quarta-feira, 21 de outubro de 2020

27 de Outubro de 2020-AMOR MÚTUO

A PALAVRA DE DEUS TEM PODER DE TRANSFORMAR NOSSA VIDA COTIDIANA EM UMA VIDA DO AMOR MÚTUO

Terça-Feira da XXX Semana Comum

Primeira Leitura: Efésios 5,21-33

Irmãos, 21 vós, que temeis a Cristo, sede solícitos uns para com os outros. 22 As mulheres sejam submissas aos seus maridos como ao Senhor. 23 Pois o marido é a cabeça da mulher, do mesmo modo que Cristo é a cabeça da Igreja, ele, o Salvador do seu Corpo. 24 Mas como a Igreja é solícita por Cristo, sejam as mulheres solícitas em tudo pelos seus maridos. 25 Maridos, amai as vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. 26 Ele quis assim torná-la santa, purificando-a com o banho da água unida à Palavra. 27 Ele quis apresentá-la a si mesmo esplêndida, sem mancha nem ruga nem defeito algum, mas santa e irrepreensível. 28 Assim é que o marido deve amar a sua mulher, como ao seu próprio corpo. Aquele que ama a sua mulher ama-se a si mesmo. 29 Ninguém jamais odiou a sua própria carne. Ao contrário, alimenta-a e cerca-a de cuidados, como o Cristo faz com a sua Igreja; 30 e nós membros do seu corpo! 31 Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne. 32 Este mistério é grande, e eu o interpreto em relação a Cristo e à Igreja. 33 Em todo caso, cada um, no que lhe toca, deve amar a sua mulher como a si mesmo; e a mulher deve respeitar o seu marido.

Evangelho: Lc 13,18-21

Naquele tempo, 18 Jesus dizia: “A que é semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo? 19 Ele é como a semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim. A semente cresce, torna-se uma grande árvore e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos”. 20 Jesus disse ainda: “Com que poderei ainda comparar o Reino de Deus? 21 Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”.

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Imitar o Amor De Cristo Pela Igreja Nas Matrimoniais e nas outras relações fraternais

O autor da Carta aos Efésios continua com as recomendações ou exortações sobre a vida de cada dia. Desta vez ele fala sobre as relações entre marido e mulher (matrimônio).

A passagem que nos faz penetrarmos mais fundo do que qualquer outro texto na doutrina bíblica sobre o matrimônio é Ef 5,21-33. Ef 5,21-33 se encontra na parte que fala da exortação moral (parenética) de São Paulo aos efésios (Ef 4,1-6,20), com o intuito de relembrar aos cristãos sobre o compromisso que assumiram no dia de seu Batismo que os obriga a viverem como Homens Novos em Jesus Cristo.

Na seção de Ef 5,21-6,9, São Paulo apresenta as normas que devem reger as relações familiares. De forma especial, Paulo se refere aos deveres dos esposos, seguramente, porque vê na sua união matrimonial uma figura da união de Cristo com a sua Igreja. Trata-se de um dos temas mais importantes da teologia desenvolvida na Carta aos Efésios sobre o matrimônio.

Sejam as mulheres solícitas em tudo pelos seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por ela”. O convite ao mútuo amor se baseia na vontade originária de Deus no Gênesis, quando criou o homem e a mulher e quis que os dois fossem “uma só carne”. Por isso, “cada um, no que lhe toca, o marido deve amar a sua mulher como a si mesmo; e a mulher deve respeitar o seu marido”.

O matrimônio cristão é também uma opção radical e irrevogável, imagem da opção de Cristo por sua Igreja. A primeira vista, este texto paulino parece definir a superioridade do homem sobre a mulher. É evidente que a imagem não se pode levar até o extremo de dizer que o marido salva a mulher no mesmo sentido que Cristo salva a Igreja e seus membros. O marido não é “cabeça” de sua mulher no mesmo sentido em que Cristo o é da Igreja.

Há que ter em conta a evolução antropológica e social das pessoas como da família. Hoje o matrimônio é entendido muito mais em termos de complementariedade e corresponsabilidade. Mas na sociedade na qual, de fato, viviam os primeiros cristãos, a superioridade do homem era absoluta.

Tendo em conta esta superioridade, que são Paulo não define e sim que consta, o que esta passagem inculca é que a autoridade do marido deve ser um serviço de amor e de proteção, imitação do de Jesus Cristo para com sua Igreja. O marido deve amar sua esposa até a morte e considerá-la não como um objeto e sim como o próprio corpo: “O marido deve amar a sua mulher, como ao seu próprio corpo. Aquele que ama a sua mulher ama-se a si mesmo” (Ef 5,29).

