segunda-feira, 12 de março de 2018

17/03/2018
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O JUSTO E INOCENTE É PERSEGUIDO E MORTO PELO BEM QUE FEZ
Sábado da IV Semana da Quaresma


Primeira Leitura: Jr 11,18-20
18 Senhor, avisaste-me e eu entendi; fizeste-me saber as intrigas deles. 19 Eu era como manso cordeiro levado ao sacrifício, e não sabia que tramavam contra mim: “Vamos cortar a árvore em toda a sua força, eli­miná-lo do mundo dos vivos, para seu nome não ser mais lembrado”. 20 E tu, Senhor dos exércitos, que julgas com justiça e perscrutas os afetos do coração, concede que eu veja a vingança que tomarás contra eles, pois eu te confiei a minha causa.


Evangelho: Jo 7,40-53
Naquele tempo, 40ao ouvirem as palavras de Jesus, algumas pessoas diziam: “Este é, verdadeiramente, o Profeta”. 41Outros diziam: “Ele é o Messias”. Mas alguns objetavam: “Porventura o Messias virá da Galileia? 42Não diz a Escritura que o Messias será da descendência de Davi e virá de Belém, povoado de onde era Davi?” 43Assim, houve divisão no meio do povo por causa de Jesus. 44Alguns queriam prendê-lo, mas ninguém pôs as mãos nele. 45Então, os guardas do Templo voltaram para os sumos sacerdotes e os fariseus, e estes lhes perguntaram: “Por que não o trouxestes?”  46Os guardas responderam: “Ninguém jamais falou como este homem”. 47Então os fariseus disseram-lhes: “Também vós vos deixastes enganar? 48Por acaso algum dos chefes ou dos fariseus acreditou nele? 49Mas esta gente que não conhece a Lei, é maldita!”50Nicodemos, porém, um dos fariseus, aquele que se tinha encontrado com Jesus anteriormente, disse: 51“Será que a nossa Lei julga alguém, antes de o ouvir e saber o que ele fez?” 52Eles responderam: “Também tu és galileu, porventura? Vai estudar e verás que da Galileia não surge profeta”. 53E cada um voltou para sua casa.
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O Justo Perseguido É Sacrificado Como Cordeiro Manso Pelos Injustos


Eu era como manso cordeiro levado ao sacrifício, e não sabia que tramavam contra mim”, confessou o profeta Jeremias.


Sabemos que Jeremias nos deixou um diário de seu drama interior chamado “Confissões de Jeremias” que se encontram entre o capítulo 10 e o capitulo 20 de seu livro. Merece uma leitura especial: Jr 11,8-12,3 (Jeremias “inimigo do povo”); Jr 7,14-18 (Ironia de seus adversários: Onde está a palavra do Senhor? Que se cumpra!”: Jr 17,5); Jr 18,18-23 (a perseguição); Jr 20,7-9.14-18 (a crise de vocação). Nestas páginas o testemunho de uma personalidade sensível se funde com o desespero por uma situação impossível. Jeremias é um homem sentimental e aberto aos demais, no entanto é condenado a ser um solitário, um isolado pelos seus compatriotas. Ele é rodeado somente pelo ódio (Jr 15,17; 16,12), amaldiçoado (Jr 20,10), perseguido (Jr 26,11), golpeado e torturado (Jr 20,1-2), sob a ameaça de morte (Jr 18,18). É um idealista que sente o horror pela corrupção de seu povo (Jr 9,1), que sente a mesma indignação de Deus (Jr 5,14; 6,11; 15,17), que com uma imensa dor interior anuncia a ruína iminente (Jr 4,19-21; 8,18-23; 14,17-18). O profeta Jeremias experimenta profundamente a perseguição que, por causa de sua perseguição, os adversários, inclusive seus familiares e amigos, tramam contra ele. Esta perseguição move Jeremias a perguntar a Deus: Por que os maus vivem cheios de “bênçãos”? A resposta de Deus desconcerta o profeta: verá coisas piores.


A maioria das narrativas de vocação ressalta a decepção daqueles que são assim chamados: tentação de abandono para Moisés (Ex 32), desânimo de Elias (1Rs 19), decepção de Jonas (Jonas 4), depressão de Jeremias (Jr 20) e assim por diante. É bastante penoso ou doloroso sentir-se excluído de uma comunidade.


Mas o tema mais original do pensamento de Jeremias é o da sedução que Deus demonstrou a seu respeito. A fidelidade à vocação é uma conquista cotidiana, que passa por dúvidas e crises e que às vezes, pesa como uma maldição, sobretudo se experimenta o silêncio de Deus (Jr 15,15.18; 20,7; veja Sl 21/22,2; Mt 27,46; Mc 15,34). A tentação de renunciar é muito forte. Este é o Getsêmani de Jeremias. Mas a Palavra de Deus é como um incêndio que devora os ossos e que o homem é incapaz de aplacar e de extinguir, nem o próprio Jeremias.


