sexta-feira, 22 de abril de 2022

Quarta-feira Da II Semana Da Páscoa,27/04/2022

DEUS NOS AMA PERMANENTEMENTE E CREMOS NO SEU AMOR ETERNAMENTE

Quarta-Feira da II Semana da Páscoa

Primeira Leitura: At 5,17-26

Naqueles dias, 17 levantaram-se o sumo sacerdote e todos os do seu partido — isto é, o partido dos saduceus — cheios de raiva 18 e mandaram prender os apóstolos e lançá-los na cadeia pública. 19 Porém, durante a noite, o anjo do Senhor abriu as portas da prisão e os fez sair, dizendo: 20 “Ide e, apresentando-vos no Templo, anunciai ao povo tudo o que se refere àquela Vida”. 21 Eles obedeceram e, ao amanhecer, entraram no Templo e começaram a ensinar. O sumo sacerdote chegou com seus partidários e convocou o Sinédrio e o Conselho formado pelas pessoas importantes do povo de Israel. Então mandaram buscar os apóstolos na prisão. 22 Mas, ao chegarem à prisão, os servos não os encontraram e voltaram dizendo: 23 “Encontramos a prisão fechada, com toda segurança, e os guardas estavam a postos na frente da porta. Mas, quando abrimos a porta, não encontramos ninguém lá dentro”. 24 Ao ouvirem essa notícia, o chefe da guarda do Templo e os sumos sacerdotes não sabiam o que pensar e perguntavam-se o que poderia ter acontecido. 25 Chegou alguém que lhes disse: “Os homens que vós pusestes na prisão estão no Templo ensinando o povo!” 26 Então o chefe da guarda do Templo saiu com os guardas e trouxe os apóstolos, mas sem violência, porque eles tinham medo que o povo os atacasse com pedras.

Evangelho: Jo 3,16-21

16Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. 19Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. 20Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. 21Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus.

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Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). 

Se para confirmar seu amor pelo mundo houvesse, ao contrário, entregado uma simples criatura, não daria esse significante sacrifício prova de alentado mérito. Grandes dádivas dão prova de dilatada caridade: na grandeza de dom é que se divisa a grandeza da alma. Tendo Deus amado o mundo, não lhe deu um filho adotivo, senão o próprio Filho, único e verdadeiro. Não um filho adotivo, de criação, ou seja, um filho que não o é verdadeiramente. Que testemunho maior pode haver de amor e caridade que entregar, para a salvação do mundo, o próprio Filho Unigênito?” (Santo Hilário: De Trinitate, 1.6: In Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea. Vol.IV, Evangelho de João, Ed. Eclessiae,2021,p.130). 

“... Aquele que é imortal, aquele que não tem princípio, cuja grandeza é infinita, esse foi quem amou os homens, formados a partir da terra e das cinzas, e tomados de incontáveis pecados. O que se segue exprime ainda mais fortemente esse mesmo amor: com efeito, não entregou um servo, nem um anjo, tampouco um arcanjo, mas o próprio Filho. Tivesse vários filhos e decidisse sacrificar um deles, isto já seria prova de imenso amor, mas nos entregou seu Filho Único. Diz são João, portanto: Seu Filho Unigênito” (São João Crisóstomo: In Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea. Vol.IV, Evangelho de João, Ed. Eclessiae,2021,p.130). 

Somos Enviados Pelo Senhor Ressuscitado Para Respeitar, Proteger e Defender a Vida

Ide e, apresentando-vos no Templo, anunciai ao povo tudo o que se refere àquela Vida”. Esta é a mensagem do anjo do Senhor para os Apóstolos no momento em que foram libertados da prisão, milagrosamente. 

Anunciai ao povo tudo o que se refere àquela Vida. Trata-se de uma mensagem muito densa teologicamente. Jesus devolve a vida aos mortos (Lc 7,11; Mt 9,18; Jo 11,1). Jesus veio trazer a vida em abundância (Jo 10,10). A missão que Jesus recebeu consiste em dar ao homem “vida eterna”, a mesma vida de Deus que provém da “água e do Espirito” (Jo 3,3) e que se concede aos homens em virtude do Filho do Homem elevado. Ser elevado significa, para Jesus, não somente a cruz e a morte, mas também sua ressurreição e exaltação junto ao Pai. Pedro e Paulo também o fazem como os profetas antigos (At 9,36; 20,7). Jesus ressuscitou para morrer nunca mais. Jesus ressuscitou para mostrar ao homem que Ele é o princípio de vida (Jo 1,3-5), princípio e fim da existência de todos os homens. A ressurreição de Jesus foi um fato revelador sobre o destino de Jesus e do homem. A ressurreição de Jesus é a mensagem mais clara sobre o futuro do homem. A imortalidade, a vida eterna é um dom de Deus. Por ser dom, a vida eterna somente se encontra em Deus. É preciso aderir-se à fonte deste dom que é o Senhor da Vida. A fé na ressurreição é parte da fé de todo o Novo Testamento.

