sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Domingo,06/11/2022-Fé Na Ressurreição

A FÉ NO DEUS DA VIDA E DA RESSURREIÇÃO TRANSFORMA NOSSA MANEIRA DE VIVER E DE CONVIVER

XXXII DOMINGO COMUM “C”

Primeira Leitura: 2Macabeus 7,1-2.9-14

Naqueles dias, foram presos sete irmãos, juntamente com a mãe, e o rei da Síria quis obrigá-los, à força de golpes de azorrague e de nervos de boi a comer carne de porco proibida pela Lei judaica. Um deles tomou a palavra em nome de todos e falou assim ao rei: «Que pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos para morrer, antes que violar a lei de nossos pais». Prestes a soltar o último suspiro, o segundo irmão disse: «Tu, malvado, pretendes arrancar-nos a vida presente, mas o Rei do universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna, se morrermos fiéis às suas leis». Depois deste começaram a torturar o terceiro. Intimado a pôr fora a língua, apresentou-a sem demora e estendeu as mãos resolutamente, dizendo com nobre coragem: «Do Céu recebi estes membros e é por causa das suas leis que os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo». O próprio rei e quantos o acompanhavam estavam admirados com a força de ânimo do jovem, que não fazia nenhum caso das torturas. Depois de executado este último, sujeitaram o quarto ao mesmo suplício. Quando estava para morrer, falou assim: «Vale a pena morrermos às mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará; mas tu, ó rei, não ressuscitarás para a vida».

Segunda Leitura: 2Ts 2,16-3,5

Irmãos: Jesus Cristo, nosso Senhor, e Deus, nosso Pai, que nos amou e nos deu, pela sua graça, eterna consolação e feliz esperança, confortem os vossos corações e os tornem firmes em toda a espécie de boas obras e palavras. Entretanto, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague rapidamente e seja glorificada, como acontece no meio de vós. Orai também, para que sejamos livres dos homens perversos e maus, pois nem todos têm fé. Mas o Senhor é fiel: Ele vos dará firmeza e vos guardará do Maligno. Quanto a vós, confiamos inteiramente no Senhor que cumpris e cumprireis o que vos mandamos. O Senhor dirija os vossos corações, para que amem a Deus e aguardem a Cristo com perseverança.

Evangelho: Lc 20,27-38

Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus alguns saduceus – que negam a ressurreição – e fizeram-Lhe a seguinte pergunta: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se morrer a alguém um irmão, que deixe mulher, mas sem filhos, esse homem deve casar com a viúva, para dar descendência a seu irmão’. Ora havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos. O segundo e depois o terceiro desposaram a viúva; e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram e não deixaram filhos. Por fim, morreu também a mulher. De qual destes será ela esposa na ressurreição, uma vez que os sete a tiveram por mulher?» Disse-lhes Jesus: «Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade, já nem podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos».

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A partir da festa de Todos os Santos, a liturgia do ano começa a apresentar-nos os chamados temas escatológicos, aqueles que dizem respeito às últimas coisas da vida e da fé, do futuro pessoal e desta história. E deve ficar claro que é preciso nos perguntar sobre esses últimos, e devemos relacioná-los como uma abordagem básica da existência cristã: O que nos espera? Em quem está o nosso futuro? É possível a felicidade que aqui foi impossível? A liturgia de hoje quer nos oferecer uma resposta, antes aproximações, daquela que foi uma das maiores descobertas da fé de Israel e das abordagens muito pessoais de Jesus, o Senhor, o Ressuscitado. 

Qual é, e como é o destino final ou último do homem? A liturgia deste domingo tenta responder a esta pergunta inquietante. Jesus nos ensina que o destino é a vida, mas que a vida após a morte não é igual à vida na terra (Evangelho). O martírio da mãe e dos seus sete filhos no tempo da guerra dos Macabeus oferece ao autor sagrado a ocasião para proclamar vigorosamente a fé na ressurreição para a vida (Primeira Leitura). Paulo pede orações aos tessalonicenses para que "a palavra do Senhor continue a se espalhar e a adquirir glória" (Segunda Leitura), palavra que inclui o destino final dos homens diante do Juiz supremo, que é Deus. 

A Primeira Leitura, a  leitura dos Macabeus conta-nos a história do martírio de uma piedosa família judia do s. II antes de Cristo que não consentiu em desistir de suas tradições religiosas de comer algo impuro e se submeter à mentalidade pagã dos gregos. É uma das epopeias religiosas em que se descobre que, quando a vida é dada por alguma coisa, sempre o faz porque se considera que a vida aqui na terra não é tudo, que deve haver outra vida. Essa crença teve dificuldade em descobri-la para o povo de Deus. Durante muito tempo as pessoas acreditaram em Deus, mas não foi fácil dar um passo para a afirmação de que este Deus nos criou para a vida e não para a morte. 

