terça-feira, 20 de outubro de 2020

26 de Outubro de 2020- MÚTUO AMOR

DEUS É NOSSO PAI MISERICORDIOSO QUE NOS AMA E SALVA PARA QUE TAMBÉM AMEMOS OS OUTROS

Segunda-Feira Da XXX Semana Comum

Primeira Leitura: Efésios 4,32-5,8

Irmãos, 4,32 sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos mutuamente, como Deus vos perdoou por meio de Cristo. 5,1 Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama. 2 Vivei no amor, como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor. 3 A devassidão, ou qualquer espécie de impureza ou cobiça sequer sejam mencionadas entre vós, como convém a santos. 4 Nada de palavras grosseiras, insensatas ou obscenas, que são inconvenientes; dedicai-vos antes à ação de graças. 5 Pois, sabei-o bem, o devasso, o impuro, o avarento – que é um idólatra – são excluídos da herança no reino de Cristo e de Deus. 6 Que ninguém vos engane com palavras vazias. Tudo isso atrai a cólera de Deus sobre os que lhe desobedecem. 7 Não sejais seus cúmplices. 8 Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz.

Evangelho: Lc 13,10-17

Naquele tempo, 10 Jesus estava ensinando numa sinagoga, em dia de sábado. 11 Havia aí uma mulher que, fazia dezoito anos, estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e incapaz de se endireitar. 12 Vendo-a, Jesus chamou-a e lhe disse: “Mulher, estás livre da tua doença”. 13 Jesus pôs as mãos sobre ela, e imediatamente a mulher se endireitou e começou a louvar a Deus. 14 O chefe da sinagoga ficou furioso, porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado. E, tomando a palavra, começou a dizer à multidão: “Existem seis dias para trabalhar. Vinde, então, nesses dias para serdes curados, não em dia de sábado”. 15 O Senhor lhe respondeu: “Hipócritas! Cada um de vós não solta do curral o boi ou o jumento, para dar-lhe de beber, mesmo que seja dia de sábado? 16 Esta filha de Abraão, que Satanás amarrou durante dezoito anos, não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?” 17 Esta resposta envergonhou todos os inimigos de Jesus. E a multidão inteira se alegrava com as maravilhas que ele fazia.

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Viver Na Fraternidade Com Amor, Pois Deus Nos Amou e Nos Perdoou

Sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos mutuamente, como Deus vos perdoou por meio de Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama. Vivei no amor, como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor”.

Os textos da semana anterior nos apresentaram o mistério de Cristo, o mistério do Corpo de Cristo do qual brota imediatamente uma atitude: o amor entre nós. Somos um Corpo só. Sendo “membros uns dos outros” como um Corpo, como então, poderíamos viver sem mútuo amor? É algo muito distinto da simples solidariedade humana ou de uma ajuda mútua, é uma exigência fundada “em Cristo”.

Continuamos ainda na parte exortativa da Carta aos Efésios, que começamos na Sexta-feira passada. Dentro deste tema, hoje o autor da Carta enfatiza dois aspectos básicos: a caridade fraterna e a chamada a evitar a imoralidade reinante na sociedade da época.

O modelo ou o fundamento do amor fraterno é Deus Pai e Jesus Cristo: “Perdoai-vos mutuamente, como Deus vos perdoou por meio de Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama. Vivei no amor, como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo a Deus por nós”.

A chamada é, então, muito clara: Imitar Deus. O modo de argumentar é muito simples e eloquente: Deus te amou; ama tu também. Deus te perdoou; perdoa tu também. Deus te iluminou; sê luz tu também para os demais. No fundo, trata-se de não deter o rio da bondade: a bondade chegou até você, então, não detenha em você a mesma a bondade; você tem que irradiar a mesma bondade para o próximo.

