SOMOS PEREGRINOSNESTE
MUNDO RUMO À ETERNIDADE
XXXIII DOMINGO COMUM C
Primeira
Leitura: Ml 3,19-20a
19Eis
que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios
serão como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los, diz o Senhor dos
exércitos, tal que não lhes deixará raiz nem ramo. 20aPara vós, que temeis o
meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas.
Segunda
Leitura: 2Ts 3,7-12
Irmãos:
7Bem sabeis como deveis seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vós
na ociosidade. 8De ninguém recebemos de graça o pão que comemos. Pelo
contrário, trabalhamos com esforço e cansaço, de dia e de noite, para não
sermos pesados a ninguém. 9Não que não tivéssemos o direito de fazê-lo, mas
queríamos apresentar-nos como exemplo a ser imitado. 10Com efeito, quando
estávamos entre vós, demos esta regra: “Quem não quer trabalhar, também não
deve comer”. 11Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa,
muito ocupados em não fazer nada. 12Em nome do Senhor Jesus Cristo, ordenamos e
exortamos a estas pessoas que, trabalhando, comam na tranquilidade o seu
próprio pão.
Evangelho:
Lc 21,5-19
Naquele
tempo, 5algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com
belas pedras e com ofertas votivas.Jesus disse: 6“Vós admirais estas coisas?
Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. 7Mas eles
perguntaram: “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que
estas coisas estão para acontecer?” 8Jesus respondeu: “Cuidado para não serdes
enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e ainda: ‘O
tempo está próximo’. Não sigais essa gente! 9Quando ouvirdes falar de guerras e
revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam
primeiro, mas não será logo o fim”. 10E Jesus continuou: “Um povo se levantará
contra outro povo, um país atacará outro país. 11Haverá grandes terremotos,
fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais
serão vistos no céu. 12Antes, porém, que estas coisas aconteçam, sereis presos
e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados
diante de reis e governadores por causa do meu nome. 13Esta será a ocasião em
que testemunhareis a vossa fé. 14Fazei o firme propósito de não planejar com
antecedência a própria defesa; 15porque eu vos darei palavras tão acertadas,
que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. 16Sereis entregues até
mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de
vós. 17Todos vos odiarão por causa do meu nome. 18Mas vós não perdereis um só
fio de cabelo da vossa cabeça. 19É permanecendo firmes que ireis ganhar a
vida!”
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O presente e o futuro são duas categorias que se destacam de alguma
forma neste penúltimo domingo do ciclo litúrgico. Os "arrogantes e ímpios"
do presente serão arrancados no Dia de Yahweh, enquanto os "adeptos ao meu
nome" (“que temeis o meu nome”)
serão iluminados pelo sol da justiça (Primeira Leitura). As tribulações e as
desgraças ou os infortúnios do presente não devem perturbar a paz dos cristãos,
porque, pela sua perseverança na fé, eles receberão a salvação futura
(Evangelho). São Paulo convida os tessalonicenses a imitá-lo na sua dedicação
ao trabalho, aqui na terra, para depois receber no mundo futuro a coroa que não
murcha (Segunda Leitura).