A Segunda Leitura, a leitura da Segunda Carta aos Tessalonicenses, oferece-nos um texto de consolação. O autor, neste caso pode ser um discípulo de Paulo, e não o próprio Paulo, fala de eterna consolação e esplêndida esperança. Sem dúvida, refere-se ao assunto da carta: o fim dos tempos e o destino daqueles que morreram. A Palavra do Senhor traz aos homens essa esperança, essa possibilidade, essa opção que deve ser enfrentada. Porque neste mundo, no mais radical de nós mesmos, devemos escolher entre nada ou aquela esperança que Deus nos oferece. O autor baseia-se precisamente no fato de que Deus é fiel e nunca falha em suas promessas; se Ele prometeu vida, devemos viver com essa esplêndida esperança. 

No Evangelho de hoje é onde encontramos uma das páginas magistrais do que Jesus pensava sobre essas últimas coisas da vida. Jesus, como pessoa, como ser humano, pergunta a si mesmo, e eles lhe perguntaram, ensinou e respondeu às armadilhas que lhe foram propostas. A lei do levirato (Dt 25,5-10) é claramente desumana, não apenas antifeminista. O ridículo da armadilha dos saduceus para ver de quem é a esposa, a esposa dos sete irmãos, não fará Jesus duvidar. Neste caso, são os saduceus, o partido da classe dominante de Israel, que se caracteriza, entre outras coisas, pela negação da vida após a morte, que pretendem ridicularizá-lo. Nesse sentido, os fariseus eram muito mais consistentes com a fé no Deus da Aliança. É verdade que a concepção dos fariseus era muito prosaica e eles pensavam que a vida após a morte seria como agora; os saduceus que só acreditavam nesta vida zombavam disso. Em todo caso, seu pensamento escatológico poderia se limitar à sobrevivência do povo de Deus neste mundo, enfim... um mundo sem fim, sem consumação. E, pelo mesmo motivo, onde o sofrimento, a morte e a infelicidade nunca seriam derrotados. Sabemos que Lucas seguiu o texto de Marcos aqui, assim como Mateus. 

A ressurreição era, então, um assunto controverso entre os judeus, que podemos ler no Evangelho de hoje. Não havia dogma,  e por isso, os saduceus não acreditaram sobre a existência da ressurreição. No entanto, os fariseus estavam convencidos dessa doutrina (acreditam na vida eterna). São Paulo também usará o argumento da ressurreição para colocar os fariseus do seu lado quando foi julgado por Ananias (At 23, 6-9). 

Acreditar ou não na ressurreição dá origem a dois estilos de vida. Aqueles que buscam a felicidade apenas nesta terra e aqueles que têm os olhos postos na eternidade, estando na terra. 

O ponto da discussão é este: haverá casamentos no céu? Pergunta interessante. Isso nos leva a mergulhar no objetivo final do casamento. 

Quando um homem e uma mulher se casam movidos por um amor autêntico, procuram, sobretudo, fazer o outro feliz e formar uma família. É por isso que eles não economizam nos detalhes que podem tornar a vida do casal mais agradável: um beijo, um presente, atenção, alguns momentos de diálogo íntimo e assim por diante.  Por isso, eles devem procurar o que realmente os fará felizes, aquilo que encherá completamente seu coração. Não permanecerão na passagem desta vida, mas desejarão dar o Bem Máximo, isto é, Deus. Porque Deus é o próprio Bem e a fonte de toda felicidade.

Em outras palavras, o tema da ressurreição dos mortos opõe os fariseus aos saduceus. Os fariseus defendem a fé na ressurreição dos mortos. Enquanto que os saduceus não acreditam na ressurreição por uma coisa muito prática como lemos no Evangelho deste domingo.          

Mas quem são os saduceus ?          

