PENTECOSTES
PAPEL DO ESPÍRITO SANTO E SEUS FRUTOS NA VIDA DO
CRISTÃO
I Leitura: At 2,1-11
1 Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos
reunidos no mesmo lugar. 2 De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma
forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. 3 Então apareceram
línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. 4 Todos
ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas,
conforme o Espírito os inspirava. 5 Moravam em Jerusalém judeus devotos, de
todas as nações do mundo. 6 Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão, e
todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria
língua. 7 Cheios de espanto e admiração, diziam: “Esses homens que estão
falando não são todos galileus? 8 Como é que nós os escutamos na nossa própria
língua? 9 Nós, que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia,
da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10 da Frígia e da Panfília, do
Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem;
11 judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem
as maravilhas de Deus em nossa própria língua!”
II Leitura: 1Cor 12,3b-7.12-13
Irmãos: 3bNinguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito
Santo. 4Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. 5Há diversidade de
ministérios, mas um mesmo é o Senhor. 6Há diferentes atividades, mas um mesmo
Deus que realiza todas as coisas em todos. 7A cada um é dada a manifestação do
Espírito em vista do bem comum. 12Como o corpo é um, embora tenha muitos
membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só
corpo, assim também acontece com Cristo. 13De fato, todos nós, judeus ou
gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos
um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito.
Evangelho: Jo 20,19-23
19 Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por
medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus
entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20 Depois
dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se
alegraram por verem o Senhor. 21 Novamente, Jesus disse: “A paz esteja
convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. 22 E, depois de ter dito
isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23 A quem
perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes,
eles lhes serão retidos”.
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Hoje celebramos o Pentecostes: a festa do
Espírito Santo. Ele fundamenta a missão de Jesus e fundamenta a missão da
Igreja. Só no livro de Atos dos Apóstolos, de onde tiramos o relato de
Pentecostes, o Espírito Santo é mencionado 45 vezes. Em conseqüência disto, com
razão, a dupla obra de Lucas (o Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos) é
designada como “o Evangelho do Espírito Santo”. O Espírito Santo é a plenitude
de tudo quanto Deus tem que nos dar. Na liturgia há uma exuberância de imagens
e comparações para exprimir o que o Espírito Santo é e faz. Ele santifica,
fortifica e consola. Ele aquece quando estamos frios; ele nos ajuda e nos cura.
Ele torna flexível o que é rígido, purifica, ilumina na escuridão. Ele é como
uma língua, como descreve os Atos e como uma pomba na descrição dos Evangelhos.
Ele é sopro, o dedo de Deus com que foi criado o universo. Renova continuamente
a face da terra.
Como nós sabemos que o Espírito Santo é a
terceira Pessoa da Santíssima Trindade. É simples esta frase, mas rico é o seu
conteúdo. Ela significa que Deus é uma “família”. Deus não é um Deus solitário.
Deus é uma comunidade; uma convivência. Há em Deus uma comunicação perfeita. Há
em Deus uma convivência que é completa e desconhece qualquer sombra. É conhecimento do outro numa unidade
indivisa. O Espírito Santo é o vínculo de união perfeita entre Pai e Filho. O
Espírito Santo é aquele que supera a relação Eu-Tu e introduz o Nós. Por isso,
ele é por excelência a união entre Pessoas divinas.
No evangelho de São João (cf. Jo 14,26;
15,26-27; 16,13-15; 14,16-18) o Espírito Santo é chamado de Paráclito, termo de
origem grega do mundo jurídico que é traduzido por advogado, auxiliar,
defensor. Em que sentido? Em situação de sofrimento e dor, o Espírito santo
desempenha seu papel como consolador. Nas decisões importantes em
que ele é invocado o Espírito Santo se faz conselheiro. Ele nos interpela,
acusa e questiona na nossa mediocridade, apatia e no nosso desânimo (cf. Jo
16,8). Como o verdadeiro advogado o Espírito Santo nos conduz para a plena
verdade (Jo 16,13-15) que é o próprio Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade e a
Vida (Jo 14,6). O Espírito Santo nos conduz a Jesus pela dupla via: pela via do
conhecimento e do amor e nos leva ao seguimento de Jesus até o fim, ao anúncio
do Reino, à opção pelos pobres. Aqui consiste a trilogia fundamental: conhecer
intimamente, amar profundamente e seguir a Jesus fielmente. Quem nos
possibilita tudo isso é o Espírito Santo.
