terça-feira, 9 de janeiro de 2024

11/01/2023-Quintaf Da I Semana Do Tempo Comum

A VERDADEIRA FÉ SE TRADUZ NA VIVÊNCIA DO AMOR FRATERNO

Quinta-Feira da I Semana Comum

Primeira Leitura: 1SM 4,1-11

1 Naqueles dias, os filisteus reuniram-se para fazer guerra a Israel. Israel saiu ao encontro dos filisteus, acampando perto de Eben-Ezer, enquanto os filisteus, de sua parte, avançaram até Afec 2 e puseram-se em linha de combate diante de Israel. Travada a batalha, Israel foi derrotado pelos filisteus. E morreram naquele combate, em campo aberto, cerca de quatro mil homens. 3 O povo voltou ao acampamento e os anciãos de Israel disseram: “Por que fez o Senhor que hoje fôssemos vencidos pelos filisteus? Vamos a Silo buscar a arca da aliança do Senhor para que ela esteja no meio de nós e nos salve das mãos dos nossos inimigos”. 4 Então o povo mandou trazer de Silo a arca da aliança do Senhor todo-poderoso, que se senta sobre querubins. Os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias, acompanhavam a arca. 5 Quando a arca da aliança do Senhor chegou ao acampamento, todo Israel rompeu num grande clamor, que ressoou por toda a terra. 6 Os filisteus, ouvindo isso, diziam: “Que gritaria é essa tão grande no campo dos hebreus?” E souberam que a arca do Senhor tinha chegado ao acampamento. 7 Os filisteus tiveram medo e disseram: “Deus chegou ao acampamento!” E lamentavam-se: 8 “Ai de nós! Porque os hebreus não estavam com essa alegria nem ontem nem anteontem. Ai de nós! Quem nos salvará da mão desses deuses tão poderosos? Foram eles que afligiram o Egito com toda espécie de pragas no deserto. 9 Mas coragem, filisteus, portai-vos como homens, para que não vos torneis escravos dos hebreus como eles o foram de vós! Sede homens e combatei! 10 Então os filisteus lançaram-se à luta, Israel foi derrotado e cada um fugiu para a sua tenda. O massacre foi grande: do lado de Israel tombaram trinta mil homens. 11 A arca de Deus foi capturada e morreram os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias.

Evangelho: Mc 1,40-45

Naquele tempo, 40 um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres tens, o poder de curar-me”. 41 Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” 42 No mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado. 43 Então Jesus o mandou logo embora, 44 falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” 45 Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.

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Não Nos Esqueçamos De Deus Para Não Encontrar Um Desastre Maior Na Nossa Vida

A Primeira Leitura nos relata a batalha entre os israelitas contra os filisteus em que os israelitas perderam. Nessa batalha muitos israelitas, inclusive os filhos do sacerdote Eli (Hofni e Finéias), morreram. 

O desastre anunciado primeiro por um homem de Deus (1Sm 2,27-36) e depois por Samuel (1Sm 3,11-14) é cumprido na batalha de Afec por volta de 1050 a.C. O relato dessa batalha é literariamente independente em suas origens dos fragmentos da história de Samuel que lemos nos últimos dias. O nome de Samuel não aparece na narrativa de hoje, que vem antes da história da Arca da Aliança, que encontraremos novamente quando Davi recuperar e transferir a Arca para Jerusalém. O editor dos livros de Samuel antecipou este episódio aqui porque os nomes de Hofni e Finéias aparecem nele, e enfatizou que a morte deles e a perda da Arca tinha sido a punição pelos pecados dos filhos de Eli, assim como Deus havia anunciado pela boca de seus profetas. Além disso, a derrota de Afec, transportada para este lugar dos livros de Samuel, serve como uma introdução à história das origens da monarquia em Israel.

Nessa batalha, os filisteus roubaram a Arca da Aliança, uma das coisas que os israelitas mais apreciaram. A Arca, um cofre que continha as principais palavras da Aliança (duas tábuas da lei) e que estava coberta com uma capa de ouro e as imagens de alguns querubins, era para os israelitas, especialmente durante o período nômade do deserto, um dos símbolos da Presença de Deus entre eles. A arca originalmente se lembrava do Deus das batalhas, Deus Sabaoth: ela presidia as marchas do povo pelo deserto e na conquista de Canaã (Nm 10:33), enquanto uma canção guerreira ressoava ao seu redor. Era considerada a forma da presença de Deus em um povo ainda nômade, o acompanhava em seus movimentos. Pelo fato de a arca ter roubado pelos filisteus, o desastre ficou maior, pois os israelitas depositavam sua confiança na Arca. O livro de Samuel - em algumas páginas que não lemos nesta seleção - interpreta a derrota como punição de Deus pelos pecados dos filhos de Eli.