Os saduceus são uma das três seitas judaicas descritas por Josefo, o historiador judeu do século I d.C(as outras são fariseus e essênios). Esse grupo é formado por grandes proprietários de terras/latifundiários(anciãos), pelos membros da elite sacerdotal e pelos grandes comerciantes. Eles controlam a administração da justiça no Tribunal Supremo(Sinédrio). Habitualmente o sumo sacerdote, a figura mais poderosa no Templo é escolhido de famílias pertencentes a este grupo. Eles também são colaboracionistas com os romanos para manter sua posição de privilégio. Por isso, eles são ricos e poderosos. Eles são “classe separada” e bem organizados. Por isso, ninguém pode entrar neste grupo.  Eles são conservadores em matéria de religião. Eles admitem apenas a Lei de Moisés/Torá(Pentateuco). Como na Torá não se fala claramente da ressurreição dos mortos e da “outra vida”, eles não acreditam nela. Para eles, tudo termina com a morte: não há ressurreição dos mortos e nem recompensa na vida futura. Não há salvação além da terrena. Neste mundo, salve-se quem puder, porque é o homem e apenas o homem quem causa a própria salvação e felicidade ou desgraça e não- salvação. Por isso, eles são hedonistas: interessa-lhes principalmente acumular riquezas e desfrutá-las o mais possível nesta curta vida terrena(Lc 12,15-21). Moralmente, eles são relaxados. 

Creio Na Ressurreição Da Carne e Na Vida Eterna...          

Uma das questões que mais preocupam a pessoa humana é, justamente, a vida e a vida após a morte. Toda pessoa tem o desejo natural de saber o que acontecerá consigo após a morte. Diante do que não conhece, o ser humano sente medo. A vida após a morte é a condição para a plenitude da felicidade procurada pelo homem. O contrário disso é o desespero, a auto-suficiência, que termina na fatalidade da morte ou a busca de soluções em filosofia da reencarnação.          

As leituras deste Domingo nos anunciam claramente a vida futura (1ªleitura e Evangelho) que já tem o início neste mundo na prática do amor a Deus no próximo e perseverança em Jesus Cristo(2ªleitura).          

Na leitura dos Macabeus (2Mc 7,1-14) aparece pela primeira vez no Antigo Testamento a fé clara na Ressurreição dos mortos. Nunca no Antigo Testamento foram feitas afirmações tão claras desta verdade. Os sete irmãos têm a coragem de renunciar a esta vida porque têm certeza de que Deus lhes concederá uma vida eterna. Ao rei severo e feroz eles dizem: “Tu, ó malvado, nos tira desta vida presente. Mas o Rei do Universo nos ressuscitará para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis....Para ti, porém, ó rei, não haverá  ressurreição para a vida!” (2Mc 7,14). Eles não têm medo do rei muito perverso, Antíoco, que queria obrigá-los a abandonar a fé em Deus dos vivos. É um verdadeiro testemunho digno de ser imitado por nós todos.          

Jesus, depois de responder a pergunta dos fariseus sobre a legalidade de pagamento de tributo a César (Lc 20,20-26), agora é desafiado pelos saduceus, que aparecem aqui em Lucas esta única vez(embora estejam freqüentemente presentes em Atos: At 4,1-2;5,17;23,7-8). Negando a ressurreição, os saduceus enfrentam Jesus com uma pergunta a partir de uma história, um tanto grotesca, fundada numa teologia mal-enfocada: como fica a mulher que se casou sete vezes com homens diferentes, de quem ela será na ressurreição. Supõe-se, erroneamente, que a ressurreição seja a continuação pura e simples da vida terrena. Ao questionar Jesus, os saduceus têm a intenção de ridicularizar os fariseus(partido rival), cuja fé na ressurreição dos mortos é conhecida. Os saduceus queriam também conhecer a posição de Jesus.          

No tempo do Deutronômio, morrer sem descendente era uma calamidade porque a herança ficava perdida. Por isso, o irmão de um falecido casava-se com a viúva para gerar um filho e assegurar a herança (lei de cunhado. Cf. Dt 25,5ss).          

Jesus responde, estabelecendo uma distinção entre “este mundo” e o “outro”. Na sua explicação Jesus diz que as relações humanas estarão livres de alguns embaraços que complicam a vida. Cessam-se, ai, as preocupações terrenas e desaparecem, também, as ameaças da morte. Os esquemas terrenos não têm validade. Segundo Jesus, é vão e insensato imaginar que o mundo futuro tenha as mesmas características deste mundo. Por isso, Jesus usa uma expressão “...eles são semelhantes aos anjos...” (v.36) para sublinhar a impossibilidade de descrever o modo de vida que pertence ao mistério de Deus. A comunhão com o Pai celeste torna-se penhor de vida eterna. A morte dá início, neste caso, a uma explosão de vida.          