O mesmo evangelho de João nos afirma que pelo
batismo recebemos o Espírito Santo que nos habita o coração (cf. Jo 3,5-8.34).
E o Espírito Santo prometido por Jesus tem uma função de ensinar, recordar,
comunicar e conduzir à verdade de Jesus diante do risco de a Igreja perder o
rumo em relação à memória e a compreensão de Jesus (cf. Jo 15,26; 16,14s).
Na história, o Espírito Santo se mostra como
uma força vulcânica que ninguém pode segurar, como um vendaval (vento
tempestuoso) que toma as pessoas e as leva a fazer obras grandiosas. Cabe ainda
ressaltar mais algumas características do Espírito Santo.
O Espirito Santo é a força do novo e da
renovação de todas as coisas: cria ordem na criação, faz surgir o novo
Adão no seio de Maria, impulsiona Jesus para a evangelização, ressuscita o
crucificado dos mortos, antecipa a humanidade nova na Igreja e nos traz, no
final, o novo céu e a nova terra. Que seria da sociedade e das Igrejas se não
surgissem os inovadores, as pessoas criativas, que têm idéias novas, que
descobrem novos caminhos para a educação, a política, a religião etc.? O
Espírito Santo certamente está ligado ao novo e ao alternativo.
O Espirito Santo fez e continua fazendo
os profetas e deu-lhes como
continua dando-lhes as palavras de Deus. Em relação a Jesus, o Espirito Santo põe
em sua boca as palavras que anunciam e denuncia e ao mesmo tempo palavras que
anunciam a realização das promessas. o Espirito Santo que faz de Jesus um profeta
armado com a armadura da Palavra de Deus. O Espirito Santo faz o evangelizador.
O espirito Santo é o atualizador da
memória de Jesus.
Ele atualiza a mensagem de Jesus. Ele nunca deixa que as palavras de Jesus permaneçam
mortas, mas que sempre sejam relidas, ganhem novas significações e implementem
novas práticas. Ele continua a obra de Jesus nas comunidades.
O Espirito Santo é o princípio
libertador das opressões de nossa situação de pecado, chamada pela Bíblia de
carne.
Carne expressa o projeto da pessoa voltada sobre si mesma, esquecida dos outros
e de Deus. Ele sempre é gerador de liberdade (1Cor 3,17), de entrega aos demais
e de amor.
O Espirito Santo produz unidade, e ao
mesmo tempo, promove diferentes maneiras de servir, como descreve a
Carta de São Paulo aos coríntios (1Cor 12,3-7.12-13). Ele é a força criadora de
diferenças e de comunhão entre as diferenças. É ele que suscita entre as
pessoas os mais diversos dons e nas comunidades os mais diferentes serviços e
ministérios, como se ensina nas cartas aos Romanos (Rm 12) e aos Coríntios (12).
Mas esta diversidade não decai em desigualdades e discriminações porque bebemos
da mesma fonte que é o Espírito Santo (1Cor 12,13). Os dons ou os carismas não
são dados para a autopromoção, mas para o bem da comunidade (1Cor 12,7). A base
da palavra “carisma” é “charis” (grego) que significa “graça”. Por isso,
carisma é resultado de uma ação da graça (charis). O carisma articula o
dom pessoal com o bem da comunidade. o
carisma existe em vista da construção social ou do bem comum. Ou na linguagem de São Paul podemos dizer por
carisma, uma manifestação gratuita do Espírito Santo que atua para o bem comum
do povo de Deus. o carisma não é para o gozo individual, mas a serviço da
comunidade no sentido da comunidade eclesial, o Corpo de Cristo.
No Pentecostes o sinal importante do Espírito
Santo não foi uma confusão de línguas que ninguém entende, mas foi a capacidade
de falar de tal modo que todo mundo se sentiu à vontade com a mensagem. A
linguagem que todos entendem é o amor. O Espírito Santo interfere para
melhorar e não para atrapalhar a comunicação da Igreja de Jesus Cristo.
