SANTO ANDRÉ, APÓSTOLO,
O PROTÓKLITOS
30 de novembro
Primeira Leitura: Rm 10,9-18
Irmãos, 9 se, com tua boca, confessares Jesus como Senhor e, no teu
coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. 10 É crendo no
coração que se alcança a justiça e é confessando a fé com a boca que se
consegue a salvação. 11 Pois a Escritura diz: “Todo aquele que nele crer não
ficará confundido”. 12 Portanto, não importa a diferença entre judeu e grego;
todos têm o mesmo Senhor, que é generoso para com todos os que o invocam. 13 De
fato, todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo. 14 Mas como
invocá-lo, sem antes crer nele? E como crer, sem antes ter ouvido falar dele? E
como ouvir, sem alguém que pregue? 15 E como pregar, sem ser enviado para isso?
Assim é que está escrito: “Quão belos são os pés dos que anunciam o bem”. 16
Mas nem todos obedeceram à Boa Nova. Pois Isaías diz: “Senhor, quem acreditou
em nossa pregação?” 17 Logo, a fé vem da pregação e a pregação se faz pela
palavra de Cristo. 18 Então, eu pergunto: Será que eles não ouviram? Certamente
que ouviram, pois “a voz deles se espalhou por toda a terra, e as suas palavras
chegaram aos confins do mundo”.
Evangelho: Mt 4,18-22
Naquele tempo, 18quando Jesus andava à beira do mar da Galileia, viu dois
irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao
mar, pois eram pescadores. 19Jesus disse a eles: “Segui-me, e eu farei de vós
pescadores de homens”. 20Eles imediatamente deixaram as redes e o seguiram.
21Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago, filho de
Zebedeu, e seu irmão João. Estavam na barca com seu pai Zebedeu, consertando as
redes. Jesus os chamou. 22Eles imediatamente deixaram a barca e o pai, e o
seguiram.
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Hoje (30 de novembro) celebramos a festa do apostolo André.
A primeiracaracterísticaqueem André chama a atenção é o nome: não é hebraico,
masgrego, “André”
(viril,robusto) sinal de
quesuafamília tem uma certaabertura cultural. Estamos na Galileia, onde a
língua e a culturagregas estão bastantepresentes. Nas listas dos Doze, André
ocupa o segundolugar, comoemMateus
(10, 1-4) e em Lucas (6, 13-16), ou o quartolugarcomoemMarcos
(3, 13-18) e nosAtos (1, 13-14). Contudo, ele gozava certamente de
grandeprestígio nas primeiras comunidades cristãs.
A liturgia grega distingue Santo André com o título de “protóklitos”,
“o primeiro chamado”. Mas,
em rigor, este título há de compartilhá-lo com o apóstolo João. Os dois foram
os primeiros que em uma tarde inesquecível, escutaram as palavras de Jesus,
novas para o mundo. Esta recordação, que sempre fresca na memória de João,
ficou esculpida em seu Evangelho (cf. Jo
1,35-42).
Segundo as fontes bíblicas André é irmão de Pedro. Os
evangelhos mostram explicitamente o laço de sangueentre Pedro e André (Mt 4,
18-19; Mc 1, 16-17). E no evangelho de João lemos outropormenor: num primeiromomento,
André eradiscípulo de João Batista;
e istonosmostraqueeraumhomemque procurava, que partilhava a esperança de
Israel, que queria conhecermais de perto a Palavra do Senhor, a realidade do
Senhorpresente. Era verdadeiramente umhomem de fé e de esperança; e certavez,
de João Batista ouviu proclamar Jesus como "o Cordeiro de Deus" (Jo
1, 36); entãoele voltou-se e, juntamentecomoutrodiscípuloquenão é nomeado,
seguiu a Jesus, Aquelequeera chamado por João o "Cordeiro de Deus". O
evangelista narra: eles "viram onde
morava e ficaram comEle nesse dia" (Jo 1, 37-39). Portanto, André viveu momentospreciosos de
familiaridadecom Jesus.
