sexta-feira, 28 de novembro de 2025

03/12/2025-Quartaf Da I Semana Do Advento

A EUCARISTIA É O BANQUETE CELESTE ANTECIPADO PARA NÓS AQUI NA TERRA

Quarta-Feira da I Semana Do Advento

Primeira Leitura: Is 25,6-10

Naquele dia, 6 o Senhor dos exércitos dará neste monte, para todos os povos, um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro, servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos. 7 Ele removerá, neste monte, a ponta da cadeia que ligava todos os povos, a teia em que tinha envolvido todas as nações. 8 O Senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo em toda a terra; o Senhor o disse. 9 Naquele dia, se dirá: “Este é o nosso Deus, esperamos nele, até que nos salvou; este é o Senhor, nele temos confiado: vamos alegrar-nos e exultar por nos ter salvo”. 1 E a mão do Senhor repousará sobre este monte.

Evangelho: Mt 15,29-37

Naquele tempo, 29 Jesus foi para as margens do mar da Galileia, subiu a montanha, e sentou-se. 30 Numerosas multidões aproximaram-se dele, levando consigo coxos, aleijados, cegos, mudos, e muitos outros doentes. Então os colocaram aos pés de Jesus. E ele os curou. 31 O povo ficou admirado, quando viu os mudos falando, os aleijados sendo curados, os coxos andando e os cegos enxergando. E glorificaram o Deus de Israel. 32 Jesus chamou seus discípulos e disse: “Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que está comigo, e nada tem para comer. Não quero mandá-los embora com fome, para que não desmaiem pelo caminho”. 33 Os discípulos disseram: “Onde vamos buscar, neste deserto, tantos pães para saciar tão grande multidão?” 34 Jesus perguntou: “Quantos pães tendes?” Eles responderam: “Sete, e alguns peixinhos”. 35 E Jesus mandou que a multidão se sentasse pelo chão. 36 Depois pegou os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os, e os dava aos discípulos, e os discípulos, às multidões. 37 Todos comeram, e ficaram satisfeitos; e encheram sete cestos com os pedaços que sobraram.

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Com Deus Nossa História Termina Com a Alegria Sem Fim

O texto da Primeira Leitura faz parte de uma unidade literária do livro de Isaías, chamada "Escatologia ou Apocalipse de Isaías" (Is 24-27). Estes capítulos são acrescentados muito mais tarde que o profeta Isaías e foram inseridos nesta obra (livro de Isaías) em um tempo após o exílio da Babilônia por um profeta anônimo. O profeta anônimo descreve neste apocalipse o juízo de Deus.

Ao ler o texto, nunca devemos perder de vista o fato de que nos defrontamos com uma explicação escatológica na qual as afirmações são mais um produto da fé do que do conhecimento. O autor sonha com um futuro, que ele acredita real, em que o Soberano Juiz da história inaugurará seu verdadeiro reinado nos céus e na terra, por todo o universo. Quando isso acontecerá? O escritor só sabe que se trata de um futuro.

O Senhor dos exércitos dará neste monte, para todos os povos, um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro, servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos”, assim lemos na Primeira Leitura. Uma das palavras-chave é o banquete. Nos costumes orientais bíblicos, o banquete faz parte do ritual de entronização dos reis. Com frequência há uma abundância de alimentos, a qualidade dos manjares e dos vinhos, pois eram o sinal do poder de um rei, e de modo muito particular, eram o modo de celebrar a vitória. Também nós festejamos nossas alegrias, sucessos, êxitos em família como uma comida mais ou menos extraordinária. Para anunciar os tempos messiânicos, Deus anuncia que será o Anfitrião de sua própria mesa. E Jesus faz da comida o sinal de sua graça (Eucaristia).

Nós sabemos também pela experiência diária, que no banquete os laços de fraternidade se tornam estreitas e firmes. Somente através da participação no banquete, são eliminados todos os tipos de inimizade. Em todos os pactos no Antigo Testamento sempre há no fim desse pacto um banquete. O egoísmo não permite o banquete, pois cada um quer saborear sozinho o que se tem. No mundo animal não há banquete porque cada um por si e é capaz de matar outro animal em nome da comida. Por isso, no mundo animal, geralmente, onde há comida, há briga. Mas no banquete só há festa e fraternidade, pois todos se alimentam do mesmo alimento.

Dentro do contexto do Advento podemos dizer que o Cristo que esperamos no Natal para nos redimir é o Cristo que vai nos julgar no fim dos tempos para separar quem faz parte do trigo e quem faz parte do joio, de ovelhas e de cabritos. O momento de julgar é o momento de separar o bem do mal, o amor do ódio, o trigo do joio, a justiça da corrupção e da desonestidade, e assim por diante.

Embora o escritor do AT não mencione nenhum Messias, visto que Deus em pessoa é o Soberano, esta profecia do AT nos leva a uma era messiânica em uma leitura mais profunda e articulada de toda a Bíblia.

Com o cumprimento da profecia em Jesus de Nazaré, a perspectiva muda. Ele é o Messias que estabelece o Reino do Pai, e ressuscitando da morte triunfa sobre ela e suas consequências: dor e lágrimas. Para aqueles que respondem ao seu convite para fazer parte de seu Reino, ele os faz participarem em seu triunfo sobre a morte. Ele é o ser solidário com o homem com amor total para com cada um dos membros da humanidade. Ele é o grande Consolador que não apenas anuncia a futura extirpação da dor e da morte, mas se entretém com a tarefa diária de consolar o momento presente.

