quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Domingo,13/11/2022: Ser Fiel a Deus Até O Fim Para Ser Salvo

SOMOS PEREGRINOSNESTE MUNDO  RUMO À ETERNIDADE

XXXIII DOMINGO COMUM C      

 

Primeira Leitura: Ml 3,19-20a

19Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los, diz o Senhor dos exércitos, tal que não lhes deixará raiz nem ramo. 20aPara vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas. 

Segunda Leitura: 2Ts 3,7-12

Irmãos: 7Bem sabeis como deveis seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vós na ociosidade. 8De ninguém recebemos de graça o pão que comemos. Pelo contrário, trabalhamos com esforço e cansaço, de dia e de noite, para não sermos pesados a ninguém. 9Não que não tivéssemos o direito de fazê-lo, mas queríamos apresentar-nos como exemplo a ser imitado. 10Com efeito, quando estávamos entre vós, demos esta regra: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer”. 11Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada. 12Em nome do Senhor Jesus Cristo, ordenamos e exortamos a estas pessoas que, trabalhando, comam na tranquilidade o seu próprio pão. 

Evangelho: Lc 21,5-19

Naquele tempo, 5algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas.Jesus disse: 6“Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. 7Mas eles perguntaram: “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?” 8Jesus respondeu: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! 9Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”. 10E Jesus continuou: “Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. 11Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu. 12Antes, porém, que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. 13Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé. 14Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a própria defesa; 15porque eu vos darei palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. 16Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vós. 17Todos vos odiarão por causa do meu nome. 18Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. 19É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!”

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O presente e o futuro são duas categorias que se destacam de alguma forma neste penúltimo domingo do ciclo litúrgico. Os "arrogantes e ímpios" do presente serão arrancados no Dia de Yahweh, enquanto os "adeptos ao meu nome" (“que temeis o meu nome”) serão iluminados pelo sol da justiça (Primeira Leitura). As tribulações e as desgraças ou os infortúnios do presente não devem perturbar a paz dos cristãos, porque, pela sua perseverança na fé, eles receberão a salvação futura (Evangelho). São Paulo convida os tessalonicenses a imitá-lo na sua dedicação ao trabalho, aqui na terra, para depois receber no mundo futuro a coroa que não murcha (Segunda Leitura).

Todo homem, goste ou não, está inscrito no registro de dois mundos diferentes. Um é o mundo presente, a terra sobre a qual andamos e o ar que respiramos, um mundo passageiro, selado por limites e expirações. O outro mundo é o mundo em que reinam o sempre e o infinito, o mundo futuro para o qual o homem e a história se dirigem. O interessante é que esses dois mundos se seguem cronologicamente, mas sobretudo se cruzam e se entrelaçam na vida dos homens. Kronos (tempo medido pelos segundo) e Kairos (tempo de Deus, tempo da graça, tempo oportuno) estão juntos. A encarnação de Deus transforma o Kronos em Kairós. No mundo presente não podemos deixar de pensar no futuro, e no mundo futuro não podemos esquecer o presente em que devemos trabalhar para salvar o mundo. As vicissitudes da história, seus conflitos e suas tristezas nos remetem quase inexoravelmente para o futuro. A alegria e a plenitude do mundo futuro exigirão nosso interesse porque todos os homens deste mundo podem alcançá-lo. Como cidadãos do presente devemos estar ocupados e dedicados à tarefa do progresso, da justiça, do progresso do humanismo e da solidariedade, do crescimento dos valores. Como cidadãos do futuro, devemos buscar o estabelecimento do Reino de Cristo e a santidade dos cristãos. O presente em que vivemos é uma tarefa de escolha e renúncia, o futuro será um tempo de posse e alegria. O presente é um tempo de ideais e realizações, o futuro será de encontro e intimidade. O presente é um tempo de constância na luta, o futuro será de descanso em paz. O presente é um tempo de esperança na fé e no amor, o futuro será cheio de triunfo do amor perfeito. Dois mundos diferentes, mas não distantes, mas unidos no coração do homem. Dois mundos em que o cristão deve viver ao máximo, honrando seu nome como filho de Deus. 