A vocação cristã é uma vocação ao apostolado, e Deus dá a graça para poder corresponder a essa vocação. Não há espaço para desculpas: não vale a pena eu fazer isso, não sirvo para aquele trabalho, não tenho tempo, e assim por diante. Deus precisa de cada um de nós e por isso é que estamos neste mundo.


Nesta primeira leitura (Jr 11,18-20) o profeta Jeremias utiliza a imagem do cordeiro manso levado ao matadouro para falar de sua própria inocência e mansidão. Para manter a fidelidade à aliança com Deus o profeta Jeremias denuncia os crimes, as corrupções e as traições cometidos pelo seu próprio povo. Em outras palavras, Jeremias chama o seu povo à conversão, a voltar ao Deus da Aliança.


Infelizmente, como consequência, Jeremias é odiado pelo bem que faz. Ele é uma vítima inocente comparada a um cordeiro manso. “Toda vez que um justo grita, um carrasco vem calar. Quem não presta fica vivo, quem é bom, mandam matar” (Cecília Meireles). Pelo fato de cumprir sua missão e chamar o povo à conversão, o profeta Jeremias foi recusado e traído por seus próprios irmãos.


A sorte ou o destino do profeta Jeremias que viveu seis séculos antes de Jesus é a mesma sorte, o mesmo destino de Jesus. Jesus é também perseguido por ser fiel à Palavra de Deus, por considerar a vontade de Deus como seu alimento (Jo 4,34). O cordeiro manso que o profeta Jeremias usa é imagem de Jesus que, como Cordeiro, morrerá para tirar o pecado do mundo (Jo 1,29).


A imagem do “cordeiro” nos sugere a inocência dessa pequena vitima que não merece ser sacrificada. Essa imagem nos sugere a liturgia do Cordeiro pascal cujo sacrifício é útil para o povo inteiro.


No profeta Jeremias descobrimos: consciência de sua situação, assunção de sua responsabilidade e missão, confiança no Senhor a Quem se deve totalmente, convicção de que ao final resplandecerá a luz da verdade apesar de qualquer tipo de dor no cumprimento da missão. Este é um bom caminho a seguir.


Quem É Jesus a Quem Sigo?


Ao ouvirem as palavras de Jesus, algumas pessoas diziam: ‘Este é, verdadeiramente, o Profeta’. Outros diziam: ‘Ele é o Messias’”.


No evangelho de hoje lemos como a pessoa de Jesus e sua maneira de viver provocam discussões e posturas diversas. A vida dos homens se decide de acordo com sua atitude vivencial com Jesus.


Uns dizem que é o Messias, outros dizem que é o profeta. Jesus é o sinal de contradição no mundo: divide os homens com sua simples presença entre os homens. Jesus continua sendo um mistério para seus contemporâneos. Porém suas obras pelo bem da humanidade ninguém pode negar. Jesus vive somente em função do bem e é perseguido e morto pelo bem que fez.


Os escribas e os fariseus eram a mais alta autoridade doutrinal, os melhores especialistas em discussões sobre a Escritura. Segundo eles, em Jesus não se cumprem todas as condições necessárias. Por isso, Ele não é o Messias, apesar das evidências. Segundo eles o Messias não vem da Galileia e sim de Belém (Jo 7,52).  Mas os fatos não negam, mesmo que alguém tente argumentar. Os fatos falam por si.


O pior cego é aquele que não reconhece a própria cegueira a fim de poder pedir a ajuda. Daí nós concluímos que a condição essencial para conhecer a Deus é a humildade. Há que saber renunciar aos nossos próprios pontos de vista, deixar-nos conduzir pela luz da sabedoria divina. A crença bíblica não basta para descobrir verdadeiramente quem é Deus em Jesus Cristo. A vida e seus acontecimentos são outra “Escritura” que Deus nos deixou para que leiamos cada dia uma página para saber o recado de Deus para nós e sobre nós. O conhecimento de Deus não é questão de intelectualidade. O Espírito é que nos sensibiliza para nos abrirmos à verdade de Deus, ao seu amor, à vida nova que Ele quer nos comunicar, à luz com que Ele quer iluminar nossa escuridão.