Esta deve ser a atitude da Igreja, de todo cristão: anunciar o final glorioso desta limitação humana, mas, ao mesmo tempo, não ignore as lágrimas do nosso mundo. Não vamos fechar os olhos ou tapar os ouvidos! O banquete eucarístico é um sinal do banquete escatológico. O Senhor é um anfitrião generoso que nos oferece tudo de melhor, sem excluir ninguém. O Papa, os bispos, a Igreja devem ser generosos com todos e em tudo, sem tratar de excluir ninguém. E a razão é muito simples: nenhum deles é o anfitrião e deve respeitar a vontade do Amo. Não vamos cair em teologias baratas de "alter Christus"! O Amo é apenas um (cf. Mt 23,8).

O Advento não é para os perfeitos, e sim para aqueles que se reconhecem fracos/débeis e pecadores e recorrem para Jesus, o Salvador. Ele, compadecido, como as leituras de hoje nos asseguram, enxugará lágrimas, dará de comer, anunciará palavras de vida e festividade e também acolherá os que não estão muito preparados nem motivados. Os saudáveis não precisam de um médico, mas os doentes.

A imagem do banquete descrito pelo profeta Isaias que lemos na Primeira Leitura (Is 25,6-10) constitui um dos símbolos fundamentais para expressar a comunhão, a família, a fraternidade, a comunhão, a igualdade, a festa, a alegria, o diálogo, e a vitória.

O banquete anunciado pelo profeta Isaias para o final dos tempos celebra a vitória de Deus sobre os poderes que escravizam e excluem os homens. Com isso, o profeta quer nos dizer que a última palavra será a Palavra de Deus e não a do homem por poderoso que o homem pareça ser neste mundo. Feliz seja aquele que vive de acordo com a Palavra de Deus!

Naquele dia, o Senhor dos exércitos dará neste monte, para todos os povos, um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro, servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos” (Is 25,6). Que descrição bonita! O profeta Isaias fala dos tempos messiânicos, cheios de felicidade e se celebrará com o banquete com comidas deliciosas (Is 25,6). A promessa da vida de Deus é dirigida a todos e promete uma plenitude que é alegria, libertação de todo mal, ternura. O banquete é mais do que uma boa refeição: é saber que todos os males desaparecem, o drama de uma história desordenada desaparece e o drama de toda lágrima em cada olho humano termina definitivamente. Trata-se de um texto para ser meditado e saboreado frase por frase.

O próprio Jesus utilizará também essa metáfora para ilustrar a natureza do Reino que ele vem estabelecer (cf. Mt 22,1-14; Lc 14,16-24). A Última Ceia que Jesus vai instituir está em relação direta com o banquete escatológico no Reino celeste (cf. Mt 26,29; Lc 22,15), banquete no qual participarão os apóstolos nos lugares de honra na qualidade de chefes da comunidade (cf. Lc 22,29-30). E a Igreja primitiva considerava a Eucaristia como banquete (cf. At 2,24-46; 1Cor 11,17-34).

Nos costumes orientais e bíblicos, o banquete faz parte do ritual de entronização dos reis. Com frequência a magnificência no enfeite, a qualidade dos manjares e a dos vinhos eram o sinal do poder de um rei, e muito particularmente eram o modo de celebrar a vitória. Preocupava-se, então, com qualidade de comida e de bebida e a do enfeito da sala do banquete. Também nós festejamos nossas alegrias em família com uma comida especial, pouco diferente da normal por ocasião de alguma festa ou de alguma comemoração.

Para anunciar os tempos de salvação, Deus anuncia que será o anfitrião de sua própria mesa. E Jesus também faz da comida o sinal de sua graça. Jesus antecipa para nós o banquete celeste através da instituição da Eucaristia. A Eucaristia é, com efeito, o banquete celeste antecipado para nós na terra por Jesus Cristo. É o céu aqui na terra. Ir à missa é ir ao céu. “A Eucaristia é verdadeiramente um pedaço do céu que se abre sobre a terra; é um raio de glória da Jerusalém celeste, que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso caminho(Papa João Paulo II: Ecclesia de Eucharistia n. 19). A Eucaristia” une o céu e a terra. Abraça e impregna toda a criação(Idem n. 9).Sempre que descobrimos de novo a dimensão escatológica presente na Eucaristia, celebrada e adorada, somos apoiados no nosso caminho e confortados na esperança da glória (Rm 5, 2; Tt 2, 13)” (Bento XVI: Sacramentum Caritatis: Exortação Apostólica n. 32).

Infelizmente, corremos risco de esvaziar a Eucaristia de seu conteúdo uma vez que somos incapazes de relacioná-la com o banquete messiânico, o banquete escatológico, o banquete celeste.

Vem a pergunta: Será que eu estou consciente de que na Eucaristia Deus me recebe em sua própria mesa como um convidado especial? Tenho algo a comemorar ou a celebrar quando vou participar da Eucaristia? Será que sei valorizar a ação de graças? Será que estou consciente de que a Eucaristia é o banquete celeste antecipado na terra e por isso, tem penhor da glória futura?

O senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces...” (Is 25,8ª). Que grande consolação para nós todos! No banquete divino, Deus celebra uma vitória ao nos convidar para esta festa celeste: a vitória sobre a morte. A morte é a grande obsessão da humanidade, o grande fracasso, o grande absurdo, o símbolo da fragilidade e do sofrimento. Também é a grande objeção ou recusa que os homens fazem para Deus: se Deus existe, por que existe o mal? Devemos escutar a pergunta e também a resposta de Deus. Há que dar a Deus tempo, e saber esperar sua resposta.

O senhor Deus eliminará para sempre a morte”. Tal é a Boa Nova de Jesus Cristo, pois Ele é “a Ressurreição e a Vida” (Jo 11,25). Em cada Eucaristia comemoramos a vitória de Cristo sobre a morte e consequentemente, nossa vitória também. Mas será que cada Eucaristia é para mim uma comida de vitória sobre a morte? Será que estou consciente da verdade daquilo que rezo na eucaristia: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde Senhor, Jesus!”? Através desta proclamação queremos anunciar ao mundo que a morte não é o fim do homem. O fim é a exultação, a alegria, a salvação. Isto é o que Deus quer; é o que Deus nos preparou.

Partilhar É a Alma Do Projeto De Jesus

Na Eucaristia, Jesus nos oferece a melhor refeição festiva: ele próprio se faz para nós presente e quer tornar-se alimento para a nossa jornada. Nenhum dos outros sacramentos instituídos por Cristo supera a eucaristia em virtude e excelência. Os outros conferem a graça, mas este contém o próprio Autor da graça, é origem e fim dos outros; como esplendoroso sol do meio-dia em torno do qual giram e são iluminados os outros satélites”. (Papa Paulo VI). Se a celebramos bem, cada Missa é para nós orientação e consolo, fortalecimento e vida. Nunca melhor do que na Eucaristia podemos ouvir as palavras de Jesus: venham a mim todos os que estão cansados. E sentir que o anúncio do banquete escatológico é cumprido: "Felizes são os convidados para a ceia do Cordeiro". A Eucaristia é a garantia do convite final no Reino: "Quem come minha carne tem a vida eterna, eu o ressuscitarei no último dia".

Porém, o Evangelho de hoje quer nos relembrar que precisamos aprender a partilhar o que temos e somos, como Jesus fez na multiplicação dos pães (Mt 15,29-37), para que mereçamos estar com Deus eternamente. A Eucaristia é a identificação de vida com Jesus: fazer o que ele fez e viver como ele viveu. O cristão existe para a comunhão, para a comunidade e não para o isolamento. Quando houver partilha, não haverá faminto ou miserável. Para poder viver a espiritualidade da partilha temos viver nossa filiação divina sabendo que somos todos filhos e filhas do mesmo Pai do céu. Como filhos e filhas de Deus e irmãos e irmãs do mesmo Pai celeste, um precisa cuidar do outro, um deve proteger o outro. A exemplo de Jesus Cristo que se oferece como alimento para todos nós, precisamos ser pão para os demais, isto é, ser vida para os outros. Não é por acaso que a multiplicação dos pães é narrada tantas vezes nos evangelhos. Os evangelistas Mateus e Marcos o relatam duas vezes no seu respectivo evangelho.

Jesus multiplica comida porque é algo sagrado, porque mantém a sobrevivência da própria vida. Através desse gesto de Jesus, o homem é chamado a partilhar e a comer à mesa com os seus irmãos (na multiplicação todos comem dos mesmos pães e peixes).  Somente quando o pão for partilhado é que ele deixará de ser motivo de disputas para transformá-lo em sinal de amor e de fraternidade. O pão consumido isoladamente faz parte somente do mundo animal, pois o animal come sozinho e briga bravamente pela comida. O homem é sempre o companheiro do outro, isto é, aquele que come do mesmo pão (partilha). Precisamos partilhar o que é sagrado com os outros para torná-los sagrados também. Para isso tudo nós precisamos primeiro nos alimentar do Pão da Palavra de Deus e do Pão eucarístico. Quando nos alimentarmos verdadeiramente do Pão da Palavra de Deus e do Pão eucarístico é que nos sentiremos irmãos e sairemos do mundo do egoísmo para começar a partilhar o que se tem. É ser pão para os irmãos.

Jesus multiplicou sete pães e alguns peixes oferecidos pelos discípulos para alimentar os coxos, aleijados, cegos, mudos, e muitos outros doentes. A atenção de Deus vai, em primeiro lugar, para estes. A misericórdia amorosa de Deus se interessa primeiro pelos que sofrem, pelos pobres e pelos enfermos. O Senhor nos convida a prestar atenção para o grave problema da fome; para os que hoje têm fome; para todas as fomes: a fome material, a fome espiritual, a fome da dignidade, a fome do mútuo respeito e assim por diante. O tempo do advento e do Natal é o tempo propício para viver a partilha intensamente, dividindo o que temos para os que nada têm. Muitas crianças querem brinquedos no Natal, mas a maioria quer comida. A comida é sagrada porque sustenta a vida que é sagrada, pois a vida é de Deus e Deus está nela.

Ao comungar o Corpo e o Sangue do Senhor devem crescer, em cada comungante, a união com Deus, a harmonia interior, e a comunhão com o próximo. E cada comungante se torna sinal e fator da união e da unidade, da comunhão e da fraternidade. O estilo de vida dos cristãos, discípulos missionários de Jesus deve ser o estilo eucarístico: viver fazendo o bem como Jesus fez (At 10,38) e viver na permanente ação de graças.

