o passado, os tempos de angústia física e moral terminaram ou ficaram muito para trás. Passou a hora das misérias. Até o reino animal participará também deste bem-estar geral. Os animais carnívoros perderão seus instintos sanguinários. É uma volta ao estado de paz dos primeiros dias da criação. Na época messiânica ocorrerá algo parecido, segundo o profeta Isaias.

A Igreja primitiva confessa, como testemunharam os escritos neotestamentários, que com a morte e ressurreição de Jesus começou já a nova criação, os “novos céus e a nova terra”.  Por isso, quem segue os passos de Jesus é uma nova criatura: “Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!” (2Cor 5,17). Conversão significa voltar ao estado da graça para o qual fomos criados (cf. Jo 1,16-17) e viver permanentemente neste estado.

Para descobrir as “novas” maravilhas de Deus, do homem e do cosmos (novo céu e nova terra), há que começar a vivenciar, cada amanhecer e cada tarde, a novidade de que hoje é nosso dia, meu dia, o dia com que contamos para viver, para recomeçar, para fazer o bem, trabalhar, sorrir; o dia para encontrar-se com um amigo e assim por diante. Cada novo dia é o novo céu e a nova terra nado a mim para ser vivido profundamente. Se não viver cada dia como novo céu e nova terra, será mais um dia perdido da minha vida. Não nascemos para morrer e sim para viver e por isso, temos que saber viver na novidade de Cristo.

Crer Em Jesus Significa Não Parar De Existir

O funcionário do rei disse: ‘Senhor, desce, antes que meu filho morra!’. Jesus lhe disse: ‘Podes ir, teu filho está vivo’”.

Ao começar a Quarta Semana da Quaresma, as leituras quaresmais mudam de orientação. Antes leiamos os evangelhos sinóticos (Mc, Mt e Lc) com passagens do AT formando uma unidade temática com os textos do evangelho lido nos dias da semana. A partir de hoje até a Páscoa (também durante o tempo pascal) vamos ler alguns textos do Evangelho de João numa leitura semicontinuada. Antes o que se enfatizava é o caminho de conversão dia após dia através das leituras. Daqui em diante as leituras nos indicam o modelo do caminho da Páscoa e nossa luta contra o mal no caminho de Jesus com a crescente oposição de seus adversários que acabarão crucificando Jesus.

Hoje o evangelho nos relata que Jesus se encontra novamente em Caná da Galileia onde ele realizou o primeiro sinal: a transformação de água em vinho (Jo 2,1-11). No evangelho de hoje Ele operou outro sinal: a cura do filho de um funcionário real. Ainda que o primeiro sinal seja um espetacular, mas este segundo é mais valioso porque não é algo material o que se soluciona, e sim a vida de uma pessoa que está quase para terminar.

O evangelista João escolhe, como protagonista para o segundo sinal operado por Jesus, um homem que exerce autoridade, um funcionário real (de um rei). E por isso, ele pode ser uma figura de qualquer tipo de poder.

O funcionário real procura Jesus movido pela necessidade. Ele não expressa sua adesão pessoal aJesus, mas precisa de ajuda dele. O funcionário real pede uma intervenção direta de Jesus em favor de seu filho, que está para morrer: que desça pessoalmente e o cure: “Senhor, desce, antes que meu filho morra!”. Sublinhei o verbo “descer” (e “subir”) porque este verbo tem sentido para o evangelho de João. A encarnação é um ato de Deus de descer até a humanidade para que esta possa subir até Deus (salvação).  O caminho de subida passa pelo caminho de descida. A transformação da humanidade consiste no movimento de “descer” e de “subir”. Precisamos descer até nossa humanidade para encontrar a divindade. Somente quem é muito humano passa a ser muito divino, isto é, os outros percebem que ele pertence a Deus. Jesus é tão humano e tão divino simultaneamente. Para encontrar o divino temos que descer às profundezas de nosso ser, de nosso interior. Deus habita dentro de nós (cf. 1Cor 3,16-17), e por isso, precisamos descer até nossa interioridade.

