sexta-feira, 16 de março de 2018

20/03/2018
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É PRECISO FIXAR O OLHAR EM DEUS PARA ENTENDER O QUE SE PASSA NA TERRA E NA NOSSA VIDA
Terça-Feira da V Semana da Quaresma


Primeira Leitura: Nm 21,4-9
Naqueles dias, 4 os filhos de Israel partiram do monte Hor, pelo caminho que leva ao Mar Vermelho, para contornarem o país de Edom. Durante a viagem, o povo começou a impacientar-se, 5 e se pôs a falar contra Deus e contra Moisés, dizendo: “Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto? Não há pão, falta água, e já estamos com nojo desse alimento miserável”. 6 Então o Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas, que os mordiam; e morreu muita gente em Israel. 7 O povo foi ter com Moisés e disse: “Pecamos, falando contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que afaste de nós as serpentes”. Moisés intercedeu pelo povo, 8 e o Senhor respondeu: “Faze uma serpente abrasadora e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela viverá”. 9 Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e colocou-a como sinal sobre uma haste. Quando alguém era mordido por uma serpente, e olhava para a serpente de bronze, ficava curado.


Evangelho: Jo 8,21-30
Naquele tempo disse Jesus aos fariseus: 21“Eu parto, e vós me procurareis, mas morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir”. 22Os judeus comentavam: “Por acaso, vai-se matar? Pois ele diz: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’?” 23Jesus continuou: “Vós sois daqui debaixo, eu sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. 24Disse-vos que morrereis nos vossos pecados, porque, se não acreditais que eu sou, morrereis nos vossos pecados”. 25Perguntaram-lhe pois: “Quem és tu, então?” Jesus respondeu: “O que vos digo, desde o começo. 26Tenho muitas coisas a dizer a vosso respeito, e a julgar, também. Mas aquele que me enviou é fidedigno, e o que ouvi da parte dele é o que falo para o mundo”.27Eles não compreenderam que lhes estava falando do Pai. 28Por isso, Jesus continuou: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou, e que nada faço por mim mesmo, mas apenas falo aquilo que o Pai me ensinou. 29Aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou sozinho, porque sempre faço o que é de seu agrado”. 30Enquanto Jesus assim falava, muitos acreditaram nele.
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A primeira leitura nos mostra como, no deserto, o povo de Israel experimenta a dificuldade de viver a fé, de confiar na promessa de Deus. Dois extremos a serem considerados. Primeiro: Israel foge do Egito, atravessa a dor no deserto, se rebelou contra o Senhor providente e é castigado. Segundo: Israel reconhece seu pecado, sofre punição, implora Deus por perdão. Deus acolhe sua oração e concede sua ajuda através do símbolo de uma serpente criada em uma cruz.


No Evangelho de hoje, Jesus afirma que "Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou”. Ele será um sinal de salvação através da cruz. A serpente de bronze era um anúncio desse sinal de salvação.


Os hebreus duvidam da providência de Deus. Os contemporâneos de Jesus duvidaram de Jesus com o Enviado de Deus porque “Vós sois daqui debaixo, eu sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo”. Esse estado de incredulidade em nosso relacionamento com Deus geralmente aparece quando nos sentimos excessivamente esmagados pelo peso de nossas preocupações e problemas. E isso acontece, na verdade, também para os mais generosos cristãos e para os mais ardentes apóstolos. Na verdade Deus está presente em todos os momentos de nossa vida, mesmo que não sintamos Sua presença (Cf. Mt 28,20; Jo 16), pois Ele nos ama com o amor eterno (Cf. Jr 31,3).


É Preciso Olhar Para Deus a Fim De Entendermos o Sentido Do Que Se Passa No Mundo e Na Nossa Vida


Faze uma serpente abrasadora e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela viverá, disse Deus a Moisés.


 Na travessia do deserto rumo à Terra prometida os hebreus, fatigados e insatisfeitos com o maná de pouco valor nutritivo, protestaram contra Deus e Moisés dizendo: “Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto? Não há pão, falta água, e já estamos com nojo desse alimento miserável”.


Deus, em castigo, enviou-lhes serpentes venenosas: “Então o Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas, que os mordiam; e morreu muita gente em Israel”. Reconhecendo nas serpentes venenosas um castigo, os hebreus pedem a Moisés que lhes livre desta praga. Deus dá, então, a seguinte ordem a Moisés: Faze uma serpente abrasadora e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela viverá.