Anunciai ao povo tudo o que se refere àquela Vida. É uma bela definição do anúncio cristão. Tudo que o cristão anuncia deve dizer respeito à vida para que os destinatários de seu anúncio possam ser animados para seguir adiante, pois o próprio Senhor é a Vida (Jo 14,6). É um anúncio sobre a vitória de Jesus, o Vivente, sobre a morte. É um anúncio cujo objetivo é bem claro: para que os ouvintes optem pela vida e não pela cultura de morte. O cristão tem como missão respeitar a vida em todos os instantes. Optar pela vida significa dizer sim ao homem como valor supremo, a uma paternidade ou maternidade responsável, a uma distribuição justa dos bens da terra, a um progresso que melhore a qualidade de vida, aos movimentos pacifistas e ecologistas, a Deus e à vida que não termina com a morte, pois Deus é a Vida, por excelência. Optar pela vida significa estar pronto para se chocar com o poder que para auto conservar-se e para se manter nos seus privilégios, e dominado pela inveja, o poder produz escravidão e morte, sacrificando principalmente os inocentes. 

A defesa incondicional de todos os seres humanos, principalmente dos excluídos e marginalizados, se converte na obra de Deus no mundo. Deste modo, a vida alcança a todos os seres humanos e os ilumina com a luz da esperança, pois Jesus venceu a morte ao ressuscitar dos mortos e continua a estar conosco (Cf. Mt 28,20). 

O Senhor Se Encarnou Por Amor, Morreu Por Nós e Ressuscitou Para Continuar a Nos Amar 

Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Palavras profundas nas quais o nosso coração deve abismar-se. Deus se dá a Si mesmo. Com Ele nos é dado tudo, pois Ele se dá a Si mesmo. Deus se converte em dom para nós todos. É um dom de tal categoria que o próprio dom nos concede a graça de recebê-lo. Somente na medida em que reconhecermos isso, nós possuiremos aquilo que nos é dado.

Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). 

Esta frase é uma síntese bíblica que condensa todo o quarto Evangelho (Evangelho de João). O quarto Evangelho foi escrito para que acreditemos em Jesus, oferta de amor e salvação de Deus para a humanidade, e para que, crendo nele, tenhamos a vida em seu nome (cf. Jo 20,31). Ele veio para que todos nós tenhamos vida e a tenhamos abundantemente (Jo 10,10). E esta oferta tem um motivo e uma finalidade e um meio. O motivo da oferta é o amor apaixonado de Deus pela humanidade: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único”. E a finalidade desta oferta é a salvação da humanidade: “... para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. E o meio para que o amor de Deus chegue até a humanidade é a encarnação de Deus em Jesus Cristo. Jesus é a manifestação tangível do amor do Pai (1Jo 4,9). O objeto da fé em Jo é acreditar em um Deus que nos ama e que este Deus acampou no meio de nós (Jo 1,14). Toda a Bíblia é a história de amor de Deus por nós todos. “Se queres falar sobre o amor, não precisas dar-te ao trabalho de buscar citações. Onde quer que abras a Bíblia, ali se fala do amor” (Santo Agostinho: Serm. Mai 14,1).

Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). 

No vocabulário do cristianismo primitivo essa maneira de falar está sempre em relação à cruz. É uma reflexão sobre a morte na Cruz de Jesus por amor à humanidade. Nesta entrega do Filho único há uma recordação do sacrifício que outro pai fez também de seu filho único: Abraão (cf. Gn 22,2). Aquele sacrifício não chegou a realizar-se. O cordeiro que substitui Isaac e se sacrifica sem resistência é este Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29). O Pai não envia o Filho para a morte e sim para o cumprimento fiel de sua missão de revelar o amor de Deus, Sua misericórdia sobre todos os homens, e a morte de Jesus na cruz é a consequência desse amor levado até o fim (cf. Jo 13,1). 

Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). 