Precisamos pedir a Jesus, a exemplo do funcionário real, para que ele desça até as profundezas de nosso coração a fim de alcançarmos nossa salvação. Sem a descida do Senhor até a nossa interioridade, estaremos à beira da morte, como o filho do funcionário real. “Senhor, desce, antes que eu morra!”, assim poderíamos rezar. 

Esse funcionário apenas ouviu falar de Jesus. Movido pela necessidade esse funcionário real foi procurar Jesus para que este pudesse curar seu filho de uma doença mortal. O funcionário pede uma intervenção direta de Jesus a favor de seu filho que está para morrer. Jesus contestou: “Se não virdes sinais e prodígios, não acreditais”. Jesus usa o verbo em plural: “virdes”, “acreditais”. Esse estranho plural, que indica a categoria dos instalados ​​no poder, é outra informação que nos faz penetrar além da superfície. “Se não virdes sinais e prodígios, não acreditais”. Com esta resposta Jesus quer mostrar a mentalidade comum desse tipo de grupo de pessoas: “Não acreditais”. Jesus, através desse funcionário, quer se dirigir aos poderosos e em geral, para aqueles que esperam a salvação na demonstração do poder. Para eles, a fé somente pode ter como fundamento o desdobramento de força, o espetáculo maravilhoso. Mas com Deus não funciona assim. É preciso ter fé em Deus.

O funcionário não se intimidou, mas insiste: “Senhor, desce antes que meu filho morra!”. Com este pedido renovado esse funcionário confessa a impotência do poder diante da debilidade e da morte. O poder deste mundo é impotente para salvar o homem. No leito da morte todo poder, toda fama, toda riqueza, toda influência cai no chão. Aparentemente, o funcionário real reconhece tudo isso e por isso ele recorre a Jesus, o Deus que salva.

Por causa de sua fé, Jesus disse ao funcionário: “Podes ir, teu filho está vivo!”. Com sua resposta Jesus indica que a salvação que ele trouxe não requer a colaboração do poderoso. O poder da Palavra de Deus não conhece distância. Jesus atua na simplicidade sem ostentação. Jesus não precisa descer até Cafarnaum. Sua ação não necessita de sua presença física. Será sua mensagem que comunica vida. Basta acreditar nela. Jesus comunica vida com sua Palavra que é Palavra criadora e chega a todo lugar. Gn 1 nos mostra que basta uma palavra que Deus criou o universo.

Com sua Palavra e seu convite para que o funcionário real vá, pois o filho está vivo, Jesus quer colocar o funcionário à prova para sua fé e para ver se ele renuncia a seu desejo de sinais espetaculares (“Se não virdes sinais e prodígios, não acreditais”). O funcionário aceita o desafio posto por Jesus e acredita no poder de Sua Palavra. 

Como resultado, o funcionário viu seu filho vivo certamente no momento em que Jesus pronunciou sua Palavra: “Podes ir, teu filho está vivo”. Ele que pedia a Jesus como poderoso, agora crê como “homem”; antes se definia por sua função, agora por sua condição humana, pressuposta para toda relação pessoal. Ele confia na Palavra de Jesus e por isso se põe em caminho. Ele renunciou a sua mentalidade de poder e aos sinais portentosos.

A é uma atitude básica da vida humana, do ponto de vista cristão. O crente é aquele que acredita em Deus. A fé capacita a razão para chegar a um conhecimento mais profundo, pois tudo é visto a partir do Deus Criador do universo. Com efeito, ter fé significa olhar para além das coisas para entrar em contato com a verdadeira realidade. No contexto do evangelho de hoje, a fé é uma adesão ao Deus que salva, ao Deus da vida que tira o homem da beira da morte.

Estamos na Quaresma, mas caminhamos para a Páscoa, isto é, para a ressurreição, como professamos no Credo: “Creio na ressurreição da carne”. Toda nossa vida aqui na terra é uma “quaresma”, isto é, uma preparação para a Páscoa definitiva, para o encontro derradeiro com Deus na felicidade sem fim. Para isso, é necessário crer na Palavra de Deus.

