05/04/2017
PERMANECER
NA PALAVRA DE JESUS QUE LIBERTA
Quarta-Feira
da V Semana da Quaresma
Primeira Leitura: Dn 3,
14-24.49.91-92.95
Naqueles dias, 14 o rei Nabucodonosor tomou a
palavra e disse: “É verdade, Sidrac, Misac e Abdênago, que não prestais culto a
meus deuses e não adorais a estátua de ouro que mandei erguer? 15 E agora,
quando ouvirdes tocar trombeta, flauta, cítara, harpa, saltério e gaitas, e
toda espécie de instrumentos, estais prontos a prostrar-vos e adorar a estátua
que mandei fazer? Mas, se não fizerdes adoração, no mesmo instante sereis
atirados na fornalha de fogo ardente; e qual é o deus que poderá libertar-vos
de minhas mãos?” 16Sidrac, Misac e Abdênago responderam ao rei Nabucodonosor:
“Não há necessidade de respondermos sobre isto: 17se o nosso Deus, a quem
rendemos culto, pode livrar-nos da fornalha de fogo ardente, ele também poderá
libertar-nos de tuas mãos, ó rei. 18Mas, se ele não quiser libertar-nos, fica
sabendo, ó rei, que não prestaremos culto a teus deuses e tampouco adoraremos a
estátua de ouro que mandaste fazer”. 19 A estas palavras, Nabucodonosor
encheu-se de cólera contra Sidrac, Misac e Abdênago, a ponto de se alterar a
expressão do rosto; deu ordem para acender a fornalha com sete vezes mais fogo
que de costume; 20e encarregou os soldados mais fortes do exército para
amarrarem Sidrac, Misac e Abdênago e os lançarem na fornalha de fogo ardente.
24 Os três jovens andavam de cá para lá no meio das chamas, entoando hinos a
Deus e bendizendo ao Senhor. 49aMas o anjo do Senhor tinha descido
simultaneamente na fornalha para junto de Azarias e seus companheiros. 91O rei
Nabucodonosor, tomado de pasmo, levantou-se apressadamente, e perguntou a seus
ministros: “Porventura, não lançamos três homens bem amarrados no meio fogo?”
Responderam ao rei: “É verdade, ó rei”. 92Disse este: “Mas eu estou vendo
quatro homens andando livremente no meio do fogo, sem sofrerem nenhum mal, e o
aspecto do quarto homem é semelhante ao de um filho de Deus”. 95Exclamou
Nabucodonosor: “Bendito seja o Deus de Sidrac, Misac e Abdênago que enviou seu
anjo e libertou seus servos, que puseram nele sua confiança e transgrediram o
decreto do rei, preferindo entregar suas vidas a servir e adorar qualquer outro
Deus que não fosse o seu Deus.
Evangelho: Jo 8, 31-42
Naquele tempo, 31Jesus disse aos
judeus que nele tinham acreditado: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis
verdadeiramente meus discípulos, 32e conhecereis a verdade, e a
verdade vos libertará”. 33Responderam
eles: “Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém. Como
podes dizer: ‘Vós vos tornareis livres’?” 34Jesus respondeu: “Em verdade, em
verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35O
escravo não permanece para sempre numa família, mas o filho permanece nela para
sempre. 36Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente
livres. 37Bem sei que sois descendentes de Abraão; no entanto,
procurais matar-me, porque a minha palavra não é acolhida por vós. 38Eu
falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai”. 39Eles responderam então: “Nosso
pai é Abraão”. Disse-lhes Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras
de Abraão! 40Mas agora, vós procurais matar-me, a mim, que vos falei
a verdade que ouvi de Deus. Isto, Abraão não o fez. 41Vós fazeis as
obras do vosso pai”. Disseram-lhe,
então: “Nós não nascemos do adultério, temos um só pai: Deus”. 42Respondeu-lhes
Jesus: “Se Deus fosse vosso Pai, certamente me amaríeis, porque de Deus é que
eu saí, e vim. Não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou”. (Jo 8,31-42)
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Os Justos De Deus São
Valentes Em Qualquer Situação de Vida
Nos tempos do rei Antíoco IV Epifânio, os
judeus eram obrigados a adorar os deuses pagãos e a seguir as leis ou
prescrições que Antíoco lhes dava.
