domingo, 13 de novembro de 2022

16/11/2022-Talentos e Vida Eterna

OS DONS DE DEUS SÃO DADOS PARA SEREM MULTIPLICADOS

Quarta-Feira da XXXIII Semana Comum


Primeira Leitura: Ap 4,1-11

Eu João, 1vi uma porta aberta no céu, e a voz que antes eu tinha ouvido falar-me como trombeta, disse: “Sobe até aqui, para que eu te mostre as coisas que devem acontecer depois destas”. 2I mediatamente, o Espírito tomou conta de mim. Havia no céu um trono e, no trono, alguém sentado. 3Aquele que estava sentado parecia uma pedra de jaspe e cornalina; um arco-íris envolvia o trono com reflexos de esmeralda. 4Ao redor do trono havia outros vinte e quatro tronos; neles estavam sentados vinte e quatro anciãos, todos eles vestidos de branco e com coroas de ouro nas cabeças. 5Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões. Diante do trono estavam acesas sete lâmpadas de fogo, que são os sete espíritos de Deus. 6Na frente do trono, havia como que um mar de vidro cristalino. No meio, em redor do trono, estavam quatro Seres vivos, cheios de olhos pela frente e por detrás. 7O primeiro Ser vivo parecia um leão; o segundo parecia um touro; o terceiro tinha rosto de homem; o quarto parecia uma águia em pleno voo. 8Cada um dos quatro Seres vivos tinha seis asas, cobertas de olhos ao redor e por dentro. Dia e noite, sem parar, eles proclamavam: “Santo! Santo! Santo! Senhor Deus Todo-Poderoso! Aquele que é, que era e que vem!” 9Os Seres vivos davam glória, honra e ação de graças ao que estava no trono e que vive para sempre. 10E cada vez que os Seres vivos faziam isto, os vinte e quatro anciãos se prostravam diante daquele que estava sentado no trono, para adorar o que vive para sempre. Colocavam suas coroas diante do trono de Deus e diziam: 11“Senhor, nosso Deus, tu és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque tu criaste todas as coisas. Pela tua vontade é que elas existem e foram criadas”.

Evangelho: Lc 19,11-28

Naquele tempo, 11 Jesus acrescentou uma parábola, porque estava perto de Jerusalém e eles pensavam que o Reino de Deus ia chegar logo. 12 Então Jesus disse: “Um homem nobre partiu para um país distante, a fim de ser coroado rei e depois voltar. 13 Chamou então dez dos seus empregados, entregou cem moedas de prata a cada um e disse: ‘Procurai negociar até que eu volte’. 14 Seus concidadãos, porém, o odiavam, e enviaram uma embaixada atrás dele, dizendo: ‘Nós não queremos que esse homem reine sobre nós’. 15 Mas o homem foi coroado rei e voltou. Mandou chamar os empregados, aos quais havia dado o dinheiro, a fim de saber quanto cada um havia lucrado. 16 O primeiro chegou e disse: ‘Senhor, as cem moedas renderam dez vezes mais’. 17 O homem disse: ‘Muito bem, servo bom. Como foste fiel em coisas pequenas, recebe o governo de dez cidades’. 18 O segundo chegou e disse: ‘Senhor, as cem moedas renderam cinco vezes mais’. 19 O homem disse também a este: ‘Recebe tu também o governo de cinco cidades’. 20 Chegou o outro empregado e disse: ‘Senhor, aqui estão as tuas cem moedas que guardei num lenço, 21 pois eu tinha medo de ti, porque és um homem severo. Recebes o que não deste e colhes o que não semeaste’. 22 O homem disse: ‘Servo mau, eu te julgo pela tua própria boca. Tu sabias que eu sou um homem severo, que recebo o que não dei e colho o que não semeei. 23 Então, por que tu não depositaste meu dinheiro no banco? Ao chegar, eu o retiraria com juros’. 24 Depois disse aos que estavam aí presentes: ‘Tirai dele as cem moedas e dai-as àquele que tem mil’. 25 Os presentes disseram: ‘Senhor, esse já tem mil moedas!’ 26 Ele respondeu: ‘Eu vos digo: a todo aquele que já possui, será dado mais ainda; mas àquele que nada tem, será tirado até mesmo o que tem. 27 E quanto a esses inimigos, que não queriam que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os na minha frente’”. 28 Jesus caminhava à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém.