A Igreja primitiva confessa, como testemunham os escritos do Novo Testamento, que com a morte e ressurreição de Jesus começou já a nova criação, os “novos céus e nova terra” (cf. 2Pd 3,13; Ap 21,1). Esse começo é imperceptível para os olhos nus. A história humana continua dominada, em grande parte, pelo pecado, pela corrupção e pela morte (seja natural seja forçada ou abortada), porém algo vai mudar. A convivência do lobo e do cordeiro continua, porém o ódio e a hostilidade devem dar lugar para o amor, isto é, o amor vencerá, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Quem segue os passos de Jesus que se resumem nos passos de amor se torna nova criatura e o amor não morrerá, pois é o nome do próprio Deus: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova” (2Cor 5,17). Cristo é autor desta nova criação, pois nele Deus se faz presente para o mundo. A fé na nova criação significa o princípio da liberdade humana.

O que chama a atenção deste segundo sinal é que Jesus atua à distância. Ele não precisa ir até Cafarnaum para curar diretamente o enfermo. Sem se mover de Caná Jesus faz o possível o restabelecimento. Diante do pedido do funcionário real: “Senhor, desce, antes que meu filho morra!”, Jesus responde: “Podes ir, teu filho está vivo”.

Isto nos recorda que podemos fazer tantas coisas boas à distância, isto é, sem ter que estar presentes no lugar onde nos solicita nossa generosidade. Assim, por exemplo, colaborar economicamente com nossos missionários ou com entidades católicas e semelhantes que ali estão trabalhando, com as instituições de caridade. Inclusive, podemos dar uma alegria a muita gente que está muito distante de nós com uma chamada de telefone, uma carta ou um correio eletrônico. A distância não é nenhum problema para ser generoso porque a generosidade sai do coração e ultrapassa todas as fronteiras. Como dizia Santo Agostinho: “Quem tem caridade em seu coração, sempre encontra alguma coisa para dar”.

Em segundo lugar, S. João, ao narrar a cura, à distância, do filho do funcionário real, quer nos apresentar Jesus como Palavra de vida. Mas a Palavra que exige a fé. A Palavra de Jesus é o sinal extraordinário e o prodígio que nos oferece. Quem acolhe a Palavra e acredita nela, experimenta milagres e muitas transformações na vida. O funcionário real acolheu a Palavra de Jesus e recebeu como prêmio a cura do próprio filho. Jesus comunica vida com sua Palavra, que é palavra criadora e chega a todo lugar. “Crer” sem necessidade de sinais nem de prodígios é fonte de vida e de cura e de outras tantas transformações na vida. A pesar de ser um excluído da religião oficial, por ser um estrangeiro e por isso, impuro, no entanto Jesus descobre no funcionário real um homem de fé que crê na promessa de cura apesar com palavra apenas e à distância. O perigo de toda religião é chegar a crer no legalismo. Quando a lei se entroniza no interior da mesma, a surpresa e a gratuidade do encontro com Deus, que é o que realmente define o milagre, se tornam impossíveis. O legalismo, por fazer que as coisas boas sucedam como recompensa para a observância da lei, destrói a possibilidade da graça e do verdadeiro milagre. A possibilidade de encontrar-se com as pessoas do tipo do funcionário real, necessitadas do amor mais que da lei, faz renascer em Jesus a imensa alegria da misericórdia. A partir daqui todo milagre é possível.

Portanto, acreditar e obedecer, acolher a Palavra de Deus e pô-la em prática é uma questão de vida ou de morte. Se soubermos caminhar na fé acreditando na Palavra de Deus, mesmo na noite escura do sofrimento e da provação, a Palavra será como uma lâmpada para os nossos passos.

Aprendemos da cena do evangelho deste dia que a verdadeira fé em Deus e na Sua Palavra significa crer sem necessidade de sinais nem prodígios, crer sem milagres, crer sem ver (cf. Hb 11,1). O evangelista João sublinha que o funcionário real acreditou na Palavra de Deus sem verificação. Ele simplesmente foi embora com a Palavra de Deus em seu coração. Não tinha nenhuma prova no momento, tinha somente “a Palavra” de Jesus. O funcionário está totalmente na fé, no salto da fé, na confiança ilimitada da fé. “A quem nós iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68). “Que o teu orgulho e objetivo consistam em pôr no teu trabalho algo que se assemelhe a um milagre” (Leonardo da Vinci). ”Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre” (Albert Einstein).