Todo homem, goste ou não, está inscrito no registro de dois mundos
diferentes. Um é o mundo presente, a terra sobre a qual andamos e o ar que
respiramos, um mundo passageiro, selado por limites e expirações. O outro mundo
é o mundo em que reinam o sempre e o infinito, o mundo futuro para o qual o
homem e a história se dirigem. O interessante é que esses dois mundos se seguem
cronologicamente, mas sobretudo se cruzam e se entrelaçam na vida dos homens. Kronos
(tempo medido pelos segundo) e Kairos (tempo de Deus, tempo da graça, tempo
oportuno) estão juntos. A encarnação de Deus transforma o Kronos em Kairós. No
mundo presente não podemos deixar de pensar no futuro, e no mundo futuro não
podemos esquecer o presente em que devemos trabalhar para salvar o mundo. As vicissitudes
da história, seus conflitos e suas tristezas nos remetem quase inexoravelmente
para o futuro. A alegria e a plenitude do mundo futuro exigirão nosso interesse
porque todos os homens deste mundo podem alcançá-lo. Como cidadãos do presente
devemos estar ocupados e dedicados à tarefa do progresso, da justiça, do
progresso do humanismo e da solidariedade, do crescimento dos valores. Como
cidadãos do futuro, devemos buscar o estabelecimento do Reino de Cristo e a
santidade dos cristãos. O presente em que vivemos é uma tarefa de escolha e
renúncia, o futuro será um tempo de posse e alegria. O presente é um tempo de
ideais e realizações, o futuro será de encontro e intimidade. O presente é um
tempo de constância na luta, o futuro será de descanso em paz. O presente é um
tempo de esperança na fé e no amor, o futuro será cheio de triunfo do amor
perfeito. Dois mundos diferentes, mas não distantes, mas unidos no coração do
homem. Dois mundos em que o cristão deve viver ao máximo, honrando seu nome
como filho de Deus.
Pensa-se muitas vezes que se deve viver o presente de olho no passado,
para aprender com ele, pois "a história é a mestra da vida". Não se
pode negar que isso seja verdade. É preciso salientar, no entanto, um aspecto
de nossa fé cristã. É preciso viver o presente como quem já percorreu o caminho
da vida e com os olhos postos no mundo
futuro. É viver o presente com uma visão do futuro. A vida é sempre para a frente.
É claro que as perspectivas e a forma de viver o presente seriam muito
diversas. Isso é verdade na vida do homem: se fosse possível viver vinte anos na
perspectiva dos sessenta, sem dúvida seria vivido de forma diferente. Perguntemo-nos:
Desde a eternidade, como você gostaria de viver hoje, essa situação familiar,
esse momento pessoal de crise, esse relacionamento afetivo, esse ambiente de
trabalho? Esse futuro cria uma distância entre nós e nosso presente e, ao criar
distância, nos permite ver as coisas com maior paz e objetividade. Esse futuro
nos coloca no mundo de Deus e assim nos dá o poder de pensar nas várias
situações do presente e da vida com a mesma maneira de pensar de Deus. Do
futuro conhecemos melhor e sabemos aplicar com maior precisão e coerência ao
presente a regra da nossa fé e a medida da nossa conduta. Não é necessário cair
na utopia, mas basta uma centelha de futuro em nosso presente para acender a alma
com novo ardor e entusiasmo. É preciso olharmos com carinho e verdade para
aquilo que estamos fazendo no presente e projetemos para o futuro a fim de
perceber logo o que vamos nos tornar a partir disto tudo. Se plantamos milho, o
milho será colhido. Não se colherão uvas se palntarmos arroz. Se vivermos
esperando que a água vai se transformar em leite, só encontraremos decepção. Muitos
de nossos problemas no futuro têm origem naquilo que fazemos no presente. No futuro
seremos aquilo que somos no presente, inevitavelmente. O maravilhoso sobre o
ser humano é que podemos escolher como agir em qualquer dado momento e ao mesmo
tempos nós mesmos somos responsáveis pelas consequencias deste agir. Somos tão
bons agora mesmo, como poderemos ser. Se não temos como modificar nossa conduta
ou nosso agir, mudemos, então, de padrão. Se nos surpreendemos agindo de uma
maneira que não nos agrada, podemos optar mudar sem medo em função de nossa
felicidade e salvação.
As leituras que lemos e meditamos neste domingo são, então, um apelo
enérgico para não vivermos adormecidos ou entorpecidos. Deus nos ama, mas
também exige fidelidade ao seu amor até as últimas consequências. E devemos
estar cientes de que essa fidelidade pode nos trazer problemas e até
perseguições.
