segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

03/01/2024-Quartaf. tempo de Natal

VIVAMOS COMO FILHOS E FILHAS  DE DEUS, POIS O SOMOS

03 de Janeiro

Primeira Leitura: 1Jo 2,29 – 3,6

Caríssimos: 2,29 Já que sabeis que ele é justo, sabei também que todo aquele que pratica a justiça nasceu dele. 3,1 Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai. 2 Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é. 3 Todo o que espera nele, purifica-se a si mesmo, como também ele é puro. 4 Todo o que comete pecado comete também a iniquidade, porque o pecado é a iniquidade. 5 Vós sabeis que ele se manifestou para tirar os pecados e que nele não há pecado. 6 Todo aquele que peca mostra que não o viu, nem o conheceu.

Evangelho: Jo 1,29-34

29No dia seguinte, João viu Jesus aproximar-se dele e disse:Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. 30Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim. 31Também eu não o conhecia, mas se eu vim batizar com água, foi para que ele fosse manifestado a Israel”. 32E João deu testemunho, dizendo: “Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele. 33Também eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a batizar com água me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, este é quem batiza com o Espírito Santo’. 34Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!”.

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Somos Filhos e Filhas De Deus

O texto da Primeira Leitura se encontra na Segunda Parte da Primeira Carta de são João (1Jo 2,28-4,6) que fala sobre o viver como filhos de Deus e suas consequências práticas. O autor da Carta de São João nem sequer usa o termo “adoção”. Ele afirma e insiste que somos filhos de Deus: filhos no Filho, porém filhos verdadeiros: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! Caríssimos, desde já somos filhos de Deus”. A existência dos filhos de Deus nasce de Seu amor e gera uma profunda confiança (1Jo 2,28-3,10). No seu comentário sobre a Oração do Pai Nosso, o Papa Francisco escreveu: “A sensação que experimento é de segurança. Começo a partir daqui: O Pai-nosso me dá segurança: não me sinto afastado de minhas raízes, não tenha a sensação de ser órfão

Participamos da forma de ser do Filho (Jesus Cristo) enquanto isso nos é possível, pois temos possibilidade de viver no espírito mundano que resulta na prática do pecado quando esquecemos nossa filiação divina em Jesus Cristo. Aqueles que se tornam filhos de Deus não participam do pecado (1Jo 3,3-10). A expressão “não pecar” significa uma participação na luta do Filho de Deus que veio destruir as obras do diabo, isto é, as obras que desunem as pessoas. O critério é a ação que demonstra a filiação. Cada cristão precisa lutar contra as tenções de pecar, pois que a chegada do Filho de Deus o cristão se encontra no estado da graça. Portanto, a impecabilidade significa que o Filho de Deus superou a história do pecado e iniciou a era da graça e o cristão é chamado a lutar com o Filho de Deus para superar o pecado, praticando apena o bem e a bondade. 

O autor da Carta enfatiza que ainda não se vive plenamente essa condição de ser filhos de Deus. Ainda que agora realmente sejamos filhos de Deus, no entanto não se goza em sua totalidade. Aqui são João se aproxima da concepção paulina da tensão entre o “já” e o “todavia não”: “Desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos!”. 

A realidade dos filhos de Deus é uma realidade escondida diante de nossos olhos e não somente diante dos olhos do mundo, pois não temos ainda plena consciência do que somos e as dificuldades da vida presente encobrem a grandeza e a dignidade insuspeitada dos filhos de Deus. Vai chegar um dia em que veremos tudo com claridade e aparecerá o que já agora somos por antecipação. Quando chegar este dia em que veremos Deus cara a cara, saberemos o que somos e seremos semelhantes (mas, não iguais) a Deus, nosso Pai. Deus erguerá seus olhos e se manifestará que Deus é amor e que aqueles que amam nasceram de Deus. 

Pelo Batismo nos tornamos “filhos de Deus”. Trata-se de um conteúdo real. É um fato por parte de Deus que nos dá a nova vida. Ser filho de Deus é um dever para nós que nos obriga a viver de outra maneira. Nascido de Deus (Jo 1,12; 3,5) por obra do Espírito (Jo 3,6), somos de Deus e não deste mundo. 

Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai”. O mundo da qual fala são João são os homens que se opõem a Deus com sua incredulidade, com seu ateísmo prático (1Jo 2,15-17). Quem não ama a Deus, como Pai de todos, não ama seus filhos. 

Quando mantivermos nossa consciência de que somos filhos e filhas de Deus teremos a alegria de viver e com serenidade encararemos as dificuldades, pois Deus, nosso Pai não nos deixará lutar sozinhos. 

Ser Cristão É Ser Testemunho De Cristo a Exemplo De João Batista 

O texto do evangelho deste dia fala do testemunho de João Batista sobre a pessoa de Jesus, O Verbo feito carne (Jo 1,19-36). Um dos temas preferidos do evangelista João é, certamente, testemunho. O evangelista usa o verbo “testemunhar” (martyrein) em 33 ocasiões e o substantivo “testemunho” (martyria) 15 vezes. 

O testemunho de João Batista ilustra concretamente o que foi dito em Jo 1,6-8.15 de sua missão que era dar testemunho de Jesus para que todos pudessem crer nele. Dar testemunho é muito importante neste evangelho. O testemunho, neste evangelho, tem sempre por objeto a pessoa de Jesus, seu significado profundo para a vida dos homens. Em outras palavras, o testemunho aqui é sempre cristológico. É isto que João Batista faz a respeito de Jesus. 