Pensa-se muitas vezes que se deve viver o presente de olho no passado, para aprender com ele, pois "a história é a mestra da vida". Não se pode negar que isso seja verdade. É preciso salientar, no entanto, um aspecto de nossa fé cristã. É preciso viver o presente como quem já percorreu o caminho da vida e com os olhos  postos no mundo futuro. É viver o presente com uma visão do futuro. A vida é sempre para a frente. É claro que as perspectivas e a forma de viver o presente seriam muito diversas. Isso é verdade na vida do homem: se fosse possível viver vinte anos na perspectiva dos sessenta, sem dúvida seria vivido de forma diferente. Perguntemo-nos: Desde a eternidade, como você gostaria de viver hoje, essa situação familiar, esse momento pessoal de crise, esse relacionamento afetivo, esse ambiente de trabalho? Esse futuro cria uma distância entre nós e nosso presente e, ao criar distância, nos permite ver as coisas com maior paz e objetividade. Esse futuro nos coloca no mundo de Deus e assim nos dá o poder de pensar nas várias situações do presente e da vida com a mesma maneira de pensar de Deus. Do futuro conhecemos melhor e sabemos aplicar com maior precisão e coerência ao presente a regra da nossa fé e a medida da nossa conduta. Não é necessário cair na utopia, mas basta uma centelha de futuro em nosso presente para acender a alma com novo ardor e entusiasmo. É preciso olharmos com carinho e verdade para aquilo que estamos fazendo no presente e projetemos para o futuro a fim de perceber logo o que vamos nos tornar a partir disto tudo. Se plantamos milho, o milho será colhido. Não se colherão uvas se palntarmos arroz. Se vivermos esperando que a água vai se transformar em leite, só encontraremos decepção. Muitos de nossos problemas no futuro têm origem naquilo que fazemos no presente. No futuro seremos aquilo que somos no presente, inevitavelmente. O maravilhoso sobre o ser humano é que podemos escolher como agir em qualquer dado momento e ao mesmo tempos nós mesmos somos responsáveis pelas consequencias deste agir. Somos tão bons agora mesmo, como poderemos ser. Se não temos como modificar nossa conduta ou nosso agir, mudemos, então, de padrão. Se nos surpreendemos agindo de uma maneira que não nos agrada, podemos optar mudar sem medo em função de nossa felicidade e salvação. 

As leituras que lemos e meditamos neste domingo são, então, um apelo enérgico para não vivermos adormecidos ou entorpecidos. Deus nos ama, mas também exige fidelidade ao seu amor até as últimas consequências. E devemos estar cientes de que essa fidelidade pode nos trazer problemas e até perseguições. 

E, especificamente, através do Evangelho de hoje, estamos acompanhando Jesus nos seus últimos dias em Jerusalém, antes de sua prisão (Lc 19,29-21,38). Evidentemente Jesus aproveita também estes últimos dias para dar suas últimas lições para seus discípulos, e que servem também como a última chamada de Deus, em Jesus Cristo, a todos para a salvação. Como os dois outros evangelhos sinóticos (Mt 24-25; Mc 13), também o evangelho de Lucas encerra a atividade de Jesus em Jerusalém (Lc 19,29-21,38), antes de sua prisão e morte, com o discurso sobre o fim: “Discurso Escatológico” (Lc 21,5-38). Em seu lugar atual na tradição sinótica esse discurso é considerado como um discurso de despedida de Jesus que deixa à sua comunidade os últimos conselhos e advertências. Mateus e Lucas inspiram seu discurso escatológico do evangelho de Marcos capítulo 13.        

Para o grego, o tempo tem um caráter cíclico: parece que os séculos e os anos giram em círculo, trazendo inevitavelmente de volta os mesmos acontecimentos. Portanto, nada substancialmente novo deve ser esperado. 

O homem da Bíblia, ao contrário, considera a história como uma trajetória horizontal, o tempo tem um desenvolvimento linear, a história caminha, progride, sob a orientação de Deus, em direção a um termo bem definido (eternidade. Portanto, nunca se repete da mesma forma, mas está aberto à novidade, ao inesperado, à esperança.

