Domingo, 02/04/2017
VITÓRIA DA VIDA SOBRE A
MORTE
V DOMINGO DA QUARESMA DO ANO “A”
I
Leitura: Ez 37,12-14
12 Assim fala o Senhor
Deus: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra
de Israel; 13 e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas,
sabereis que eu sou o Senhor. 14 Porei em vós o meu espírito, para que vivais e
vos colocarei em vossa terra. Então sabereis que eu, o Senhor, digo e faço —
oráculo do Senhor”.
II
Leitura: Rm 8,8-11
Irmãos: 8Os que vivem segundo a carne não
podem agradar a Deus. 9Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito,
se realmente o Espírito de Deus mora em vós. Se alguém não tem o Espírito de
Cristo, não pertence a Cristo. 10Se, porém, Cristo está em vós, embora vosso
corpo esteja ferido de morte por causa do pecado, vosso espírito está cheio de
vida, graças à justiça. 11E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre
os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os
mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que
mora em vós.
Evangelho:
Jo 11,1-45
Naquele tempo: 1 Havia um doente, Lázaro, que era de
Betânia, o povoado de Maria e de Marta, sua irmã. 2 Maria era aquela que ungira
o Senhor com perfume e enxugara os pés dele com seus cabelos. O irmão dela,
Lázaro, é que estava doente. 3 As irmãs mandaram então dizer a Jesus: 'Senhor,
aquele que amas está doente.' 4 Ouvindo isto, Jesus disse: 'Esta doença não
leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja
glorificado por ela.' 5 Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de
Lázaro. 6 Quando ouviu que este estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no
lugar onde se encontrava. 7 Então, disse aos discípulos: 'Vamos de novo à Judéia.'
8 Os discípulos disseram-lhe: Mestre, ainda há pouco os judeus queriam
apedrejar-te, e agora vais outra vez para lá?' 9 Jesus respondeu: 'O dia não
tem doze horas? Se alguém caminha de dia, não tropeça, porque vê a luz deste
mundo. 10 Mas se alguém caminha de noite, tropeça, porque lhe falta a luz'. 11
Depois acrescentou: 'O nosso amigo Lázaro dorme. Mas eu vou acordá-lo.' 12 Os
discípulos disseram: 'Senhor, se ele dorme, vai ficar bom.' 13 Jesus falava da
morte de Lázaro, mas os discípulos pensaram que falasse do sono mesmo. 14 Então
Jesus disse abertamente: 'Lázaro está morto. 15 Mas por causa de vós, alegro-me
por não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos para junto dele'. 16 Então
Tomé, cujo nome significa Gêmeo, disse aos companheiros: 'Vamos nós também para
morrermos com ele'. 17 Quando Jesus chegou, encontrou Lázaro sepultado havia
quatro dias. 18 Betânia ficava a uns três quilômetros de Jerusalém. 19Muitos
judeus tinham vindo à casa de Marta e Maria para as consolar por causa do
irmão. 20 Quando Marta soube que Jesus tinha chegado, foi ao encontro dele.
Maria ficou sentada em casa. 21 Então Marta disse a Jesus: 'Senhor, se tivesses
estado aqui, meu irmão não teria morrido. 22 Mas mesmo assim, eu sei que o que
pedires a Deus, ele to concederá.' 23 Respondeu-lhe Jesus: 'Teu irmão
ressuscitará.' 24 Disse Marta: 'Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no
último dia.' 25 Então Jesus disse: 'Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em
mim, mesmo que morra, viverá. 26E todo aquele que vive e crê em mim, não
morrerá jamais. Crês isto?' 27 Respondeu ela: 'Sim, Senhor, eu creio firmemente
que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo.' 28 Depois de ter
dito isto, ela foi chamar a sua irmã, Maria, dizendo baixinho: 'O Mestre está
aí e te chama'. 29 Quando Maria ouviu isso, levantou-se depressa e foi ao
encontro de Jesus. 30Jesus estava ainda fora do povoado, no mesmo lugar onde
Marta se tinha encontrado com ele. 31 Os judeus que estavam em casa
consolando-a, quando a viram levantar-se depressa e sair, foram atrás dela,
pensando que fosse ao túmulo para ali chorar. 32 Indo para o lugar onde estava
Jesus, quando o viu, caiu de joelhos diante dele e disse-lhe: 'Senhor, se
tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido.' 33 Quando Jesus a viu
chorar, e também os que estavam com ela, estremeceu interiormente, ficou
profundamente comovido, 34 e perguntou: 'Onde o colocastes?' Responderam: 'Vem
ver, Senhor.' 35 E Jesus chorou. 36 Então os judeus disseram: 'Vede como ele o
amava!' 37 Alguns deles, porém, diziam: 'Este, que abriu os olhos ao cego, não
podia também ter feito com que Lázaro não morresse?' 38 De novo, Jesus ficou
interiormente comovido. Chegou ao túmulo. Era uma caverna, fechada com uma
pedra. 39 Disse Jesus: 'Tirai a pedra'! Marta, a irmã do morto, interveio:
'Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias.' 40 Jesus lhe respondeu:
'Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?' 41 Tiraram então a
pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: 'Pai, eu te dou graças porque
me ouviste. 42 Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo
que me rodeia, para que creia que tu me enviaste.' 43 Tendo dito isso, exclamou
com voz forte: 'Lázaro, vem para fora!' 44 O morto saiu, atado de mãos e pés
com os lençóis mortuários e o rosto coberto com um pano. Então Jesus lhes
disse: 'Desatai-o e deixai-o caminhar!' 45 Então, muitos dos judeus que tinham
ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele.
