05/06/2017
Segunda-Feira
da IX Semana Comum
Primeira Leitura: Tb 1,3; 2,1-8
1,3 Eu, Tobit, andei nos
caminhos da verdade e da justiça, todos os dias da minha vida. Dei muitas vezes
esmolas, aos meus irmãos e compatriotas, que comigo foram deportados para
Nínive, no país dos assírios. 2,1ª No dia da nossa festa de Pentecostes que é a
festa das Sete Semanas, prepararam-me um excelente almoço, e reclinei-me para
comer. 2 Quando puseram a mesa com numerosas iguarias, disse ao meu filho
Tobias: “Vai, filho, vai procurar, entre nossos irmãos deportados em Nínive,
algum que, de todo o seu coração, se lembre do Senhor, e traze-o aqui para
comer comigo. Assim, meu filho, ficarei esperando até que voltes. 3 Tobias
saiu, pois, à procura de um pobre entre nossos irmãos. E voltou dizendo: “Pai!”
Respondi: “Que há, meu filho?” Continuou Tobias: “Um homem do nosso povo foi
morto e lançado à praça pública. E ainda se encontra lá, estrangulado”. 4 Levantei-me
de um salto, deixando o almoço, sem prová-lo. Tirei o cadáver do meio da praça
e depositei-o numa das dependências da casa, esperando o pôr-do-sol para
enterrá-lo. 5 Ao voltar, lavei-me e, entristecido, tomei minha refeição. 6 Lembrei-me
das palavras do profeta Amós, ditas contra Betel: “Vossas festas se
transformarão em luto e todos os vossos cantos em lamentação”. 7 E chorei.
Depois que o sol se escondeu, fui cavar uma sepultura e enterrei o cadáver. 8 Meus
vizinhos zombavam, dizendo: “Ele ainda não tem medo. Já foi procurado para ser
morto por este motivo, e teve que fugir. No entanto, está de novo sepultando os
mortos!”
Evangelho: Mc 12,1-12
Naquele tempo, 1Jesus começou a
falar aos sumos sacerdotes, mestres da Lei e anciãos, usando parábolas: “Um
homem plantou uma vinha, cercou-a, fez um lagar e construiu uma torre de guarda.
Depois arrendou a vinha a alguns agricultores, e viajou para longe. 2Na
época da colheita, ele mandou um empregado aos agricultores para receber a sua
parte dos frutos da vinha. 3Mas os agricultores pegaram o empregado,
bateram nele, e o mandaram de volta sem nada. 4Então o dono mandou
de novo mais um empregado. Os agricultores bateram na cabeça dele e o
insultaram. 5Então o dono mandou ainda mais outro, e eles o mataram.
Trataram da mesma maneira muitos outros, batendo em uns e matando outros.6Restava-lhe
ainda alguém: seu filho querido. Por último, ele mandou o filho até os
agricultores, pensando: ‘Eles respeitarão meu filho’. 7Mas aqueles
agricultores disseram uns aos outros: ‘Esse é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a
herança será nossa’. 8Então agarraram o filho, o mataram, e o
jogaram fora da vinha. 9Que fará o dono da vinha? Ele virá,
destruirá os agricultores, e entregará a vinha a outros.10Por acaso,
não lestes na Escritura: ‘A pedra que os construtores deixaram de lado
tornou-se a pedra mais importante; 11isso foi feito pelo Senhor e é
admirável aos nossos olhos’?” 12Então os chefes dos judeus
procuraram prender Jesus, pois compreenderam que havia contado a parábola para
eles. Porém, ficaram com medo da multidão e, por isso, deixaram Jesus e
foram-se embora.
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Imitar o Deu misericordioso
e compassivo na convivência com o próximo
“Eu,
Tobit, andei nos caminhos da verdade e da justiça, todos os dias da minha vida”.
O livro de Tobias, de onde é tirado o texto
da Primeira Leitura, foi escrito no século III ou II antes de Jesus Cristo. Este
livro é um tipo de “novela edificante”. O autor quer nos apresentar um crente que
se mantém firme na fé em Deus no meio das piores dificuldades. E Deus o
recompensa com a felicidade.