Nicodemos, o fariseu notável que pertencia ao círculo dos membros do Sinédrio (Sinédrio ou Sanhedrin era uma assembleia de juízes judeus que constituía a corte e legislativo supremos da antiga Isarael) e que havia visitado Jesus de noite (Jo 3,1-21), mostra sua preocupação pela justiça: “Será que a nossa Lei julga alguém, antes de ouvi-lo e saber o que ele fez?”. Ele pensa que a Lei deve ser usada como instrumento de justiça. No entanto, ele é reprovado pelos colegas ao chamá-lo de ”galileu” (chamar alguém de “galileu” na época era um palavrão): “Também tu és galileu, porventura? Vai estudar e verás que da Galileia não surge profeta”. No lugar de responder Nicodemos, eles o insultam, tratando-o como um ignorante. Para eles, segundo a Lei na qual eles se apoiam e não em Deus, profetas jamais sairiam da Galileia, enquanto que Deus sopra para onde quer e através de qualquer pessoa e em qualquer lugar. Basta cada um ficar atento para captar a passagem de Deus em cada momento na vida de qualquer homem.


Os escribas e os fariseus se sentem seguros na Lei a ponto de chamar “maldito” quem não conhece a Lei. Em nome desta Lei, eles vão crucificar e matar Jesus Cristo. Nas mãos dos escribas e dos fariseus a Lei não é um instrumento de justiça e sim de vingança. Eles confundem o conhecimento da Lei com o conhecimento de Deus. Para eles, os que estão fora da Lei são considerados desviados, malditos. Mas na verdade, os próprios fariseus e os escribas estão fora do conhecimento de Deus. Conhecer Jesus consiste em se preocupar com o bem do homem e sua salvação. Quem não se preocupa com o bem do homem e com a sua salvação, ele se separa de Deus, o Pai, que quer a vida para todos os homens, seus filhos.


Os simples têm, ao contrário, facilidade de captar a mensagem de Jesus e de considerar Jesus como Messias ou Profeta: “Este é, verdadeiramente, o Profeta. Ele é o Messias”. Jesus dirá mais tarde: “Minhas ovelhas escutam minha voz”. “Escutar” e “crer” são quase sinônimos no evangelho de João.


A condição essencial para conhecer Deus é a humildade e a simplicidade. A simplicidade é a condição fundamental para conhecer o projeto de Jesus sobre o homem. Há que saber desprender-se de si mesmo, renunciar a seus próprios pontos de vista, de suas “regrinhas” (como os escribas e os fariseus presos na própria Lei que acabam não conhecendo o verdadeiro Deus) e deixar-se conduzir pelo Espírito divino.


Encontrar o sentido da vida é independente da idade, do sexo, da capacidade intelectual e do grau de instrução da pessoa, pois a vida é simples. Nós é que não sabemos nos comportar diante desse dom de Deus. Em Jesus encontramos o sentido, pois Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Por causa de Jesus milhares de homens mudaram de vida, abandonaram seus hábitos negativos. Por causa dele muitos dedicam sua vida para o bem do próximo. O modo de viver de Jesus em se preocupar com os pequenos, com os necessitados, com os excluídos, com os abandonados fascinam qualquer pessoa. Ele trabalha sem esperar nada de recompensa. Ele quer ver todo mundo na sua dignidade como um ser humano e acima de tudo, como filho e filha de Deus.


Deus permanece escondido atrás das aparências humanas. Cada um tem que descobrir esse Deus diariamente. “Se dizes ‘já basta’, tu estás perdido; aumenta sempre, progride sempre, avança sempre, não te pares no caminho, não voltas para trás, não te desvies!” dizia Santo Agostinho.


Vale a pena cada um se perguntar: “Quem é Jesus para mim? O que significa ele na minha vida? Será que seus ensinamentos provocam uma profunda reflexão para mim? Será que ele ocupa o centro de minha vida? Será que escuto a voz de Jesus como meu pastor?” Eu me preocupo com a regra ou com o bem do homem e sua salvação? Será que eu uso também as regras para dominar os demais ou eu uso a caridade? Temos que caminhar com Jesus Cristo e fazer nossa sua salvação. Será que posso dizer que sou também uma vítima inocente no ambiente em que vivo? Eu me mantenho justo apesar das perseguições? Eu continuo praticando o bem apesar do ódio daqueles cujo negócio é afetado?


Percebemos das leituras de hoje que até para fazer o bem encontramos dificuldades, inclusive a violência da parte daqueles que defendem seus próprios interesses mesmo que sejam errados eticamente. Mas todo homem que sofre inocentemente e injustamente é uma imagem de Cristo sofredor. Todo sofrimento fruto da colaboração para salvar o mundo, para edificar a humanidade, para defender os sem voz e sem vez é o sofrimento do próprio Cristo. Todos esses sofredores estão no coração de Deus: “A vida dos justos está nas mãos de Deus, nenhum tormento os atingirá... Os que confiam em Deus compreenderão a verdade e os que são fieis permanecerão junto a ele no amor, pois graça e misericórdia são para seus santos e sua visita é para seus eleitos” (Sb 3,1.9). Será que estamos no coração de Deus?
P. Vitus Gustama,svd

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