O rei manda erguer em sua honra uma estátua colossal
de 30 metros de altura e 3 metros de largura para ser adorada por todos os povos.
Os babilônios notaram a ausência dos judeus
no ato de adoração da estátua aceito por todos os povos. Foram ao rei para
denunciar os judeus. Na sua presença, Nabucodonosor ordena os judeus a catarem
a ordem que de outro modo serão castigados: “Se não fizerdes adoração, no mesmo instante sereis atirados na fornalha
de fogo ardente; e qual é o deus que poderá libertar-vos de minhas mãos?”. Esta
frase soa nos ouvidos do fieis judeus a blasfêmia e por isso, com toda
integridade proclamam que têm fé em seu Deus que poderá livrá-los do fogo
ardente: “Se o nosso Deus, a quem
rendemos culto, pode livrar-nos da fornalha de fogo ardente, ele também poderá
libertar-nos de tuas mãos, ó rei”. Notamos nesta narração que Nabucodonosor
não reconhece a superioridade do Deus dos judeus.
Os mais piedosos judeus não obedeceram à
ordem do rei. Conseqüentemente, alguns foram torturados, inclusive os três
jovens. Os “três jovens” do livro de Daniel são extraordinariamente valentes.
Eles encontram o sentido de sua vida em Deus, e por isso, não aceitam a ordem
para adorar os deuses pagãos, pois eles encontraram em Deus sua razão de viver.
O que quer se enfatizar na narração dos três jovens
que se encontram no fogo ardente e são salvos é ressaltar a providência, proteção
e a justiça divinas. Os três jovens representam os justos de Deus. Os justos
são aqueles que em meio do fogo das provas e perseguições mantêm a fidelidade e
a confiança em Deus, que os faz livres. Os três jovens são imagem do povo fiel
que persevera na alegria apesar das dificuldades porque sabem em quem acreditam
e se apoiam: em Deus.
Nisto aprendemos que em nome de nada podemos
abrir mão de nossos valores e de nossa fé no Deus da vida. Tem valores, que
apesar dos problemas e dificuldades, dos quais não podemos abrir mão.
Precisamos depositar nossa confiança em Deus em qualquer situação. Sempre há
providencia divina, como o anjo que Deus mandou libertar os três jovens, seus
justos. “É preciso obedecer a Deus (viver conforme os valores) antes de obedecer
aos homens” (At 5,29). O Deus que libertou os três jovens do fogo de um
forno, também nos libertará de qualquer sufoco. Deus nunca abandona quem Lhe é
fiel. Basta crer n’Ele. É preciso crer n’Ele. Não tenha medo nem dúvida de crer
n’Ele. É preciso continuar a vivermos de acordo com a bondade de Deus. “Não
devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura” (Papa Francisco). É preciso
nos manter justos, como os três jovens do livro de Daniel.
Se soubermos em quem acreditamos e que Aquele
em quem acreditamos está acima de tudo, as tribulações, as angústias, as provas
perderão suas forças contra nós ou diante de nós. Deus ajuda os fieis e lhes dá
força de que necessitam na luta contra o mal. Por isso, os três irmãos são
livres de tudo. Com Deus venceremos apesar das provações e de todo tipo de
dificuldades.
Permanecer Em Jesus Nos
Faz Conhecer a Vontade de Deus Sobre nós
“Se permanecerdes na minha palavra, sereis
verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
No evangelho lido neste dia destacam-se três
temas fundamentais: a fidelidade, a liberdade e a filiação. Seguir Jesus
implica manter-se fiel à Sua Palavra, de modo que o verdadeiro cristão já não é
somente aquele que crê, mas, sobretudo, aquele que escuta, vive e dá testemunho
da Palavra. A Palavra de Deus leva o cristão a conhecer a verdade.
“Se permanecerdes na minha palavra, sereis
meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará”.
“Se permanecerdes...”.
O verbo “permanecer” se encontra frequentemente no evangelho de João
(especialmente no discurso da despedida) e nas cartas de Joao. Aqui “permanecer”
tem um significado escatológico e decisivo. Quando essa ligação (permanência) é
cortada (por apostasia, abandono, deserção etc.) abandona-se também o âmbito salvífico,
isto é, fica fora da salvação. Este “permanecer na palavra de Jesus” é o
distintivo do verdadeiro seguidor de Jesus. Para o evangelista Joao ser discípulo
consiste essencialmente no fato de que o seguidor se orienta pela palavra de
Jesus como única e definitiva norma.