P. Vitus Gustama,svd 

Para Refletir:

1. SER PÃO

·     SER PÃO significa que eu devo cultivar a ternura e a bondade porque assim é o pão, terno e bom.

·     SER PÃO significa que devo estar sempre disposto ao sacrifício como o pão que se deixa triturar.

·     SER PÃO significa que devo viver sempre no amor maior capaz de morrer para dar vida, como o pão.

·     SER PÃO significa que eu preciso me deixar assar e triturar pelo fogo do amor e do Espírito para que eu possa me oferecer a todos os que tenham alguma fome. Eu preciso me deixar amassar pelas contrariedades, pelos trabalhos e pelos serviços a favor dos demais irmãos.

2. Perigo Do Consumismo desenfreado

“O grande risco do mundo actual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado”. (Papa Francisco: Exortação Apostólica Evangelii Gaudium no.2)

P. Vitus Gustama,svd

02/12/2025- Terçaf Da Primeira Semana Do Advento

O MESSIAS ESPERADO ESTÁ CHEIO DE DONS DIVINOS PARA GOVERNAR O POVO DE DEUS E SE REVELA NA SIMPLICIDADE E SE ENCONTRA ONDE HÁ SIMPLICIDADE

Terça-Feira da I Semana do Advento

Primeira Leitura: Is 11,1-10

Naquele dia, 1 nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; 2 sobre ele repousará o Espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e temor de Deus; 3 no temor do Senhor, encontra ele seu prazer. Ele não julgará pelas aparências que vê nem decidirá somente por ouvir dizer; 4 mas trará justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos; fustigará a terra com a força da sua palavra e destruirá o mau com o sopro dos lábios. 5 Cingirá a cintura com a correia da justiça e as costas com a faixa da fidelidade. 6 O lobo e o cordeiro viverão juntos, e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o bezerro e o leão comerão juntos, e até mesmo uma criança poderá tangê-los. 7 A vaca e o urso pastarão lado a lado, enquanto suas crias descansam juntas; o leão comerá palha com o boi; 8 a criança de peito vai brincar em cima do buraco da cobra venenosa; e o menino desmamado não temerá pôr a mão na toca da serpente. 9 Não haverá danos nem mortes por todo o meu santo monte: a terra estará tão repleta do saber do Senhor quanto as águas que cobrem o mar. 10 Naquele dia, a raiz de Jessé se erguerá como um sinal entre os povos; hão de buscá-la as nações, e gloriosa será a sua morada.

Evangelho: Lc 10,21-24

21 Naquele momento Jesus exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22 Tudo me foi entregue pelo meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece quem é o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. 23 Jesus voltou-se para os discípulos e disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que vêem o que vós vedes! 24 Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo, e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não puderam ouvir”.

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Sonhar com o Profeta Isaías No Sonho de Deus

“Naquele dia, nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o Espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e temor de Deus; no temor do Senhor, encontra ele seu prazer. Ele não julgará pelas aparências que vê nem decidirá somente por ouvir dizer; mas trará justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos; fustigará a terra com a força da sua palavra e destruirá o mau com o sopro dos lábios. Cingirá a cintura com a correia da justiça e as costas com a faixa da fidelidade”.

Este fragmento (Is 11,1-5), colocado imediatamente após anunciar a derrota dos inimigos de Judá, que estavam às portas da Cidade Santa, e que reflete a inauguração da era messiânica, é muito semelhante à profecia que lemos em Is 9. Portanto, de acordo com muitos críticos, a mesma data de composição deve ser assumida para ambos os fragmentos (Is 11,1-5 e Is 9). Aqui, como em Is 9, encontramos uma descrição de um Messias pessoal.

Do tronco de Jesse -o pai de Davi- sairá um galho. Um broto brotará de suas raízes. Imagem tradicional em Israel em que, referindo-se à felicidade, fala-se de uma árvore florescente, e referindo-se ao infortúnio, fala-se de uma árvore seca, reduzida ao tronco... Daquele tronco quase morto sai um pequeno broto, um pequeno broto frágil, um galho quebradiço.

O futuro Messias, como o "remanescente de Israel" escapado da prova, deve emergir da pobreza e do sofrimento. Jesus será perseguido desde o nascimento e morrerá mártir. A Igreja também vive constantemente em provação. É preciso acreditarmos no poder de Deus, capaz de fazer emergir a vida do fundo das situações mais desesperadoras. Para Deus e com Deus não há nada que seja perdido.

O Espírito Santo do Senhor repousará sobre este futuro Messias: Espírito de sabedoria e inteligência, Espírito de conselho e força, Espírito de conhecimento e temor do Senhor. A vinda do Messias é anunciada como uma vinda "cheia do Espírito". Deus vem e "descansa" ou “repousa” sobre aquele homem, o futuro Messias(cf. Mc 1,10). Jesus faz sua essa profecia, aplicando-a a si mesmo, na sinagoga de Nazaré, no seu discurso programático (Lucas 4:18). "O Espírito de Deus repousa sobre mim...".

Jessé era o pai do rei Davi. Portanto o “tronco de Jessé” faz referência à família e descendência de Davi. Da descendência do rei Davi nascerá aquele que vai alegrar todo o povo.