E não há tempo determinado para fazer a caridade. Todo momento ou toda circunstancia é apropriado para fazer a caridade.  Pensemos: quantas oportunidades temos diariamente para fazer caridade, para fazer um favor, mas preferimos nossa comodidade? Quantas vezes nos refugiamos atrás de regulamentos para não ajudar a quem verdadeiramente está necessitado. Nenhuma lei pode condicionar a ajuda ao próximo, como Jesus que curou pessoas doentes aos Sábados. Deixemos que a caridade se converta mais que um lugar ou templo ou em um regulamento, em um estilo de vida.

Outro aspecto que o autor da Carta aos Efésios enfatiza é que os cristãos devem evitar em sua vida: “A devassidão, ou qualquer espécie de impureza ou cobiça”, “Nada de palavras grosseiras, insensatas ou obscenas”. Todas estas coisas “são os que atraem a cólera de Deus”. Com efeito, “o devasso, o impuro, o avarento – que é um idólatra – são excluídos da herança no reino de Cristo e de Deus”. Para o autor da Carta os cristãos têm que evitar toda indecência e imoralidade nas conversas e na vida.

Ainda que a maioria seja egoísta, um cristão não o deve ser. Se a maioria caiu na deterioração da ética, um cristão deve lutar contra corrente e saber defender a pureza de coração em meio da permissividade reinante. Apesar de ser geral neste mundo, um cristão evita a carreira para enriquecer-se ilicitamente a qualquer custo. Tudo isso é viver como filhos e filhas da luz. Que saibamos viver na luz e não nas trevas, e não sejamos servos da lei e sim da verdade e da caridade. Se somos filhos de Deus, que resplandeça em nós a verdade de Cristo inflamada em amor.

O Salmo Responsorial de hoje (Sl 1) nos põe no caminho da verdadeira sabedoria: “Feliz é todo aquele que não anda conforme os conselhos dos perversos; que não entra no caminho dos malvados. Ele é semelhante a uma árvore que à beira da torrente está plantada; ela sempre dá seus frutos a seu tempo, e jamais suas folhas vão murchar”.

O exemplo maior de uma vida dedicada ao bem e à bondade é a própria vida de Jesus Cristo. Em seu caminho para Jerusalém, Jesus realiza outro gesto de “cura em um Sábado” uma mulher encurvada. Jesus se dedica a curar, a salvar, a transmitir vida para qualquer pessoa e em qualquer lugar e momento. Ele passou a vida “fazendo o bem” (At 10,38). Logo, deve ser assim também a vida dos que são chamados de cristãos. Cristo nos ensina que a caridade com as pessoas necessitadas é superior a muitas outras coisas, pois “a caridade é o pleno cumprimento da lei” (Rm 13,10).

Deus é o Nosso Pai Que Quer Nosso Bem e Nossa Salvação

As comunidades de Lucas são comunidades de pobres com alguns ricos. Há um contraste que aparece, sobretudo, no evangelho de Lucas: de um lado, os pobres, famintos, perseguidos, aflitos (Lc 6,20-23) e, do outro, os ricos (Lc 12,16-21) que se banqueteiam sem se preocupar com a miséria dos outros (Lc 16,19-31); Comunidades com pessoas cansadas, medrosas, desanimadas e perdidas por causa da situação na qual viviam (Lc 24,13-24).

No texto do evangelho de hoje Lucas nos relata uma mulher sofrida durante dezoito anos e que Jesus a curou, no Sábado. No seu evangelho Lucas relatou três vezes a cura ocorrida no Sábado: a cura do homem com a mão paralisada (Lc 6,6-11); a cura de uma mulher encurvada (13,10-17); e a cura de um hidrópico (14,1-6).

No evangelho lido neste dia, estamos diante de uma mulher encurvada durante dezoito anos. É todo um símbolo. É uma mulher que não pode endireitar-se nem levantar sua cabeça para o céu. Uma pessoa encurvada só pode olhar para o chão e sem condições para olhar para o céu. É uma mulher com uma perspectiva limitada e sem horizontes pelo peso da vida carregado nas costas. É uma mulher que carrega um peso insuportável para sua vida que a incapacita de olhar além do chão. É uma mulher cansada e oprimida, esmagada e deprimida. É uma mulher que recebia, em seus ombros, fardos incontáveis. É um símbolo de todas as mulheres na história. É um símbolo de todos os que suportam ou carregam pesos intoleráveis.