O que podemos ver neste relato é um vestígio da ofiolatria (do grego: ophis + latrea), isto é, a adoração das serpentes ou o culto às serpentes entre os orientais. Em Gezer foi encontrada uma serpente metálica, e em Susa e na Babilônia foram descobertos diversos amuletos em forma de serpente. A serpente sempre foi relacionada à medicina, porque a ela se atribuíam determinadas virtudes curativas. Daí se deduz que o hagiógrafo ou o autor sagrado associa estes restos metálicos daquela região com um milagre de Moisés relacionado com as mordidas das serpentes.


Mas o autor sagrado não atribui um valor mágico à serpente de bronze levantada por Moisés e sim que vê nela (serpente de bronze) um símbolo do poder curativo e salvífico de Deus. O autor do Livro da Sabedoria fez a exegese desta passagem bíblica: “Efetivamente, quando o cruel furor dos animais os atingiu também, e quando pereceram com a mordedura de sinuosas serpentes, vossa cólera não durou até o fim. Foram por pouco tempo atormentados, para sua correção: eles possuíram um sinal de salvação que lhes lembrava o preceito de vossa lei. E quem se voltava para ele era salvo, não em vista do objeto que olhava, mas por vós, Senhor, que sois o Salvador de todos” (Sb 16,5-7). E Jesus Cristo alude ao fato do deserto e vê na serpente levantada por Moisés um tipo de Sua elevação na Cruz: “Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna” (Jo 3,14-15). Em todo caso, Moisés, ao levantar a serpente, quer destacar e simbolizar a onipotência de Deus que cura e salva os hebreus e não um procedimento mágico.


A serpente foi sempre símbolo de espanto. É um animal sinuoso e deslizante e por isso é difícil de pegar, mas que ataca por surpresa e cuja mordida é venenosa e fatal. É assim a “mordida” do pecado na nossa vida: mortal, e exclusão eterna da salvação se não voltarmos para Deus. A serpente de bronze levantada para ser olhada pelos hebreus para não serem mordidos pelas serpentes pode ser entendida como uma volta para Deus ao reconhecer o próprio pecado e invocar a ajuda de Deus, com reza o Salmista: “Ouvi, Senhor, e escutai minha oração, e chegue até vós o meu clamor! De mim não oculteis a vossa face no dia em que estou angustiado! Inclinai o vosso ouvido para mim, ao invocar-vos atendei-me sem demora!” (Salmo Responsorial de hoje). Ninguém se salva magicamente e sim pela fé que se traduz nas obras boas pelo bem da humanidade. O próprio Jesus afirma no evangelho de hoje: “Vós morrereis no vosso pecado”. Esta afirmação se refere à perda da salvação. O pecado é a incredulidade e este é identificado pelo evangelista João com a perda da salvação, com a própria morte. A salvação está na comunhão de vida com Jesus. A desgraça ou a condenação está na separação definitiva de Jesus. A incredulidade como atitude básica e permanente exclui o homem da salvação, da vida eterna.


Eu Sou


Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou, disse Jesus


A controvérsia entre Jesus e seus adversários que começou em Jo 7 continua. Os adversários continuam a não aceitar Jesus como o Enviado de Deus para salvar o mundo.


No texto do evangelho de hoje Jesus usa a expressão “Eu sou”. Para o Povo eleito ou para a tradição judaica a expressão “Eu sou” evoca o nome divino revelado a Moisés na sarça ardente: “EU SOU Aquele que é” (Ex 3,14).  Para os fariseus ao usar a expressão “EU SOU” Jesus se iguala a Deus e isso é uma verdadeira blasfêmia para eles. Eles não aceitam que Jesus se iguale a Deus e por isso, eles perguntam a Jesus: “Quem és tu?”.


Ao afirmar para si próprio como “EU SOU” Jesus quer revelar aos seus adversários sua radical e profunda comunhão com o Pai (cf. Jo 17,21-23). Jesus está tão unido ao Pai a ponto de dizer que não poderia viver sem fazer a vontade do Pai: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra” (Jo 4,34; cf.). Sinal da profunda comunhão com o Pai é o trabalho de Jesus em salvar ou em fazer o bem para todos os homens, especialmente para os excluídos e abandonados. Jesus passou a vida fazendo o bem (cf. At 10,38).


Quando nossa única preocupação é fazer o bem para todos em qualquer lugar e momento é sinal de que estamos em comunhão plena com Jesus. A única coisa que nos faz bem é fazer o bem. A vida não é uma luta para superar os outros, mas uma missão a ser exercida para dar o melhor de nós para a humanidade conforme os talentos recebidos de Deus. Estamos aqui neste mundo com um objetivo único, com um objetivo nobre que nos permitirá manifestar nosso mais alto potencial enquanto, ao mesmo tempo, acrescentamos valor às vidas das pessoas que estão a nossa volta. Descobrir a própria missão significa trazer mais de você mesmo para o trabalho, para a convivência e concentrar-se nas coisas que você sabe fazer melhor e dar sempre o melhor de você para os outros sem esperar nada em troca.  