A formosa imagem do tronco seco e do rebento novo serve ao profeta Isaías, o profeta da esperança, para anunciar que, apesar de que o povo de Israel parece um tronco seco e sem futuro (nos tempos do rei Acab), Deus vai infundir nesse tronco vida e dele vai brotar um rebento que trará a salvação para todos.

Ele não julgará pelas aparências que vê nem decidirá somente por ouvir dizer; mas trará justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos; fustigará a terra com a força da sua palavra e destruirá o mau com o sopro dos lábios”, escreveu o profeta Isaías. Nós, homens, nos impressionamos facilmente com "aparências". Ele, o Messias, julgará segundo a verdade e o coração do homem. Os pobres, os fracos são seus favoritos (cf. Lc 4,18, citação do profeta Isaías).

Imagens simbólicas: Os animais selvagens "convivem" com os animais domésticos... O lobo e o cordeiro serão vizinhos... A criança porá a mão na fúria da cobra... É shalom, isto é, harmonia com tudo e com todos. Nesta profecia, Isaías anuncia para o "fim dos tempos ", uma volta ao paraíso primitivo: assim Adão vivia em paz no meio dos animais. O que nos é prometido, então, é uma "nova criação", onde não haverá forças hostis ao homem... onde o homem não sentirá medo... onde os instintos agressivos serão dominados... onde todos os seres serão capazes de viver em paz uns com os outros.

A Bíblia muitas vezes nos fala sobre a Paz. O Messias é um "Príncipe da Paz". E os seguidores do Príncipe da Paz são pessoas de paz. Esta é uma aspiração universal da humanidade. A fonte dessa "paz messiânica" é o "conhecimento de Deus". A "paz entre eles" vem de ter todos os olhos fixos no mesmo Deus. Deus, fator de unidade. O Pai, fonte de amor entre irmãos. Certamente a Igreja pode ser o destino da humanidade. Não é sem importância que os homens de todos os países se alimentam da mesma Palavra, comungam do mesmo ideal e constituem o mesmo Corpo. Rogo-te, Senhor, que esta profecia se cumpra e que eu contribua para o seu cumprimento na parte que depende de mim.

Na Bíblia, o castigo divino (tronco seco) nunca é sua palavra última e definitiva. A misericórdia de Deus transforma o que é seco em algo vivo. Do tronco seco nascerá novo broto. Assim a árvore seca não está morta e sim que de seu tronco vai brotar um novo rebento. A raiz se refere à muito humilde família de Jessé, pai do rei Davi, da qual brotará este novo rebento, um Segundo Davi que, igual ao primeiro, está equiparado para seu trabalho com o dom do Espirito divino. Possuirá o espirito de prudência e o dom de sabedoria para poder precatar-se da situação concreta e trabalhar, em consequência, com firmeza. Trata-se de ter capacidade para saber julgar corretamente as situações. Espirito de conselho é para poder prescindir de opiniões interesseiras e egoístas (o futuro rei não necessitará de conselhos parciais). Espirito de valentia é para levar a cabo as sábias decisões tomadas. Mais ainda: seu atuar estará em perfeita consonância com o querer de Deus: espírito de conhecimento e de respeito do Senhor.

A mensagem da Primeira Leitura é bem clara: Quem acredita em Deus jamais pode perder a esperança. A esperança em Deus, que é fiel a Si mesmo, faz com que as pessoas lutem até o fim por aquilo que almeja. Não há situação sem solução quando andamos com Deus. Não há nada que possa nos separar do amor de Deus por nós (cf. Rm 8,31-39). Tudo isso é muito válido para olhar ao futuro com ânimos e com esperança, pois Deus pode transformar o impossível em possível. Da nossa parte é cultivar permanentemente nossa fé para não virar um “tronco” seco. Por isso devemos nos fazer sempre as seguintes perguntas: Será que cremos no poder de Deus que capaz de fazer surgir a vida das situações mais desesperadas? será que existe alguém capaz de nos tirar de nossa situação de desespero? Será que somos capazes de viver na esperança diante de uma situação desesperadora e aparentemente sem saída?

O texto da Primeira Leitura de hoje foi sempre interpretado pelos próprios judeus e muito mais por nós, cristãos, como um anúncio dos planos salvadores de Deus para os tempos messiânicos e para nós, cristãos. Trata-se da vinda de Jesus Cristo, o Deus-conosco, o Emanuel, pois em Jesus Cristo a profecia do profeta se cumpre.

O Espirito de Deus repousará sobre o Messias vestido de dons: sabedoria, inteligência, conselhos e fortaleza. Estes dons são citados também em Pr 8,14. Por meio destes dons, os reis reinam, os juízes julgam e se governa com justiça. Revestido de justiça e de fidelidade ao Senhor (temor de Deus) e às suas leis, o rei é mais poderoso que um guerreiro e suas palavras e decisões são mais eficazes que uma espada para a destruição dos violentos e ímpios.  

É isso que aconteceu na vida de Jesus Cristo, pois o Espírito de Deus encontrou seu repouso nele (cf. Mc 1,10; Mt 3,16; Lc 3,22; Jo 1,32) e o enche de seus dons. Por isso, será sempre justo seu juízo, e Ele trabalhará em favor da justiça e amolecerá os violentos. Em seu tempo reinará a paz. As comparações tomadas do mundo dos animais são poéticas e expressivas. Os que parecem ser irreconciliáveis, estarão em paz como o lobo e o cordeiro convivem em harmonia.