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Os três momentos da fé: conversão, iluminação e comunhão (de
vida) ficam claramente destacados através dos três domingos de escrutínios. A
Samaritana (III Domingo da Quaresma) é, sobretudo, a conversão. O cego de
nascença (IV Domingo da Quaresma) é iluminação. E a ressurreição de Lázaro
destaca a vida nova que nos vem da comunhão com o Senhor morto e ressuscitado.
A característica desta quinzena que se inicia com o Quinto
Domingo de Quaresma, na liturgia romana, é a atenção intensificada para o
mistério da Paixão do Senhor. A Cruz de Cristo vai se convertendo
progressivamente no único centro de atenção, seja nas leituras semanais, seja
nos textos eucológicos, isto é, o conjunto de orações de um livro litúrgico (veja,
por exemplo, a oração de coleta deste V Domingo da Quaresma), seja na liturgia
das Horas, seja no uso do prefácio I da Paixão.
Da perspectiva do itinerário catecumenal, a contemplação da
Cruz de Cristo é decididamente vivificante, porque pela comunhão com a Cruz e o
sepultamento de Cristo, realizada sacramentalmente no Batismo, o catecúmeno
(neófito) entra na vida nova escondida com Cristo em Deus.
A maioria dos seres humanos estão mortos em um ou em outro
grau. De uma ou de outra forma perderam seus sonhos, suas ambições, seu desejo
de uma vida melhor. Eles se estabeleceram em uma vida de mediocridade, dias de
desespero e noites de insônias e de lagrimas. Não são mais que mortos viventes
confinados a cemitérios de sua escolha. Mas eles necessitam sair deste estado.
A exemplo de Lázaro que voltou a viver depois de quatro dias dentro do túmulo,
todos podem regressar da morte para a vida.
Através do evangelho deste V Domingo da Quaresma em que o
Senhor ressuscitou Lázaro, Jesus quer que optemos pela vida. Optar pela vida
significa dizer não à morte em qualquer instância e em qualquer de suas formas;
significa dizer não: ao aborto provocado, à violência, ao assassinato, à
agressividade verbal e física, a uma vida deteriorada em sua qualidade, ao
desespero e à desesperança, à contaminação e destruição da natureza e assim por
diante. Optar pela vida significa dizer sim ao homem como valor supremo, a uma
paternidade ou maternidade responsável, a uma distribuição justa dos bens da
terra, a um progresso que melhore a qualidade de vida, aos movimentos
pacifistas e ecologistas, a Deus e à vida que não termina com a morte, pois
Deus é a Vida, por excelência.
Estendamos um pouco mais nossa reflexão através dos
seguintes tópicos: ressurreição e retorno à vida, Jesus é nosso
Amigo que nos ama, Jesus é a Ressurreição e a Vida,
oração de ação de graças de Jesus, e com Jesus somos capazes de tirar nossas
pedras de nosso caminho de crescimento na direção de Deus.