Em qualquer lugar do planeta terra podemos encontrar homens e mulheres curvados pelo peso da fome e da pobreza, pela miséria e exploração, pelo abandono e exclusão de uma convivência mais humana e familiar, pela falsidade e mentira, pela perseguição e a tortura. Homens e mulheres curvados pelo peso dos filhos cheios de problemas e pelas preocupações familiares diante de tantas dificuldades que a vida impõe. Homens e mulheres curvados pelo peso de trabalho de escravidão e de exploração. Homens e mulheres encurvados pelo esforço e pela luta para não faltar pão para os filhos na mesa da família. Homens e mulheres encurvados pela incompreensão e solidão. Homens e mulheres encurvados pelo vício desenfreado e pelos apegos que cria uma vida vazia. Homens e mulheres encurvados pelos fracassos e pelas tristezas. Homens e mulheres curvados pela falta de saúde. Homens e mulheres encurvados pela violência sem piedade que causa tantas lágrimas e tristezas.

Diante de tudo isso, Jesus não fica insensível. Ele não espera o pedido da mulher para ser curada, como aconteceu com outros milagres. Ele nem quer saber se é num sábado ou qualquer dia sagrado na concepção dos homens. Jesus não quer saber das veneráveis prescrições religiosas por sagradas que pareçam ser. Nenhuma lei sagrada, nenhum dia santo de guarda, na concepção do homem, é capaz de impedir Jesus de fazer o bem e de salvar pessoas em necessidade. Jesus toma a iniciativa, mesmo que seja no dia de Sábado: “Vendo a mulher, Jesus chamou-a e lhe disse: ‘Mulher, estás livre da tua doença’. Jesus pôs as mãos sobre ela, e imediatamente a mulher se endireitou e começou a louvar a Deus”. A partir de agora em diante ela pode olhar para o céu, aquilo que ela não conseguia fazer, para louvar a Deus.

O chefe da sinagoga se preocupa com o que pode e o que não pode fazer no Sábado colocando de lado a necessidade humana. Ele olha muito mais para as regras e proibições do que para um ser humano em perigo. Por isso, Jesus o chama de “hipócrita”: “Hipócritas! Cada um de vós não solta do curral o boi ou o jumento, para dar-lhe de beber, mesmo que seja dia de sábado? Esta filha de Abraão, que Satanás amarrou durante dezoito anos, não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?”. Ama menos quem se preocupa somente com as regras e proibições. O Deus de Jesus não é o Deus de regras e sim o Deus de amor (Jo 3,16; 1Jo 4,8.16). O que agrada a Deus não é o cumprimento das regras por sagradas que elas pareçam ser, e sim a vivência do amor fraterno. É a preocupação pela dignidade humana. Deus fica contente com a libertação de seus filhos. Para Jesus a Lei dever ser humana e torna o ser humano em irmão do outro.

Deus não quer que sejamos encurvados. Deus não quer que sejamos oprimidos e escravizados, nem deprimidos e prostrados no chão de uma vida sem sentido. Ele nos quer livres. Ele quer que estejamos em pé e de pé diante dessa vida para ver que a vida é maior do que chão para onde dirigíamos nosso olhar. Estar em pé ou estar de pé significa liberdade, confiança, transcendência. Deus não nos criou para ficarmos encurvados, e sim para que vivamos com dignidade, para que sejamos livres (cf. Mt 11,28). Para estar de pé durante esta vida temos que aprender a ficar de joelhos diante de Deus. Encurvar-se diante de Deus nos faz erguermo-nos diante desta vida para louvar a Deus que nos ama com seu amor misericordioso incondicionalmente.

Um dos imperativos que mais se repetem na história da salvação é “Levanta-te!”. Podemos ter fracassos na vida, podemos cair no chão, mas é preciso que nos levantemos, pois a misericórdia divina está nos esperando.

P. Vitus Gustama,svd

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