P. Vitus Gustama,svd

sexta-feira, 28 de março de 2025

IV Domingo Da Quaresma Ano Litúrgico "C", 30/03/2025

A MISERICORDIA DIVINA DIANTE DA MISÉRIA HUMANA

IV DOMINGO DA QUARESMA DO ANO “C”

Primeira Leitura: Josué 5,9a.10-12

Naqueles dias, 9 ao Senhor disse a Josué: “Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito”. 10 Os israelitas ficaram acampados em Guilgal e celebraram a Páscoa no dia catorze do mês, à tarde, na planície de Jericó. 11 No dia seguinte à Páscoa, comeram dos produtos da terra, pães sem fermento e grãos tostados nesse mesmo dia. 12 O maná cessou de cair no dia seguinte, quando comeram dos produtos da terra. Os israelitas não mais tiveram o maná. Naquele ano comeram dos frutos da terra de Canaã.

Segunda Leitura: 2Cor 5,17-21

Irmãos: 17 Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo. 18 E tudo vem de Deus, que, por Cristo, nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. 19 Com efeito, em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo, não imputando aos homens as suas faltas e colocando em nós a palavra da reconciliação. 20 Somos, pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. 21 Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus.

Evangelho: Lc 15, 1-3. 11-32

Naquele tempo, 1 os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. 2 Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus: “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”. 3Então Jesus contou-lhes esta parábola: 11 “Um homem tinha dois filhos. 12 O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. 13 Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. 14 Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. 15 Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. 16 O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. 17 Então caiu em si e disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. 18 Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19 já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’. 20 Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos. 21 O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. 22 Mas o pai disse aos empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. 23 Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. 24 Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. 25 O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. 26 Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. 27 O criado respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde’. 28 Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. 29 Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca medeste um cabrito para eu festejar com meus amigos. 30 Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado’. 31 Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32 Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’”.

----------------------

Voltar Para Casa

Como sabemos, a Quaresma é um tempo da graça em que todos são convidados para o grande gesto penitencial pelos caminhos que nos conduzem a um encontro pessoal e íntimo com Deus. É voltar para o caminho de Deus, pois desandamos. As leituras deste domingo descrevem esse movimento sobre como "voltar para casa", isto é, voltar para Deus. Um ditado oriental diz: “Você pode ir para onde quiser, perto ou longe demais, porém não esqueça o caminho de volta”.

A Primeira Leitura narra o final dos quarenta anos da travessia do deserto pelos hebreus que abandonaram a terra da escravidão, o Egito, para viver o novo, a “Nova Terra”, a Terra Prometida. Ao chegar à terra que Deus havia prometido a Abraão, Isaac e Jacó, termina o Êxodo, a peregrinação. O povo peregrino se converte em sendentário e começa a comer frutos da terra. Na estepe de Jericó, ao anoitecer do dia quatorze do mês, os hebreus celebraram a Páscoa. É o ponto culminante da libertação: “Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito” disse Josué.

Esta Primeira Leitura de hoje nos convida a celebrarmos a Páscoa, nos estimula em nosso caminho (peregrinação quaresmal) para a Páscoa da Nova Aliança.

Para nós cristãos, libertados do pecado (cf. 2ª e 3ª leitura), a Páscoa é a culminação das celebrações do ano. A Páscoa do Senhor nos abre as portas do Paraíso e do Reino, da Terra prometida (como leremos na Paixão de Lucas no Domingo de Ramos: “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”: Lc 23,43). Da Páscoa do Senhor temos um sacramento: a Eucaristia, que é na terra o Pão do Reino de Deus, o pão sem fermentar, que significa, como nos dirá são Paulo o dia da Páscoa (1Cor 5,8), uma renovação total em sinceridade e verdade.