Ressurreição
e Retorno À Vida
A ressurreição (reanimação/retorno à vida) de Lázaro é o
sétimo sinal realizado por Jesus no Evangelho de João. A “reanimação” /o retorno
de Lázaro à vida é o último e maior dos “sinais” realizados pelo Jesus
joanino. O retorno de Lázaro à vida é o
mais alto dos sinais (milagres) porque aqui não se trata da cura de uma doença,
mas da “ressurreição” de um morto que já havia sido enterrado há quatro dias.
Estamos, sem dúvida nenhuma, diante do sinal mais importante, porque ele toca o
cerne da fé, já que mostra a vitória da vida sobre a morte, a última inimiga (cf.
1Cor 15,26). Este último sinal ocupa o centro do evangelho de João. Ele encerra
o Livro dos sinais (a primeira parte do evangelho de Jo: Jo 1,19-12,50) e abre o Livro da glória (a segunda parte do evangelho de Jo: Jo 13,1-20,29).
Nota-se facilmente um crescendo destes sinais que vai desde
o primeiro até o último sinal. Neste sétimo ou último sinal alcançam os sinais
sua cota mais elevada. O primeiro sinal tem como base os elementos materiais,
água e vinho,(Jo 2,1-11); o segundo acentua a cura a distância(Jo 4,46-54); o
terceiro insiste na infusão de uma vida nova no organismo paralisado(Jo
5,1ss); no quarto e no quinto vem a
continuação a saciedade da fome profunda do homem por aquele que se apresenta
como “Eu Sou”(Jo 6); no sexto, põe-se em cena a iluminação da existência
humana, em que Jesus se autodefine como Luz (Jo 9,1ss) para chegar à
proclamação da vida sobre a morte(sétimo sinal), a vitória da vida sobre a
morte(Jo 11,1ss), “o último inimigo a ser derrotado” (1Cor 15,26).
Muitos autores concordam que neste sétimo sinal não se
trata da ressurreição, mas de “reanimação de Lázaro” ou de “retorno” de Lázaro
à vida”, pois ele, de fato, apenas volta à vida terrena, e já deverá morrer de
novo (leia também outros relatos similares: 1Rs 17,17-24: Elias reanima o filho da viúva de Sarepta; 2Rs 4,18-37: Eliseu reanima o filho da Sunamita; Mc
5,22-43 par.: Jesus reanima a filha de
Jairo; Lc 7,11-17: Jesus reanima o filho da viúva de Naim;
At 9,36-42: Pedro reanima a Tabita;
20,9ss: Paulo reanima Eutico).
O termo “ressurreição” é impróprio usado neste relato
porque, segundo o dado bíblico, é reservado à passagem da morte ocorrida para a
vida que não mais termina; não pode designar a volta à vida deste mundo.
Teologicamente, a ressurreição é um fato definitivo.
O motivo teológico dos relatos de ressurreição de mortos é
evidentemente o de assinalar a Jesus como Vencedor do poder da morte. A fé
atribui esse poder a Jesus. Acreditar ou permanecer em Jesus significa viver
para sempre. A morte é apenas uma passagem para uma vida de alta qualidade:
estar eternamente com o Deus da Vida eterna.
Neste relato percebe-se a fé das comunidades joaninas em
Jesus que é a Ressurreição e a Vida. Por trás do relato da “ressurreição” de
Lázaro está a primitiva fé pascal dos cristãos, a confissão de fé no Ressuscitado
e em sua presença permanente na Igreja e a participação dos cristãos na
ressurreição pela fé no Ressuscitado. A ressurreição de Jesus é, por isso, a
pedra angular de toda a fé cristã (leia 1Cor 15).
A narração da ressurreição de Lazaro é um verdadeiro
prelúdio para a Paixão de Jesus. O evangelista João quer dizer aos leitores,
com esta narração, que o caminho de Jesus não é definitivamente um caminho para
a morte e sim um caminho, que através da morte, conduz para a glorificação, à
ressurreição e à vida. A ressurreição de Lazaro antecipa a ressurreição de
Jesus e sinaliza para todos os cristãos que a vida não termina com a morte,
pois Jesus Cristo em quem acreditamos é a “Ressurreição e Vida”.