E, especificamente, através do Evangelho de hoje, estamos acompanhando
Jesus nos seus
últimos dias
em Jerusalém, antes
de sua prisão
(Lc 19,29-21,38). Evidentemente Jesus
aproveita também estes
últimos dias
para dar suas últimas lições
para seus discípulos, e que
servem também como
a última chamada
de Deus, em
Jesus Cristo, a todos
para a salvação. Como
os dois outros
evangelhos sinóticos (Mt 24-25; Mc 13), também o evangelho
de Lucas encerra a atividade
de Jesus em Jerusalém (Lc 19,29-21,38), antes de sua prisão e morte, com o
discurso sobre
o fim: “Discurso
Escatológico” (Lc 21,5-38). Em seu lugar atual na tradição
sinótica esse discurso
é considerado como um
discurso de despedida
de Jesus que deixa
à sua comunidade
os últimos conselhos
e advertências. Mateus
e Lucas inspiram seu discurso escatológico do evangelho
de Marcos capítulo
13.
Para o grego, o tempo tem um caráter cíclico: parece que os séculos e os
anos giram em círculo, trazendo inevitavelmente de volta os mesmos
acontecimentos. Portanto, nada substancialmente novo deve ser esperado.
O homem da Bíblia, ao contrário, considera a história como uma
trajetória horizontal, o tempo tem um desenvolvimento linear, a história
caminha, progride, sob a orientação de Deus, em direção a um termo bem definido
(eternidade. Portanto, nunca se repete da mesma forma, mas está aberto à
novidade, ao inesperado, à esperança.
Apesar de ser inspirado sobre
Mc 13, Lucas aproveita o discurso para projetar sua própria visão
da história da salvação em três momentos:
a destruição de Jerusalém, o tempo da missão
da Igreja e a vinda
do Filho do Homem
(parusia) que trará a plenitude do Reino
de Deus.
Na perspectiva profética,
Jerusalém é o lugar onde
deve irromper a salvação de Deus
(cf. Is 4,5-6;54,12-17;62; 65,18-25), e para onde
convergirão todos os povos empenhados em
ter acesso
a essa salvação (cf. Is 2,2-3;56,6-8;60,3;66,20-23). No entanto,
Jerusalém recusou a oferta de salvação que Jesus, Deus-encarnado, veio
trazer a salvação. A destruição
da cidade e do Templo
(aconteceu no ano 70 pelas tropas de Tito) significa que
Jerusalém deixou de ser o lugar
exclusivo e definitivo
da paz e da salvação. Terminou, assim,
na visão lucana, uma etapa da história
da salvação. Mas Lucas alerta que após a destruição de
Jerusalém surgirão falsos messias
e visionários que
anunciarão o fim, e por
isso, avisa: “Não
sigais essa gente!” (Lc 21,8), pois “não será logo o fim” (Lc
21,9).
Lucas, que escreveu seu evangelho em torno do ano 80, aproveita a febre
escatológica, que cresce em certos setores cristãos,
como exortação
para todos os
cristãos para
que eles
vivam uma vida cristã cada vez mais comprometida com
a transformação deste mundo em um mundo de fraternidade,
onde um
se torna protetor
do outro (são
filhos do mesmo
Pai), em
vez de ser
uma ameaça (fazer guerra) para o outro. Começa assim, para Lucas, uma outra etapa da história da salvação: O tempo
da missão da Igreja.
É o tempo em
que a comunidade
dos cristãos, peregrinando neste mundo e vivendo a história
humana, deve testemunhar
a salvação a todos.
