08/01/2018
BATISMO DE JESUS e NOSSO
BATISMO
Assim fala o Senhor: 1 “Eis
o meu servo — eu o recebo; eis o meu eleito — nele se compraz minh’alma; pus
meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações. 2 Ele não clama
nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. 3 Não quebra uma cana rachada
nem apaga um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para obter a
verdade. 4 Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a
justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos. 6 Eu, o
Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te
constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, 7 para abrires os
olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas
trevas”.
Segunda Leitura: At 10,34-38
Naqueles dias, 34 Pedro
tomou a palavra e disse: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz
distinção entre as pessoas. 35 Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica
a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença. 36 Deus enviou sua palavra
aos israelitas e lhes anunciou a Boa-Nova da paz, por meio de Jesus Cristo, que
é o Senhor de todos. 37 Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia, a começar
pela Galileia, depois do batismo pregado por João: 38 como Jesus de Nazaré foi
ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte,
fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque
Deus estava com ele.
Naquele tempo, 7 João
Batista pregava, dizendo: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu
nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. 8 Eu vos batizei
com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo”. 9 Naqueles dias, Jesus
veio de Nazaré da Galileia, e foi batizado por João no rio Jordão. 10 E logo,
ao sair da água, viu o céu se abrindo, e o Espírito, como pomba, descer sobre
ele. 11 E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu
bem-querer”.
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1. Batismo De Jesus E Seu
Significado
O Batismo de Jesus é uma cena teofánica ou
epifánica. A cena é muito elaborada pelo evangelista Marcos, e apresenta um
grande conteúdo teológico, e concretamente, trinitário: o Pai revela que Jesus
é seu Filho amado. Com isto Deus se revela como Aquele que ama: Deus é amor
(1Jo 4,816). E este Filho é ungido pelo Pai com o dom do Espírito. Com este
Espírito Jesus é capacitado para levar adiante, até o fim, a missão encomendada
pelo Pai (veja a coleta e o prefácio da missa).
Na seguinte frase se encontra o significado
da cena: “E logo ao sair da água, ele viu os céus se rasgando e o Espírito,
como uma pomba, descer até ele, e uma voz veio dos céus: ‘Tu és o meu Filho
amado, em ti me comprazo” (Mc 1,10-11).
A imagem “os céus se rasgaram” e sua
formulação remetem a Is 64,1: “Oh se
rasgásseis os céus, se descêsseis...”. Mas a novidade do evangelho de
Marcos é clara: o que em Isaías é exclamação e desejo, em Marcos é afirmação e
cumprimento. Rasgar os céus equivale a dizer que, com a vinda de Jesus, chegou
a salvação definitiva. O amor de Deus supera qualquer obstáculo. O amor rasga
tudo o que não é humano.
Os céus rasgados dão espaço ao Espírito de
Deus em forma de uma pomba descer sobre Jesus. Esta imagem emerge com a
novidade e o frescor de uma criação original. O Espírito descendo sobre Jesus
como “uma pomba” nos recorda o Espírito que pairava sobre as águas no primeiro
dia da criação (Gn 1,2). É o mesmo Espírito de Yahweh que “desceu” sobre Israel
no Êxodo (Is 63,11-14) e no Sinai (Êx 19,11.18.20). O Espírito presente em
Jesus iniciará uma nova criação e um novo Povo de Deus. Com a descida do
Espírito sobre Jesus, Jesus se torna morada permanente de Deus (xekiná) e a sua
missão é inaugurada (cf. Is 11,2). Com a chegada do Messias (Ungido) chegou o
tempo da salvação definitiva. Doravante, o Cristo será sempre conduzido pelo
Espírito para levar até o fim sua missão pelo caminho do Servo Sofredor.
Os céus rasgados dão espaço também a uma voz
cujas palavras combinam com a afirmação do Sl 2,7 e de Is 42,1: “Tu és meu
Filho amado, em ti me comprazo”. “Tu” e “Filho” comportam os correlativos
“Eu” e “Pai”. Culmina, assim, a apresentação-revelação ao leitor de quem é
Jesus. Deus volta a falar com seu povo em Jesus Cristo.
Com a vinda de Jesus, o Deus que salva, Céu e
Terra deixam de estar incomunicados pela incompreensão e hostilidade. Jesus vai
nos introduzir em uma atmosfera incontaminada, limpa e respirável. Esta é a
força de Jesus. Em Jesus se estabelece uma intima comunicação entre Deus e os
homens. Com a vinda e a presença de Jesus não há mais separação e incomunicação
entre Deus e os homens. Tudo está aberto. Tudo se rasgou.
A abertura dos céus que se rasgam significa a
abertura de novas relações entre Deus e os homens, um início de um novo diálogo
de Deus com os homens, um novo tempo de graça, de novos dons dados por Deus aos
homens. Jesus é o lugar do novo, definitivo e pleno encontro de Deus com os
homens, dos homens com Deus e, conseqüentemente, dos homens entre si. Neste
sentido Jesus se torna para seus seguidores, ao mesmo tempo o ponto de encontro
e o ponto de partida no sentido de viver aquilo que Jesus ensinou e viveu.