Podemos imaginar o diálogo
comovente naquela tarde entre Jesus e os dois discípulos de João Batista.
Aquelas palavras de Jesus, que inicia sua vida pública de uma forma tão simples
que servem como o caminho para a fonte que mata para sempre a sede de Deus e o
sentido da vida. As palavras de Jesus estavam penetrando os corações daqueles
simples pescadores, já preparados pela pregação de João Batista. Essa alegria
espiritual, essa descoberta insuspeitada encheu o coração de André com um
entusiasmo sem hesitação.
Ao chegar em casa com a impressão
da entrevista ou da convivência daquele dia, ele contou ao irmão Pedro:
"Encontramos o Messias". E Pedro, influenciado pela fé de seu irmão,
corre para Jesus, e n´Ele encontrou a hora inicial de uma grandeza singular que
o futuro vai preparar para Pedro, pois sobre ele Jesus vai edificar sua Igreja
(Mt 16,17-19). André
apresentou Pedro, seu irmão, a Jesus. O que é bom e precioso não é guardado
apenas no coração de André. Ele tem umespírito apostólico extraordinário ao
partilhar a preciosidade do encontro com seu irmão Pedro e o levou para Jesus.
O evangelho de João relatou que foi André quem avisou a
Jesus quealgunsgregos queriam vê-Lo. E Jesus deu a seguinteresposta, bastante
enigmática: "Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem.
Emverdade, emverdadevos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, nãomorrer,
fica elesó; mas, se morrer, dá muitofruto" (12, 23-24). Com estas
palavras Jesus profetiza a Igreja dos gregos, a Igreja dos pagãos, a Igreja do
mundocomofruto da suaPáscoa.
Segundo as tradiçõesmuito antigas ele foi anunciador e intérprete
de Jesus para o mundogrego. Uma tradiçãosucessiva narra a morte de André
emPatrasso, ondetambémele sofreu o suplício da crucifixão. Mas, naquele
momentosupremo, de modoanálogo ao do irmão Pedro, ele pediu paraserposto numa
cruzdiferente da cruz de Jesus. Emseucaso, tratou-se de uma cruzemforma de letra “X”,ou
seja, com os
doismadeiroscruzadosdiagonalmente, queporestemotivo é chamada «cruz de Santo André»para
distinguir este apóstolo. Jesus e os dois irmãos - Pedro e André - foram
crucificados, embora cada um deles de uma maneira diferente. Cristo lhes
reservou uma morte semelhante, como um vínculo que os une na vida e na morte,
na fidelidade à missão evangelizadora, no último testemunho do sangue.
Conectar-se a Jesus também na morte é uma graça que Deus concedeu aos dois
pescadores da Galileia.
O apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus comprontidão (cf.
Mt 4, 20; Mc 1, 18), a falarcomentusiasmo d'Ele a quantos encontramos na nossa
vida cotidiana, e sobretudo a cultivarcomEleum relacionamento de verdadeira
familiaridade, bemconscientes de quesó n'Ele podemos encontrar o sentidoúltimo
da nossavida e da nossamorte. Todas as etapas anteriores servem como uma
preparação para o verdadeiro encontro com Aquele que é o autor da vida: Jesus
Cristo.
Santo André aparece como um homem de natureza calma e
serena, oposto à impetuosidade característica de seu irmão Pedro. Com um
coração nobre e aberto, inspirou simpatia e confiança. De natureza sensível,
foi fácil entusiasmo simples quando uma ótima ideia o dominava. Embora tenha
participado das pequenas rivalidades dos apóstolos sobre quem seria o maior e
poderia apresentar o título de "primeiro chamado", não parece, no
entanto, desejar grandes coisas. Os filhos do Zebedeu, e especialmente o seu
irmão Pedro, o dominaram com coragem e ousadia. André é mais sensato e
prudente, e, portanto, sujeito que tem mais imprudência do que o seu irmão,
Pedro.