Mas, na visão de Lucas, a libertação
plena e definitiva
só acontecerá com
a segunda vinda
de Jesus (parusia). É a terceira e a última etapa da
história da salvação. No cumprimento
de sua missão
com a visão
da parusia, os cristãos são alertados sobre
as dificuldades e perseguições que marcarão sua
caminhada na história
até a segunda
vinda de Jesus. Lucas lembra-lhes que não estarão
sós, pois Deus estará sempre
presente. A consciência
da presença de Deus
e a fidelidade ao projeto
de Deus darão aos cristãos
uma força divina
para enfrentar, sem medo, os adversários e para resistir diante
da sedução do mundo:
“Todos vos
odiarão por causa
do meu nome.
Mas vós
não perdereis um
só fio
de cabelo da vossa
cabeça. Permanecendo firmes é que
ireis ganhar a vida”
(Lc 21,17-19). Lucas quer nos dizer que a fé possui
a certeza de que
Deus não
abandona os fiéis às forças do mal.
Trata-se apenas de um
parto em vez de um abandono. Por isso, os cristãos
não podem se entregar
à utopia futurista,
perdendo o laço com
a realidade histórica
e cotidiana, a realidade
do presente embora
ela esteja cheia
de mentiras, violências,
perturbações absurdas que podem levar a desejar o fim. Se o Senhor havia
vencido a morte, pensa
Lucas, a comunidade cristã não está caminhando rumo
à uma utopia anônima,
mas o Filho
do Homem, que
é garantia e primícia da libertação humana.
A nossa esperança,
por isso,
não será fraudada, pois
ela tem um
nome: Jesus Cristo
(cf. Rm 8,31.35.37). Com esse discurso, então, o evangelista
Lucas deseja fortalecer
a esperança de sua
comunidade.
Estendamos um pouco mais nossa meditação
sobre alguns
pontos das mensagens
das leituras deste dia.
Nesta
Vida Tudo É Caduco: Somos Chamados A Abraçar Aquilo Que É Eterno Para Sermos
Eternos
“Vós admirais estas coisas? Dias
virão em que
não ficará pedra
sobre pedra.
Tudo será destruído”, diz o Senhor (Lc 21,6).
Para um judeu, o Templo era o compêndio de sua
fé e a razão
mais clara
de sua existência
como povo,
é a materialização da aliança entre esse povo e o Deus que o escolheu para ser o depositário de Sua vontade. O Templo de Jerusalém era
para um judeu a segurança. O sentimento de segurança é um dos mais
estimados pelo homem.
E concretamente em
suas relações
com Deus.
Enquanto o Templo
estivesse ai, o judeu saberia como teria que viver.
A admiração da beleza
do Templo por
parte de alguns
(Lc 21,5) provoca a chamada de atenção de Jesus a cerca
do futuro do Templo:
“Vós admirais estas coisas? Dias
virão em que
não ficará pedra
sobre pedra.
Tudo será destruído”, diz o Senhor (Lc 21,6). Jesus adverte aos cristãos
que tudo
que é humano,
nesta terra, mesmo
os frutos do fervor
religioso, como
o templo, é caduco.
Tudo perecerá. A recordação da caducidade tem como
finalidade de nos
chamar à urgência
da conversão. Se tudo
é caduco, se tudo
tem seu fim,
nós somos chamados, então,
a amar aquilo
que é eterno.
Talvez possamos expressar
isto nas palavras
de Santo Agostinho: “Cada homem
é aquilo que
ama. Se tu
amas as coisas
da terra, és terra. Se amas a Deus, não tenhas medo de dizer és Deus. Pois amando a Deus nos tornamos divinos;
amando ao mundo nos
tornamos mundanos. O amor ao mundo
corrompe a alma; o amor
ao Criador do mundo
a purifica” (cf. Serm. 121,1;142,3,3; In epist. Joan. 2,2,14).
O evangelho deste dia quer nos dizer que se o mundo
tem um fim
é porque o mundo
não é Deus.
Nada do que
há no mundo é Deus.
A fé no Deus
eterno nos
liberta dos ídolos.
Porém, o anúncio
sobre o fim
de tudo não
é uma notícia para
intimidar os cristãos.