Apesar de ser inspirado sobre Mc 13, Lucas aproveita o discurso para projetar sua própria visão da história da salvação em três momentos: a destruição de Jerusalém, o tempo da missão da Igreja e a vinda do Filho do Homem (parusia) que trará a plenitude do Reino de Deus.        

Na perspectiva profética, Jerusalém é o lugar onde deve irromper a salvação de Deus (cf. Is 4,5-6;54,12-17;62; 65,18-25), e para onde convergirão todos os povos empenhados em ter acesso a essa salvação (cf. Is 2,2-3;56,6-8;60,3;66,20-23). No entanto, Jerusalém recusou a oferta de salvação que Jesus, Deus-encarnado, veio trazer a salvação. A destruição da cidade e do Templo (aconteceu no ano 70 pelas tropas de Tito) significa que Jerusalém deixou de ser o lugar exclusivo e definitivo da paz e da salvação. Terminou, assim, na visão lucana, uma etapa da história da salvação. Mas Lucas alerta que após a destruição de Jerusalém surgirão falsos messias e visionários que anunciarão o fim, e por isso, avisa: “Não sigais essa gente!” (Lc 21,8), poisnão será logo o fim” (Lc 21,9).        

Lucas, que escreveu seu evangelho em torno do ano 80, aproveita a febre escatológica, que cresce em certos setores cristãos, como exortação para todos os cristãos para que eles vivam uma vida cristã cada vez mais comprometida com a transformação deste mundo em um mundo de fraternidade, onde um se torna protetor do outro (são filhos do mesmo Pai), em vez de ser uma ameaça (fazer guerra) para o outro. Começa assim, para Lucas, uma outra etapa da história da salvação: O tempo da missão da Igreja. É o tempo em que a comunidade dos cristãos, peregrinando neste mundo e vivendo a história humana, deve testemunhar a salvação a todos.        

Mas, na visão de Lucas, a libertação plena e definitiva acontecerá com a segunda vinda de Jesus (parusia). É a terceira e a última etapa da história da salvação. No cumprimento de sua missão com a visão da parusia, os cristãos são alertados sobre as dificuldades e perseguições que marcarão sua caminhada na história até a segunda vinda de Jesus. Lucas lembra-lhes que não estarão sós, pois Deus estará sempre presente. A consciência da presença de Deus e a fidelidade ao projeto de Deus darão aos cristãos uma força divina para enfrentar, sem medo, os adversários e para resistir diante da sedução do mundo: “Todos vos odiarão por causa do meu nome. Mas vós não perdereis um fio de cabelo da vossa cabeça. Permanecendo firmes é que ireis ganhar a vida” (Lc 21,17-19). Lucas quer nos dizer que a possui a certeza de que Deus não abandona os fiéis às forças do mal. Trata-se apenas de um parto em vez de um abandono. Por isso, os cristãos não podem se entregar à utopia futurista, perdendo o laço com a realidade histórica e cotidiana, a realidade do presente embora ela esteja cheia de mentiras, violências, perturbações absurdas que podem levar a desejar o fim. Se o Senhor havia vencido a morte, pensa Lucas, a comunidade cristã não está caminhando rumo à uma utopia anônima, mas o Filho do Homem, que é garantia e primícia da libertação humana. A nossa esperança, por isso, não será fraudada, pois ela tem um nome: Jesus Cristo (cf. Rm 8,31.35.37). Com esse discurso, então, o evangelista Lucas deseja fortalecer a esperança de sua comunidade.        

Estendamos um pouco mais nossa meditação sobre alguns pontos das mensagens das leituras deste dia. 

Nesta Vida Tudo É Caduco: Somos Chamados A Abraçar Aquilo Que É Eterno Para Sermos Eternos        

Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”, diz o Senhor (Lc 21,6).         

Para um judeu, o Templo era o compêndio de sua e a razão mais clara de sua existência como povo, é a materialização da aliança entre esse povo e o Deus que o escolheu para ser o depositário de Sua vontade. O Templo de Jerusalém era para um judeu a segurança. O sentimento de segurança é um dos mais estimados pelo homem. E concretamente em suas relações com Deus. Enquanto o Templo estivesse ai, o judeu saberia como teria que viver.        