O que é proposto pelo evangelista João ao leitor, ao
apresentar esse episódio, não é crer em Jesus grande taumaturgo, e sim crer em
Cristo que é para todos os homens “a ressurreição e a vida”, e que ele o é por
sua própria passagem pela morte. Jesus em pessoa é a ressurreição e a vida. Ele
é quem dá a vida eterna àqueles que crêem nele. A vida que ele dá, então, não é
a vida humana comum; é a vida de Deus, a vida eterna, transmitida no presente
aos crentes que aceitam Jesus, o Cristo, o Filho de Deus (cf. Jo 20,31; veja também Jo 10,10). Esta vida de Deus, a vida eterna passa a ser dada
diretamente e por inteiro no nível físico a quem crê, graças à presença de
Jesus, Ressurreição e Vida. Por isso, este último sinal é qualificado como o
maior, o mais extraordinário símbolo da vida divina de Jesus que se oferece
àquele que crê nele.
“Desatai-o e deixai-o caminhar” (v.44). Com esta ordem de
Jesus termina o relato. As ataduras nas mãos e nos pés e sobre o sudário no
rosto acentuam o significado da morte. A morte mantém os homens cegos, mudos e
surdos, atados e asfixiados. É a missão da comunidade cristã, dos que estão ao
redor de Jesus, cumprir o seu mandato de libertar os que estão impedidos de ver
e de andar e fazer com que as pessoas vivam livremente. Para isso, os
discípulos têm de entregar voluntariamente sua vida por amor a Deus e aos
homens, como Jesus a entregou e permanecer em Jesus em todos os momentos de sua
vida.
Jesus - Amigo Que Nos Ama
No texto do evangelho de hoje são apresentados Lázaro,
Marta e Maria como personagens conhecidos do leitor. Eles também são amigos de
Jesus, pois freqüentemente Jesus se hospeda em Betânia onde os três moram (cf.
Mc 11,11;14,3; Lc 10,38-42). E Jesus se encontra na Transjordânia, a uma
jornada de caminho de Betânia.
A mensagem das irmãs de Lázaro endereçada ao “Senhor”,
mostra que elas são discípulas de Jesus; limitando-se a informá-lo: “Senhor, aquele que Tu amas está doente”
(Jo 2,3). Através desta informação sabemos que Lázaro é amigo de Jesus: “Aquele
que Tu amas está doente”. É um pedido
semelhante ao que mãe de Jesus fez em Caná:
“Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3). Implicitamente, elas queriam que Jesus
fosse logo visitar o doente para curá-lo (Jo 11,21.32). Mas, ao mesmo tempo,
elas confiam e esperam, deixando que o próprio Jesus decida o que fazer, o
quando e o como. Entre amigos sempre tem uma mútua compreensão sem nenhuma
necessidade de muitos detalhes ou explicações.
“Esta doença não leva à morte, mas é para a
glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”, afirma
Jesus diante da morte de Lázaro. Este sinal (milagre) glorificará a Jesus não
no sentido de que o povo se sentirá admirado, e sim porque provocará a morte de
Jesus que é um passo necessário para chegar à sua glorificação (Jo
12,23s;17,1).
Isto quer nos dizer que a doença de Lázaro (e, depois, sua
morte e “ressurreição”) é destinada a se tornar lugar de revelação, lugar no
qual o poder de Deus se manifesta como ressurreição, como vitória da vida sobre
a morte. A doença não somente é destinada a revelar o Pai, mas ainda a revelar
a glória do Filho, isto é, sua vitória sobre a morte. Para João, Jesus parece
esperar que seu amigo doente esteja realmente morto (vv.5.17.39). Deste modo,
ele quer revelar seu domínio sobre a morte no momento em que esta vai
apoderar-se de Lázaro. O sinal do retorno de Lázaro à vida tem lugar não
somente em razão do amor de Jesus por seus amigos, mas para manifestar a glória
de Deus e suscitar a fé naquele que enfrenta a morte (cf. v.45) e que tem o
poder de renunciar à vida e o poder de retomá-la para comunicá-la aos homens
que acreditam nele. Para Jesus a morte não tem a última palavra, porque Jesus é
a vida e a ressurreição. Ao realizar o sinal de devolução da vida a Lázaro, o
Pai é glorificado através da glorificação do Filho e da fé dos discípulos e de
todos que crêem nele.
A mensagem das irmãs de Lázaro dirigida a Jesus pode ser
também a nossa oração: “Senhor Jesus,
aquele que tu amas está doente, está drogado; aquele casal está sem nenhuma
harmonia; aquele meu irmão, meu filho, meu marido, minha esposa, que tu amas
está sem muito ânimo e está deprimido, está nervoso...” e assim por diante.