Este anúncio
de Jesus pertence ao Evangelho e por
isso, é Boa Notícia.
Não há notícia
melhor do que
a de saber que
tudo tem o fim
e que o mundo
com seu
sistema e os que
se acham poderosos deste mundo passam, que
não são
“deus”. Se a vida
que é o dom
de Deus, tem um
fim, todo
nosso modo
de viver pesa
para este fim. Por isso, cada cristão e cada homem de boa vontade
são chamados à responsabilidade
pessoal e comunitária.
A nossa vida
não pode ser um ficar de braços cruzados
a olhar para o céu, mas um compromisso sério e empenhado de modo
que possa surgir
o mundo novo
da justiça, do amor
e da paz. Temos que
descobrir na história
a Palavra de Deus
que nos
chama a ir adiante, ao encontro
de Deus de amor.
Se Jesus Cristo venceu a morte,
o cristão não
tem mais nenhuma razão
de ter medo. Se o mal avançar, a confiança em Deus deve avançar também porque Deus sempre
terá a última palavra
e não o mundo.
Ele convida os cristãos
a olharem para a história
para decifrar seus sinais, e reconhecer a presença de Deus, pois tudo que
acontece neste mundo está sempre sob o olhar de Deus. O que importa para uma comunidade cristã é a vivacidade
de esperança. É a esperança
que arranca o homem
de uma existência sem
futuro e sem
expectativas. A tristeza
e o desânimo são
um sinal
da ausência de uma verdadeira esperança cristã que
no fundo provém de uma falta de fé.
A caducidade de tudo
nesta vida abre, então,
para os cristãos
a perspectiva que
tem sua origem
na realidade de Deus.
O homem que
acredita em Deus
prefere sempre cumprir
a vontade de Deus
a viver numa vida
tranqüila. O homem
que acredita em
Deus é um
homem perseverante, isto
é, aquele que
é capaz de resistir
diante de cada
dificuldade por
causa de um objetivo que ele quer alcançar: a felicidade
eterna. A capacidade
de resistir precisa
haurir a confiança em Deus, confiança que tem que ser sempre renovada na oração.
Temos que a aprender
a renunciar a nossas próprias idéias
para deixar lugar à vontade
de Deus. Como
cristãos rezamos sem
cessar, pedindo a graça
da perseverança final. Estamos, todavia, conscientes
de que isto
leva consigo
a disponibilidade para
mudar ou para se converter, porque estamos conscientes
de que a nossa
fidelidade é continuamente posta à prova e de que está exposta
a contínuas tentações. Podemos ser tentados tanto do
exterior(escândalo)
como do interior.
É precisamente no momento
da tentação que
entra em ação
a capacidade de resistir.
A fé no amor
de Deus faz com
que cada
cristão seja capaz
de resistir em
momentos de provação
e de luta contra
os sintomas do cansaço
humano. Aquele
que estiver aberto
à capacidade de resistir
e rezar com
perseverança para a alcançar,
poderá dizer com
o Apóstolo Paulo: “Tudo
posso nAquele que me dá força”(Fl 4,13).
No Tempo Curto De Sua
Presença Terrena O Homem É Chamado A Servir Por Amor Para Alcançar A Felicidade
Plena
Para o grego, o tempo tinha um caráter
cíclico: parece que os séculos e os anos
giravam em círculo,
trazendo de novo indefectivelmente os mesmos sucessos.
É sabido que
os gregos faziam uma leitura cíclica da história
sob a categoria
do eterno retorno.
Por isso,
para o grego não tinha que se esperar nada substancialmente
novo, pois tudo era igual, tudo
voltava ao início, tudo
retornava.
