04/04/2017
Naqueles dias, 4 os filhos de Israel partiram do monte Hor, pelo caminho
que leva ao Mar Vermelho, para contornarem o país de Edom. Durante a viagem, o
povo começou a impacientar-se, 5 e se pôs a falar contra Deus e contra Moisés,
dizendo: “Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto? Não
há pão, falta água, e já estamos com nojo desse alimento miserável”. 6 Então
o Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas, que os mordiam; e morreu
muita gente em Israel. 7 O povo foi ter com Moisés e disse: “Pecamos, falando
contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que afaste de nós as serpentes”.
Moisés intercedeu pelo povo, 8 e o Senhor respondeu: “Faze uma serpente
abrasadora e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e
olhar para ela viverá”. 9 Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e
colocou-a como sinal sobre uma haste. Quando alguém era mordido por uma
serpente, e olhava para a serpente de bronze, ficava curado.
Naquele tempo disse
Jesus aos fariseus : 21“Eu parto , e vós me
procurareis, mas morrereis no vosso pecado . Para onde eu vou, vós não podeis ir ”. 22Os judeus comentavam: “Por acaso ,
vai-se matar ? Pois ele diz: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir ’?” 23Jesus continuou: “Vós sois daqui debaixo , eu sou do alto .
Vós sois deste mundo ,
eu não
sou deste mundo . 24Disse-vos
que morrereis nos
vossos pecados ,
porque , se não
acreditais que eu
sou, morrereis nos vossos
pecados ”. 25Perguntaram-lhe pois : “Quem és tu , então ?”
Jesus respondeu: “O que vos digo, desde
o começo . 26Tenho muitas coisas a dizer a vosso respeito ,
e a julgar , também .
Mas aquele
que me
enviou é fidedigno , e o que ouvi da parte
dele é o que falo
para o mundo ”.27Eles não
compreenderam que lhes
estava falando do Pai . 28Por isso , Jesus
continuou: “Quando tiverdes elevado
o Filho do Homem ,
então sabereis que
eu sou, e que
nada faço por
mim mesmo ,
mas apenas
falo aquilo
que o Pai
me ensinou. 29Aquele que me enviou está comigo .
Ele não
me deixou sozinho ,
porque sempre
faço o que é de seu
agrado ”. 30Enquanto Jesus assim
falava, muitos acreditaram nele.
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É Preciso Olhar Para Deus a Fim De Entendermos
o Sentido Do Que Se Passa No Mundo e Na Nossa Vida
“Faze uma serpente abrasadora e coloca-a como sinal sobre uma haste;
aquele que for mordido e olhar para ela viverá”, disse
Deus a Moisés.
Na travessia do deserto rumo à Terra prometida
os hebreus, fatigados e insatisfeitos com o maná de pouco valor nutritivo,
protestaram contra Deus e Moisés dizendo: “Por
que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto? Não há pão, falta
água, e já estamos com nojo desse alimento miserável”.
Deus, em castigo, enviou-lhes
serpentes venenosas: “Então o
Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas, que os mordiam; e morreu muita
gente em Israel”. Reconhecendo nas serpentes venenosas um castigo,
os hebreus pedem a Moisés que lhes livre desta praga. Deus dá, então, a
seguinte ordem a Moisés: “Faze
uma serpente abrasadora e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for
mordido e olhar para ela viverá”.
O que podemos ver neste relato é
um vestígio da ofiolatria (do grego: ophis
+ latrea), isto é, a adoração das serpentes ou o culto às
serpentes entre os orientais. Em Gezer
foi encontrada uma serpente metálica, e em Susa e na Babilônia foram
descobertos diversos amuletos em forma de serpente. A serpente sempre foi
relacionada à medicina, porque a ela se atribuíam determinadas virtudes
curativas. Dai se deduz que o hagiógrafo ou o autor sagrado associa estes
restos metálicos daquela região com um milagre de Moisés relacionado com as
mordidas das serpentes.