Estamos doentes de muitas maneiras, com muitas enfermidades, fraquezas,
impotência etc.. Precisamos ser curados pelo Senhor Jesus. Ao terminar este
tipo de pedido, vamos confiar e esperar em Jesus que dá a vida de Deus para
quem crê nele, e vamos deixar Jesus decidir o que fazer, o quando e o como.
Muitas vezes temos tentação de ter pressa. Mas a nossa pressa não resolve nada.
Jesus sabe de tudo, por que não seguimos ao ritmo dele? Esta é a única solução:
esperar no Senhor apesar da aparência e circunstâncias desfavoráveis e sem
esperança nenhuma. Acreditemos em Deus e não nas circunstâncias. Jesus é o
Salvador não só do Lázaro, mas de todos nós. Nossa total confiança no tempo
quaresmal é esta: Jesus nos ama. Somos enfermos, sim, mas somos amados por ele.
Quando Jesus chegou a Betânia fazia já quatro dias que
Lázaro havia sido sepultado. Segundo uma crença dos rabinos, amplamente
difundida entre o povo, a alma do defunto permanecia durante três dias rodando
o sepulcro; depois ia embora e não havia mais esperança alguma de vida. O
quarto dia depois da morte representa, então, o fim de todas as esperanças de
vida, pois o cadáver iniciava a decomposição; é preciso adaptar-se à situação:
“Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias”, diz Marta (v.39).
O que quer nos dizer
esta passagem? As situações em que se encontram os homens, em que se encontra o
homem, em que às vezes nos encontramos como mentira, escravidão,
condicionamentos, inautenticidade, desorientação, morte que sempre nos ameaçam,
como medo da morte e como possibilidade de nos revoltarmos contra a morte, são
em si mesmas situações insuperáveis. Um só vem ao nosso encontro, inesperada e
gratuitamente, como amigo, tomando a iniciativa: é o Verbo de Deus feito homem,
que amigavelmente, vem a nós para socorrer-nos, elevar-nos, purificar-nos; ele
nos toma ali onde estamos, e conosco aquele pouco que podemos dar-lhe naquele
momento, e de maneira superabundante e régia, nos transforma.
Jesus É A Ressurreição E A Vida
Ao saber que Jesus estava chegando, Marta sai ao encontro
de Jesus, enquanto Maria fica em casa. Marta reafirma sua fé na ressurreição,
que é obra de Deus, porém, a um futuro longínquo. Jesus aproveita a afirmação
de Marta para fazer uma nova revelação de si próprio: “Eu sou a ressurreição e a vida” (v.25).
“Eu sou a
ressurreição e a vida”. Este é o ponto alto do trecho. Nesta resposta está
condensado o conteúdo central da fé cristã que todo o relato quer transmitir: a
vida eterna que Marta espera para a ressurreição dos últimos tempos já chegou
com e em Jesus. As palavras de Jesus
começam com o “Eu sou” (Ego eimi),
característico das afirmações de revelação (cf. Ex 3,14).
Jesus não promete: eu darei a ressurreição. Mas é muito
mais o que ele diz. Ele é, em si mesmo,
a causa da nossa fé, a meta da nossa esperança, a felicidade do nosso amor que
nunca mais morre. A “ressurreição” de
Lázaro quer tornar visível o mistério imortal do Deus feito homem. Jesus não
veio para impedir a morte corporal. Mas neste sinal (milagre) e na sua palavra
torna-se visível que ele quer e pode dar uma outra vida, uma existência eterna com Deus. Jesus como Filho de
Deus tem em si a vida e tem o poder de no-la dar. “Eu sou a Vida”, Jesus afirma. A vida que se refere aqui (v.25) é
a vida que procede do alto, gerada pelo Espírito, que vence a morte física. Quem
recebe o dom da vida pela fé em Jesus jamais morrerá da morte espiritual, pois
esta é uma vida eterna.
“Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E
todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais” (vv.25-26). Quem crê em Jesus já entrou na vida
definitiva, tem já agora “a vida eterna” como uma realidade presente sobre a
qual a morte não tem poder algum. Esta realidade é chamada por alguns exegetas
a “escatologia presente”. Quem crê em Jesus, já “passou da morte à vida” (cf.