Também hoje (2ª Leitura) são Paulo nos diz que em Cristo somos uma nova criação. Portanto, a Eucaristia é sempre para nós o Pão da novidade pascal, o Pão que continuamente nos renova. Porém, porque ainda somos peregrinos para a Terra Prometida ( o Céu), o Pão da Eucaristia é nos apresentado como alimento de peregrinos (viático) e também como alimento do Reino que já nos chegou pela Páscoa do Senhor.

A Eucaristia é também o ponto culminante de nossa peregrinação quaresmal em seu aspecto penitencial: é o banquete festivo depois da reconciliação, o passo da morte para a vida (Evangelho de hoje).

A isto somos convidados: a abandonar a escravidão das nossas atitudes negativas e os demais pecados e, assim, regressar a casa onde o nosso Pai nos espera. A esplêndida parábola do filho pródigo propõe o "voltar para casa" como o único remédio para a situação daquele que é um símbolo de como todos nós estamos vivendo (filho mais novo, o pródigo).

São Paulo (na Segunda Leitura), mais que repetir as ideias de que temos que voltar para casa, nos faz aprofundarmos na novidade cristã da reconciliação. Desde o princípio adverte: “O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo”. O antigo é a distância que nos separa de Deus. Temos que percorrer para acabar com nossa distância com Deus e com nossos irmãos da mesma jornada neste mundo. A realidade é que já estamos em casa, mas nem sempre temos o espirito fraterno, como aconteceu com o filho mais velho da parábola do filho pródigo. É uma ausência na presença, paradoxalmente: estar em casa sem o espírito fraterno com os demais membros da família. O nosso corpo está no lugar onde moramos, mas através de nossa maneira de viver e conviver estamos muito longe do espirito da casa, do espirito familiar em que todos são irmãos e irmãs do mesmo pai com os mesmos direitos e obrigações.

Parábola Do Pai Misericordioso No Seu Contexto

Naquele tempo, “os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus: “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”. (Lc 15,1-2)

As três parábolas em Lc 15 (onde se encontra a parábola do filho pródigo) sao chamadas de parábolas da misericórdia, pois resaltam a misericórdia incompreensível de Deus com os pecadores, aos quais Ele acolhe com alegria. Misericórdia e alegria são as ideias chaves de todo o conjunto: Ovelha perdida (Lc 15,4-7), Dracma perdida (Lc 15,8-10) e Filho perdido (Lc 15,11-32). No evangelho de Lucas não é somente o amor como o mandamento (Lc 10,25-28), mas também a misericórdia e a alegria: “Sede misericordiosos como  o vosso Pai é misericordioso(Lc 6,32). Alegrai-vos, antes, porque vossos nomes estão inscritos nos céus” (Lc 10,20).

As três parábolas são contadas para os Escribas e fariseus. Na parábola da OVELHA PERDIDA está a ovelha longe do resto do rebanho, mas por amor é PROCURADA E ENCONTRADA, que dá a razão da alegria ao pastor, alegria condividida com os amigos e vizinhos. E Jesus conclui que é assim no Céu sempre que um PECADOR  se converte. Ao fundo da cena estão noventa e nove JUSTIS que não precisam de conversão era o que pensavam os escribas e fariseus, e nós tantas vezes também.

Na parábola da DRACMA PERDIDA em casa, num chão da terra e cuidadosamente PROCURADA e ENCONTRADA, com a luz para iluminar o escuro, e que também dá razão de ALEGRIA  ao dono da dracma, alegria condividida com as amigas e vizinhos. E também aqui Jesus conclui que é assim no Céu sempre que um PECADOR se converte. Nesta segunda parábola não não mencionados os noventa  e nove JUSTOS ao fundo da cena que não precisam de conversão.

Na terceira parábola que fala-se muito mais do pai miericordioso do que do FILHO PRÓDIGO, nos mostra um PAI muito misericordioso com dois filhos que parecem diferentes. Quando na Bíblia dois retratos parecem diferentes, a chave de compreensão reside naquilo que são iguais.