Mundo Com Deus e Mundo Sem Deus


Se não acreditais que eu sou morrereis nos vossos pecados”, diz nos Jesus hoje.


Esta afirmação de Jesus se refere à perda da salvação. O pecado é a incredulidade e o pecado para o evangelista se identifica com a perda da salvação, igual à própria morte. Assim como a salvação está na comunhão de vida com Jesus, assim a desgraça ou condenação está na separação definitiva de Jesus. Por isso, Jesus diz: “Para onde eu vou, vós não podes ir”. Para a incredulidade não há consumação alguma da comunhão com Jesus. Esta consumação da comunhão acontecerá somente para os que creem em Jesus. Para estes é que Jesus promete: “Vou preparar um lugar para vós e assim que estiver preparado um lugar para vós voltarei e vos levarei comigo a fim de que onde estiver estejais vós também” (Jo 14,3). A incredulidade como atitude básica e permanente exclui o homem da salvação, da vida eterna.


Vós sois daqui de baixo, eu sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo”, diz Jesus aos seus inimigos. Estas palavras confirmam a diferença essencial que há entre Jesus e o mundo, precisamente na origem diferente. O mundo ao qual Jesus se opõe é o mundo sem referência a Deus. Este tipo de mundo pode estar presente tanto no interior da Igreja como fora dela. Assim como o mundo de Deus pode estar presente tanto na Igreja como fora dela. A fronteira dos dois mundos não coincide com as fronteiras do cristianismo, pois um cristão pode ser um pagão a partir de seu modo de viver e um pagão pode ser um cristão por causa de seu modo de viver com os demais (cf. Mt 8,5-10).   Jesus, o revelador do Pai, pertence por completo à esfera divina. A esfera divina pertence também aos que acreditam em Jesus Cristo. Enquanto que os incrédulos ficam excluídos da mesma. Além disso, por si mesma, a incredulidade não pode superar sua origem de “baixo”.


Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então, sabereis que eu sou”, diz Jesus. Este elevar do Filho do Homem é a exaltação de Jesus mediante sua morte na cruz. Com esta conexão estabelecida entre a cruz e a afirmação “Eu Sou” fica definitivamente claro onde há que buscar e encontrar o lugar da presença salvadora de Deus: em Cristo crucificado. Atrás da Cruz há vida e salvação. Jesus se torna o novo lugar da presença de Deus em quem Deus sai ao encontro do homem dando-lhe a salvação e a vida. Trata-se aqui da fé: do reconhecimento ou do não reconhecimento dessa presença de Deus em Jesus. Por isso, a pergunta dos judeus da época “quem és tu?” leva consigo a renunciar a crer. Rejeitar Cristo que é a vida, luz e salvação, supõe optar pela morte, as trevas e a ruína eterna.


Vós sois daqui de baixo”. Os que daqui de baixo, os do mundo se deixam levar pelas paixões desordenadas e pelo espírito mesquinho de intolerância, mostrando-se insensíveis em relação aos mais pequeninos, e não suportando quem lhes aponta os pecados, não se dão conta do desígnio divino. São Paulo nos relembra muito bem ao dizer aos filipenses: “Já vos disse muitas vezes, e agora o repito, chorando: há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus deles é o ventre, a glória deles está no que é vergonhoso. Apreciam só as coisas terrenas! Nós, ao contrário, somos cidadãos do céu. De lá aguardamos como salvador o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará o nosso pobre corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, graças ao poder que o torna capaz também de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,18-21).  Que não sejamos inimigos da Cruz de Jesus.


“Ser elevado” (Jo 8,28) tem um duplo sentido de morte e de exaltação. O Filho do Homem (Jesus) aprendeu do Pai sua oposição à injustiça; sua morte demonstrou sua plena coerência, a morte de um amor que chega a dar a vida e com ela, sua missão divina. Jesus nunca se acovarda (Jo 8,29) porque o Pai o acompanha e apoia. Como você se avalia a partir de Jesus Cristo a Quem você segue?


Por fim, a multiplicação de serpentes venenosas que matam é como a multiplicação dos pecados que matam (excluir da salvação). Na vida as infidelidades são como mordidas de serpentes, delas há que se curar. Elevar o olhar para Jesus é um símbolo da elevação do coração arrependido para Deus por via da fé e por mudança de conduta mais ética e fraterna, pois por este caminho se chega a nova vida de amor.
P. Vitus Gustama,svd

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