A partir desta frase sabemos quem é Deus? Muitas definições foram feitas sobre Deus, tanto a partir da filosofia, como da teologia em geral e outras disciplinas científicas e exatas, mas nenhuma definição mais certa e curta do que a de São João: “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Esta frase é carregada de mistério e de promessa, toda nossa história. É a frase nuclear e radiante. Esta frase, ao meditá-la e vivê-la no dia-a-dia, tem a capacidade de manter a esperança no mundo e tem uma força tremenda para o homem continuar sua luta pela dignidade, pois o amor é a última palavra da vida. “O Amor é a nossa origem. O Amor é o chamado constante na vida. O Amor é a plenitude da vida. No entardecer da nossa vida seremos julgados no amor” (Santo Agostinho). 

A resposta para o porquê da criação, da encarnação e da redenção é o amor de Deus por todos nós. Toda a atividade de Deus é uma atividade amorosa. Se cria, Ele cria por amor; se governa as coisas, o faz no amor; quando julga, julga com amor. Tudo quanto faz é expressão de sua natureza, e sua natureza é amar. Amar é dar-se a si mesmo. O plano de salvação não tem outro fundamento que o incompreensível amor de Deus por nós todos e por cada um de nós em particular. Por amor anda Deus em nossa busca pelos caminhos do mundo. É um Deus que não tem medo de sacrificar até o próprio Filho para resgatar todos nós, pecadores e perdidos, por amor. O homem nenhum na face da terra sacrificaria seu próprio filho para resgatar os outros. Somente o Deus apaixonado por nós todos. 

Deixar de olhar para Deus que se encarna em Jesus será para nós uma perdição eterna e será para nós uma infelicidade sem fim. Levado por seu amor, Deus salta o abismo que nos separava dele e se aproxima de nós para nos dar o que mais quer: seu “único Filho”. Mais ainda, entregou seu único Filho à morte para que todos nós tenhamos vida. E esta vida dada para nós gratuitamente se renova em cada Eucaristia para que sejamos um dom para os outros; para que façamos o bem também para os outros. Jamais um cristão pode fazer o mal ou ser cúmplice do mal. 

O melhor comentário para este texto de Jo 3,16 é a primeira carta de São João 4,18-21: “No amor não há temor. Antes, o perfeito amor lança fora o temor, porque o temor envolve castigo, e quem teme não é perfeito no amor. Mas amamos, porque Deus nos amou primeiro. Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão”.  Será que amamos realmente a Deus no próximo? (cf. Jo 15,12). 

A Paixão e morte de Jesus Cristo é a manifestação suprema do amor de Deus pelos homens. Deus é amor, amor que se difunde e se prodiga; e tudo se resume nesta grande verdade que tudo explica e o ilumina. É necessário ver a história de Jesus sob esta luz. “Ele me amou e sacrificado por mim”, escreveu São Paulo (Gl 2,20). Cada um precisa repetir esta frase a si mesmo. O amor de Deus por nós culmina no sacrifício do Calvário. A entrega de Cristo constitui uma chamada estimulante e apressada para corresponder a esse amor: amor com amor se paga. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27), e Deus é amor (1Jo 4,8.16). Por isso, o coração do homem está feito para amar e quanto mais se ama, mais se identifica com Deus e somente quando ama, o homem pode ser feliz. 

Num mundo acostumado ao comércio, ao preço das coisas, é difícil entender a gratuidade, é difícil entender a ação de Deus que quer dialogar, amar com liberdade a todos, oferecendo a oportunidade de salvação, graça e vida. Nós, na nossa vida cotidiana, damos uma parte de nossa vida, enquanto Deus dá tudo para a humanidade. Por isso, quando ele pedir do homem, Deus não pede muito do homem, mas pede tudo do homem. 

“Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.  Segundo o Evangelho de João, o cristão não tem que ter medo do juízo último, pois o juízo não é algo externo e sim dentro do próprio homem. O cristão sabe que o juízo está nele e depende de sua própria escolha. A partir de Deus tudo é governado por amor. E a partir do homem?  será que nossa vida é governada por amor e com amor? “Quanto mais cresce teu amor, maior é tua perfeição. A perfeição da alma é o amor(Santo Agostinho: In epist. Joan. 9,2). 

“Deus amou tanto o mundo...”. Esta é a única confissão de fé que estamos obrigados a professar para ser fiéis à herança que nos foi dada. Deus nos ama com um amor incompreensível e incomensurável. O Deus que Jesus nos revela é o Deus que ama. Não se pode pensar em Deus sem dar-Lhe este predicado que impressiona profundamente o coração do homem até suas entranhas. 

A obra de Deus no mundo é principalmente o amor. Por isso, entregou Seu Filho para que dê vida abundantemente a todos os seres humanos. Na medida em que os seres humanos acolhem a vida divina, suas obras serão iluminadas pela verdade.

P. Vitus Gustama,svd

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