O evangelho deste Domingo IV da Quaresma (Lc 15,11-32) é uma vista direita ao coração misericordioso de Deus, exposto, narrado, contado por Jesus. Mas antes de Jesus começar a contar o Deus misericordioso, o evangelista Lucas nos diz que os PUBLICANOS e PECADORES se aproximam de Jesus para O escutar. Por outro lado, estão os ESCRIBAS e FARISEUS perto de Jesus, não para O escutar e sim para criticar o fato de Jesus acolher os pecadores e faz refeição com eles. Os escribas e fariseus acham que os pecadores são merecedores de castigo severo e não de misericórdia, pois são amplamente devedores a Deus, e não credores como os escribas e fariseus pensam que são. Os escribas enxergam a vida a partir da divisão e Jesus enxerga a vida a partir da comunhão e da fraternidade.

São visíveis, portanto, dois modos de ver e de viver, dois critérios e duas classes de homens. Primeiro, o comportamento novo:  misericórdioso, inclusive, por parte de Jesus, que acolhe e abraça os pecadores, até então marginalizados, hostilizados, descartados e excomungados. Segundo, o comportamento impiedoso, rigorista e exclusivista para com os pecadores por parte da velha tradição religiosa dos escribas e fariseus. E há duas classes de homens: uns, pecadores que se julgam justos (escribas e fariseus) e os outros, justos que se crêem pecadores e acreditam na misericórdia de Deus. Diante deste evangelho ninguém pode ficar indiferente: em que lado você está ou se coloca?

O Filho Pródigo Que Se Perdeu, Mas Que Voltou

O filho mais novo da parábola faz um estranho pedido ao seu PAI: ele pede a parte da herança que lhe cabe: “Pai, dá-me a parte da herança que me cabe” (Lc 15,12). Trata-se de um pedido fatal. O PAI dá três coisas para seus filhos: o pão todos os dias, uma roupa nova pela festas, mas há uma coisa que só dá uma vez na vida, e em cisrcunstâncias fatais, da morte próxima: a HERANÇA. O Livro de Bem-Sirá 33,24 diz: “No último dia dos dias da tua vida, na hora da tua morte, distribui a tua herança”. Isto quer dizer que quando pede ao pai a herança que lhe cabe, o filho mais novo como que mata o PAI e morre como filho. O filho mais novo não quer mais ter PAI e não quer mais ser filho. Por isso, ele junta tudo e vai longe da casa paterna para gastar tudo que recebeu.

Mas no final ele desce até o nível de porco, pois nem o que os porcos comem lhe é permitido comer: “O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam” (Lc 15,16).

Perante a esta situação o filho mais novo decide voltar para a casa paterna, e prepara um discurso com três pontos. Primeiro, “PAI, pequei contra o Céu e contra ti”. Segundo, “Não sou digno de ser chamado de teu filho”. Terceiro, ”Trata-me como um dos assalariados”. Veja bem! Como no pedido da herança, aqui, no seu discurso de volta, o filho mais novo não quer voltar mais a ser filho;também não quer mais ter PAI. Ele quer ser simplesmente assalariado. Ele quer ter um patrão. Não quer receber de graça o amor de seu pai.

Todos nós, de uma ou de outra maneira, nos afastamos, como o filho mais novo da parábola, da casa do pai. Rompemos , mais ou mens, radicalmente e durante um tempo maior ou menor, a comunhão com ele e estivemos perdidos. Mas um dia retomamos o caminho de volta para o Deus da misericórdia e fomos acolhidos, abraçados carinhosamente e perdoados pelo Pai da misericórdia que nos esperava.

Pai Misericordioso Na Parábola

O filho mais novo voltou. E o PAI viu-o ao longe. Ao vê-lo, as entranhas do PAI moveram-se de COMPAIXÃO. Compaixão é comover-se até as entranhas; é solidarizar-se profundamento, sentir e sofrer com a outra pessoa que sofre. É paixão pelos vulneráveis e acolhimento com ternura.

