domingo, 12 de abril de 2015

16/04/2015

 
VOCÊ PERTENCE AO CÉU  OU À TERRA?

Quinta-Feira da II Semana da Páscoa


Texto de Leitura: Jo 3, 31-36

31“Aquele que vem do alto está acima de todos. O que é da terra, pertence à terra e fala das coisas da terra. Aquele que vem do céu está acima de todos. 32Dá testemunho daquilo que viu e ouviu, mas ninguém aceita o seu testemunho. 33Quem aceita o seu testemunho atesta que Deus é verdadeiro. 34De fato, aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, porque Deus lhe dá o espírito sem medida. 35O Pai ama o Filho e entregou tudo em sua mão. 36Aquele que acredita no Filho possui a vida eterna. Aquele, porém, que rejeita o Filho não verá a vida, pois a ira de Deus permanece sobre ele”.

----------------------------

Estamos na conclusão de Jo 3 que contém a conversa entre Jesus e Nicodemos. Nesta conclusão o evangelista João nos descreve a superioridade de Jesus em relação aos demais seres humanos e a todos os enviados anteriores a Ele. Para descrever isto, Jesus usa os termos relacionados ao espaço: “do alto”, “da terra”. Jesus vem do “alto” (cf. Jo 1,1-18). Um profeta pode ser maior de quaisquer outros profetas, mas ele vem da “terra”, e por isso, não pode ser superior a Jesus.


“Aquele que vem do alto está acima de todos”.


Esta expressão significa ocupar uma posição de poder e de domínio. Jesus obteve essa posição como Senhor sobre todos com sua ressurreição ou glorificação. Jesus é superior a todos os demais seres humanos, porque ele experimentou a intimidade profunda do Pai e é a própria Palavra do Pai (Jo 1,1-5). Jesus é apresentado como Revelador do Pai, por excelência: sua vinda do céu (v.31), a fonte de seu testemunho: Jesus não fala por si mesmo, mas Ele fala as palavras de Deus (o que ele viu e ouviu do céu: v. 32), e o fato de Deus ter entregue tudo em suas mãos (v.35). Por isso, Jesus é distinto e superior a todos os anteriores enviados de Deus.


Toda a vida de Jesus teve como pano de fundo o amor, razão pela qual foi enviado (Jo 3,16) e o qual ele colocou como o Mandamento Novo (Jo 13,34; 15,12). O amor é o eixo condutor da vida. Este amor foi tão tenso na vida e missão de Jesus que o Pai não hesitou em colocar nas mãos do Filho, inclusive o poder de julgar a vida de quem se negar a crer nele. A superioridade divina consiste no amor. Deus é onipotente, mas no amor, pois ele ama até aquele que não é digno de ser amado pelo modo de viver. Se Jesus ocupa essa posição superior a todos os demais seres humanos não devemos ter medo dos demais. Precisamos, sim, acreditar cegamente nele para que possamos também triunfar.


Hoje o evangelho nos convida a deixarmos de ser “mundanos”, a deixarmos de ser homens que somente falam de coisas mundanas, para passarmos a falar como “aquele que vem de cima” que é Jesus. Falaremos como ”aquele vem de cima”, quando vivermos conforme os valores cristãos reconhecidos como valores universais, tais como amor, compaixão, bondade, solidariedade, igualdade, honestidade, justiça e assim por diante. Estar na superioridade é aquele que mantém sua vida de acordo com os valores.


É preciso olharmos para cima, para o céu para poder ordenar nossa vida aqui em baixo, no mundo. É necessário que em todo momento e circunstância nos esforcemos a ter o pensamento de Deus, que tenhamos ambição de ter os mesmos sentimentos de Cristo. Se atuarmos como “aquele que vem de cima” descobriremos facilmente o sentido da vida, das coisas e das pessoas ao nosso redor até o sentido de nosso sofrimento e dor. Se tivermos os sentimentos como os “daquele que vem do alto”, amaremos todos os seres humanos sem exceção e nos preocuparemos em cuidar da nossa própria vida e da vida dos demais, inclusive da vida da natureza criada por Deus. São Paulo nos aconselha: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às de terra” (Cl 3,1-2).


“O que é da terra pertence à terra e fala das coisas da terra”. Ser da terra é ser limitado por um horizonte terreno incapaz de ver além da aparência. No olhar do terreno tem coisas. É não ter o conhecimento imediato de Deus. Quem ama ao mundo fala somente coisas mundanas. Quem ama a Deus fala as coisas do alto. Os que amam ao mundo vivem de acordo com o espírito mundano. São Paulo descreveu da seguinte maneira:

·        Ora, as obras da carne são manifestas: formicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas (disputa/briga), ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões, invejas, bebedeiras, orgias, e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos previno como vos preveni: os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus(Gl 5,19-21).