Mas o autor sagrado não atribui um
valor mágico à serpente de bronze levantada por Moisés e sim que vê nela
(serpente de bronze) um símbolo do poder curativo e salvífico de Deus. O autor
do Livro da Sabedoria fez a exegese desta passagem bíblica: “Efetivamente, quando o cruel furor dos
animais os atingiu também, e quando pereceram com a mordedura de sinuosas
serpentes, vossa cólera não durou até o fim. Foram por pouco tempo
atormentados, para sua correção: eles possuíram um sinal de salvação que lhes lembrava
o preceito de vossa lei. E quem se voltava para ele era salvo, não em vista do
objeto que olhava, mas por vós, Senhor, que sois o Salvador de todos” (Sb
16,5-7). E Jesus Cristo alude ao fato do deserto e vê na serpente
levantada por Moisés um tipo de Sua elevação na Cruz: “Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho
do Homem, para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna” (Jo
3,14-15). Em todo caso, Moisés, ao levantar a serpente, quer destacar e
simbolizar a onipotência de Deus que cura e salva os hebreus e não um
procedimento mágico.
A serpente foi sempre símbolo de
espanto. É um animal sinuoso e deslizante e por isso é difícil de pegar, mas
que ataca por surpresa e cuja mordida é venenosa e fatal. É assim a “mordida”
do pecado na nossa vida: mortal, e exclusão eterna da salvação se não voltarmos
para Deus. A serpente de bronze levantada para ser olhada pelos hebreus para
não serem mordidos pelas serpentes pode ser entendida como uma volta para Deus
ao reconhecer o próprio pecado e invocar a ajuda de Deus, como reza o Salmista:
“Ouvi, Senhor, e escutai minha oração, e
chegue até vós o meu clamor! De mim não oculteis a vossa face no dia em que
estou angustiado! Inclinai o vosso ouvido para mim, ao invocar-vos atendei-me
sem demora!” (Salmo responsorial de hoje). Ninguém se salva magicamente e
sim pela fé que se traduz nas obras boas pelo bem da humanidade. O próprio
Jesus afirma no evangelho de hoje: “Vós
morrereis no vosso pecado”. Esta afirmação se refere à perda da salvação. O
pecado é a incredulidade e este é identificado pelo evangelista João com a
perda da salvação, com a própria morte. A salvação está na comunhão de vida com
Jesus. A desgraça ou a condenação está na separação definitiva de Jesus. A
incredulidade como atitude básica e permanente exclui o homem da salvação, da
vida eterna.
“Quando tiverdes
elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou”, disse
Jesus
A controvérsia entre Jesus e seus
adversários que
começou em Jo 7 continua. Os adversários continuam a não
aceitar Jesus como
o Enviado de Deus
para salvar o mundo .
No texto do evangelho de hoje
Jesus usa a expressão
“Eu sou”. Para
o Povo eleito ou
para a tradição
judaica a expressão
“Eu sou” evoca o nome
divino revelado a Moisés na sarça ardente : “EU
SOU Aquele que
é” (Ex 3,14). Para
os fariseus ao usar
a expressão “EU
SOU” Jesus se iguala a Deus e isso é uma verdadeira blasfêmia
para eles . Eles não
aceitam que Jesus se iguale a Deus e por isso , eles
perguntam a Jesus: “Quem és tu ?”.
Ao afirmar para
si próprio como “EU SOU”
Jesus quer revelar
aos seus adversários
sua radical
e profunda comunhão
com o Pai
(cf. Jo 17,21-23). Jesus está tão unido
ao Pai a ponto
de dizer que não poderia viver sem fazer a vontade do Pai : “Meu
alimento é fazer a vontade daquele que
me enviou e cumprir
a sua obra ”
(Jo 4,34; cf.). Sinal da profunda comunhão
com o Pai
é o trabalho de Jesus em
salvar ou em fazer o bem
para todos os
homens , especialmente
para os excluídos e abandonados. Jesus passou a vida fazendo o bem (cf. At
10,38).
“Se não
acreditais que eu
sou morrereis nos vossos
pecados ”, diz nos
Jesus hoje .
Esta afirmação de Jesus se refere à perda
da salvação. O pecado é a incredulidade e o pecado
para o evangelista
se identifica com a perda
da salvação, igual à própria morte . Assim como a
salvação está na comunhão de vida com Jesus,
assim a desgraça
ou condenação
está na separação definitiva
de Jesus. Por isso ,
Jesus diz: “Para onde
eu vou, vós
não podes ir ”.