A comunidade fundada em Pentecostes (no Espírito Santo) é um lugar de diálogo,
de encontro, de comunicação, de unidade (não necessariamente uniformidade), de
acolhimento. O erro não está em sermos diferentes. O erro está em sermos
divididos. A comunidade nascida em Pentecostes não é o lugar da lei que mata,
mas é o lugar do Espírito Santo, isto é, o lugar da abertura e da vida, do
reconhecimento e do despertar, o lugar de uma libertação fundada no amor. O
amor é o caminho para Deus, o único carisma realmente imprescindível na vida
cristã, o carisma que jamais cessará.
No começo da Bíblia, na construção da torre
de Babel todo mundo que falava a mesma língua começou a se desentender, um não
compreendia mais o outro porque estavam fazendo uma obra do orgulho, um
monumento para celebrar a própria importância dos construtores e não para
servir Deus (Gn 11,1-9).
Quando, na Igreja, cada um fica mais
preocupado com o próprio prestígio ou com o prestígio de seu grupo do que com o
serviço para o bem de todos (da comunidade), acontece de novo o que está
representado na torre de Babel: a comunidade não se entende, fica desunida.
Comunidade desunida não constrói como Jesus deseja. A obra fica paralisada no
meio. Se cada cristão esquecer sua missão de serviço a Deus e começar a cuidar
do seu próprio prestígio e poder, ele também terá dificuldades em se fazer entender.
O Espírito Santo foi derramado sobre
todos no batismo.
Ele habita os corações das pessoas (1Cor 3,16), dando-lhes entusiasmo, coragem
e determinação. Ele consola os aflitos e mantém viva a esperança. Ele nos
consola, exorta e ensina como as mães fazem junto a seus filhinhos (Jo
14,26;16,13) Um grande teólogo cristão, Mário (+ 334) dizia: “ O Espírito Santo é a nossa Mãe porque o Paráclito, o Consolador está pronto a nos consolar como
uma mãe consola o seu filho e porque os fiéis são renascidos dele e são assim
os filhos desta Mãe misteriosa que é o Espírito Santo”. Ele não nos deixa
órfãos (Jo 14,18). Ele nos educa na oração e na forma de pedir as coisas
verdadeiras: “O Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o
que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós
com gemidos inefáveis” (Rm 8,26).
Na liturgia a presença do Espírito Santo é
também destacada. Começamos a celebração
em nome da Trindade. As orações são dirigidas ao Pai pelo Filho no Espírito
Santo. A presença do Espírito Santo na liturgia é destacada no
momento de duas epicleses (as duas invocações do Espírito Santo). A
primeira epiclese acontece na consagração em que o pão e o vinho se tornam
sacramento do Corpo e do Sangue de Jesus pela invocação do Espírito Santo. Ao
Espírito Santo se atribui a consagração: “Na verdade, ó Pai, Vós sois santo
e fonte de toda santidade, santificai, pois, estas oferendas, derramando sobre
elas o Vosso Espírito, a fim de que se tornem para nós o Corpo e o Sangue de
Jesus Cristo, Vosso Filho e Senhor nosso” (cf. Oração eucarística II). A
segunda epiclese (a 2ª invocação do Espírito Santo) acontece depois da
consagração em que se suplica ao Pai para que todos os que vão participar do
Corpo e do Sangue de Cristo sejam reunidos num só corpo pelo Espírito Santo
para formar uma verdadeira comunhão de irmãos. A Eucaristia deve construir,
como resultado, uma verdadeira comunidade pela força do Espírito Santo.
Comungar não é mais uma coisa privada e sim um momento para criar e fortalecer
a comunidade. As duas epicleses têm a mesma importância.
O Espirito Santo liberta do pecado e da
ilusão da carne e cria assim pessoas livres prontas para libertar as outras
pessoas.