“... Conhecereis
a verdade
e a verdade vos libertará”. São João não fala de uma verdade abstrata com
que o homem encontra e satisfaz seu desejo de saber. Mas trata-se da máxima
verdade concreta na pessoa de Jesus. Para são João a verdade é vinculada total
e absolutamente à pessoa de Jesus. Por isso, Jesus não é somente o Mestre de
uns princípios verdadeiros, nem é somente o Portador de uma verdade de
revelação que pode expor-se como uma doutrina e sim, Jesus é, pessoalmente “o
Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).
Para o homem a única verdade é a plenitude de
vida; trata-se de ter uma vida de qualidade humana e divina, ao mesmo tempo,
que contém no projeto de Deus realizado em e por Jesus. Por isso, aqui a
verdade não é somente no sentido de um saber prático e útil, ou de um puro
conhecimento intelectual da verdade, mas aqui trata-se da claridade suprema
daquela verdade que proporciona ao homem o sentido último sobre si mesmo que,
por conseguinte, possibilita um conhecimento salvífico. E essa verdade está orientada
para a ética, a vida e o amor.
O feito dessa verdade é a liberdade radical
outorgada ao homem pela fé em Deus e em Jesus Cristo. A experiência de salvação
e a experiência de libertação.
A Palavra de Jesus é como um espaço vital em
que o homem há de manter-se sempre. A Palavra de Jesus é como um sinal para a
vida dos cristãos: o sinal único e definitivo. É a norma suprema na qual o
cristão aposta sua vida e sua salvação, pois a Palavra de Deus será a ultima
palavra para o homem.
Para o cristão fiel Jesus promete o
conhecimento da verdade e da liberdade: “conhecereis a verdade e a verdade
vos libertará”. Para João a verdade
está vinculada total e absolutamente à pessoa de Jesus, pois ele é “o Caminha,
a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). O efeito imediato da experiência do cristão da
verdade é a libertação e a liberdade.
Mas não se trata de uma libertação política ou social, mas trata-se da
libertação definitiva diante das potências da morte, do pecado, das trevas às
quais o homem sucumbe. Trata-se da libertação do homem de si mesmo. Esta é a
liberdade radical outorgada ao homem pela fé em Jesus. No fundo se identificam
experiência de salvação e experiência de liberdade. Por isso, a liberdade que
Jesus comunica ultrapassa a mera possibilidade de opção, mas situa o homem na
sua verdadeira dignidade: o faz partícipe da liberdade do Pai.
Jesus é perfeitamente livre, porque é
perfeitamente Filho. Ama seu Pai. Fala dele sem cessar. É livre porque ama: não
está apegado a si mesmo. Jesus é livre diante de sua família, dos seus
discípulos, das autoridades. É livre para anunciar e denunciar. Segue seu
caminho com fidelidade, com alegria, com liberdade interior. Quando estava no
meio do julgamento, Jesus era muito mais livre do que o próprio Pilatos. Nada
lhe detém. Não há nenhum egoísmo, nenhum obstáculo ao amor. Isto significa que
o amor de Deus vivido profundamente faz o cristão livre de tudo, como Jesus
Cristo. É o único meio de não estar submetido a nada. Ser livres significa ser
filhos, não escravos, na família de Deus. Para João, pecar é converter-se em
escravo: ter por pai o “pai da mentira”. Jesus é a Verdade (Jo 14,6), e por
isso, só ele pode dar a verdadeira liberdade.
Celebrar a Páscoa é celebrar a liberdade dada
pelo Senhor ressuscitado. A Páscoa de Jesus quer ser para nós um crescimento na
liberdade interior, pois a Páscoa é a festa da libertação. Em meio de um mundo
que nos oferece muitos “valores”, mas também nos tenta com contra-valores que
nos levam irremediavelmente à escravidão, Jesus nos convida a sermos livres. Para
viver em Deus, como filhos e filhas, não basta querer, pedir e buscar liberdade
econômica, política, cultural, religiosa; é indispensável a libertação do
pecado. É preciso para de fazer o outro sofrer e a si mesmo. É preciso saber se
cuidar para poder cuidar dos demais. “Guardar a criação, cada homem e cada
mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é
abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança!”
(Papa Francisco).
P. Vitus Gustama,svd
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