O homem da Bíblia,
pelo contrário,
considera a história como uma trajetória
horizontal; o tempo
tem um desenvolvimento
linear, a história
caminha, progride, sob
a guia de Deus
até a um
término bem definido. Por isso é que não se repete jamais,
da mesma maneira,
sem que
esteja aberto à novidade,
ao inesperado, à esperança. O evangelista
Lucas, especialmente, faz uma leitura da história
a partir do futuro,
a partir do fim,
a partir do encontro
derradeiro com
Deus. Para
Lucas há um ponto
final ao que
converge a história e todas as coisas sob a providência divina: “Vós não
perdereis um só
fio de cabelo
da vossa cabeça”
(Lc 21,18). A história é uma representação sob
o atento olhar
de Deus.
Conseqüentemente, o homem bíblico é o homem
esperançoso, homem
que, acreditando em
Deus, Criador
do Universo, anda
com muita
certeza rumo
ao seu destino
bem definido:
a comunhão plena
e eterna com
Deus. Por
causa desta certeza
o homem bíblico serve a Deus através do
bem praticado alegremente,
pois servindo a Deus
ele alcança a felicidade
completa, como
rezamos na Coleta deste dia: “Fazei, Senhor nosso Deus, que a nossa alegria consiste em
Vos servir
de todo o coração,
pois só
teremos felicidade completa,
servindo a Vós, o Criador
de todas as coisas”.
Portanto todos são
chamados a descobri Deus presente
com atuação
salvadora na história acima das guerras
que continuamente destroem o ser humano, acima dos terremotos
e fome que
acompanham a vida do homem, acima
das perseguições que o cristão suporta por
causa da fé
no amor de Deus
que salva.
Não são
os cataclismos e desastres
cósmicos do final, como
descrevem as leituras deste dia, que fazem mudar nossa conduta para superar
a tibieza espiritual,
mas cada
dia é momento
oportuno para
a mudança, pois
sempre é o dia
propício, o tempo
apto para honrar o nome
do Senhor, nosso
Criador vivendo aquilo
que é essencial
para a nossa
salvação: o amor fraterno:
“Não devais nada a ninguém,
a não ser o amor mútuo, pois quem ama o outro
cumpriu a Lei. ... A caridade não
pratica o mal contra
o próximo. Portanto,
a caridade é a plenitude
da Lei” (Rm 13,8-10; Cf. 1Cor 13,1-13; 1Jo 4,7-21).
A partir das palavras
de São Paulo acima
citadas não podemos esquecer
de que a autenticidade
de nossa fé
se mede pela nossa
doação aos irmãos.
Este é o teste
para cada cristão. Uma comunidade
cristã introvertida e narcisista que só pensa em si já não seria a Igreja
de Jesus e sim um
círculo de homens
que coincidem em
seus egoísmos.
Constituir-se em Igreja
é comprometer-se a servir. Ser
Igreja não
é ser sócio de uma entidade religiosa
na qual nos
é oferecida a segurança para
o tempo e a eternidade,
prévio pago
de certas imposições.
Ser Igreja é construir com outros cristãos
e outros homens
de boa vontade uma fraternidade
em que
todos comunguem com
a mesma esperança
e estão dinamizados pela mesma força que os potencia para dar-se
aos demais.
Somos Testemunhas De Cristo
Neste Mundo
“Sereis presos
e perseguidos por causa
do meu nome.
Esta será a ocasião em
que testemunhareis a vossa fé. É
permanecendo firmes que
ireis ganhar a vida”,
diz o Senhor (Lc 21,12-13.19).
A palavra “testemunhar/testemunho/testemunha”
é uma das palavras preferidas por Lucas, especialmente
nos Atos
dos Apóstolos. Na parte
central dos grandes
discursos que
dão ritmo a Atos,
Pedro repete: “Nós somos testemunhas” (cf. At 2,32;3,15;10,41). Ser
testemunha era
a identidade dos discípulos
de Jesus. O anúncio da palavra de Deus
e o testemunho de vida
são palavras-chaves e inseparáveis na obra
de Lucas, de modo especial
na segunda obra
(Atos dos Apóstolos).
