23/04/2015
COMER O PÃO DA VIDA NOS
COMPROMETE EM PROTEGER A VIDA EM TODAS AS SUAS INSTANTES
Quinta-Feira da III
Semana da Páscoa
Evangelho: Jo 6,44-51
Naquele tempo, disse Jesus à
multidão: 44 “Ninguém pode vir a mim, se o pai que me enviou não o atrai.
E eu o ressuscitarei no último dia. 45 Está escrito nos
Profetas: ‘Todos serão discípulos de Deus’. Ora, todo aquele que escutou o Pai
e por ele foi instruído, vem a mim. 46 Não que alguém já tenha
visto o Pai. Só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. 47 Em verdade, em verdade
vos digo, quem crê possui a vida eterna. 48 Eu sou o pão da vida. 49 Os vossos pais comeram o
maná no deserto e, no entanto, morreram. 50 Eis aqui o pão que desce
do céu: quem dele comer, nunca morrerá. 51 Eu sou o pão vivo descido
do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha
carne dada para a vida do mundo”.
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O texto do evangelho de hoje faz
parte do amplo discurso de Jesus sobre o Pão da Vida. A imagem do Pão da Vida
está vinculada à fórmula “Eu Sou” ou “Eu sou o Pão da Vida”. É uma fórmula introdutória
que há que relacionar com o discurso de Deus no Antigo Testamento (cf. Gn
28,13: “Eu sou o Senhor...; Ex 20,2.5: “Eu sou o Senhor teu
Deus...”). O rasgo característico do evangelista João ao usar esta fórmula é
assinalar que somente Jesus realiza plenamente o que ela significa. Jesus é a
Palavra do Pai que se torna carne e habita entre nós (cf. Jo 1,1-2.14). A
Palavra reveladora se relaciona com o sinal: o Pão da Vida com a multiplicação
dos pães.
No texto
de hoje o que
se acentua é a fé em
Jesus como condição
para ter a vida eterna : “Em verdade , em verdade vos digo: quem
crê em mim
possui a vida eterna ”.
A fé em
Jesus faz com que
o crente viva
uma nova era
cujas raízes de sua existência estão ligadas
intimamente com a realidade
vital de Cristo
ressuscitado. Se Jesus superou a morte através de sua ressurreição , assim
também aquele
que crê em
Jesus ressuscitado.
A passagem
do evangelho deste dia
se abre com uma afirmação categórica de Jesus sobre
a intervenção do Pai
na vida do cristão :
“Ninguém pode vir a mim
se o Pai que
me enviou não
o atrai”. O interessante desta afirmação é que
Jesus a clarifica em seguida : “Não é
que alguém
tenha visto o Pai ”.
Isto nos
estabelece a necessidade de saber entender a forma
em que
Deus intervém em
nossa vida .
sem o impulso
de Deus a fé
se torna impossível .
Sem a resposta
ou a abertura da parte do homem a fé se torna não efetiva. Nisto percebemos que
a fé é um dom de Deus e a resposta do homem simultaneamente. Certamente Deus não
o faz com aparições
e sim no silêncio
da vida cotidiana .
Deus inspira e o homem responde.
Os verbos usados no texto anterior
(Jo 35-40) são ver, vir e crer. E hoje se acrescenta um algo novo: a graça: “Ninguém
pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrai”. “Vir a mim” é outra
forma de crer em Jesus. Mas para vir a Jesus o homem necessita da graça de
Deus: o Pai precisa atrair o homem. Esta afirmação quer dizer que a fé é um dom
de Deus. E esse dom requer uma decisão pessoal. A graça é o papel divino. A
correspondência a esta graça é o papel da liberdade humana. Com esta afirmação
Jesus quer colocar em destaque a necessidade absoluta da graça de Deus: é
necessária uma iluminação interior que vem de Deus para compreender as coisas
de Deus, para vir a Cristo Jesus, para ter a fé. Esta iluminação divina é dada
a todos, mas o homem pode resistir diante dela. É o grande mistério da
responsabilidade livre do homem. Deus propõe e nunca impõe. Isto significa que a
responsabilidade recai sobre o próprio homem. O homem é livre para aceitar ou
para recusar. Mas o próprio homem vai assumir as conseqüências de sua
liberdade, e não Deus porque com sua graça Ele oferece sempre o melhor para o
homem. A partir disso, posso me perguntar: Será que eu escuto o Senhor? Será
que eu respondo à graça de Deus? Será que eu me deixo instruir e a atrair pelo
Pai?
“Só
aquele que vem de junto de Deus viu
o Pai” é outra afirmação de
Jesus no evangelho de hoje. O que significa ver Deus?
