quinta-feira, 26 de maio de 2016

Domingo,29/05/2016










UM “PAGÃO” QUE TEM FÉ NA EFICÁCIA DA PALAVRA DE DEUS E NA BONDADE PRATICADA EM PROL DO NECESSITADO


IX DOMINGO TEMPO COMUM “C”


I Leitura: 1Rs 8,41-43


Naqueles dias, Salomão rezou no Templo, dizendo: 41“Senhor, pode acontecer que até um estrangeiro que não pertence a teu povo, Israel, 42escute falar de teu grande nome, de tua mão poderosa e do poder de teu braço. Se, por esse motivo, ele vier de uma terra distante, para rezar neste templo, 43Senhor, escuta então do céu onde moras e atende a todos os pedidos desse estrangeiro, para que todos os povos da terra conheçam o teu nome e o respeitem, como faz o teu povo Israel, e para que saibam que o teu nome é invocado neste templo que eu construí”.


Segunda Leitura: Gl 1,1-2.6-10


1 Eu, Paulo, apóstolo — não por iniciativa humana, nem por intermédio de nenhum homem, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai que o ressuscitou dos mortos — 2 e todos os irmãos que estão comigo, às Igrejas da Galácia. 6 Admiro-me de terdes abandonado tão depressa aquele que vos chamou, na graça de Cristo, e de terdes passado para um outro evangelho. 7 Não que haja outro evangelho, mas algumas pessoas vos estão perturbando e querendo mudar o Evangelho de Cristo. 8 Pois bem, mesmo que nós ou um anjo vindo do céu vos pregasse um evangelho diferente daquele que vos pregamos, seja excomungado. 9 Como já dissemos e agora repito: Se alguém vos pregar um evangelho diferente daquele que recebestes, seja excomungado. 10 Será que eu estou buscando a aprovação dos homens ou a aprovação de Deus? Ou estou procurando agradar aos homens? Se eu ainda estivesse preocupado em agradar aos homens, não seria servo de Cristo.


Evangelho: Lc 7,1-10


Naquele tempo, 1quando acabou de falar ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. 2Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte. 3O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado. 4Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: “O oficial merece que lhe faças este favor, 5porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga”. 6Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: “Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. 7Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente ao teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. 8Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: ‘Vem!’, ele vem; e ao meu empregado: ‘Faze isto’!, ele o faz”. 9Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia, e disse: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. 10Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde. (Lc 7,1-10)
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O texto do evangelho deste dia se encontra na seção de Lc 7,1-8,56 onde se falam dos sinais do Messias e a fé dos discípulos e discípulas de Jesus (nesta seção se encontram oito mulheres): Lc 7,1-50 fala dos sinais do Messias, dos Doze e das discípulos (Em Lc 8,1-3 o evangelista faz um sumário das atividades de Jesus); Lc 8,4-21 fala dos que escutam a Palavra de Deus (Parábola do semeador: Lc 8,4-18 e os que ouvem e praticam a Palavra de Deus formam uma família com Jesus: Lc 8,19-21); Lc 8,22-56 fala de quatro novos sinais de Jesus, o Messias.


A partir deste domingo no espaço de três domingos vamos ler uma série de relatos nos quais os personagens em torno de Jesus são especiais.


A série começa com a cura do servo de um centurião. O título “centurião” era a designação de um oficial de exército romano que tem cem homens (soldados) sob o seu comando. o dado significativo do relato é precisamente a extração não judeu do personagem. Trata-se de um pagão, isto é, de um homem não pertencente ao Povo eleito. Podemos encontrar o mesmo episódio em Mateus (Mt 8,5-10.13) com algumas variantes (leia também Jo 4,46-54).


O texto nos contou um centurião/oficial “pagão” que pediu a Jesus, através de alguns anciãos do povo de Deus, que curasse seu empregado enfermo. Cafarnaum é a cidade onde ocorre o milagre. Era uma cidade que possuía uma guarnição militar com uma tropa de soldados de Herodes Antipas. O centurião era um oficial do exército de Herodes Antipas que não pertencia ao Povo eleito e por isso, era pagão. Por ser considerado “pagão” o centurião não quer se aproximar de Jesus e por isso, ele envia uma delegação de anciãos dos judeus para que Jesus possa curar seu servo. Diante do pedido dos anciãos, Jesus vai com eles para a casa do centurião.