Quando os evangelistas descrevem o batismo de
Jesus, sua atenção não se concentra tanto no rito purificador da água, mas na
ação do Espírito de Deus que desce sobre Jesus. Por isso, eles querem deixar
bem claro desde o inicio que Jesus, o protagonista das páginas de seu evangelho
é um Homem cheio do Espírito de Deus que lhe faz invocar a Deus como Pai e lhe
urge no serviço dos irmãos necessitados. Com esta cena está respondida a
pergunta da comunidade primitiva: “Quem é Jesus? E em que se baseia a autoridade
de sua mensagem?
2. Nosso Batismo E Seu
Significado
Esta é a novidade do Batismo: nossa vida
pertence a Cristo, não mais a nós mesmos. Eu sou de Cristo. Eu não sou do
mundo. A minha vida tem um dono: Jesus Cristo. Precisamente, por isso, não
estamos mais sós nem mesmo na morte, mas estamos com Cristo que vive para
sempre. Cristo é a vida de nossa vida.
Na cena do Batismo, o Espírito de Deus desce
sobre Jesus porque ele está totalmente aberto à ação de Deus. O Espírito de
Deus capacita o homem Jesus a levar até o fim a missão recebida do Pai para
salvar os homens por amor.
Quando nos fecharmos ao Espírito Santo, nos
tornaremos facilmente escravos de uma multidão de “pequenos espíritos”:
espírito de rivalidade, de inveja, de prepotência, de complexo de
superioridade, de querer a própria vantagem e assim por diante.
Abrir-se ao Espírito Santo é outra coisa.
Trata-se de acolher humildemente a presença criadora de Deus em nós. É
deixar-se purificar e modelar pelo Espírito de Deus, que animou a vida e a
atividade de Jesus, para que possamos passar a vida fazendo o bem. Abrir-se ao
Espírito Santo é viver da fé a experiência de um amor que nos envolve e nos faz
invocar a Deus como Pai e nos aproximar dos outros como irmãos. Se nos abrirmos
ao Espírito Santo, seremos conseqüentemente parceiros do bem. Ao abrirmos ao
Espírito Santo produziremos muitos frutos tais como amor, alegria, paz,
tolerância, agrado, generosidade, lealdade, simplicidade e domínio de si (cf.
Gl 5,22-23; leia também 1Cor 12,6-11).
Para ser cristão de verdade, cada batizado
tem necessidade de se abrir interiormente à força do Espírito Santo. Isto não
se faz uma vez por todas. O rito de água somente se recebe uma vez na vida de
cada batizado. Cada dia temos que nos submergir no batismo interior do Espírito
de Deus através de um exercício constante da fé, da esperança e do amor.
Por isso, o cristão não é batizado somente
para si mesmo e sim para todos os homens. Ele é batizado para a humanidade. O
batismo no Espírito de Deus convoca o batizado para uma tarefa concreta, para
uma missão de compromisso que lhe dá identidade e personalidade. Se Jesus
“andou por toda a parte fazendo o bem a todos” (At 10,38b), o cristão, o
seguidor de Jesus não pode fazer outra coisa a não ser o bem, ser parceiro do
bem. Cada cristão deve ser parceiro do bem. Nosso batismo tem um aspecto de
tomada de consciência do amor gratuito de Deus, da doação do espírito que nos
impulsiona a realizarmos uma missão também messiânica de viver e de comunicar o
amor de Deus aos demais continuando a missão de Jesus Cristo.
Nosso Batismo é um sacramento real que nos
faz filhos de Deus e, pela força do Espírito Santo, nos incorpora a Cristo
morto e ressuscitado. De alguma maneira, o Batismo de Jesus prefigura o nosso,
no sentido de que, assim como naquele momento o Pai certificou a filiação
divina de Jesus ungindo-o com o Espírito antes de iniciar sua missão, também
nós, no Batismo, somos consagrados filhos de Deus em Jesus Cristo pelo Espírito
Santo. O Batismo é o fundamento da chamada à santidade, o fundamento do dever e
direito a viver o culto “em espírito e em verdade”. No sacramento do Batismo
conflui todo o mistério da vida: o passado do pecado, o presente do homem novo
e a esperança do mundo definitivo. O Batismo é regeneração de uma vida nova,
nascimento do alto e para o alto, participação da ressurreição, revestimento de
Cristo, sinal da filiação divina, unção do Espírito Santo.
Neste sentido, hoje é um dia apropriado para
rememorar ou relembrar nosso Batismo, para agradecer a Deus e para renovar
nosso compromisso batismal. Hoje temos que expressar que a Igreja, povo de
batizados, renova sua adesão a Cristo permanentemente. Nosso Batismo-Confirmação
tem um aspecto de tomada de consciência do amor gratuito de Deus, da doação do
Espírito que nos impulsiona a realizarmos uma missão de fazer o bem para onde
formos e passarmos a exemplo de Jesus Cristo, e de viver e de comunicar o amor
de Deus aos outros, trilhando o caminho de Jesus. Ao acordar de manhã cada um precisa se
perguntar: “Qual é o bem que vou fazer hoje?”. E antes de dormir à noite
voltará a perguntar-se: “Qual é o bem que fiz hoje?”. Espera-se que a resposta
seja sempre positiva.
Portanto, mais do que um rito, o batismo é
uma convocatória ou uma vocação, isto é, o homem é chamado a se realizar como
homem-no-Espírito porque a partir de então sua vida é orientada segundo o
critério do evangelho: ser libertado para libertar os outros.
P.Vitus
Gustama,SVD
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