O segundo erro cometido por saduceus consiste em considerar Deus como Senhor dos mortos e não como Senhor dos vivos.  Jesus desmoraliza os saduceus dizendo que eles não conhecem as Escrituras. E cita um texto fundamental do Êxodo(Êx 3,16) para mostrar que a ressurreição existe: “Deus falou a Moisés: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’”.  Por isso, Jesus faz uma fórmula que todos nós já decoramos: “O nosso Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos.” No entanto, trata-se de uma simples fórmula, que por si é letra morta, também nos lábios de tantos cristãos. Mas Deus não é letra morta. Deus vive e quer a vida porque é a VIDA. Para todo o mundo perceber a vida dele e como prova que Deus quer a vida e é a Vida, Ele irrompe a história de maneira toda especial, inédita, típica: Deus ressuscitou Jesus Cristo. O poder de Deus é maior que as forças destrutivas presentes na história e na natureza.  A partir do momento em que ressuscita Jesus Cristo, Deus mostra a todos que essa morte não é o último passo do ser humano. A morte não tem palavra final para o ser humano. Pelo fato de Deus ressuscitar Jesus Cristo, podemos ter a certeza de que esse mesmo Deus em quem acreditamos firmemente, apesar de nossas fraquezas e pecados, nos ressuscitará também. Adorar o Deus da vida é acreditar que ele tem poder de preservar a vida, mesmo que isso supere a precisão e compreensão humanas. E sendo o Deus da vida, Ele não criou ninguém para a morte, mas para a aliança definitiva com Ele.          

Nas sua carta, toda argumentação de São Paulo se baseia nessa fé na Ressurreição. Ele não cansa de repetir: “Deus que ressuscitou o Senhor Jesus, também ressuscitará a todos nós, pelo Seu poder”(1Cor 6,14; cfr. Rm 4,17;8,11; cf. também 1Cor 15,1ss). Paulo não fala da reencarnação. E isso devemos ter em mente, de maneira muita clara. Ele fala da Ressurreição. Nessa ressurreição Deus se revela como o Deus da vida, o Deus que “faz os mortos viverem e chama à exist6encia aquilo que não existe” (Rm 4,17). Em outra carta, Paulo diz firmemente: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e também é vã a vossa fé” (2Cor 15,14). A partir da ressurreição do Senhor, não vivemos mais para morrer e sim morremos para viver. A vida não pertence mais à morte e sim a morte pertence à vida.          

Se o nosso Deus é o Deus dos vivos, sem dúvida nenhuma, Ele nos chama a lutar em todas as frentes que promovem a vida. Crer no Deus dos vivos implica defender a vida, especialmente a dos fracos e indefesos e leva a comprometer-se com aqueles que vêem o seu direito à vida permanentemente violentado. Quem acredita que Jesus Cristo ressuscitou interessa-se pela vida em abundância também aqui na terra. Aquele que defende e protege a vida vai encontrar, com certeza, o Deus da vida. Unidos a Jesus ressuscitado participaremos de sua vida pois Ele é a Ressurreição e a Vida(Jo 11,25).          

Portanto, nem precisamos temer as noites do sofrimento e da injustiça, da traição e do desespero, das lágrimas e da morte. Porque a ressurreição é a vitória do amor sobre o ódio, da verdade sobre a mentira, da vida sobre a morte. E tudo isto é tão certo como é certo que depois da noite virá o dia. A ressurreição de Cristo é o mais extraordinário anúncio do cristianismo, fundamento de nossa luta, de nossa fé e de nossa esperança.          

O Deus cristão é o Deus da vida e da alegria. Deus é a Vida (cf. Jo 14,6). A vida pertence a Deus, pois d´Ele ela vem. O homem pode matar o corpo, mas não a vida. O Deus da vida  transformou a nossa existência e plantou nela a semente da esperança. Por isso, o homem de fé caracteriza-se pela sua coragem e sua esperança que jamais se abala. 

Os fiéis sabem que Deus ama a vida a ponto de tê-la feito dom de uma existência que nunca acaba. Lembremo-nos sempre: a vida eterna é uma continuidade do existir na fé. 

O cristão tem uma certeza: Deus ressuscitou seu Filho Jesus. Este lutador dedicado à verdade, à justiça e ao amor triunfa sobre o domínio da morte. Todos que se juntarem a este combate de JC, pela fé, participarão da sua vitória final. Aqui se abre a perspectiva da esperança. A fé na ressurreição é a fonte de coragem e a capacidade de permanecer firme até a morte, se for necessário. Por causa da fé na ressurreição, as tarefas do mundo encontram um novo sentido (são trabalhos para o Reino, fertilizam a terra para construí-la). 