O pecado consiste em pôr toda a confiança e segurança nos poderes da carne:
confiar no dinheiro, nas armas, no prestígio, na superioridade intelectual. Daí
resulta nos homicídios, nas injustiças, nas corrupções, na opressão, na escravidão,
na mentira sistemática em prol do próprio interesse. O Espirito Santo provoca
esta ruptura e ajuda a pessoa a quebrar as cadeias que prendem a liberdade. O
Espirito Santo vence assim as estruturas da carne: o medo, a vontade de poder,
a submissão aos poderes injustos. Com a ajuda do Espirito Santo o povo de Deus
nasce e cresce, preparando o caminho para a vinda final do Reino de Deus.
Outros
frutos do Espírito Santo são o amor, a bondade, moderação e autocontrole,
cortesia, mansidão e longanimidade, jovialidade e paz (veja Gl 5,22-24).
Segundo Gálatas, o amor que é o fruto
do ES se expressa através de cordialidade, simpatia, coração bom. Trata-se de
uma atitude típica da interioridade; é a disposição interior para o pensar bem,
para o falar bem, para o agir bem. O amor traduzido com cordialidade,
simpatia(simpatia vem do grego sumpáscho que significa igualar-se ao
outro, ter uma atitude de profunda sintonia com o outro), coração aberto é a
capacidade imediata de entender os sofrimentos e as alegrias de quem está perto
de nós; é um coração espaçoso, raiz de toda a moral do NT. O amor é a virtude
pela qual resplandecem até mesmo as coisas mais pequenas, e os gestos mais
simples se tornam belos e construtivos. Tudo que se faz com amor, por pequeno
que seja, se torna uma obra prima. E nada vale aquilo que se faz sem amor, por
maior que ele seja.
A bondade é fruto do ES. A bondade é um reflexo
da atitude divina. Ela é a prerrogativa daquele que se compraz em fazer por
primeiro o bem, em suscitar sempre e somente o bem ao seu redor. Ela é uma
qualidade criativa(tudo que Deus criou era bom. cf. Gn 1). Nossa bondade é nada
mais que uma participação, no ES, da característica divina, e por isso, é bela,
criativa, fascinante, capaz de suscitar uma sociedade nova. Nenhum coração
resiste diante da bondade. Se a bondade é fruto do ES, então, ela é um dom a
ser invocado, a ser implorado, dispondo-nos a acolhê-lo com humildade e
reconhecimento.
Outro fruto do ES é a moderação. A
palavra que se usa em grego é epieíkeia (ocorre 7 vezes no NT) que
significa respeito, afabilidade, acessibilidade, moderação, flexibilidade e
equilíbrio ao aplicar as leis, as regras; é capacidade de saber prever também
as oportunas exceções às regras. Trata-se de uma atitude fundamental na vida
social. O contrário da moderação é a arrogância, a petulância, a rudez, a
presunção, a falta de educação etc.
O domínio de si ou autocontrole, que é outro fruto
do ES, está muito ligado à moderação. É uma atitude que exige de si o respeito
pelo outro, mantendo sob controle os próprios sentimentos ou instintos de poder
e de prevaricação, de ser oportunista diante da fragilidade do outro. O
autocontrole evita todo senso de superioridade e toda violência física, verbal e moral nos relacionamentos; evita a
exploração da dignidade alheia; evita a busca da própria vantagem, do próprio
prazer em prejuízo da dignidade ou do interesse de alguém. É uma virtude social
fundamental.
A cortesia é outro fruto do ES. Ela é a atitude
de Deus em relação ao homem, o modo com o qual o Senhor se comporta conosco,
segundo o que Jesus diz: “Ele é benévolo (chrestós) para os ingratos e
para os maus” (cf. Lc 6,35). A cortesia é a arte de acolher, de ir ao encontro
do outro fazendo-o sentir que é bem-vindo, esperado, amado. Quando uma pessoa
se sente acolhida, estimada e compreendida, ela se solta, fala, dá corda ao
discurso.
Outro fruto do ES é a mansidão. Ela é
uma atitude que facilmente pode ser mal interpretada, pois é confundida com a
fraqueza ou com a ingenuidade. Mas, na verdade, ela é a atitude típica de Jesus
que se autodefine manso (cf. Mt 11,29). E ela é uma das bem-aventuranças por
ele proclamada (cf. Mt 5,5). Mansidão é a atitude que acalma a ira ou cólera. A
mansidão é a atitude de quem elimina ou modera a própria cólera e a dos outros;
é responder à ira com a ponderação.