Testemunhar significa provar
com a própria
vida aquilo
que se fala
e se professa e no que
se acredita, assumindo todas as conseqüências.
Mas não se trata de
testemunhar uma idéia,
um conjunto
de verdades; o conteúdo
do anúncio não
é teoria nem
sistema, mas
trata-se de testemunhar o próprio
Jesus Cristo Ressuscitado. Por isso, o anúncio pode ser feito por todos e para todos, porque não pressupõe nem
culturas nem
diplomas. Sendo o próprio
Jesus Cristo, é suficiente
tê-Lo encontrado como aquele que dá sentido a toda
a vida. Para anunciar Jesus Cristo
Ressuscitado não se requerem qualidades específicas, mas
uma fidelidade. Testemunhar
Jesus é provar com
a própria vida
que é ele
o sentido profundo
de nossa vida
e da vida do mundo.
Cada cristão,
através da vivência
dos valores ensinados por Cristo,
deve ser uma resposta
de Deus na história
humana para aqueles que
perguntam sobre Deus.
Se Jesus é a última palavra
do Pai, o cristão
deve ser a expressão
ou palavra
de Jesus para os outros,
como na criação
do universo, o homem
é a última palavra
de Deus, palavra
que a tudo
completou (cf. Gn 1,26-30). Somente assim acontecerá na história
humana o surgimento
de um mundo
novo.
Trabalhar Pela Dignidade
Humana Também É A Expressão De Nossa Vigilância
“Quem não
quer trabalhar,
também não
deve comer” (2Ts 3,10).
O homem trabalha para viver e não
vive somente para trabalhar, sendo escravo
da própria atividade
ou fazendo os outros
escravos da mesma.
O trabalho enobrece o homem
por mais
simples que
ele seja. Com
ou pelo trabalho, o homem toca Deus e reproduz
a imagem de Deus
que trabalha
seis dias
(cf. Gn 2,1ss). Para a Bíblia,
o trabalho tem uma função
sagrada porque
mantém a vida do homem.
Por isso,
a Bíblia não
tem uma única palavra
de louvor para
o preguiçoso, e a pobreza,
quando é conseqüência
da preguiça, pois
a preguiça nunca
é considerada como virtude.
Mas um
mundo que
valoriza segundo o critério
de desempenho não
pode ser considerado um
mundo humano,
mas um
mundo mecanizado. O trabalho
pode embotar a mente
e oprimir o espírito,
fazendo o homem colocar
sua confiança
nas obras de suas
mãos, convertendo assim
o trabalho numa espécie
de ídolo. É o homem
que dá valor
ao seu trabalho
ou à função
que desempenha,
e não o contrário.
Ninguém pode colocar
o ouro e a prata
acima de Quem
os criou: Deus. O trabalho
perderá seu potencial
enobrecedor quando
ameaçar escravizar o homem. Todos
condenam a preguiça, mas nem todos se conscientizam dos perigos
do excesso de trabalho.
Como seres
criados por
Deus que
confiamos na vinda do Senhor,
a melhor maneira
de nos mantermos vigilantes
na nossa cotidiana
é através de nosso
trabalho que não é somente fonte da realização pessoal, mas também com o fruto de nosso trabalho somos chamados a ser solidários com
os outros que
são carentes
de tudo, partilhando o que temos. Quando
nos aproximarmos do homem
carente, viveremos uma ocasião privilegiada de relação
pessoal com
Jesus Cristo (cf. Mt 25,36ss).
Na celebração eucarística oferecemos a Deus para Ele “transformar” (transubstanciar) em Corpo e Sangue
do Senhor, o pão e o vinho, fruto do
trabalho do homem
recebidos da generosidade do
Deus-Criador. E que por
nossa vez
devemos nos transformar
em pessoas
generosas ao partilharmos tudo que temos para os que nada têm para a sobrevivência.
Pe. Vitus Gustama,SVD
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