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Deus Onipotente é Fiel Àqueles Que São Fieis à Sua Vontade Até O Fim Da Vida Terrena

A Primeira Leitura fala da visão do Trono de Deus. Entrando no céu, a primeira coisa que se vê, segundo o livro do Apocalipse é o Trono: “Eu João, vi uma porta aberta no céu, e a voz que antes eu tinha ouvido falar-me como trombeta, disse: “Sobe até aqui, para que eu te mostre as coisas que devem acontecer depois destas”. Imediatamente, o Espírito tomou conta de mim. Havia no céu um trono e, no trono, alguém sentado” (Ap 4,1-2). 

Trono é assento aparatoso onde os grandes personagens, como o Sumo Sacerdote, juizes, generais, governadores, reis exerciam sua autoridade (Gn 41,40; 2Sm 3,10; Neh 3,7; Sl 122,5; Jr 1,15; Mt 19,28). O rei, com grande pompa, se sentava no trono para as audiências, para julgar, para promulgar os decretos (1R 2,19; 7,7;22,10; 2Rs 11,19; Jonas 3,6). 

Com frequência, o têrmino “Trono” simboliza a oniptência e o governo de Deus (Sl 9,5.8; Ez 1,26; Ap 1,4)

“A visão do trono é o pano de fundo para todo o Apocalipse, desde o início (1.4) até o fim (22.3). Esta visão revela a grandeza de Deus. Invisível do alto do trono, Deus dirige a última fase do seu plano, que começará agora (4,1). A visão do trono é como música tocada com muitos instrumentos. Começa muito suavemente, cresce e explode na exclamação: "Santo, Santo, Santo! Senhor! Deus Todo-Poderoso!" (4.8). O nome de Deus é proclamado. "ERA, É E VEM" (4,8). É o nome que vem do Êxodo: Javé, Deus conosco, Deus libertador! (Êx 3,14-15). Ao iniciar a última fase de seu plano de salvação, Deus mantém o mesmo nome com que iniciou a primeira etapa. E ele manterá seu nome até o fim (11,17). Deus não mudou! E não vai mudar” (Carlos Mestres). 

A grandiosa apresentação da corte celestial inicia a série de visões que culminarão na visão final da nova Jerusalém. Uma linguagem colorida descreve a liturgia que acontece "noite e dia" diante do trono do Deus onipotente, localizado com grande majestade na abóbada do firmamento (“um mar de vidro cristalino” do v 6). 

A afinidade entre a experiência do vidente (João) e as teofanias do Antigo Testamento é clara, tanto na estrutura da história quanto nas imagens utilizadas. João depende de Daniel (cap. 7), Ezequiel (cc. 1 e 10) e Isaías (cap. 6), lugares onde se fala das manifestações da glória do Senhor. Recordemos também a cena de Moisés no monte Horebe (Ex 3). 

As imagens se sucedem, no estilo de profetas como Isaías, Ezequiel ou Daniel: o trono e aquele que está sentado nele, o arco-íris, os vinte e quatro anciãos com vestidos brancos e coroas em suas cabeças, as sete lâmpadas ou espíritos , o mar transparente como cristal, os quatro seres viventes que dia e noite cantam "Santo, Santo, Santo é o Senhor", e os anciãos respondem com mais hinos de louvor, lançando suas coroas aos pés daquele que está sentado no trono . Tudo isso com o som de trombetas e relâmpagos e o estrondo do trovão. 

São João, como muitos de seus leitores da época, conhece a Bíblia de cor, e espontaneamente para expressar suas ideias ele recolhe imagens bíblicas, conhecidas de todos, como foi dito anteriormente. A página de hoje está cheia de símbolos tirados de Isaías 6,15... de Ezequiel 1,4-27... de Daniel 7,9-10. 

Os quatro seres misteriosos têm a figura de um leão, um touro, um homem e uma águia: são símbolos que já apareceram no profeta Ezequiel, e que mais tarde a catequese dos Santos Padres aplicou estes símbolos aos quatro evangelistas:  Marcos: LEÃO (Apresenta a figura de João Batista como a VOZ que clama no deserto semelhante ao RUGIR de leão). Lucas: TOURO (Refere-se ao ofício de Zacarias. Como sacerdote oferecia sacrifícios. Jesus vem suprimir esses sacrifícios de animais). Mateus:  HOMEM-ANJO (Apresenta a genealogia humana de Jesus) e João:  ÁGUIA (É a altura de sua teologia como uma águia que voa alto). 