Para a incredulidade
não há consumação
alguma da comunhão com
Jesus. Esta consumação da comunhão acontecerá somente
para os que
crêem em Jesus. Para
estes é que
Jesus promete: “Vou preparar um
lugar para vós e assim que estiver preparado
um lugar
para vós
voltarei e vos levarei comigo a fim de
que onde
estiver estejais vós também ” (Jo 14,3). A incredulidade
como atitude básica e permanente
exclui o homem da salvação, da vida eterna .
“Vós
sois daqui de baixo , eu sou do alto .
Vós sois deste mundo ,
eu não
sou deste mundo ”, diz Jesus aos seus inimigos . Estas palavras
confirmam a diferença essencial que
há entre Jesus e o mundo ,
precisamente na origem
diferente . O mundo
ao qual Jesus se opõe é o mundo sem referência a Deus .
Este tipo
de mundo pode estar
presente tanto
no interior da Igreja
como fora
dela. Assim como
o mundo de Deus
pode estar presente tanto na Igreja
como fora
dela. A fronteira dos dois
mundos não
coincide com as fronteiras
do cristianismo , pois
um cristão
pode ser um pagão a partir de seu modo de viver e um pagão pode ser um cristão por causa de seu modo de viver com os demais (cf. Mt 8,5-10). Jesus, o revelador do Pai ,
pertence por
completo à esfera
divina . A esfera
divina pertence
também aos que
acreditam em Jesus Cristo .
Enquanto que
os incrédulos ficam excluídos da mesma . Além
disso, por si
mesma , a incredulidade
não pode superar
sua origem
de “baixo ”.
“Quando
tiverdes elevado o Filho
do Homem , então ,
sabereis que eu
sou”, diz
Jesus. Este elevar
do Filho do Homem
é a exaltação de Jesus mediante sua morte na cruz . Com esta conexão
estabelecida entre a cruz e a afirmação “Eu
Sou” fica definitivamente claro onde há que buscar e encontrar o lugar da
presença salvadora de Deus :
em Cristo
crucificado. Atrás da Cruz há vida e
salvação. Jesus se torna o novo lugar da presença de Deus em quem Deus sai ao encontro
do homem dando-lhe a salvação e a vida . Trata-se aqui
da fé : do reconhecimento
ou do não
reconhecimento dessa presença
de Deus em
Jesus. Por isso ,
a pergunta dos judeus
da época “quem
és tu ?” leva
consigo a renunciar
a crer . Rejeitar Cristo que é a vida , luz e
salvação, supõe optar pela
morte , as trevas
e a ruína eterna .
“Vós
sois daqui de baixo ”. Os que
daqui de baixo , os do mundo se deixam levar pelas
paixões desordenadas e pelo
espírito mesquinho
de intolerância , mostrando-se insensíveis em relação aos mais
pequeninos , e não
suportando quem lhes
aponta os pecados , não
se dão conta do desígnio
divino . São
Paulo nos relembra muito
bem ao diz er
aos filipenses: “Já vos disse muitas vezes ,
e agora o repito, chorando: há muitos por aí que se
comportam como inimigos
da cruz de Cristo .
O fim deles é a perdição ,
o deus deles é o ventre ,
a glória deles está no que é vergonhoso .
Apreciam só as coisas
terrenas! Nós , ao contrário ,
somos cidadãos do céu .
De lá aguardamos como
salvador o Senhor Jesus Cristo . Ele
transformará o nosso pobre corpo ,
tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso , graças
ao poder que
o torna capaz
também de sujeitar
a si todas as coisas ”
(Fl 3,18-21). Que
não sejamos inimigos
da Cruz de Jesus.
“Ser elevado” (Jo 8,28) tem um duplo sentido de morte e de
exaltação. O Filho do Homem (Jesus) aprendeu do Pai sua oposição à injustiça;
sua morte demonstrou sua plena coerência, a morte de um amor que chega a dar a
vida e com ela, sua missão divina. Jesus nunca
se acovarda (Jo 8,29) porque o Pai o acompanha e apóia. Como você se avalia a partir de
Jesus Cristo a Quem você segue?
P. Vitus Gustama,svd
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