A afirmação de Jesus de que vê o Pai
não deve nos conduzir para uma definição da visão beatífica (visões
particulares sobre algo celestial). Para “ver” Deus requer-se somente um
conhecimento particular dos mistérios de Deus. E este conhecimento particular é
que a Bíblia expressa pela metáfora “ver a Deus” (Jo 1,18). Com efeito, “ver a
Deus” na Sagrada Escritura designa uma espécie de proximidade do homem e de
Deus, estando o primeiro (homem) capacitado para compreender o desígnio do
Segundo (Deus). Esta proximidade foi negada para o homem desde a queda (cf. Ex
33,20; 1Rs 19,11-15). Jesus restabelece esta proximidade e esta amizade, pois
Ele vem de Deus e habita entre nós (Jo 1,14).
Precisamos seguir a Jesus vivendo
conforme seus ensinamentos para que sejamos capacitados, de alguma forma, a ter
esta proximidade com Deus para entender um pouco de Seus mistérios na nossa
vida e na história da humanidade. É importante manter nossa disciplina em ler e
meditar a Palavra de Deus para que sejamos inspirados permanentemente.
Em seguida Jesus fez outra
afirmação: “Em verdade, em verdade vos digo,
quem crê possui a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Os vossos pais comeram o
maná no deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desce do céu: quem
dele comer, nunca morrerá. Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste
pão viverá eternamente”.
O primeiro Livro da Bíblia, o
Gênesis, afirma que Deus fez o homem para a imortalidade, pois estava num
jardim onde havia a arvore da vida (cf. Gn 2,8-9). E o último Livro, o
Apocalipse, afirma que Deus voltará a dar esta imortalidade (cf. Ap 2,7.11.17).
Agora Jesus afirma no texto do
evangelho de hoje que esta imortalidade nos é dada de volta pela fé em Jesus e
pela comunhão do Corpo do Senhor. A fé em Jesus supõe a observância de seus
ensinamentos (cf. Jo 14,15.21.23) e supõe a prática do amor fraterno (cf. Jo 15,12).
Nisto ter fé em Jesus significa não parar de existir, pois o amor não pode
morrer porque é o nome próprio de Deus (cf. 1Jo 4,8.16): “Em verdade, em
verdade vos digo, quem crê possui a vida eterna... Eu sou o pão vivo descido do
céu. Quem comer deste pão viverá eternamente” (Jo 6,47.51). O alimento
eucarístico, recebido na fé, põe o fiel em posição, já desde agora, no
presente, de uma vida eterna à qual a morte física não a afeta absolutamente: “Quem
crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11,25).
No final da leitura do evangelho
deste dia mudou o discurso. Começou a soar o verbo “comer”. A nova repetição:
“Eu sou o Pão vivo” tem agora outro desenvolvimento: “O Pão que eu darei é
minha carne para a vida do mundo”. O lugar onde Jesus entregou sua carne
pela vida do mundo foi na cruz. Mas as palavras que seguem, e que leremos
amanhã (Jo 6,52-59) apontam também claramente para a Eucaristia, onde
celebramos e participamos sacramentalmente de sua entrega na cruz. A Eucaristia
é antecipação da glória celestial como dizia Santo Inácio de Antioquia:
“Partimos o mesmo pão que é remédio de imortalidade, antídoto para não
morrer, para viver para sempre em Jesus Cristo”.
Jesus pede a cada um de nós uma
disponibilidade aberta a descobrir, a ler e a encontrar-se com Deus Pai no
interior da própria vida. Isto é que permite abrir-se e deixar-se penetrar por
uma mensagem que mudará a maneira de apreciar a realidade e a vida, de
relacionar-se uns com os outros e de entender Deus e de captar o sentido da
vida e dos seus acontecimentos. Segundo Jesus, há duas coisas que podemos fazer
a partir da cotidianidade: escutar o Pai em Jesus, o Verbo divino feito homem e
reproduzir as obras que Jesus fez através das condições que cada um tem.
“Eu sou o pão vivo descido do céu.
Quem comer deste pão viverá eternamente”. Se comungar o Corpo do Senhor é para viver
eternamente, logo quem comunga o Corpo do Senhor, quem se alimenta da Palavra
de Jesus deve respeitar, proteger e defender a vida em todas as suas etapas: no
seu início (concepção), na sua duração (existência na história) e no seu fim na
história (morte física). Jesus ama a vida, pois Ele é a própria vida (Jo 11,
25; 14,6). Logo, todo cristão deve amar a própria vida e a vida dos demais
homens. Comungar é receber o Corpo de Cristo que se entregou pela vida do
mundo. Por isso, comungar é incorporar-se pessoalmente a Cristo e engajar-se em
sua missão salvadora e em seu sacrifício. A Eucaristia foi instituída à “noite
antes de padecer” para que os discípulos ficassem comprometidos na mesma
entrega que Jesus ia realizar definitivamente no dia seguinte. Comungar não é
só comer e sim é crer e isto significa comprometer-se. Não há nada de
sentimentalismo na comunhão do Corpo do Senhor.
P. Vitus Gustama,svd
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