O desenrolo do relato tem no centurião o seu verdadeiro centro de atenção. Primeiro, é a menção da estima que este homem sente pelo escravo. Os escravos na época eram objeto de interesse e não de estima. Segundo, é o apreço que os próprios judeus sentem pelo centurião. Para eles, o centurião merece o favor de Jesus para curar seu escravo, pois ele estima muito o povo judeu e construiu a sinagoga. Em terceiro lugar, são as palavras do próprio centurião: Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente ao teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado”. Aqui se trata de um reconhecimento de indignidade do centurião diante de Jesus. O centurião se sente pequeno diante de Jesus. É o mesmo tipo de reconhecimento manifestado por Pedro no relato da pesca milagrosa: “Afasta-te de mim, Senhor, pois sou um pecador” (Lc 5,8). O centurião, consciente de sua pequenez, não quer que Jesus entre em sua casa: basta uma só palavra de Jesus. Como conhecedor da eficácia da palavra, o centurião crê também na palavra eficaz de Jesus. Para o centurião, a palavra que Jesus pronunciar, será uma ordem e o escravo dele será curado. O centurião tem consciência do poder da Palavra de Jesus e por isso, ele acredita na Palavra de Jesus apesar de ser pronunciada à distância.


Jesus ficou profundamente admirado pelo tamanho e pela profundidade da fé do centurião “pagão” a ponto de dizer: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. Pelo fato de o centurião ser tão digno, Jesus concede-lhe a cura do seu servo à distância.


Lucas é um evangelista amante dos pequenos, mas cheios de grandes gestos. Mas na escolha de personagem há, sem dúvida, uma carga de intencionalidade. A partir do personagem deste centurião, Lucas oferece ao cristão um modelo gráfico e pedagógico de identificação. Acreditar em Jesus e na eficácia de Sua Palavra é sempre desfazer a identificação que fazemos entre utopia e impossibilidade. Confiar em Jesus é ir expropriando de sentido para a palavra impossível. Confiar na eficácia da Palavra de Jesus significa crer nela apesar da lógica contrária implacável, às vezes, das situações. A Palavra de Deus é sempre quase desconcertante e imprevista, cheia de surpresas. É a Palavra sempre utópica.


1. Pagão Por Não Pertencer Oficialmente Ao Povo De Deus, Mas Membro Do Povo De Deus Por Sua Humanidade Diante Do Necessitado 


Pode ser considerado como pagão, porém o centurião era um daqueles “pagãos” que não encontraram mais a satisfação nos ritos politeístas, cuja fome religiosa não se saciava com a sabedoria dos filósofos e que, por conseguinte, simpatizava com o monoteísmo judaico e com a moral que dele derivava. Era temeroso de Deus, professava a fé no Deus único através do seu modo de viver e de tratar os demais respeitosamente, mas não havia passado definitivamente ao judaísmo. Ele buscava a salvação de Deus. Sua fé no Deus único, seu amor e seu temor de Deus ele manifestava no amor ao povo de Deus e na solicitude pela sinagoga que ele mesmo ajudou a construir. Seus sentimentos se expressavam em obras. E as obras proclamam e revelam quem as pratica. “Cada árvore é conhecida por seus frutos”, disse Jesus (cf. Mt 7, 15-20).


2. Um Centurião Com Ideias Amplas e Abertas


Apesar de ser considerado “pagão” pelo fato de não pertencer oficialmente ao povo de Deus, o centurião tinha ideias amplas e abertas: do próprio bolso ele tirou seu dinheiro para ajudar o Povo de Deus na construção de uma de suas sinagogas.


A verdadeira bondade não tem religião. O bem é universal e por isso, pode ser encontrado em qualquer lugar e em qualquer povo ou crença. Os homens do bem podem ser amados ou odiados, mas sempre despertam nossa admiração. O amor não faz diferença onde é aplicado e sempre traz ótimos rendimentos. A insegurança geralmente não tolera a diferença e o diferente. Se um único homem atinge o tipo mais elevado de amor, como o centurião/oficial, ele será suficiente para neutralizar o ódio de milhões. A única grandeza é amor altruísta, o amor que sempre quer o bem do outro e dos outros. Os próprios anciãos do povo de Deus chegaram a afirmar diante de Jesus sobre a bondade do centurião: “O centurião merece que lhe faças esse favor (curar seu empregado), porque ele ama nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga” (Lc 7,4-5).


3. A Maior Fé Que Se Encontra Fora Do Povo De Deus


Além de suas amplas e abertas ideias, apesar de ser considerado “pagão” por não pertencer à religião oficial do povo, esse centurião se mostra como uma pessoa com muita fé a ponto de Jesus considerá-lo como pessoa que tem muito mais fé do que qualquer membro do próprio povo de Deus: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. Depois de tantas recusas entre os seus, é confortante Jesus encontrar uma fé assim.