A vinda do novo Ungido significa a inauguração de uma era de paz para toda a criação. Uma paz que não é simplesmente bem-estar e sim também justiça e fruto da justiça. Correlativamente, o pecado, negação da justiça, é visto como um elemento que perturba o equilíbrio ao introduzir um estado de violência com Deus, com os homens e com o cosmos. A catequese bíblica não prega uma paz utópica; exige modificações fundamentais que se podem levar a término quando há espirito de sabedoria e de inteligência, de conselho e de fortaleza, de ciência e de temor de Deus. Este não é um programa abstrato para os cristãos porque Jesus é o caminho da paz ou melhor dizer, Ele “é nossa paz” (Ef 2,14), e porque está a serviço da conciliação de todos os homens. Temos que segui-Lo mesmo na incerteza atrás do Gólgota.

A missão do Messias consiste em implantar a justiça de Deus em seu Reino messiânico e em estabelecer uma nova relação com toda a criação (Is 11,4-9). A justiça maior é saber amar, pois a injustiça é a consequência da falta de amor naquele que pratica a injustiça. O juízo do Messias e o dos seus seguidores favorecerão aos pobres e aos desamparados (Is 11,4), sua justiça atrairá todos os povos, e seu Reino de paz se converterá em uma morada gloriosa (Is 11,10), a morada da presença de Deus, ali onde Ele se dará a conhecer para todo o mundo (como na origem, no paraíso). O mundo criado ficará tão impregnado da paz messiânica que ninguém será inimigo de ninguém, inclusive, os animais considerados como inimigos tradicionais dos seres humanos serão dóceis com eles e serão com seus mais débeis representantes: as crianças (Is 11,6.8).

E cheio desta alegria e desta sabedoria do Espirito, Jesus pronuncia uma de suas frases cheias de paradoxo e ironia: somente aos simples de coração Deus revela os segredos do Reino (cf. Mt 11,25-26). Os que creem sábios, os que se acham conhecedores de tudo não entendem nada. Em Jerusalém havia doutores da lei, mas Jesus, num dia, elogiou o gesto daquela mulher anônima, pobre que entregava tudo que tinha para Deus (Mc 12,42). Os simples de coração, como Jesse, pai do rei Davi, são, na verdade, os sábios aos olhos de Deus. E o que também dirá Maria de Nazaré, a Mãe do Senhor em seu canto de Magnificat (Lc 1,46-55): a ela Deus olhou com predileção porque é humilde e é a serva do Senhor, do mesmo modo que Deus encherá de seus bens os pobres, e despedirá os ricos de mãos vazias.

Também hoje em dia, num mundo autossuficiente, orgulhoso dos progressos da ciência e da técnica, somente entrar, de verdade, no espirito do Advento os simples de coração. Não se trata de gestos solenes ou de discursos muito preparados, mas trata-se de abrir-se ao dom de Deus e alegrar-se de sua salvação. E isso não fazem os que estão cheios de si. A alegria profunda do Natal viverão os humildes, os que sabem apreciar o amor que Deus nos tem. Eles serão os que chegarão a conhecer em profundidade o Filho de Deus feito homem, porque Deus se revela a eles. Eles não se contentarão de uma alegria exterior e superficial, mas saberão reconhecer a vinda de Deus para nossa história.

Seremos nós dessas pessoas simples que sabem descobrir a presença de Deus sair ao Seu encontro? Merecemos a bem-aventurança de Jesus: felizes os olhos o que estão vendo? Jesus Cristo continua “vindo” este ano para nossa vida pessoal e para a sociedade, para continuar cumprindo o programa messiânico de paz e de justiça que está em marcha desde sua primeira vinda.

O profeta Isaías “sonha” ver o Messias que há de vir cheio de Espirito: Espirito de sabedoria e de inteligência, Espirito de conselho e de fortaleza, Espirito de ciência e de temor do Senhor. Jesus faz sua essa profecia, aplicando-a para si próprio na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,18). “O Espirito de Deus repousa sobre mim...”. O sonho do profeta Isaias começa com as seguintes palavras: “Naquele dia”. Hoje é “aquele dia”, pois Deus se fez homem e viveu entre nós durante um tempo nesta terra. Este sonho da encarnação, da paz de Deus morando no meio de nós na carne, nasceu da visão do profeta Isaías.

Que tal sonhamos com o profeta Isaías? Para que “aquele dia” se torne “Hoje” para nós é necessário que comecemos a orar mais, a imaginar e a fazer acontecer a paz, a trabalhar pela igualdade e pela justiça para que não haja a inimizade entre nós (cf. Is 11,6-9), a reparar e restaurar a harmonia original do universo e a cantar as maravilhas de nosso Deus. Que tal voltemos a ser pessoas mais orantes cada vez mais? Iniciar-se na oração é uma boa prática para que o sonho do profeta Isaías se realize também na nossa história. Supliquemos a Deus que nos conceda o Espirito de sabedoria e entendimento para que sejamos capazes de perceber como Deus vê, com os olhos da justiça e da verdade, da fraternidade e da igualdade. Vamos sonhar com o profeta Isaías dentro do próprio sonho de Deus sobre a humanidade.