“Eu,
Tobit, andei nos caminhos da verdade e da justiça, todos os dias da minha vida”.
Assim começa o texto da Primeira Leitura. Esta frase significa que Tobit imita
a maneira de fazer do Deus compassivo e misericordioso para o homem. A palavra “imitar”
ou “ser imitador” aqui quer sublinhar a constância e a fidelidade exemplar da
personagem de Tobit. Por ser fiel ao Deus compassivo e misericordioso, Tobit se
torna um modelo que se deve imitir pelos leitores do livro. Tal exemplaridade
se manifesta nas obras de caridade, isto é, na ação imediata, simples e sem
pretensões em favor dos mais necessitados e esquecidos pela sociedade: os pobres,
os deportados, os imigrantes. Trata-se de uma ação que não espera que mudem as
estruturas para atuar. Tobit, por exemplo, apesar da estreita proibição real,
enterrava a escondidas os corpos de seus irmãos conterrâneos. Para fazer tudo alguém,
como Tobit, tem que ter a misericórdia e a compaixão no coração. Tobit coloca o
homem acima da lei, pois a lei existe para proteger a vida dos homens. Por isso,
Tobit não tem medo de “transgredir” a Lei em nome da humanidade. O bem precisa
ser colocado na prática, quando a vida está em jogo. Tobit agiu bem em relação a
Deus e ao próximo (cf. Mc 12,28-34: mandamento do amor).
Mas na atuação de Tobit o próximo é limitado
somente para seus conterrâneos: “Vai,
filho, vai procurar, entre nossos irmãos deportados em Nínive, algum que, de
todo o seu coração, se lembre do Senhor, e traze-o aqui para comer comigo.
Assim, meu filho, ficarei esperando até que voltes”. Tobit é apenas como
modelo do israelita da diáspora (no cativeiro). Tobit cumpre a Lei até no
desterro.
Mas Jesus vai nos dizer que o próximo é
qualquer homem e mulher. Por isso, há um passo adiante: não basta ajudar o próximo.
É preciso estar próximo para ajudar os outros no sentido de disposição e
disponibilidade para ajudar em nome da misericórdia e da compaixão para quem se
encontra na dificuldade (cf. Lc 10,29-37). O próximo é aquele em cujo caminho
eu me coloco. Ao me colocar no lugar do outro, a consequência lógica é ajudá-lo
e não condená-lo (cf. Mt 7,12).
Deus Nos Ama
Incondicionalmente
O profeta Jeremias, Ezequiel, Isaias
(especialmente Is 5,1-7) e os Salmos chamam Israel “a vinha do Senhor”. A
parábola que Jesus conta é introduzida perfeitamente nessa linha profética e
serve para contestar às duas perguntas que as autoridades judeus fizeram a
Jesus: “Com que autoridade fazes tudo isso? Quem te deu essa autoridade?”.
Jesus contesta relatando com imagens toda a história de Seu povo e oferece
também aos seus discípulos e, portanto, para todos os cristãos, a possibilidade
de saber quem somos nós para Ele. Através desta parábola Jesus respondeu à
primeira pergunta: “Com a autoridade do Servo de Deus, com a autoridade do
Filho de Deus”. E para a segunda pergunta, Jesus respondeu através desta
parábola: “Quem deu essa autoridade é o Dono da vinha, o Deus de Israel, que é
meu Pai”.
O texto do evangelho deste dia nos diz: “Agora
restava ainda alguém: o filho amado. Por último, então, enviou o filho aos
agricultores, pensando: ‘A meu filho respeitarão’. Mas aqueles agricultores
disseram uns aos outros: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança será
nossa’. Agarraram o filho, mataram e o lançaram fora da vinha” (Mc
12,6-8).
“Restava ainda alguém: o filho amado”.