O Apocalipse não é, acima de tudo, uma catástrofe. Pelo contrário, seu significado principal é "mensagem de esperança". Mas este livro foi escrito em meio à perseguição, entre Nero e Domiciano, em um contexto de crise violenta para a Igreja. A mensagem apocalíptica é, portanto, um estimulante: “Os cristãos, que lutam nas piores dificuldades, mantêm a confiança na onipotência de Deus, que prometeu salvar seu povo de todo mal!”

Eu João, vi uma porta aberta no céu, e a voz que antes eu tinha ouvido falar-me como trombeta, disse: ‘Sobe até aqui, para que eu te mostre as coisas que devem acontecer depois destas’”. Para alguns cristãos vacilantes na fé, preocupados com o futuro da Igreja, por causa da dureza da perseguição... João dirá que esta prova será apenas temporária: os perseguidores não vencerão, pois Deus terá a última palavra para a humanidade. Todas as imagens aqui acumuladas querem nos fazer apresentar visualmente a grandeza e a onipotência de Deus, Dono de tudo, pois Ele criou tudo o que era e é bom (Gn 1,10. 12.18.21.25) e o homem era muito bom na sua primordialidade (Gn 1,31). O homem se esquece de que pertence a Deus, seu Criador e não ao mundo, Sua criatura. 

Um dos aspectos que mais devemos lembrar, cada vez que participamos da Eucaristia ou de outros encontros de oração, é que estamos unidos à comunidade dos salvos no céu, que já celebram na presença de Deus a verdadeira liturgia, cantando hinos e jogando suas coroas no ar, por causa da alegria sem fim. Não comemoramos sozinhos. Fazemos isso junto com os anjos, a Virgem Maria, os santos, nossos entes queridos. A liturgia do céu e a da terra estão intimamente relacionadas. 

Não importa muito encontrar a chave simbólica para interpretar a quem correspondem esses seres ou personagens misteriosos ao redor de Deus, que a Primeira Leitura nos apresenta, nem o significado que os números nesta cena magnífica possam ter: sete, vinte e quatro, quatro. O importante é que nos seja apresentada uma imagem de triunfo, de cantos jubilosos, de uma liturgia festiva para aqueles que já estão salvos, e esta é uma mensagem de esperança para nós que caminhamos um pouco cansados ​​pela vida, ladeira abaixo em direção a Jerusalém celeste. E o Salmo Responsorial da missa quer nos contagiar com este otimismo: “Louvai o Senhor Deus no santuário, louvai-o no alto céu de seu poder! Louvai-o por seus feitos grandiosos, louvai-o em sua grandeza majestosa! Louvai-o com o toque da trombeta, louvai-o com a harpa e com a cítara! Louvai-o com a dança e o tambor, louvai-o com as cordas e as flautas! Louvai-o com os címbalos sonoros, louvai-o com os címbalos de júbilo! Louve a Deus tudo o que vive e que respira, tudo cante os louvores do Senhor!” É para isso que estamos destinados. Já estamos unidos a isso, em nossa celebração, embora ainda não o vejamos com clareza.

 O Senhor está no meio do seu povo. E todo o universo participa da Liturgia do céu. Tudo, no céu e na terra, deve se tornar um louvor contínuo ao nosso Deus e Pai. É por isso que Deus Pai enviou seu Filho, para nos purificar de tudo o que nos manchou. Assim, perdoados e feitos filhos de Deus, toda a nossa vida deve ser um louvor contínuo ao Seu Santo Nome. Santo, Santo, Santo é o Senhor, Deus Todo-Poderoso. Santificado seja o seu Nome. E nós o santificamos através de nossas vidas, porque tudo o que foi criado, e de maneira especial nós, temos que nos tornar um louvor contínuo ao Nome de Deus. Deus chamou tudo à existência. Ele, sendo o Criador de todas as coisas, nos destinou para que, sendo conformes à imagem de seu próprio Filho, um dia, depois de perseverar na fé, possamos participar eternamente de sua glória e nos tornarmos um louvor eterno por ele, unido ao seu próprio Filho.