·        Como não fizeram caso do verdadeiro conhecimento de Deus, Deus os entregou a sentimentos depravados. Por isso, procederam indignamente. Estão cheios de todo tipo de injustiça, perversidade, avareza e malícia, e também de inveja, homicídio, discórdia, velhacaria, depravação e calúnia. Difamam uns aos outros, odeiam a Deus, são atrevidos, soberbos, presunçosos, inventores de maldades, desobedientes aos pais. Eles não têm consciência, nem lealdade, nem coração, nem pena dos outros(Rm 1,28-31).


Para superar o homem de carne, São Paulo nos recomendou: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória. Mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes” (Col 3,1-6).


Uma pessoa do alto ou do céu é uma pessoa de valor. Sua vida é governada pelos valores cristãos como o amor, o perdão, a bondade, a solidariedade, a compaixão, e assim por diante. Todos estes valores e outros demais têm uma marca divina. São esses valores que levam o homem para a comunhão com Deus e com os irmãos. Chamamos alguém de responsável quando vive de acordo com os valores reconhecidos universalmente. O irresponsável é aquele que não vive os valores.


Cada cristão deve saber identificar as duas classes de consciências pelas quais o ser humano pode optar: o terreno (inferno, egoísta, prepotência etc.) ou o celestial (amor, partilha, fraternidade, igualdade, etc.). Estes dois pólos de consciência expressam realmente os elementos com os quais cada um se identifica: um, busca seus próprios interesses (ser interesseiro); o outro, busca a criação de uma sociedade igualitária, mais fraterna, mais justa, mais honesta e assim por diante.


O celestial e o terreno influenciam nossa maneira de viver de cada dia. Mas no fim, o celestial triunfará e o terreno fracassará apesar da aparência vitoriosa. Fica apenas na aparência. Quem fica na aparência, vive apenas na superficialidade. Santo Agostino dizia: “Amando a Deus nos tornamos divinos; amando o mundo nos tornamos mundanos (Serm. 121,1)... O amor ao mundo corrompe a alma; o amor ao Criador do mundo a purifica (Serm. 142,3,3).Queres saber que tipo de pessoa és? Põe à prova teu amor. Se amas as coisas terrenas, és terra. Se amas a Deus, não tenhas medo de dizer: és Deus” (Santo Agostinho: In epist. Joan. 2,214).


A verdade está em Deus e por isso, a verdade é eterna e imutável; os meios não são imutáveis nem eternos. A busca da verdade será sempre um exercício de modéstia, pois trata-se de indagar e não de possuir a verdade. O nosso conhecimento nunca é absoluto nem total, mas sempre parcial, pois vemos as coisas apenas do nosso ângulo, mas ainda tem outros ângulos. A verdade é uma só e universal e nunca parcial. Ou é a verdade ou não é verdade.


Deveríamos nos perguntar hoje: em quem cremos; em quem confiamos, quais são as fontes onde buscamos a verdade? Lamentavelmente temos experiência do que é a mentira. Muitas vezes fabricamos fatos inexistentes só para nos aparentar bons. Mentira é aquela distorção do real que gera desconfiança, medo, distancia e confusão. Diante da mentira se situa a Verdade, mencionada na página do evangelho de hoje. A verdade é o próprio Deus (Jo 14,6) e por isso, gera a vida. A verdade é o conhecimento do sentido da vida. A mentira gera a morte. “O que é da terra pertence à terra e fala das coisas da terra”. Mas “Aquele que vem do alto está acima de todos”. Quem é da terra (mundano) pensa a partir do pó, do caduco, do efêmero, a partir dos próprios interesses. Quem é do alto, do céu pensa e fala como filho (filha) de Deus com pensamentos de Deus. A que você pertence: às coisas do alto ou à terra? Mas lembremo-nos aquilo que dizia Santo Agostinho que serve de alerta para nós: “Quando lhe convém, o homem esquece que é cristão” (In ps. 21, 2,5).

P. Vitus Gustama,svd

Nenhum comentário:

23/11/2024-Sábado Da XXXIII Semana Comum

CREMOS NO DEUS DA VIDA E POR ISSO CREMOS NA RESSURREIÇÃO QUE NOS FAZ RESPEITARMOS A DIGNIDADE DA VIDA DOS OUTROS Sábado da XXXIII Semana C...