Testemunha é a pessoa que teve a experiência direta de algum fato e que narra o que viu ou ouviu, ou alguém que observou um acontecimento e pode informar a respeito dele para provar, para acusar, ou para inocentar (Lv 5,1; Nm 5,13; Dt 17,6s etc.). O testemunho, neste evangelho, supõe o ver, mas não o simples ver físico, mas o ver que sabe perceber a presença de Deus em Jesus. Para que uma pessoa possa perceber a presença de Deus em Jesus, na vida ou nos acontecimentos, ela deve limpar o coração do ódio, pois Deus é Amor (1Jo 4,8.16). “Quanto mais amas, mais alto tu sobes” (Santo Agostinho). 

Antes de proferir o seu testemunho, João vê Jesus vir na sua direção. João Batista, no Quarto Evangelho, percebe a presença de Deus em Jesus Cristo como Aquele que tira o pecado do mundo. Quando Jesus aparece pela primeira vez no Quarto Evangelho, ele é mostrado no ato de “vir”. Com isso, se realiza o anúncio de Isaías: “O Senhor vem” (Is 40,10). 

Jesus continua vindo em nossa direção, como aconteceu com João Batista. Somos convidados a olhar para ele com fé. É o olhar da fé que descobre a realidade sob as aparências, e confere seu verdadeiro sentido a todo o mundo visível no qual Jesus aparece. João Batista passou pela escola do deserto, onde se exercitou na humilde docilidade interior. A sua figura é, no início do Evangelho, o símbolo de todos os crentes que se põem em seguimento do Verbo encarnado. Ele realiza as condições da busca e da descoberta. Não se deixa enganar por nenhum poder, nem sequer o dos fariseus; procura a Deus só e, livre de todo o preconceito, reconhece-o tal como vem aos homens, na humildade da encarnação. 

Jesus que continua vindo em nossa direção nos faz filhos de Deus como disse a Carta de São João: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus...”. (cf. 1Jo 2,29 – 3,6). Somos filhos no Filho. O amor do Pai ao Filho é o mesmo amor com que nos ama. Quando fecho meus olhos e me digo: “Quem sou eu?”. Para esta pergunta pode ter mil maneiras de responder: com meu nome, o lugar, a data de nascimento, os pais e irmãos, o povo, os estudos, a profissão e assim por diante. No entanto ninguém me define tão profundamente nem tão realmente como minha relação com Aquele que é a origem, o término, o horizonte constantemente presente: Eu sou filho, filho de Deus, já agora! Precisamos deixar esta convicção aflorar em nossa consciência, pois nos traz gozo, alegria e força para viver firmemente sabendo que Deus nos ama, pois somos Seus filhos e filhas. Mas é também fonte de onde brota nosso comportamento e compromisso: o caminho dos “filhos de Deus” é o caminho do “Filho de Deus por excelência, Jesus”. Precisamos viver aquilo que Jesus viver e sentir aquilo que ele sentiu. 

Diante de Jesus que está vindo em sua direção, João reage em profundidade: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Palavras que se repetem seis vezes na celebração eucarística (2x na Glória, 3x depois da saudação da paz e a sexta vez, imediatamente antes da comunhão). João fala do “pecado do mundo” (em singular) e não dos “pecados do mundo” (em plural. O que é este “pecado”? 

O pecado fundamental para João é não aceitar o Filho de Deus entre nós com todas as consequências que isso comporta (cf. Jo 16,8-9). Aceitar Jesus e seus ensinamentos leva a pessoa a viver na fraternidade e no amor. Para João guardar os mandamentos do Senhor é uma clara expressão de que a pessoa ama a Jesus (cf. Jo 14,21). 

Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Somente João está disposto a reconhecer Aquele que Deus envia, não obstante afirmar que não o conhecia (v.31.33). Não conhece de vista ou por contato, mas já conhece interiormente, pela ação do Espírito Santo que o envia e que ele não pára de interrogar. 

João Batista vê Jesus que vem. Mas não guarda para si como seu segredo, como propriedade privada, o que viu. Ele quer que todos vejam o que ele vê: “Eis...”, João diz, o que implica um convite a olhar. João Batista não chama a atenção para um messias ausente e vindouro, mas para um messias que está no meio de nós e que não o conhecemos. A primeira condição de toda busca da fé é, certamente, o senso de observação das pessoas, das coisas e da vida em geral. 

Eis o Cordeiro que tira o pecado do mundo! Infelizmente, o pecado é uma realidade onipresente entre nós e dentro de cada um, ontem, hoje e sempre. Em qualquer lugar encontramos a exploração que gera a fome, a pobreza, a violência, marginalização. As pessoas são dominadas pela soberba, avareza, luxúria, inveja, ódio, rivalidade, vingança, rancor, falta de perdão e assim por diante. Apesar de tudo isso, ser cristão hoje é ser testemunha entre os homens que Jesus venceu o pecado em nossa vida, porque ele nos fez filhos de Deus e nós adotamos seus sentimentos e atitudes evangélicas na vida cotidiana, e queremos viver os valores evangélicos do amor, da fraternidade humana, da justiça e da solidariedade com os mais necessitados. Basta alguém aceitar Jesus o poder do mal não tem vez nenhuma, pois Jesus vem para tirar o pecado do mundo. 

Apesar de sabermos que o pecado é a “mercadoria” global cuja produção nunca entra em crise e cuja demanda desconhece limites e que não temos balança em condição de calcular seu peso, nós acreditamos que pecado nenhum consegue esgotar a paciência de Deus em Jesus Cristo, nenhum pecado consegue cansar a misericórdia de Deus e bloquear seu perdão e pôr limites a seu amor infinito. Por isso, Jesus é nossa vitória, nossa libertação e nossa paz. Por ele e com ele somos capazes, e é nosso dever de vencer o pecado cada dia, dentro de nós mesmos, dentro de casa, em nossa vida e no ambiente que nos cerca através da construção do Reino de Deus e Sua justiça na nossa vida.

P. Vitus Gustama,svd

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