Dentro dessa situação aparentemente Deus fica calado. Com razão recordamos, com o Salmo Responsorial de hoje (Sl 43/44), esta situação de silêncio de Deus: “Agora, Senhor, nos deixastes e humilhastes, já não saís com nossas tropas para a guerra! Vós nos fizestes recuar ante o inimigo, os adversários nos pilharam à vontade”. Mas o lamento se converte em súplica humilde: “ Levantai-vos, ó Senhor, por que dormis? Despertai! Não nos deixeis eternamente! Por que nos escondeis a vossa face e esqueceis nossa opressão, nossa miséria?”.

Há dias também em nossa vida em que há escuridão, há grandes dificuldades , há problemas de todos os lados e, ao mesmo tempo, aparentemente Deus fica em silêncio diante de nossos sofrimentos. Precisamos transformar nossas lamentações  em orações cheias de fé em Deus, a exemplo do salmista: “Levantai-vos, ó Senhor, por que dormis? Despertai! Por que nos escondeis a vossa face e esqueceis nossa opressão, nossa miséria?”. As dificuldades e os problemas servem para voltarmos para Deus Onipotente e com Ele usamos nossas forças para procurar possíveis soluções. A união da fé no Deus Onipotente e na nossa força dada por Deus resulta na solução das dificuldades. 

Precisamos fazer exame de consciência para descobrir se temos alimentado nossa fé com muita oração e outras exigências da fé. Só quando perdemos aquilo que é valioso para nós é que começamos a perceber a importância de Deus na nossa vida, como o povo israelita que perdeu a Arca da Aliança para os filisteus. Se nós estivermos sempre com o Senhor, vivendo de acordo com seus mandamentos, então seremos, sim, invencíveis. 

Podemos também ver de outro ângulo a guerra entre os Israelitas e os filisteus. Dentro da guerra entre os israelitas e os filisteus podemos falar sobre dois tipos de guerras que ocorrem quase continuamente entre os homens e no interior do homem.

A guerra entre os homens acontece por ambições de poder, de terra, de domínio, de privilégio, de egoísmo, de superioridade, de ganâncias,  de interesses egoístas que evidentemente não são nobres diante de Deus e diante da dignidade do homem. 

A guerra dentro dos homens acontece porque dentro do homem lutam as forças do bem, inclinadas à virtude, ao amor e ao serviço, e as forças do mal que se recusam a obedecer aos mandamentos e à vontade de Deus expressados nos gritos da consciência. 

Para que no mundo exterior exista paz, solidariedade, amor compartilhado, igualdade nos direitos fundamentais, é indispensável que o mundo interior das pessoas (governantes, administradores, advogados, trabalhadores, sacerdotes e pais) esteja em perfeita harmonia: querendo apenas o honesto, sentindo a felicidade do outro que faz conosco o caminho da vida, tendo Deus no horizonte da existência, contentando-se com uma suficiência digna que não força situações extremas de bem-estar que são adiquiridas com violência e com a injustiça, desonestidade ou corrupção e assim por diante. 

Em segundo lugar, podemos aprender da derrota dos israelitas na batalha contra os filisteus outra lição. Há dias, também em nossas vidas, quando parece ter um eclipse de Deus em que Deus não se vê no horizonte de nossa vida, sentindo-nos abandonados. Percebemos que tudo vai mal, vemos tudo escuro e as confianças que nos alimentaram entram em colapse.  São dias em que com o salmista (Sl 43: Salmo Responsorial de hoje) gritamos: “Levantai-vos, ó Senhor, por que dormis? Despertai! Não nos deixeis eternamente! Por que nos escondeis a vossa face e esqueceis nossa opressão, nossa miséria?”.