Vamos Viver a Vida Na Simplicidade, Na Gratidão e No Louvor a Exemplo de Jesus

O texto do evangelho lido neste dia se encontra no contexto do envio dos setenta (e dois) discípulos para a missão e sua volta da mesma (Lc 10,1-24). Eles voltaram da missão, conscientes de terem libertado os homens do mal, moral e físico (Lc 10,17) pelo uso do nome de Jesus (poder messiânico). A chegada de Jesus abole o estado de escravidão e permite ao homem ter acesso para a verdadeira liberdade. Jesus louva a Deus por todo este êxito.

O texto começa com a oração de louvor e de ação de graças de Jesus: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra...”. Jesus experimentou um gozo exultante, provindo do fundo de seu coração e que se transborda nas suas palavras ou na oração de ação de graças. A ação de graças, a oração de Jesus surge da contemplação do trabalho que o Pai está fazendo no coração dos homens através de seus apóstolos. Deus trabalha no coração de cada homem, inclusive no coração dos que se dizem ateus. Toda vez que uma pessoa se supera e faz o bem, nós devemos reconhecer que Deus está nessa pessoa. E ajudar essa pessoa a dar um passo adiante significa trabalhar com Deus e acompanhá-Lo.

Mas quais são os homens em cujos corações Deus está fazendo sua obra de salvação? A quem Deus revela seus segredos? Quem é capaz de conhecer e reconhecer os mistérios de Deus neste mundo? Estas são as perguntas lançadas implicitamente no texto do evangelho de hoje. A resposta é esta: Deus se revela aos simples, aos pequeninos, aos que não têm nenhuma pretensão, aos que se entregam totalmente à ação de Deus na sua vida: Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”. Nestas pessoas a graça se frutifica em boas obras para o bem de todos. Essas pessoas produzem algo de bom para a humanidade, pois a graça de Deus flui nelas como a seiva flui do tronco aos ramos a fim de produzirem mais frutos (cf. Jo 15,1-5). É no pequeno e simples que Deus se revela. Deus não se revela através de algo espetacular, extraordinário e grandioso e sim na simplicidade cotidiana. Feliz aquele que agradece a Deus pelo nascer do sal em cada manhã. O nascer do sol ou o pôr-do-sol parece ser ordinário, porém na contemplação profundo aquilo que é cotidiano se torna algo extraordinário. Nesta descoberta consiste a felicidade do homem.

Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”. Somos preciosos aos olhos de Deus e dignos de estima, porque Ele nos ama (Is 43,4). O Pai nos ama com um amor único e total, como o Filho (Jo 17,23). E o Filho, Jesus Cristo nos ama com o mesmo amor do Pai (Jo 15,9.13); ama-nos com amor eterno (Jr 31,3) e quer que amemo-nos uns aos outros como Ele nos amou (Jo 13,34-35).

Por que Deus se revela aos simples/pequeninos, e por que os simples/pequeninos têm facilidade de captar as coisas de Deus? Porque o simples não se louva nem se despreza. Ele é o que é, simplesmente, sem desvios, sem afetação. É a vida sem exageros. O simples não simula nada, pois simular a humildade e a simplicidade significa uma grande arrogância de quem puxa tudo para seu lado para ser centro de atenção. “É mais fácil simular virtudes que possuí-las. Por isso, o mundo está cheio de farsantes” (Santo Agostinho: De mor. Eccl. cath. 1,12). O simples é capaz de reduzir o mais complexo ao mais simples. O presente é sua eternidade, e o satisfaz. A simplicidade é o último degrau da sabedoria (Kahlil Gibran).

A simplicidade aprende a se desprender, acolher o que vem sem nada guardar como coisa sua, pois para ele tudo é dom e vive no mundo de gratuidade. Simplicidade é nudez, despojamento, pobreza. Simplicidade é liberdade, leveza, transparência. A simplicidade é a transparência do olhar, pureza do coração, sinceridade do discurso, retidão da alma e do comportamento. A simplicidade é a espontaneidade, a improvisação alegre, desprendimento, desprezo do prevalecer. A simplicidade é o esquecimento de si, é nisso que ele é uma virtude. É por isso que a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos.

De fato, conhecer Deus não é primordialmente uma operação intelectual, reservada a uma elite. Os pequenos, os simples podem descobrir coisas sobre Deus que os entendidos não conseguem compreender. Quem vive complicado produz complicação na convivência. Procurar crescer cada dia é sinal de maturidade. Crescer cada dia é o caminho da maturidade.

Aqueles que aceitarem Jesus Cristo e sua mensagem serão capazes de ver as coisas de outro modo de maneira extraordinária e poderão construir uma convivência humana baseada na equidade, pois eles se deixam invadir pela ação do Espírito como Jesus se deixava habitar e conduzir totalmente pelo Espírito. No texto de hoje o Espírito invade Jesus com sua alegria. A ação do Espírito ocupa, certamente, o centro da liturgia de hoje.

Celebrar o Advento não é outra coisa que deixar-nos modelar interiormente pela presença do Espírito, criar espaço em nossa vida para que possamos receber seus dons de sabedoria, de discernimento e assim por diante, necessários para descobrir o caminho por onde Ele quer que caminhemos neste mundo. A celebração da liturgia do Advento também nos convida à alegria e à esperança. Não podemos cair no desânimo ou na frustração que não são dons do Espírito.

