segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Sexta-feira Da VII Semana Comum,25/02/2022

A BELEZA DO MATRIMÔNIO ESTÁ NA SUA INDISSOLUBILIDADE

Sexta-Feira da VII Semana Comum

Primeira Leitura: Tg 5,9-12

9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está às portas. 10 Irmãos, tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas, que falaram em nome do Senhor. 11 Reparai que consideramos como bem-aventurados os que perseveraram. Ouvistes falar da perseverança de Jó e conheceis o êxito que o Senhor lhe deu — pois o Senhor é rico em misericórdia e compassivo. 12 Sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outra forma de juramento. Antes, que o vosso sim seja sim, e o vosso não, não. Então não estareis sujeitos a julgamento. 

Evangelho: Mc 10,1-12   

Naquele tempo, 1 Jesus foi para o território da Judeia, do outro lado do Jordão. As multidões se reuniram de novo em torno de Jesus. E ele, como de costume, as ensinava. 2 Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3 Jesus perguntou: “O que Moisés vos ordenou?” 4 Os fari­seus responderam: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. 5 Jesus então disse: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. 6 No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8 Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9 Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” 10 Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus respondeu: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. 12 E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”.

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Somos Chamados a Ser Perseverantes No Bem Que Devemos Fazer

O texto da Primeira Leitura (Tg 5,9-12) se encontra na seção sobre diversas exortações (Tg 5,7-20). O horizonte da vinda do Senhor como juiz orienta para as últimas exortações e a firmeza no falar. O momento da vinda do Senhor é desconhecido, porém sua aproximação é um fato irreversível. Esta é a razão  principal para fortalecer os corações dos fieis  e para a espera vigilante. Mesmo desconhecido é o momento da vinda, porém existe um prazo até que o Senhor venha. 

Depois de ter se dirigido aos mais ricos, que lemos na Primeira Leitura do dia anterior (Tg 4,13-17), agora são Tiago se dirige aos fieis mais pobres que são vítimas dos ricos e que são chamados com afeto “irmãos”. São Tiago os convida à paciência e à constância pondo diante deles o exemplo de tantos profetas e crentes, especialmente Jó, o protótipo bíblico da paciência, que souberam suportar todas as provas da vida confiando-se em Deus: “Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está às portas”. Não se trata precisamente da resignação. A espera, a paciência, a perseverança são virtudes ativas que requerem valentia e dinamismo.

O que são Tiago quer evitar não é apenas que os pobres das comunidades percam suas forças a protestar contra os ricos no momento em que o Juiz se prepara para intervir. Ao falar do juízo à portas, são Riago quer alertar os cristãos para não se iludirem com o tempo. Que as dificuldades não façam com que os irmãos se irritem uns com os outros e que as provações  que encontram não os dividam. Que eles tenham paciência uns para com os outros. 

O motivo dessa paciência que são Tiago nos recomenda não é de ordem humana. É um motivo religioso que deveria nos mover a “não nos queixar”: “Eis que o juiz está às portas”. A vinda do Senhor está próxima, às portas. Deus está às portas. A injustiça e a desgraça não triunfarão. É preciso manter-se na paciência e na perseverança. 

Seja próximo ou não o retorno de Cristo como Juiz no final dos tempos, todos nós vamos aplicar para nós mesmos a lição de perseverança e de fortaleza diante das dificuldades da vida, inclusive diante das injustiças das quais possamos ser vítimas.

Não devemos nos cansar de fazer o bem, não importa o que acontece ao nosso redor. Também não importa se alguém nos interpreta bem ou não. Fazer o bem sempre é a nossa missão como seguidores de Cristo. Nossa atitude deve ser a fidelidade a Deus quando as coisas vão bem e quando somos objeto de injustiças.

Este não é um convite para parar de lutar por uma vida mais justa para todos. Mas às vezes nós levamos as coisas pessoalmente e perdemos a paz. Deus nos vê, nos conhece, conhece nossas dificuldades. Deus não nos esquecerá jamais, como Ele não se esqueceu de Jó nas suas dificuldades. 

O autor do Salmo Responsorial de hoje (Sl 102/103) nos convida solenemente para o louvor pela misericórdia de Deus e pelo seu amor infinito que levam Deus a nos perdoar e nos cobrir de bens. Além disso, somos convidados a fazer nosso louvor a Deus porque Deus se preocupa com os oprimidos, aos quais Ele defende e liberta: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e todo o meu ser, seu santo nome! Bendize, ó minha alma, ao Senhor, não te esqueças de nenhum de seus favores! Pois ele te perdoa toda a culpa, e cura toda a tua enfermidade; da sepultura ele salva a tua vida e te cerca de carinho e compaixão. O Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo. Não fica sempre repetindo as suas queixas, nem guarda eternamente o seu rancor. Quanto os céus por sobre a terra se elevam, tanto é grande o seu amor aos que o temem; quanto dista o nascente do poente, tanto afasta para longe nossos crimes”. 

O salmista sugere que além de trabalharmos para que haja mais justiça no mundo, devamos conservar a paz interior e confiar em Deus, pois tudo de bom ou de ruim sai de nosso interior. 