Talvez a nossa culpa seja que não sabemos ainda como adotar uma verdadeira atitude de fé. Pode acontecer-nos como os israelitas, que eles tinham a Arca da Aliança como uma apólice de seguro, como um talismã ou um amuleto mágico que os liberaria automaticamente de todos os perigos, mas sem fé firme no próprio Deus. Eles não deram lugar à atitude de fé, não querem mais ouvir Deus nem vivem conforme os mandamento do Senhor. Mais do que servir a Deus, eles usaram Deus. Gostavam das vantagens da presença da Arca, mas não das suas exigências ou dos mandamentos de Deus, como aconteceu com os dois filhos de Eli nesta leitura. 

Fica para nós a seguinte pergunta: Nós, cristãos, também não consideramos os sacramentos e a nossa fé, como uma segurança automática e mágica ... como se nos dispensassem de atuar, de nos esforçar para nos converter? O Senhor Jesus nos alerta no Sermão da Montanha: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus" (Mt 7,21). 

Deus fez uma nova e definitiva Aliança conosco, selando-a com o Sangue de seu próprio Filho. Aqueles que aceitarem essa Aliança, entrarão em comunhão de vida com Jesus Cristo. 

Jesus Quer Nos Purificar e Curar De Nossas “Lepras” Que Discriminam e Excluem As Pessoas

Lepra! Que horrível é a lepra. Ainda hoje o leproso fica marginalizado da sociedade, fechado numa leprosaria. Mas há uma vantagem: a medicina se interessa por ele; a investigação científica busca sua cura. Na época de Jesus não era assim.       

O evangelho deste dia fala, certamente, da cura de um leproso (cf. Mt 8,2-4; Lc 5,12-16). Naquela época, lepra não se restringia apenas à doença que a medicina moderna chama de lepra, mas qualquer doença da pele era considerada como lepra. E todas as doenças eram consideradas como um castigo de Deus, mas a lepra era o próprio símbolo do pecado. A lepra era considerada como a própria morte, pois dificilmente podia ser curada. A cura da lepra era, por isso, considerada um milagre, como se fosse uma ressurreição de um morto. Isto quer dizer que somente Deus podia curá-lo dessa lepra. Acreditava-se, além disso, que a lepra era um instrumento eficaz usado por Deus para castigar os invejosos, os arrogantes, os ladrões, os assassinos, os responsáveis por falsos juramentos e por incestos.          

Os leprosos eram considerados no AT como impuros (cf. Lv 13,3), por isso eram excluídos de quaisquer direitos sociais e eram marginalizados do convívio da comunidade até a sua cura (eles deviam ficar fora dos povoados), pois a lepra era considerada como uma impureza contagiosa (cf. Lv 13,45-46). Qualquer judeu piedoso evitava o contato com um leproso para não se tornar impuro. Por isso, um leproso, além de sofrer a dor da lepra (fisicamente), sofria também o preconceito (psicologicamente e socialmente), pois era excluído da comunidade por ser impuro. Além disso, era acusado como um grande pecador, porque a lepra era considerada como um grande castigo de Deus. O leproso é o protótipo da marginalização religiosa e social imposta pela Lei (Lv.13,45-46).          

Apesar de ter consciência de ser leproso (leproso deve ficar distante do resto, cf. Lc 17,12), esse homem leproso se aproxima de Jesus, de joelhos (prostração). A prostração do leproso em pedir a purificação indica todo o fervor do seu pedido e de sua fé. Sua súplica é uma confissão da sua fé: “Se queres, podes purificar-me”. Todos os pedidos que fizermos a Deus devem ter sempre como fundamento a nossa fé. Não somente crer na cura, mas crer sempre na grandeza, na misericórdia e na soberania de Deus.

E Jesus, embora saiba da proibição de fazer contato com qualquer leproso, estende a mão e o tocou: “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado! ’” (Mc 1,41). “Estender a mão” além de ser uma expressão de solidariedade, tem recorda o gesto típico de Deus em suas grandes ações salvadoras em favor do povo. Deus ordena Moisés a estender as mãos sobre o mar vermelho para libertar o povo eleito da escravidão do Egito (Cf. Ex 4,4; 7,19; 8,5; 9,22s etc.). Os Salmos falam frequentemente da mão estendida de Deus como símbolo de sua ação salvífica (cf. Sl 18,36; 37,24; 73,23; 80,18).