Maridos, amai as vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. Ele quis assim torná-la santa, purificando-a com o banho da água unida à Palavra”. O autor da Carta aos Efésios não sentia dificuldade em trazer a imagem da Igreja como Esposa de Cristo. O profeta Oseias, para descrever as exigências da Aliança, já havia recorrido a esta imagem de Deus, Esposo de seu povo, e já havia desenvolvido o tema com realismo (Os 2,18-22). Em sua Segunda Carta aos Coríntios, são Paulo vê em Cristo o esposo, e na Igreja a esposa (2Cor 11,2). Na Carta aos Efésios, vê Cristo como Cabeça, e a Igreja como Corpo. É uma nova maneira de expressar a unidade entre Deus e seu povo; é um modo de expressao totalmente novo. Por outra parte, a nova imagem utilizada por são Paulo não era uma criação artificial de sua imaginação. Na Bíblia, e segundo o que nos diz o Gênesis, a esposa é o corpo de seu esposo: “Eis agora aqui o osso de meus ossos e a carne de minha carne porque foi tomada do homem” (Gn 2,23-24). Por isso, depois de citar esta passagem do Gênesis, são Paulo declara que este mistério é grande, e o diz pensando em Cristo e na Igreja.

São Paulo entende a união entre homem e mulher da perspectiva de Deus, e portanto, afirma que “Aquele que ama a sua mulher ama-se a si mesmo”, porque “é a própria carne”. Mas, sobretudo, ele a relaciona com o amor que se tem mutuamente Cristo e a Igreja: “Este mistério é grande, e eu o interpreto em relação a Cristo e à Igreja”. Este “tipo” da união do homem e a mulher que encontramos no Gênesis, se realiza na união de Cristo e sua Igreja e, por sua vez, o matrimônio encontra hoje sua verdadeira realização em conformidade com esta união de Cristo e sua Igreja.

O amor de Cristo a sua Igreja não é precisamente romântico: Cristo o demonstrou na sua entrega na morte na cruz por amor à humanidade. Ai está a razão  de ser do mútuo amor para são Paulo entre o marido e a esposa.

O matrimônio é destinado a reproduzir a relação entre Cristo e Sua Igreja, e como Cristo é a cabeça da Igreja, tal deve ser o marido para a mulher. São Paulo não está querendo dizer que o marido seja autoritário em relação à mulher. Por isso, ele acrescenta: “Como Cristo, o Salvador do seu corpo”. Isto significa que a posição do marido como “cabeça” ou “comando” deve estar endereçada à “salvação” da mulher, como faz Cristo em relação à Igreja. A “submissão” endereçada à mulher da qual São Paulo fala deve ser sempre entendida no sentido do amor e do serviço e não no sentido da escravidão.

Como Cristo e a Igreja formam um só corpo, do mesmo modo marido e esposa, comprometidos numa comunidade de amor, formam um só corpo: “Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua mulher e serão dois numa só carne” (Ef 5,31).

A expressão “uma só carne” aqui usada por Paulo não alude só à união carnal dos esposos, mas a toda a sua vida conjugal, feita de um empenho quotidiano na vivência do amor, da fidelidade e da partilha de toda a existência. “Os esposos, feitos à imagem de Deus e estabelecidos numa ordem verdadeiramente pessoal, estejam unidos em comunhão de afeto e de pensamento e com mútua santidade, de modo que, seguindo a Cristo, princípio da vida, se tornem, pela fidelidade do seu amor, através das alegrias e sacrifícios da sua vocação, testemunhas daquele mistério de amor que Deus revelou ao mundo com a sua morte e ressurreição” (Gaudium et Spes, 52).

Em nossas relações comunitárias: de família ou de vida religiosa ou de atividade paroquial, deveríamos aceitar este critério profundo: ver Cristo nos demais, imitar Cristo em sua entrega por amor. Todos, tanto casados como não casados, quando comungamos o “Cristo entregue por”, devemos também aprender seu amor de entrega pelos demais. O entregar por amor pelos demais deve-se notar durante o dia nas relações entre marido e esposa, entre filhos e pais, entre irmãos ou companheiros de trabalho e de vida da comunidade. Se não, será uma Eucaristia que não produz os frutos que Cristo esperava.

A Palavra De Deus Vivida Tem Poder De Transformar Nossa Vida

Continuamos acompanhando Jesus no seu caminho para Jerusalém, durante o qual escutamos Suas últimas e importantes lições para nossa vida como cristãos (Lc 9,51-19,28).

A passagem do evangelho de hoje fala de duas parábolas: a semente da mostarda e o fermento. As duas querem sublinhar claramente que a graça de Deus cresce em extensão (grão de mostarda) e em intensidade (fermento na massa). No entanto, elas não sublinham apenas sobre o crescimento, mas também sobre todo estado final que apontam para um valor escatológico. Elas servem, por isso, para animar qualquer cristão, qualquer comunidade para não desistirem em levar adiante a causa de Jesus apesar de se sentirem tão pequenos no meio dos “poderosos” deste mundo, pois no final Deus é quem tem a última palavra.