“Naquele momento Jesus exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”. Ao colocar estas frases no seu evangelho o evangelista Lucas quer colocar o máximo possível em destaque os fatos que aconteceram pela primeira vez. Finalmente, há um grupo de discípulos que foi capaz de expulsar as falsas ideologias que tornavam as pessoas escravas das mesmas. Através da missão bem feita levada ao término por estes personagens desconhecidos até então na sociedade e da reação exultante de Jesus, o evangelista Lucas antecipa sobre como deverá ser a missão ideal: aberta, universal e libertadora.

É preciso que sejamos personagens conhecidos por Deus embora não sejamos reconhecidos pela sociedade que adora ao poder e ao exibicionismo. Sejamos sábios e inteligentes de Deus! “O homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo está perto da virtude”, dizia o sábio chinês, Confúcio.

P. Vitus Gustama,svd

PARA REFLETIR


ADVENTO: O SENHOR VEM ME VISITAR. O QUE PRECISO FAZER?    

Sabemos que, civilmente, o ano novo começa no dia primeiro de janeiro. Mas, na liturgia, o ano novo (um novo ano litúrgico) começa no primeiro domingo do Advento e termina no XXXIV domingo do Tempo Comum, na festa do Cristo, Rei do Universo. Na liturgia, há três anos: o ano “A”, durante o qual refletimos sobre o evangelho de Mateus; o ano “B”, o evangelho de Marcos; e o ano “C”, o evangelho de Lucas. O evangelho de João é refletido durante as festas, como no Natal, no tempo da páscoa e em alguns domingos do Ano Marcos, pois o evangelho de Marcos é curto, tem 16 capítulos.     

O termo Advento significa “vindaouchegada”. O “Advento” indicava, na linguagem pagã, a vinda periódica de Deus e sua presença teofânica no templo. Equivale a “retornoouaniversário”. Do ponto de vista cristão, Advento era a última vinda do Senhor no final dos tempos. Mas, ao se instaurarem as festas do Natal e da Epifania, o Advento significou também a vinda de Jesus na humildade da carne. 

A partir desse sentido, o Advento é tempo de na esperança, que nos prepara para a dupla vinda do Senhor: a vinda histórica, na encarnação, por meio de Maria (Natal), e a vinda escatológica, ao final dos tempos (Parusia). Essas duas vindas são consideradas como uma , desdobrada em duas etapas. Essa dupla dimensão caracteriza todo o Advento. São Bernardo acrescentou uma vinda: a vinda do Senhor às almas pela graça. Essa é a vinda principal, sem a qual as outras duas nos resultariam inúteis ou perigosas. Sem a graça na alma, torna-se inútil a primeira vinda de Cristo para nos redimir, pois a graça é o fruto da redenção. E sem a graça na alma, será terrível a segunda vinda de Cristo para nos julgar, porque seria, então, como uma vinda para nos condenar.     

Quando se fala da vinda, fala-se também da espera. Esperar é situar-se em estado de receptividade. Mas a nossa espera deve ser acompanhada com esperança. Esperar com esperança é estar convencido de que, pela fidelidade de Deus, vai nos chegar algo que supera nossas forças e que deve vir: o Reino de Deus em sua plenitude. O estado de receptividade exige outra atitude: vigilância. Vigiar” equivale a velar solicitamente sobre algo ou sobre alguém durante um tempo, até alcançar o final desejado. A vigilância diante da chegada de Deus equivale a estar desperto, em disposição de serviço, com uma atitude atenta diante do futuro, sem evasão do presente, apesar da indiferença encontrada neste mundo. A vigilância consiste em discernir os sinais dos tempos para reconhecer a presença de Deus e do seu reino nos acontecimentos. Preciso descobrir o que Deus quer de mim e o que Ele quer me falar através de tudo isso. Mas, se converter um processo religioso da espera em algo comercial que logo pode converter-se em qualquer coisa, o cristão não espera mais em nada e a esperança cristã será uma palavra vazia e que, precisamente por isso, segue a lei do vazio de deixar-se preencher por outras esperanças caducas.   

É preciso esperar a chegada do Senhor com humildade. Ser humilde significa aceitar a parte terrena que todos temos; significa descer, buscar e encontrar tudo o que somos, aceitando-nos tal como somos. Quando o coração se faz humilde, ele é capaz de amar em abundância. Ser humilde é deixar a luz de Deus entrar no nosso coração para fazer desaparecer os maus sentimentos que produzem nossas misérias. Nunca serei compassivo, se eu não admitir minha dureza interior. Nunca chegarei a ser criativo, se eu não for capaz de reconhecer toda a minha mesquinhez que se esconde no meu coração que se defende em nome da arrogância. “Humildade é a honesta confissão do ser pecador. É melhor um pecador humilde que um beato orgulhoso” (Santo Agostinho).     

Portanto, aproveitemos o Advento para dar um bom passo ao nosso interior. Façamo-nos humildes e teremos a grande felicidade de viver plenamente o Natal.

FELIZ ADVENTO!!!   SHALOM !!!

 

P. Vitus Gustama,svd

06/12/2025- Sábado Da Primeira Semana Do Advento

SER PROFETA DA ESPERANÇA PARA A HUMANIDADE Sábado da I Semana Do Advento Primeira Leitura: Is 30,19-21.23-26 Assim fala o Senhor, o ...