A admiração da beleza do Templo por parte de alguns (Lc 21,5) provoca a chamada de atenção de Jesus a cerca do futuro do Templo: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”, diz o Senhor (Lc 21,6). Jesus adverte aos cristãos que tudo que é humano, nesta terra, mesmo os frutos do fervor religioso, como o templo, é caduco. Tudo perecerá. A recordação da caducidade tem como finalidade de nos chamar à urgência da conversão. Se tudo é caduco, se tudo tem seu fim, nós somos chamados, então, a amar aquilo que é eterno. Talvez possamos expressar isto nas palavras de Santo Agostinho: “Cada homem é aquilo que ama. Se tu amas as coisas da terra, és terra. Se amas a Deus, não tenhas medo de dizer és Deus. Pois amando a Deus nos tornamos divinos; amando ao mundo nos tornamos mundanos. O amor ao mundo corrompe a alma; o amor ao Criador do mundo a purifica” (cf. Serm. 121,1;142,3,3; In epist. Joan. 2,2,14).        

O evangelho deste dia quer nos dizer que se o mundo tem um fim é porque o mundo não é Deus. Nada do que há no mundo é Deus. A no Deus eterno nos liberta dos ídolos. Porém, o anúncio sobre o fim de tudo não é uma notícia para intimidar os cristãos. Este anúncio de Jesus pertence ao Evangelho e por isso, é Boa Notícia. Nãonotícia melhor do que a de saber que tudo tem o fim e que o mundo com seu sistema e os que se acham poderosos deste mundo passam, que não sãodeus”. Se a vida que é o dom de Deus, tem um fim, todo nosso modo de viver pesa para este fim. Por isso, cada cristão e cada homem de boa vontade são chamados à responsabilidade pessoal e comunitária. A nossa vida não pode ser um ficar de braços cruzados a olhar para o céu, mas um compromisso sério e empenhado de modo que possa surgir o mundo novo da justiça, do amor e da paz. Temos que descobrir na história a Palavra de Deus que nos chama a ir adiante, ao encontro de Deus de amor. Se Jesus Cristo venceu a morte, o cristão não tem mais nenhuma razão de ter medo. Se o mal avançar, a confiança em Deus deve avançar também porque Deus sempre terá a última palavra e não o mundo. Ele convida os cristãos a olharem para a história para decifrar seus sinais, e reconhecer a presença de Deus, pois tudo que acontece neste mundo está sempre sob o olhar de Deus. O que importa para uma comunidade cristã é a vivacidade de esperança. É a esperança que arranca o homem de uma existência sem futuro e sem expectativas. A tristeza e o desânimo são um sinal da ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo provém de uma falta de .        

A caducidade de tudo nesta vida abre, então, para os cristãos a perspectiva que tem sua origem na realidade de Deus. O homem que acredita em Deus prefere sempre cumprir a vontade de Deus a viver numa vida tranqüila. O homem que acredita em Deus é um homem perseverante, isto é, aquele que é capaz de resistir diante de cada dificuldade por causa de um objetivo que ele quer alcançar: a felicidade eterna. A capacidade de resistir precisa haurir a confiança em Deus, confiança que tem que ser sempre renovada na oração. Temos que a aprender a renunciar a nossas próprias idéias para deixar lugar à vontade de Deus. Como cristãos rezamos sem cessar, pedindo a graça da perseverança final. Estamos, todavia, conscientes de que isto leva consigo a disponibilidade para mudar ou para se converter, porque estamos conscientes de que a nossa fidelidade é continuamente posta à prova e de que está exposta a contínuas tentações. Podemos ser tentados tanto do exterior(escândalo) como do interior. É precisamente no momento da tentação que entra em ação a capacidade de resistir. A no amor de Deus faz com que cada cristão seja capaz de resistir em momentos de provação e de luta contra os sintomas do cansaço humano. Aquele que estiver aberto à capacidade de resistir e rezar com perseverança para a alcançar, poderá dizer com o Apóstolo Paulo: “Tudo posso nAquele que  meforça”(Fl 4,13). 