Por que Jesus tocou o leproso? Por compaixão: “Jesus cheio de compaixão...”. As misérias humanas tocam Jesus profundamente, pois Ele é compassivo.  Por compaixão e solidariedade, Jesus seu Corpo são ao corpo impuro para purificá-lo e salvá-lo. Usa-se o termo “purificar” neste texto para designar a purificação do pecado, que torna o homem distante de Deus (pecado afasta o homem de Deus e do próximo/da comunidade). Ao longo do Eangelho de Marcos os enfermos insistem em tocar o corpo de Jesus para buscar n´Ele uma força curadora e salvífica (Mc 3,10; 5,27-31; 6,56; 8,22).

Se no Batismo, Jesus se solidarizou com a multidão de pecadores, também o faz aqui nessa cena com o leproso. Aqui Jesus não se limita apenas nas palavras, mas Ele se aproxima e toca no leproso, pois quer transmitir toda Sua solidariedade. Para Jesus, o leproso não era um marginalizado e sim uma pessoa digna de Sua bondade, capaz de se abrir à misericórdia divina, pois o leproso é filho de Deus também. 

O leproso “foi e começou a contar e a divulgar muito o fato”. É assim que Marcos concluiu o episódio. Mc apresenta o leproso curado como um verdadeiro anunciador do Evangelho. O leproso purificado se converte em apóstolo e anuncia Jesus a todos. E por isso, “de toda parte vinham procurar Jesus”. 

O ato dos dois (do leproso e de Jesus) era verdadeiramente audacioso para a sua época. Os dois quebram o costume de longa data. O leproso tem grande vontade de ficar curado e acredita no poder de Jesus. E Jesus, por sua vez, tem compaixão pela miséria do homem, e, por isso, se aproxima do homem e quer integrá-lo à vida normal como qualquer ser humano.         

O Reinado de Deus não exclui ninguém da salvação (cf. At 10,34-35; Mt 5,45). Neste contexto, o leproso personifica a multidão de marginalizados em busca da salvação. E Deus sempre acolhe quem o busca com sinceridade e fé. Deus não decepciona quem o procura permanentemente. O gesto exterior de Jesus de estender a mão e de tocar no leproso é sua identificação interior profunda com o sofrimento do leproso.

Como foi dito, a lepra era a pior enfermidade na época de Jesus. Ninguém podia tocar nem aproximar-se dos leprosos. Jesus toca o leproso como protesto contra as leis que marginalizam as pessoas.

O evangelho de hoje nos convida a fazermos o exame de consciência sobre como tratamos os marginalizados da sociedade, os “leprosos” de nossa sociedade. O exemplo de Jesus é claro. Ele nunca permaneceu indiferente diante do sofrimento humano. Nós, como cristãos, devemos imitar Jesus. Somos outro Cristo neste mundo. Somos cristãos. Além do mais, devemos afastar “as lepras” de nosso coração, “lepras” que discriminam, que excluem as pessoas de nossa convivência, lepras de falta de perdão e de benevolência e de misericórdia e assim por diante. Quem tem um coração pura, ama o outro de verdade e com liberdade, sem discriminação.                             

O ato de Jesus de se aproximar do leproso e de tocá-lo nos leva a nos perguntarmos: “Como você se posiciona perante “os leprosos” (marginalizados) da humanidade: fugir, aproximar-se ou procurar erguê-los como Jesus fez?” Ou o nosso coração está cheio de “lepra” faz com que nos afastemos dos outros e afastemos os outros? A “lepra” que mata é a vida sem amor, sem solidariedade, sem compaixão pelo próximo: mata quem vive sem amor. Um coração leproso, sem amor, mata quem precisa deste amor. 

Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”, assim disse Jesus ao homem curado da lepra. 

Mas como pode o homem que foi tocado pelo amor de Deus permanecer calado? É impossível! Muitos cristãos permanecem calados para dar testemunho sobre o amor de Deus, o amor que cura e salva. Será que ainda não foram tocados pelo amor de Deus que cura? Muitos cristãos permanecem calados cheios de medo, vivendo como faziam os leprosos, isolados da comunidade. É necessário que peçamos a Jesus: “Senhor, se queres, podes purificar-me”. Ao mesmo tempo é necessário que Jesus nos diga outra vez: “Eu quero: fica curado!”. Creio que Jesus vai fazer toda vez que lhe fizermos o mesmo pedido. Só assim ficaremos cheios de vida no Espirito. Assim uma vez tocados pelo amor de Deus que cura, nos converteremos em verdadeiras testemunhas deste amor no mundo.             

P. Vitus Gustama,svd

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