A longanimidade é outro fruto do ES.
É uma virtude que está ligada estreitamente à cortesia e à mansidão. Ela
permite sustentar no tempo a esperança (Cf. Lc 13,6-9; 2Cor 2,1-4). Ela é a
capacidade de saber investir, sem pretender a obtenção de resultados imediatos (
o contrário da precipitação). Ela é a atitude que permite superar frustrações,
que permite superar a irritação e o desencorajamento diante da aparente esterilidade
da ação apostólica, educativa, formativa. Ela nos permite semear, eventualmente
com sofrimento, olhando para a colheita que nos será dada pelas mãos de Deus.
Ela nos convida a ter coragem e a resistir, na certeza de que da resistência
virá a alegria.
Outro fruto do ES é a alegria/jovialidade
(cf. Fl 4,4-7). O termo grego “chará” que se traduz por “alegria”, ocorre 59
vezes no NT, sem contar os sinônimos e os verbos a ele ligados. É muito mais
fácil experimentar a alegria do que defini-la. Ela é a atitude que torna tudo
mais fácil. “Deus ama a quem doa com alegria” (2Cor 9,7), pois quem doa com
alegria, doa bem. Ela é a capacidade que torna outros felizes e contentes. Ela
é um sinal claríssimo da presença do ES. Se quisermos entender onde o ES está
agindo, precisamos verificar a presença ou a ausência da alegria. Onde há a
alegria, está aí o ES. O objetivo da obra de Jesus é o tornar-nos plenos de
alegria: “Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa
alegria seja plena” (cf. Jo 16,22-24). Por isso, ela é a característica típica
do Reino de Deus.
O oposto da alegria é a tristeza, aquele
sentimento pelo qual tudo parece mais pesado. E uma variante da tristeza é a
depressão ou mau humor, a melancolia, o descontentamento. Como resistir à
atitude da tristeza? Como superar a depressão? É invocar o ES, pois a alegria é
o dom do ES. É preciso invocar o ES, na certeza de que a alegria existe, de que
ela está no fundo de nós mesmos, porque ela é a presença de Jesus ressuscitado
ainda que esteja escondida. A alegria vem e virá, e tal certeza, cultivada no
coração, ajuda a superar depressões, maus humores, escuridão etc..
Outro fruto conjuntural e central do ES é a
paz (shalom), que representa também uma espécie de síntese de todo bem na
Bíblia. Biblicamente a paz é entendida como todo e qualquer bem, humano e
divino. Por isso, São Paulo até diz: “E a paz de Deus, que ultrapassa toda a
compreensão, guardará vossos corações e vossos pensamentos em Jesus Cristo (Fl
4,7). A paz podemos definir como a atitude que nos defende da ânsia, que reina
sobre a ânsia, que a domina. Ela é, obviamente, dom de Deus, do Espírito; é a
riqueza que o Espírito derrama sobre os que a acolhem. A paz é a sensação de
sentir-se em casa, de ter familiaridade com o ambiente em que vivemos. E
sentir-se em casa com Deus, em Deus; o repouso em Deus é a paz que bloqueia a
inquietude do coração. Como dizia Sto. Agostinho: “Nosso coração está inquieto
enquanto não repousa em ti”. A paz é sentir-se em casa com os outros, quando os
relacionamentos são construtivos. A paz leva a pessoa a superar os medos e as
desconfianças recíprocas.
Os Atos dos Apóstolos relatam um curioso
episódio: Chegando a Éfeso, Paulo encontrou alguns discípulos e lhes perguntou:
“‘Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?’ responderam-lhe: ‘Não,
nem sequer ouvimos dizer que há um Espírito Santo’”(At 19,1).
Se dirigíssemos hoje a mesma pergunta a
muitos cristãos, receberíamos talvez uma resposta desse mesmo tipo: sabem, sim,
que existe um Espírito Santo, mas é tudo o que sabem a respeito d’Ele; de
resto, ignoram quem é, na realidade, o Espírito Santo e o que representa para a
vida deles.