Os Talentos São Dados a Nós Por Deus Para o Bem De Todos

Estamos no fim da viagem de Jesus para Jerusalém. Jesus está perto de Jerusalém (Lc 9,51-19,28). E Ele continua a aproveitar o momento para dar suas ultimas e importantes lições para nossa vida como cristãos. Desta vez, através de uma parábola, Jesus nos fala sobre os dons que Deus nos deu, e que precisamos frutificá-los para o bem de todos. Nisto consiste o sentido de nossa passagem neste mundo.

A parábola, lida no texto do evangelho de hoje, é semelhante à parábola dos talentos na versão de Mateus (cf. Mt 25, 14-30) embora cada evangelista tenha sua própria acentuação. Lucas fala de “mina” (“mina” equivale a 571 g). Mateus fala de “talento” (“talento” equivale a 34,272 kg). Mas ambos os evangelistas querem nos alertar que, um dia, cada ser humano prestará contas para Deus ou Deus vai pedir contas a cada homem dos dons e talentos recebidos que deveriam ser frutificados através da vivência do amor fraterno (cf. Mt 25,31-46). O encontro derradeiro com Deus será inevitável (cf. 2Cor 5,1-10), pois neste mundo somos apenas passageiros. O critério do julgamento será a vivência do amor fraterno. O amor é a moeda do reino que precisamos fazê-lo circular e frutificar. Se um dia nós formos condenados, não por termos amado demais e sim por termos amado de menos. Tudo será revelado e nada será escondido sobre tudo que fizemos, cometemos, praticamos, falamos e comentamos durante nossa passagem neste mundo. Precisamos ter temor do Senhor e não medo, pois o temor do Senhor é o início da sabedoria de viver na graça e pela graça de Deus (cf. 1Cor 15,10). O temor de Deus nos faz respeitarmos a vida e a dignidade do outro. O temor de Deus orienta nosso tratamento fraterno para com os demais: tratamento mais respeitoso por causa da vivência profunda do mandamento do amor fraterno (cf. Jo 13,34-35; 15,12). O temor de Deus nos faz vivermos como pessoas gratas, agradecidas e agraciadas. 

O evangelista Lucas nos relatou que um homem nobre entregou cem moedas de prata para cada empregado para que eles pudessem multiplicá-los. A palavra “entregar” nos faz pensarmos no dom. Isto significa que ninguém escolhe os dons recebidos. Simplesmente cada um recebeu os dons de Deus. Eles são fruto da benevolência divina e não por nossos méritos. Ao Deus nos dar os talentos conforme a capacidade de cada um de nós, o evangelho quer nos dizer que Deus nos ama, tem confiança em nós e na nossa capacidade, nos estima, e por isso, deu-nos uma missão a realizar na vida. Deus nunca dá seus dons ou talentos acima de nossa capacidade. Diante da confiança depositada em mim por Deus, eu tenho que ter uma justa confiança em mim mesmo, porque, se assim não for, não posso revelar os meus dons ou talentos, não posso pôr a render os talentos que Deus me deu, não posso agir e produzir e fechar-me em mim mesmo, triste, na minha árida esterilidade e terminarei minha passagem neste mundo como pessoa ressentida pela vida vivida pela metade. Como é triste morrer sem ter sabido viver e como é triste viver sem aprender a morrer. 

Se os dons são dados por Deus para cada um de nós gratuitamente, isto significa que estamos no mundo de gratuidade. Viver no mundo de gratuidade nos faz vivermos na constante gratidão e na permanente ação de graças que se traduz na generosidade com os demais. Viver na gratidão e na permanente ação de graças é uma grande revelação de que somos capazes de olhar para a vida e seus acontecimentos com o olhar positivo, com o olhar do Senhor. Quem vive na constante gratidão suas forças se renovam, sua auto-estima aumenta e seu ânimo de viver se dobra cada dia. E se tudo que temos e somos é o fruto da generosidade de Deus, cada um precisa ser prolongamento dessa generosidade divina partilhando e dividindo com os outros o que se tem e o que se é. A generosidade é o caminho de libertação das garras do apego das coisas terrenas. Mesmo que tenhamos dificuldade de largar o apego, um dia, quando chegar nosso momento nós seremos obrigados a renunciar a tudo que temos. 