Segundo o texto do evangelho lido hoje Jesus lança o convite
aos dois irmãos que se expressa com a seguinte frase: “Segue-me!” ou “Venham
atrás de mim!”. A expressão se encontra na boca de Eliseu em 2Rs 6,19. Por um
lado, a fórmula “ir-se” ou “seguir atrás dele” aparece repetidamente na cena de
chamada de Eliseu pelo profeta Elias (1Rs 19,19-21). Jesus se apresenta,
portanto, como profeta e sua chamada promete a comunicação do Espírito
profético para seus seguidores. Por outro lado, o ofício dos irmãos
(pescadores) e a metáfora de Jesus “pescadores de homens” aludem a Ez 47,10,
onde se utiliza também a metáfora dos pescadores que conseguiram uma pesca
abundante com todos os tipos de peixe. O texto grego dos LXX põe esta passagem
em relação com Galileia (Ez 57,8). A menção anterior do mar/lago, a do ofício
de pescadores e a metáfora usada por Jesus esclarecem o significado da frase:
Jesus chama para uma missão profética que pretenderá atrair os homens, tanto
judeus como pagãos (o mar como fronteira), e cujo êxito está assegurado.
A resposta dos dois irmãos é imediata. Aparece, pela
primeira vez, o verbo “SEGUIR”, que, referido a discípulos, indicará a adesão à
pessoa de Jesus e a colaboração em sua missão. Seguir a Jesus significa, então,
estar com Jesus em todos os momentos. A adesão à pessoa de Jesus e programa
comporta uma ruptura com a vida anterior, uma mudança radical para entregar-se
a fim de procurar o bem do homem, isto é, sua salvação.
O Apóstolo André, humilde pescador da Galileia, deixa suas
redes para ser pescador de homens. É também, como foi dito acima, o discípulos
de João Batista que apenas descobre Jesus, vai atrás d´Ele e fica com Ele
durante o dia todo. Este encontro é tão importante para André que se recorda
até a hora “era mais ou menos quatro horas da tarde” (Jo 1,39). André chama seu
irmão Pedro e confessa Jesus como Messias (Jo 1,40-41). Forma com Pedro, Tiago
e João, o núcleo dos Doze Apóstolos. André, segundo o significado de seu nome,
é “o varão” que representa a vocação da humanidade a ser discípula de Jesus.
André deve nos recordar nossa vocação de apóstolos, as
origens apostólicas das primeiras comunidades e o testemunho e martírio que a
maioria dos primeiros discípulos sofreram por causa da Palavra de Deus e do
Reino. A Igreja está construída sobre “o cimento dos apóstolos e profetas,
sendo a pedra angular o próprio Cristo (Ef 2,20).
O apóstolo é o enviado por Jesus, e aqui está a grandeza
dele e não em seus dons pessoais, em seus valores humanos, em sua atividade, em
sua influência. A magnitude de sua personalidade reside naquele dia em que
Jesus colocou seus olhos nele, entendeu o olhar penetrante, aceitou a missão
que lhe foi confiada e foi fiel à morte pela mensagem recebida de Jesus, sem se
assustar com a morte ou com os poderes humanos. Ser apóstolo é orientar a vida
e trabalhar para Jesus e para os homens: receber da palavra e da vida de Jesus
e dar aos homens, sem adulterar, sem mudar, a vida e a palavra. O dom do
apostolado leva a dar vida, a selar a palavra recebida com a morte se assim o
desejar. E isso com fé, com alegria e amor. Ser apóstolo é dar testemunho de
Jesus até o final.
Entre as virtudes de Santo André destacam-se a mansidão e a humildade, a simplicidade e
a ingenuidade de sua alma, o entusiasmo sincero por Jesus que conheceu numa
tarde inesquecível, perto das águas do Jordão. O "primeiro chamado"
mostrou uma grande constância na pregação e uma inquebrável paciência na dor,
diz o breviário gótico. Que ele interceda por nós para que sejamos
perseverantes no testemunho de Jesus e de seus
ensinamentos mesmo que encaremos a cruz na qual somos crucificados com Jesus e
os irmãos André e Pedro. Assim seja!
P. Vitus Gustama,SVD
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