Portanto, mais do que nunca, reunamo-nos hoje
em torno da Igreja para invocar, em uníssono, sobre nós, sobre nossa família e
sobre o mundo inteiro, o Espírito Santo que é Espírito de reconciliação, de
unidade, de renovação, de harmonia, de amor, de alegria, de mansidão, de
cortesia, de longanimidade, de moderação, de autocontrole e de paz. E que
estejamos abertos permanente diante do Espírito Santo que quer nos renovar e
transformar em criaturas novas e renovadas de Deus.
VEM ESPÍRITO SANTO
"O Espírito Santo, que o Pai enviará em
meu nome, esse vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu disse."
Esta é a promessa de Jesus.
Sobre o Espírito Santo não tem que falar muito.
É melhor desejá-Lo, esperá-Lo em oração desejosa, invocá-Lo e deixá-Lo nos
penetrar, reanimar e conduzir por Ele.
Vem Espírito Santo. Sem Ti, a nossa luta pela
vida termina semeando a morte, os nossos esforços para encontrar a felicidade
acabam no egoísmo amargo e insatisfeito.
Vem Espírito Santo. Sem Ti, o nosso
"progresso" não nos leva a uma vida mais digna, nobre e alegre. Sem Ti,
nunca haverá um "povo unido", mas um povo constantemente derrotado
por divisões, rupturas e confrontos.
Sem Ti, continuaremos a dividir e separar
tudo: Norte e Sul, o bloco Ocidental e Oriental, primeiro mundo e terceiro
mundo, esquerda e direita, crentes e ateus, homens e mulheres.
Vem nos recordar, ó Espirito Santo, que tudo vem
das entranhas de um mesmo e único Pai e que todos somos chamados à comunhão
alegre e feliz nele. Renova o nosso amor ao mundo e às coisas criadas por Ti.
Ensina-nos a cuidar desta terra que nos deste
como casa comum, onde pode crescer a família humana. Sem Ti, continuaremos a
brigar agressivamente, cada um buscará sua “propriedade privada” sem pensar nos
outros e continuaremos a fazer cada vez mais inóspito e inabitável.
Vem Espírito Santo. Ensina-nos a nos entendermos
mesmo que falemos línguas diferentes. Se a sua lei interna do amor não nos
habita, vamos continuar a praticar a violência absurda e sem saída.
Vem, Espírito Santo e ensina-nos a crer. Sem
o Teu encorajamento e alento, nossa fé se converte em ideologia de direita ou
esquerda, nossa religião em triste "seguro de vida eterna."
Recorda-nos tudo o que Jesus nos ensinou.
Vem, Espírito Santo e ensina-nos a orar. Sem
o Teu calor e Tua força, nossa liturgia se perde em rotina, nosso culto em rito
legalista, e a nossa oração no palavreado.
Vem manter dentro da Igreja o esforço de
conversão. Sem o Teu impulso, qualquer renovação termina em anarquia,
involução, cansaço ou decepção.
Vem iluminar nosso mundo tão sombrio. Ajuda-nos
a imaginar o melhor e mais humano. Abre-nos para um futuro mais fraterno, puro
e solidário. Ensina-nos a pensar naquilo que não foi pensado e a construir
aquilo que não foi trabalhado.
Vai para o fundo de nossas almas. Olhe para o
vazio do homem por falta de Ti por dentro. Olhe para o poder do pecado quando
Tu não enviaste Teu alento
Vem Senhor e Doador da vida. Põe nos homens
alegria, força e consolo em suas grandes e pequenas decisões, em seus medos e
lutas, em suas esperanças e seus medos.
Vem Espírito Santo e ensina-nos a crer em Ti
como ternura e proximidade pessoal de Deus para os homens, como força e poder
da graça que pode conquistar nosso interior e dar vida para nossas vidas.
P. Vitus Gustama,svd
3 comentários:
Pregação ungida! Que o Espírito Santo continue dando-lhe sabedoria 🙏🏼💥🙏🏼
Alessandra, muito obrigado pela atenção e pelo carinho. Que o Espírito Santo a inspire.
Padre bom dia! Ontem no início da missa o senhor falou sobre três contrapontos- do amor, da fé e o terceiro não consigo me lembrar. O senhor pode repetir? Obrigada e sua benção 🙏🏼
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