Para o evangelista Lucas, a história da salvação é dividida em três partes. Primeiro, o tempo de Israel. A história da salvação tem suas raízes no passado representado pelo Antigo Testamento, isto é, no tempo de Israel e em suas promessas. Segundo, o tempo de Jesus. Para Lucas, Jesus e seu ministério público representam o centro do tempo. Terceiro, o tempo da Igreja. O Espírito Santo (Pentecostes) funda a missão da Igreja.

Lendo a parábola dentro dessa divisão de tempo entendemos que o tempo da Igreja, isto é, o espaço da vida terrena é um tempo de plantio, floração, frutificação. Semear a bondade é a tarefa de cada cristão. A bondade é o único investimento que nunca falha. Ninguém pode esperar trigo, se na vida vive plantando o joio que só danifica o que é bom. Mas a bondade triunfará, pois Deus é o Supremo Bem. Nós não somos os donos do espaço e do tempo de nossa vida. Somos criaturas de Deus. O documento Lúmen Gentium do Concílio Vaticano II afirma: “Todos os fieis cristãos são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (LG 40). Ou na linguagem de São Paulo: “A caridade é o pleno cumprimento da lei” (Rm 13,10). 

O Senhor confiou à Sua Igreja uns ministérios, uns dons ou talentos. E um dia todos serão chamados a prestar contas. Dons são de Deus. O homem é administrador dos dons. Alguns os fazem frutificar em serviços, solidariedade e fortalecimento dos ministérios para o bem comum. Estes verão o fruto de suas boas obras. Outros, somente esperam que seus ministérios lhes sirvam como um simples título de prestígio. Os que foram negligentes com seu ministério e sepultaram seus dons, verão como seu nome desaparecerá. 

A mensagem da parábola é clara. Temos que ser criativos até a chegada da segunda vinda do Senhor na nossa vida (parusia). O Senhor nos concede Seus dons para continuarmos construindo Seu projeto do Reino. Ele faz de nós pequenos criadores (ser criativos). Pode ser que a cultura atual seja uma fábrica de passividade. Mas os cristãos continuam sendo, “geneticamente”, criativos, pois o Senhor concede-lhes dons para serem frutificados ou multiplicados. Sem exageros, podemos dizer que nascemos gênios, mas muitos morrem na mediocridade por falta de esforço. 

Para ter muita imaginação temos que ter muita memória. Grande parte das operações chamadas “criadoras” depende de uma hábil exploração da memória. Com efeito, a desvinculação das raízes (memória), a falta da profundidade impede a criatividade. Quando se elimina a memória (raiz), se elimina também a criatividade profunda. 

Afinal, a vida cristã não consiste em estar pendente do futuro. A existência cristã se joga no presente e por isso, não consiste na simples espera ou expectativa, e sim no compromisso de amor. Deus não quer saber se frutificamos muito ou pouco com os talentos que recebemos. Mas que os frutifiquemos. O que se enfatiza é o esforço, isto é, usar todo esforço que se tem para frutificar os dons recebidos: sejam 30%, 60% ou 100% de resultado. A Bíblia não tem uma única palavra de louvor para o preguiçoso e a pobreza, quando é conseqüência da preguiça, pois a preguiça nunca é considerada como virtude. 

O que eu tenho multiplicado nos meus dons até agora é a pergunta que cada um deve fazer diariamente, especialmente neste momento. 

Na Eucaristia o Senhor nos entrega sua Palavra, sua Vida que nos salva, e a comunhão fraterna no amor. Este grande tesouro certamente deve ser aproveitado primeiramente por cada um de nós. Nós somos os primeiros beneficiados pelo Senhor, e Sua presença em nós há de ser uma presença transformante, transfigurante, de tal modo que, dia a dia, vamos não somente sendo iluminados pela Luz do Senhor e sim que nos convertamos em luz que ilumine o caminho daqueles que nos rodeiam. Não podemos deixar que o Senhor acende sua Luz em nós para depois apagarmos d’Ele. Sua presença em nós há de ser contínua, unidos a Ele mediante a oração e a escuta de Sua Palavra, pois a salvação não é obra do homem e sim de Deus no homem com a colaboração do homem.

Na nossa comunidade, será que conhecemos e valorizamos os dons dos outros membros da mesma? Nossa comunidade é um espaço para frutificar os dons?

P. Vitus Gustama,svd

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