Quando Lucas escreveu o evangelho, na comunidade eclesial já houve a admissão dos pagãos convertidos à fé cristã, por exemplo, na pessoa de outro centurião romano, Cornélio, que se converteu com toda sua família (cf. At 10,24-48), pois “Deus não faz distinção de pessoas, mas em toda nação lhe é agradável aquele que o temer e fizer o que é justo” (At 10,34-35).


A fé como uma condição prévia, como uma atitude que se requer para entrar no Reino de Deus que Jesus prega ou anuncia. A fé está em todas as páginas do Evangelho. A fé está mais próxima do coração e do sentimento do que do entendimento e da inteligência; está mais próxima do que chamamos de confiança do que da certeza, ainda que tenhamos que reconhecer que em toda confiança há sempre algo de certeza: “A fé é a certeza daquilo que não se vê”, disse a Carta ao hebreus (Hb 11,1).


Reconhecemos pela experiência de que há muitas pessoas que possuem a fé do centurião. Há muitos que um dia consagraram sua vida a Jesus, mas que vivem sem muitas consolações. Seus corações, porém, permanecem vigilantes e atentos para cada Palavra do Senhor é o milagre da fidelidade. É o milagre da fé que se tornou amor puro para o Senhor e para os irmãos que necessitam de ajuda. Seus corações são humildes que se tornam a morada de Deus.


Se nosso mundo não crê é porque vive de uma forma que lhe impede de abrir-se e confiar no irmão e dessa atitude tampouco se pode abrir para Deus. São os interesses, o egoísmo, a busca do poder e do prazer. A verdadeira fé leva o fiel a acolher as pessoas acima de sua etnia, ideologia, crença etc.,. Sempre é perigoso crer-se eleito de Deus, mas afasta as pessoas do convívio em nome de sua crença, religião, ideologia etc.,.


O centro da fé cristã é a pessoa de Jesus. Esta fé na pessoa de Jesus e através dele no Pai é a nota mais característica da fé cristã. O centurião manifesta um profundo respeito por Jesus. O centurião não se considera digno de que Jesus visite sua casa e usando uma comparação militar demonstra uma grande confiança no poder de Jesus. As palavras deste centurião repetimos frequentemente e no momento mais sagrado da liturgia: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra, serei salvo”. Com uma fé assim são possíveis milagres e até os impossíveis.


Será que Jesus já pode encontrar tamanha fé, igual à fé do centurião, na nossa comunidade, em geral, e em cada um de nós, em particular? Para receber o elogio do Senhor é preciso que cada um de nós tenha a fé do tamanho da fé do centurião. Ou será que “todos nós somos mais ateus do que acreditamos e mais crentes do que pensamos?” (René Juan Trossero).


4. Um Homem Que Respeita o Costume Do Povo e Acredita No Poder da eficácia da Palavra de Jesus


O centurião não deixa Jesus entrar em sua casa, pois um judeu era proibido de entrar na casa de um pagão para não torná-lo impuro o que impediria ele de participar do culto no Templo ou na sinagoga.


Para respeitar a proibição feita aos judeus de entrar na casa de um pagão, Jesus é levado a fazer um milagre a distância, realizado somente pela Palavra. No curso de sua vida de taumaturgo somente realizará dois milagres deste tipo (Lc 7,1-10 e Mt 15,22-28). Normalmente Jesus cura através de um contato físico e silencioso, como se seu corpo possuísse certa força vital especial que Ele nem sempre podia controlar (cf. Mc 5,30; 6,65).


Na cura do empregado do centurião Jesus se contenta com a palavra e elogia a fé do centurião.


O centurião vem dizer a todos nós que lemos a Palavra de Deus e supostamente acreditamos nela: “Vocês precisam acreditar na Palavra de Deus, pois ela é eficaz e poderosa”. É preciso recordar também que ao receber o Pão eucarístico (na comunhão) pronunciamos as mesmas palavras do centurião: “Senhor, eu não sou digno (a) de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra serei salvo (a)”.


A liturgia cristã é baseada unicamente em “uma só Palavra”: a palavra que ressoou no coração de Jesus em sua Páscoa, a Palavra que nos acompanha durante nossa vida cristã, a Palavra que nos transforma. No entanto, o mundo de hoje nos pergunta se existe uma palavra do Senhor para ele a partir de nós. Será que, depois do fracasso das palavras humanas, o mundo pode recorrer à Igreja que prega Palavra de Deus? será que aquele que se diz cristão acredita no poder da Palavra de Deus a exemplo do centurião “pagão”?


P.Vitus Gustama,svd

Um comentário:

viagem disse...

Sábia e bela Reflexão.

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