Viver Em Harmonia Com Deus Se Reflete Também Na Harmonia Matrimonial

O texto do evangelho deste dia nos apresenta a discussão sobre o matrimônio entre Jesus e os fariseus. O foco da discussão é o divórcio. A doutrina do evangelista Marcos é bem clara: o casamento não é somente um contrato entre o homem (marido) e a mulher (esposa), mas ele engaja a vontade de Deus. A vontade dos esposos (em contrair o matrimônio) não é suficiente para explicar o casamento e sua unidade, mas a vontade de Deus é parte integrante: “Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”.  Consequentemente, o divórcio não é apenas uma injustiça em relação ao cônjuge humano abandonado, mas também uma injustiça em relação ao próprio Deus que quer sempre a comunhão. 

“É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher?”. É a pergunta de alguns fariseus a Jesus com o intuito de apanhá-lo. Jesus seria acusado de traidor às exigências da Lei, se respondesse “não”, e poderia estar em contradição com sua pregação e com suas obras de caridade caso respondesse “sim”. O resultado seria o mesmo: desacreditar Jesus. 

Jesus percebeu a maldade dos fariseus, mas não reagiu de maneira violenta. Jesus não discutiu. Ao contrário, Jesus se argumentou ao retroceder até as origens: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”

Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento”. Como consequência de um coração duro e insensível é a desobediência contínua às diretivas divinas. Um coração duro e insensível provoca a desordem nas relações humanas.  

O que Deus uniu, o homem não separe!”. Ater-se somente à lei e às regras é esquecer o impulso da vida. Jesus quer que o ser humano se aproxime da ambição de Deus: o amor é mais exigente do que qualquer lei. 

“Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne”. Para conhecer a grande intuição de Deus é preciso retroceder aos começos, às origens, ao princípio, quando, por ternura, Deus tirou da terra o homem e a mulher e soprou neles Seu hálito para que eles correspondessem ao Seu amor. Para Deus, amar foi em primeiro lugar falar nossa linguagem. Para Deus amar é manter a única palavra que nós podemos entender. Todos entendem a linguagem de amor. Amor é a única palavra que Deus quer manter para o homem e a mulher e quer, ao mesmo tempo, que o homem e a mulher permaneçam no amor. Quando há amor, tudo tem jeito. Regressar às nossas origens para descobrir a regra ou o princípio de nossa vida é voltar a descobrir que necessitamos falar a linguagem do Outro: de Deus. E a linguagem que Deus usa é amor. 

Para Deus amar também significa fazer-se vulnerável. Ele não permaneceu no céu de Sua indiferença. Deus “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Regressar às nossas origens para voltar a descobrirmos a regra ou o princípio de nossa vida é fazer-nos vulneráveis. Quem ama, aceita desejar, esperar, pedir e sofrer.

Para Deus, amar foi também crer e esperar. Deus nos deixou livres e não se arrependeu pela liberdade que nos foi dada. Regressar às nossas origens para descobrir a regra ou o princípio de nossa vida é voltar a aprendermos a viver na esperança. O amor é fecundo, suscita e ressuscita, perdoa e reconcilia. O amor espera com o outro na esperança, pois Deus nos espera no amor e por amor.

Não separe o homem o que Deus uniu”, diz Jesus. Romper um vínculo selado por Deus é ir contra Deus. Deus chama à comunhão. Toda ruptura de comunhão significa estar contra o Deus-Comunhão. Os discípulos, os cristãos devem buscar sempre uma vida que reflete esta comunhão com Cristo e com o Pai, e por este mistério de comunhão é inconcebível falar de desunião, de divórcios, de divisão entre os cristãos. Todos os cristãos devem ser testemunhas de comunhão e não de ruptura. 

O matrimônio é sacramento por ser imagem mais perfeita do que Deus é e do que é a vida segundo Deus. Na relação entre um homem e uma mulher descobrimos e experimentamos que Deus é encontro, dom, participação e amor. O casal humano é chamado por Deus a tornar-se o primeiro lugar de encarnação deste movimento de amor. O amor humano, sob todas as suas formas, não nasceu dos acasos da evolução biológica. É dom de Deus (cf. 1Jo 4,19). Quando os homens recusarem este dom, impedirão Deus de imprimir neles a sua imagem. 

As pessoas se casam para formar uma família onde cada membro é preparado para entrar na sociedade maior. A família é o ambiente em que cada um aprende a dar e a receber o amor, a sacrificar pelo outro, a ser solidário com o outro, a carregar juntos o fardo que se encontra na caminhada, a perdoar mutuamente pelas ofensas que muitas vezes são frutos não da maldade, mas das limitações naquele momento em que elas ocorreram. A linguagem da fé de cada cristão se aprende no lar. A fé e a ética cristã se aprendem no lar que vão marcar a vida de cada membro para o resto da vida. Nenhum de nós adquiriu por si só os conhecimentos básicos para a vida senão através da família. No inicio da vida cada um recebe da família, a vida e as verdades básicas para viver uma vida sadia pessoal, social e comunitariamente.

Que em cada Eucaristia ou em cada celebração litúrgica seja fortalecido o amor dos casais presentes, o amor que eles consagraram um para o outro no dia de seu casamento. O casamento indissolúvel é um grito para todas as pessoas ao redor que existe o amor. É o mesmo que dizer: Deus existe, pois ele é Amor (1Jo 4,8.16).

P. Vitus Gustama,svd

Um comentário:

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