O filho mais novo que voltou começa a debitar o discruso preparado em três pontos. Ele diz o primeiro e o segundo ponto do discurso. Não diz o terceiro ponto, que era outra vez fatal, não porque o não quisesse dizer, mas por que o PAI o interrompe.

E o pai dá ordens para os empregados: trazer a melhor túnica, colocar um anel no dedo do filho e sandálias nos pés e manda matar o vitelo gordo e prepara-se  em casa uma FESTA com o banquete muito fesivo. "Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrad”’.

1.   “Depressa! Trazei o ‘primeiro vestido’  e vesti-lho!”. É precisos entender que o “primeiro vestido” é o vestido de antes, isto é, o de filhos. Sim, é este PAI  surpreendente que transforma em filho este candidato a assalariado. Na cultura oriental do tempo de Jesus, uma vestimenta elegante era sinal de dignidade de seu portador. Isto quer dizer que o filho mais novo volta a ter a mesma dignidade que ele tinha antes de sair de casa.

2.   Anel significa a plena condição de herdeiro, com todos os direitos, incluindo o poder de representar o pai e selar contratos. Em outras palavras, anel significa plenos poderes. O filho voltou a ter o poder que tinha antes.

3.   Sandálias representam a condição de homem livre e de senhor de casa. Os hóspedes tiram as sandálias ao entrar na casa, o filho as põe; os escravos andam descalços, as pessoas de condição elevada calçam sandálias. Caminhar calçado pela casa significa posse. Isto quer dizer que o filho mais novo voltou a ter sua dignidade perdida.

Nesta parábola o filho mais novo quer nos dizer: Qualquer um de nós pode se perder no caminho, mas jamais esqueçamos o caminho de volta para a casa de Deus, nosso verdadeiro lar. Que esta volta não seja tarde demais para que o espirito mundano não nos destrua.

Afinal, quem é realmente o pai da “parábola do filho pródigo”? Evidentemente, o pai em nosso texto aponta para Deus. A parábola do “filho pródigo” quer dizer: Assim é Deus. Ele olha com amor misericordioso para os culpados e perdidos. Ele é tomado de alegria quando um perdido ou culpado retorna a Ele. Ele não guarda rancor. Ele espera com paciência, até os últimos minutos, a volta do perdido e culpado. E quando o perdido e culpado volta, Ele esquece o passado do perdido e culpado. Ele perdoa incondicionalmente e sem reparações prévies, como mais adiante Lc vai nos relatar sobre o criminoso crucificado ao lado de Jesus, mas que se arrependeu de tudo que tinha feito e foi perdoado (Lc 23,39-43). Deus perdoa mesmo quando os seres humanos não podem mais perdoar. O pai da prábola reflete o Deus misericordioso. A parábola do filho pródigo nos mostra e nos revela o amor absolutamente gratuito e incondicional, fiel e indestrutível com que Deus, nosso Pai querido (Abba) nos ama e seu seu desejo ardente de que nos abramos ao seu amor.

E Jesus é a encarnação do Deus misericordioso. Jesus, nessas três parábolas, defende suas ações em relação aos pecadores contra as acusações de seus oponentes (escribas e fariseus). O que Jesus faz é completamente transparente em sua referência ao Deus da misericórdia. Como a encarnação do Deus misericordioso, não se podem separar as ações de Deus e as ações de Jesus.

Consequentemente, o modo de viver e o de tratar aos outros de qualquer cristãos devem refleter os de Jesus. A prática de Jesus dever ser estendida na prática dos cristãos.

O Filho Mais Velho Precisa Se Converter Também         

O filho mais velho estava no campo. Portanto, era um dia de semana, de trabalho. Este PAI da parábola não escolhe fins de semana para fazer FESTA! E FESTA excessiva.

Como tinha saído ao encontro do filho mais novo, o PAI sai agora também ao encontro do filho mais velho para convidá-lo a entrar para a FESTA, tal como o pastor que encontra a ovelha perdidad e a mulher que encontra a dracma perdida convidaram os amigos e os vizinhos para a ALEGRIA. Mas este filho mais velho acusa o PAI de acolher um pecador e de se preparar para comer com ele. Exatamente o que faziam os ESCRIBAS e FARISEUS, que criticavam Jesus por acolher os pecadores e faz refeição com eles. Este filho mais velho, mostra-se, portanto, um puro FARISEU, que sempre cumpriu as ordens do PAI (patrão), achando-se credor e não devedor diante de seu PAI, diante de Deus.       