Essa fé é tão profunda que nos dá uma escala de valores e lealdades. Afinal, os Macabeus são homens cheios de fidelidade... Esta é uma boa razão para insistir nos valores que a vida cristã exige: a crença na vida, na possibilidade de reconstruí-la, na retidão, na manutenção de certas convicções.  Porque você acredita na vida, você ama, você luta, você busca a alegria, você tenta evitar a mediocridade, você aprecia tudo o que é humano e divino. Com efeito, a vida do homem de fé adquire sentido a partir de uma vida plena, já iniciada agora, na qual cada um caminha com a própria responsabilidade. 

Quem pensa e vive apenas na perspectiva do homem e da matéria não pode compreender o anúncio da ressurreição; deve até parecer quase ridículo para ele, como para os saduceus. A fé na vida permanente com Deus se apresenta como um desafio diante de um mundo que, arrogantemente, grita e tagarela continuamente sobre suas próprias coisas, mas só até se deparar com a dura e impenetrável realidade do mistério que envolve a existência do homem e sua destino. Diante da realidade da morte, para quem não acredita na vida eterna, tudo acabou. Não é amorte que é triste. O triste é viver sem a morte e sem fé no Deus da vida que criou todo o universo. 

A Palavra de Deus hoje nos fala da ressurreição dos mortos, uma mensagem que constantemente fazemos nossa, especialmente quando rezamos o Credo, quando dizemos que cremos na ressurreição da carne. 

Por meio de Cristo, Deus preparou para nós um destino de vida, porque Ele não é o Deus dos mortos, mas dos vivos, e ainda que caminhemos por este vale de lágrimas, o amor que Deus tem por nós e tem nos mostrado em Cristo é uma consolação permanente e uma grande esperança. 

O homem carrega dentro de si a aspiração à vida imortal, razão pela qual resiste à morte. Os pais procuram perpetuar-se nos filhos, o escritor nos seus livros, o cantor na sua voz que se perpetua e assim por diante. 

Se depois desta vida não houvesse nada, nos sentiríamos profundamente frustrados, a vida humana seria uma paixão inútil e o homem um ser para nada, como dizem muitos filósofos. 

Mas não! Nosso destino é a vida eterna: "Cristo ressuscitou dos mortos, o primeiro de todos". A certeza de nossa ressurreição está no fato de que Cristo ressuscitou. Se ele morreu para nos tornar filhos de Deus e nos dar uma nova vida por meio de seu Espírito, esta vida não pode ser perecível, mas definitiva e eterna. Como crentes, devemos ser pessoas otimistas, cheias de esperança alegre, amantes da vida e dos irmãos. É a fé na vida eterna que nos dá força para assumir a vida presente. A esperança da nossa feliz ressurreição deve tornar-se realidade no meio dos homens, testemunhando a presença do Deus vivo através de obras concretas. 

Todo batizado tem em si a semente da vida eterna; ele é um ser para a nova vida em Deus na medida em que diariamente e continuamente faz morrer o homem velho e pecador nele, até atingir a meta final que é a plenitude da vida em Cristo Jesus que é “O Caminho a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). 

Se raciocinarmos com fé, não há dúvida de que a ressurreição dos mortos é uma mensagem de esperança. Para o crente, o tesouro mais precioso não é somente a vida que se tem, mas também a vida que se espera. Como não pode ser, se o homem aposta toda a eternidade nisso? A esperança cristã não nos faz viver fora da realidade do mundo e da história, mas inteiramente dedicados a fazer história: história de salvação. A esperança cristã na ressurreição é uma mensagem de vida em plenitude, de uma presença viva diante do próprio Deus vivo. É viver sem relógio nem cronologia, estar sempre com o Senhor, como se estivesse submerso no próprio oceano da Vida. A mensagem cristã é uma mensagem de esperança, porque anuncia o triunfo da vida sobre o tempo e sobre o mal, o triunfo de Deus sobre todos os seus inimigos, o último dos quais é a morte. Esta mensagem não foi inventada pela Igreja, vem de Deus "que nos deu de graça uma eterna consolação e uma bem-aventurada esperança" (Segunda Leitura). Vale a pena testemunhar com palavras e obras esta mensagem de esperança! 

Por tudo isso, ao voltarmos à nossa casa e à nossa vida, vamos viver com mais esperança e ânimo porque Deus da vida é o Deus conosco. Ninguém vai conseguir tirar da sua memória esta verdade se você não deixar. Se o mal avançar, a nossa fé no Deus da vida deve avançar também porque Ele sempre tem a última palavra. Pecaremos se pararmos de acreditar neste Deus da Vida. “Ter medo de amar é ter medo da vida, os que temem a vida já estão em boa parte mortos”( Bertrand Russel). “Devemos tratar de viver de maneira que, quando morrermos, até o coveiro tenha dó” (Mark Twain).

P. Vitus Gustama,SVD

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