É uma expressão que nos desconcerta toda vez que a lemos e sobre a qual
refletimos e meditamos. Parece que Deus fica à margem da pobreza. Resta apenas
o próprio Filho. Mais nada! Por causa dos homens e por causa do Seu amor sem
limites pelos homens Deus usa todos os recursos e todas as possibilidades. Os
recursos se esgotaram. Agora resta apenas seu Filho. Deus é verdadeiramente o
pobre por excelência, porque nos deu tudo. Até seu próprio Filho, o ultimo que
restou. Significa que Deus nos toma a sério e deixa o campo livre para que
atuemos com plena responsabilidade. Mas Deus é impotente diante da liberdade do
homem. O homem é responsável pela sua própria escolha. No momento em que o
homem não respeitar as regras e as placas da vida que apontam para sua plena
realização e para a eternidade, ele perderá sua liberdade e cairá em uma série
de prisões e escravidões.
Não há pai que entregue seu filho amado para
os criminosos a fim de resgatar algo ou alguém. Deus é diferente, o Diferente
por excelência. Ele entrega seu Filho amado como resgate a fim de o homem ficar
livre do cativeiro da perdição e da maldição (cf. Mt 20,28; Mc 10,45; Gl 3,13;
1Tm 2,6). É muito difícil entender e compreender a atuação de Deus. Até o
salmista faz esta pergunta retórica: “Quando olho para o teu céu, obra de
tuas mãos, vejo a lua e as estrelas que criaste: Quem é o homem, para dele te
lembrares, quem é o ser humano, para o visitares? Ó SENHOR, Senhor nosso, como
é glorioso o teu nome em toda a terra!” (Sl 8, 4-5.10). Somente quando
calarmos nossa mente, o nosso coração vai começar a compreender tudo que Deus
faz por nós e vai haver uma adequada correspondência de nossa parte.
Jesus é verdadeiramente o último, o
“eskatos”, da perspectiva de Deus. Não é
o último em relação ao tempo, não o último de uma série de intentos. O último
quer dizer o definitivo, tudo. Depois do qual não fica mais nada. Agora Deus é
verdadeiramente o pobre por excelência. Pobre porque deu tudo. Em sua incurável
paixão pelos homens não ficou com nada, nem com o seu próprio Filho.
A conduta dos lavradores se julga durante a
ausência do patrão. O patrão confia tudo nos lavradores e por isso, não precisa
estar presente. O Deus da confiança é também o Deus da ausência. Mas há que
compreender exatamente esta ausência. Não se trata nem de abandono, nem de
evasão nem de deserção. É um sinal de amor. É um Deus que pretende atuar
exclusivamente através do amor, pois este caminho é que leva o homem à sua
plenitude, à eternidade. Cristo morreu perdoando o homem.
“’Este é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a
herança será nossa’. Agarraram o filho, mataram e o lançaram fora da vinha”. Deus não manda Seu
Filho para a morte: Ele o ama incondicionalmente. Por outro lado, a morte é um
mal e o Deus da vida não pode querê-la. Por isso, quem mata ou assassina comete
pecado; vai contra a vontade de Deus. O castigo não cai sobre a vinha e sim
sobre os guardiões. A vinha do Senhor seguirá, mas será um novo Israel, um novo
Povo de Deus, o verdadeiro templo de Deus (cf. 1Cor 3,16-17) que tem como
centro Jesus Cristo. Jesus morto e recusado pelos sumos sacerdotes, os
escribas, e os anciãos, e ressuscitado pelo Pai, se converte em fundamento de
um novo povo que é, ao mesmo tempo, continuação do antigo: a vinha passa a
outros. Antigo e novo coexistem. As primeiras comunidades cristãs estavam
compostas principalmente por judeus, isto é, pelo resto fiel de Israel que
acolheu Jesus como Messias e Filho de Deus e por muitos que provinham do mundo
pagãos e formavam com, como o resto de Israel, o novo e definitivo povo de
Deus. O novo é realmente, com Jesus, a casa do Pai para todos os povos. É uma
das mensagens do evangelho deste dia.
Cada um precisa entrar no silêncio sagrado
para meditar sobre o amor de Deus por cada um e a resposta de cada um diante
desse amor. Será que sou ingrato diante do amor de Deus? Será que sou
irresponsável na minha atuação como pessoa amada de Deus? Será que eu vivo de
acordo com o amor com que Deus me ama? Será que sou capaz de dar tudo por amor?
P. Vitus Gustama,svd
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