Neste filho mais velho encontramos o que chamamos de “pecado dos bons “. Este pecado discreto, camuflado que passa despercebido por vezes até os olhos de quem o comete. Pensam à nossa volta que somos melhores do que os outros e nós mesmos facilmente pensamos que quando se fala em pecados ou em pecadores, se trata dos outros. E chega uma ocasião inesperada em que nos convencemos de que também nós pertencemos redondamente à família dos pecadores. Talvez já tenhamos passado por essa experiência sob um exterior virtuoso, o filho mais velho revela subitamente os maus sentimentos que se escondem no fundo do seu coração. Talvez os viesse reprimindo mas explodirão repentinamente sob a ação da cólera. As mais belas virtudes empalidecem aos olhos de Deus quando a pessoa se orgulha das suas virtudes.         

Ao contemplar o comportamento do filho mais velho, devemos refletir sobre nós mesmos para ver em que medida o nosso coração, como o do filho mais velho, está triste e ressentido; para ver em que medida trabalhamos e observamos as normas e os preceitos, mas vivemos fechados em nós mesmos, na nossa “justiça” e na nossa autossuficiência, e somos incapazes de abrir-nos à alegria da comunhão com Deus e com os irmãos.                   

Jesus convida todos nós a depor toda a inveja e toda compreensão legalista da lei e da ordem e a abrir-nos ao amor generoso e gratuito de Deus para com todos, inclusive e sobretudo para com os que não o “merecem”. Justamente porque seu amor é absolutamente gratuito, Deus oferece-o também aos que não têm “direitos” nem “méritos” para apresentar, mas só necessidade e o reconhecimento do seu pecado. Nós devemos decidir se queremos ficar presos ao princípio de uma justiça rígida e excludente ou, se queremos aderir ao Evangelho de Jesus acolhendo a bondade e generosidade ilimitada de Deus. O Reino de Deus acontece quando nós acolhemos o amor gratuito de Deus que nos é oferecido e quando essa acolhida muda nossa conduta, nossa relação com Deus e com os homens.         

Afinal, “ESTA PARÁBOLA” em três quadros foi contada por Jesus para os ESCRIBAS e FARISEUS, ao FILHO MAIS VELHO, a NÓS TODOS. Mas ficamos sem saber, no final, se o FILHO MAIS VELHO entrou ou não em casa, na alegria, para a FESTA. O narrador da parábola não o diz, porque ess decisão de entrar ou não, smos NÓS TODOS que a temos de tomar.

A parábola do filho pródigo ou do Pai misericordioso é o grande canto ao imenso amor divino tão misericordioso que se mostra indulgente com o pecador, lição oportuníssima da quaresma. Por isso, Santo Agostinho dizia: “Imite aquele filho mais novo, porque talvez você seja como ele, que depois de mal gastar e perder todos os seus bens vivendo prodigamente, sentiu necessidade, apascentou porcos e, esgotado pela fome, suspirou e se lembrou de seu pai. E o que diz dele o Evangelho? ‘Ele caiu em si’ (voltou a si mesmo). Quem se tinha perdido para si mesmo, voltou a si mesmo: ‘Vou-me embora, vou voltar para meu pai...’”.  “Para chegar à ressurreição da graça do Senhor temos de passar primeiro pela crucifixão de nossos pecados na penitência. O pecado é o motivo de tua tristeza. Deixa que a santidade seja motivo de tua alegria”, acrescentou Santo Agostinho.

P. Vitus Gustama,SVD

12/05/2025-Segundaf Da IV Semana Da Páscoa

JESUS É A PORTA PELA QUAL ENTRARAMOS NA ETERNIDADE Segunda-Feira da IV Semana da Páscoa Primeira Leitura: At 11,1-18 Naqueles dias, 1 ...