Jo 3,36;5,24;6,47). Porque Jesus é já agora “a Ressurreição e a Vida”. A morte
corporal não pode mais destruir a vida nova, o novo nascimento, a vida eterna
dada pela fé em Jesus. A vida recebida pela fé em Jesus Cristo é indestrutível (cf.
Jo 3,3ss;7,39;19,30;20,22). A insaciável
sede de vida eterna enraizada no mais fundo do coração de todos os homens só pode
ser saciada por aquele que ”a Ressurreição e a Vida”. A vida de Deus não está
mais fora de nosso mundo, porque o Filho de Deus veio no meio de nós. A morte
só tem poder quando Jesus está ausente de nossa vida. Jesus é a ressurreição
porque é a vida. Ele nos ressuscita dando-nos, pelo Espírito, a vida eterna que
ele tem, que ele é. A vida não é destruída pela morte, mas, antes, simplesmente
se serve desta. Jesus veio não para dar pêsames, mas para dar a vida a quem crê
nele.
Oração De Ação De Graças Reflete a Ação
De Deus Na Nossa Vida
Diante do túmulo Jesus reza: “Pai, eu te dou graças porque me
ouviste. Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me
rodeia, para que creia que tu me enviaste”. A oração de Jesus na beira
do túmulo não é uma oração de petição, mas de ação de graças. Jesus que está
sempre em comunhão com o Pai, restabelece com a sua oração a comunhão entre o
céu e a terra. Jesus no quarto evangelho está sempre orando porque está sempre
unido ao Pai, porque o Pai nunca o deixa só (Jo 8,29), porque ele e o Pai são
um (Jo 10,30). Sua oração “abre os céus”
e essa abertura chega até as profundezas da terra, até o reino da morte. E pede
aos seus seguidores que orem com a mesma confiança(cf. Jo
14,12-13;15,16;16,23.16).
A oração de ação de graças supõe a capacidade de perceber
as maravilhas de Deus na nossa vida cotidiana. Quem tem o olhar da fé contempla
as maravilhas de Deus diariamente e sempre tem motivo para agradecer a Deus. Quem
sabe agradecer vive com entusiasmo, pois ele reconhece que Deus está dentro
dele ou melhor dizer ele está dentro da vida de Deus, e contagia os outros com
o mesmo entusiasmo.
Com Jesus Somos Capazes De Tirar Pedras De Nossa Vida
Diante do túmulo de Lázaro Jesus ordena: “Levanta a pedra!”
(v.39).
“Tira a pedra!” A pedra sobre o túmulo é o símbolo da
separação entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Ela não deixa entrar
quem está fora e não deixa sair quem está dentro. Ao devolver a vida a Lázaro,
Jesus vai mostrar que tem o poder de abrir as portas da morte, de libertar os
mortos, e depois de fechá-las definitivamente, instaurar a comunhão definitiva
dos homens com Deus e dos homens entre si.
Perante este Jesus que se revelou diante do túmulo de
Lázaro, aprendemos a “tirar a imensa pedra da nossa vida”. A pedra de nossa
incapacidade de crer em profundidade, a pedra de nossas dúvidas sobre o poder de
Deus na nossa vida, a pedra das nossas culpas, tão pesadas para nós, e mais
ainda para os outros, a pedra da nossa impermeável autocomplacência. “Tirai a
pedra!”
“Desatai-o e deixai-o caminhar” é a outra ordem de Jesus (v.44).
Com esta ordem termina o relato. As ataduras nas mãos e nos pés e sobre o
sudário no rosto acentuam o significado da morte. A morte mantém os homens
cegos, mudos e surdos, atados e asfixiados. É a missão da comunidade cristã,
dos que estão ao redor de Jesus, cumprir o seu mandato de libertar os que estão
impedidos de verem e de andarem e de fazerem com que as pessoas vivam
livremente. Para isso, os discípulos têm de entregar voluntariamente sua vida
por amor a Deus e aos homens, como Jesus a entregou.
“Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (v.25).
Esta é a mensagem central que o evangelista quer nos transmitir. A verdadeira
vida consiste em ouvir a voz do Filho, do Enviado pelo Pai para dar a vida ao
mundo. Só a fé em Jesus Cristo pode vencer o medo da morte porque foi o próprio
Jesus quem a venceu e destruiu total e definitivamente.
P. Vitus Gustama,svd
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