O Reino de Deus é como a semente de mostarda, que um homem pega e lançou no seu jardim. A semente cresce, torna-se uma grande árvore e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos(Lc 13,19). Lançar semente à terra é um gesto absolutamente natural, apaixonante e misterioso. É um gesto de esperança e de aventura. Basta a semente estar na terra, começa, então, em segredo e em silêncio uma serie de maravilhas, pouco importa que o semeador se preocupe ou não com a semente. Cada semente lançada na terra surge a esperança no coração do semeador de ver a semente brotar e crescer em alguns dias. O semeador é aquele que crê na vida, que tem confiança no porvir. E ao ver a semente que se transformou em plantinha, a alegria inunda o coração do semeador a ponto de ele “conversar” com a plantinha quase diariamente. E com cuidado ele vai capinar ao redor dela para facilitar o crescimento saudável da plantinha a fim de ela dar bons frutos. O semeador é aquele semeia a mãos cheias para que a vida se multiplique que se transforma em alimento para cada família. O semeador é aquele que investe no porvir.

Jesus está consciente de estar fazendo isto: semear, lançar, esperar com paciência!  Ele empreende uma obra que tem porvir. Ele semeia a Palavra de Deus em cada coração. E aquele que escuta e se deixa guiar pela Palavra de Deus, vai produzir muitos bons frutos para a convivência fraterna.          

A Palavra de Deus tem dentro de si uma força misteriosa que apesar dos obstáculos encontrados no seu caminho vai germinar e dar fruto. Com esta parábola Jesus quer sublinhar a força intrínseca da graça e da intervenção de Deus.            

O Reino de Deus é como a semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim. A semente cresce, torna-se uma grande árvore e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos”. Ao falar da pequenez de uma semente como a de mostarda, Jesus quer nos convidar a rever os nossos critérios de atuação e a nossa forma de olhar o mundo e os nossos irmãos. Por vezes, naquilo que é pequeno, débil e aparentemente insignificante é que Deus se revela (cf. Mt 11,25-28). Deus está nos pequenos, nos humildes, nos pobres, nos que renunciaram a esquemas de triunfalismo e de ostentação; e é deles que Deus se serve para transformar o mundo.

O Reino de Deus é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”. Esta comparação tem em conta a potência de transformação do fermento apesar de sua invisibilidade: assim que o fermento se mistura com a massa, a massa se transforma em tamanho maior  para se transformar em pão para a mesa de cada família: os começos são modestos, mas o resultado final é surpreendente.

Através das duas parábolas, Jesus quer nos dar lição de que os meios podem ser muito pequenos, como a pequena semente de mostarda ou como o fermento, mas podem produzir frutos inesperados, não proporcionados nem a nossa organização nem a nossos métodos e instrumentos. A força da Palavra de Deus vem do próprio Deus e não de nossas técnicas. Quando em nossa vida há uma força interior, a eficácia do trabalho cresce notavelmente. Mas quando essa força interior é o amor que Deus nos tem, ou seu Espírito ou a Graça salvadora de Cristo ressuscitado, então, o Reino de Deus germina e cresce poderosamente. O que devemos fazer é colaborar com nossa liberdade. Mas o protagonista é Deus. Necessitamos trabalhar com o olhar posto em Deus, sem impaciência, sem exigir frutos a curto prazo, sem absolutizar nossos méritos, meios e técnicas e sem demasiado medo ao fracasso. Há que ter paciência como a tem o lavrador esperando a colheita.             

O evangelho de hoje nos ajuda a entendermos como conduz Deus nossa história. Não teríamos que nos orgulhar nunca, como se o mundo se salvasse por nossas técnicas, métodos e esforços. Não podemos esquecer aquilo que São Paulo nos aconselhou: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer. Assim, nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas só Deus, que faz crescer. O que planta ou o que rega são iguais; cada um receberá a sua recompensa, segundo o seu trabalho.  Nós somos operários com Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus. Segundo a graça que Deus me deu, como sábio arquiteto lancei o fundamento, mas outro edifica sobre ele. Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo” (1Cor 3,6-11).              

Os frutos da graça de Deus se produzem às ocultas, em pequenos gestos e projetos bem simples sem que ninguém se dê conta. Nossa tarefa é semear a bondade constantemente, catar um pedaço de felicidade diariamente para compartilhá-la com aqueles que não conseguiram catar nenhum pedaço. A fé vivida na obediência à vontade de Deus é capaz de operar uma transformação total da pessoa, uma reestruturação de todo o ser, como a semente que se transforma totalmente em uma planta. Nos fatos aparentemente irrelevantes, na simplicidade e normalidade de cada dia, na insignificância dos meios, esconde-se o dinamismo de Deus que atua na história e que oferece aos homens caminhos de salvação e de vida plena. Não podemos deixar nenhum dia sem semear a bondade nos corações de pessoas.

P. Vitus Gustama,svd

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