No Tempo Curto De Sua Presença Terrena O Homem É Chamado A Servir Por Amor Para Alcançar A Felicidade Plena      

Para o grego, o tempo tinha um caráter cíclico: parece que os séculos e os anos giravam em círculo, trazendo de novo indefectivelmente os mesmos sucessos. É sabido que os gregos faziam uma leitura cíclica da história sob a categoria do eterno retorno. Por isso, para o grego não tinha que se esperar nada substancialmente novo, pois tudo era igual, tudo voltava ao início, tudo retornava.        

O homem da Bíblia, pelo contrário, considera a história como uma trajetória horizontal; o tempo tem um desenvolvimento linear, a história caminha, progride, sob a guia de Deus até a um término bem definido. Por isso é que não se repete jamais, da mesma maneira, sem que esteja aberto à novidade, ao inesperado, à esperança.  O evangelista Lucas, especialmente, faz uma leitura da história a partir do futuro, a partir do fim, a partir do encontro derradeiro com Deus. Para Lucas há um ponto final ao que converge a história e todas as coisas sob a providência divina: “Vós não perdereis um fio de cabelo da vossa cabeça” (Lc 21,18). A história é uma representação sob o atento olhar de Deus.        

Conseqüentemente, o homem bíblico é o homem esperançoso, homem que, acreditando em Deus, Criador do Universo, anda com muita certeza rumo ao seu destino bem definido: a comunhão plena e eterna com Deus. Por causa desta certeza o homem bíblico serve a Deus através do bem praticado alegremente, pois servindo a Deus ele alcança a felicidade completa, como rezamos na Coleta deste dia: “Fazei, Senhor nosso Deus, que a nossa alegria consiste em Vos servir de todo o coração, pois teremos felicidade completa, servindo a Vós, o Criador de todas as coisas”.        

Portanto todos são chamados a descobri Deus presente com atuação salvadora na história acima das guerras que continuamente destroem o ser humano, acima dos terremotos e fome que acompanham a vida do homem, acima das perseguições que o cristão suporta por causa da no amor de Deus que salva. Não são os cataclismos e desastres cósmicos do final, como descrevem as leituras deste dia, que fazem mudar nossa conduta para superar a tibieza espiritual, mas cada dia é momento oportuno para a mudança, pois sempre é o dia propício, o tempo apto para honrar o nome do Senhor, nosso Criador vivendo aquilo que é essencial para a nossa salvação: o amor fraterno: “Não devais nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o outro cumpriu a Lei. ... A caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é a plenitude da Lei” (Rm 13,8-10; Cf. 1Cor 13,1-13; 1Jo 4,7-21).        

A partir das palavras de São Paulo acima citadas não podemos esquecer de que a autenticidade de nossa se mede pela nossa doação aos irmãos. Este é o teste para cada cristão. Uma comunidade cristã introvertida e narcisista que pensa em si não seria a Igreja de Jesus e sim um círculo de homens que coincidem em seus egoísmos. Constituir-se em Igreja é comprometer-se a servir. Ser Igreja não é ser sócio de uma entidade religiosa na qual nos é oferecida a segurança para o tempo e a eternidade, prévio pago de certas imposições. Ser Igreja é construir com outros cristãos e outros homens de boa vontade uma fraternidade em que todos comunguem com a mesma esperança e estão dinamizados pela mesma força que os potencia para dar-se aos demais. 

Somos Testemunhas De Cristo Neste Mundo       

 Sereis presos e perseguidos por causa do meu nome. Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa . É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”, diz o Senhor (Lc 21,12-13.19).         

A palavratestemunhar/testemunho/testemunha” é uma das palavras preferidas por Lucas, especialmente nos Atos dos Apóstolos. Na parte central dos grandes discursos que dão ritmo a Atos, Pedro repete: “Nós somos testemunhas” (cf. At 2,32;3,15;10,41). Ser testemunha era a identidade dos discípulos de Jesus. O anúncio da palavra de Deus e o testemunho de vida são palavras-chaves e inseparáveis na obra de Lucas, de modo especial na segunda obra (Atos dos Apóstolos). Testemunhar significa provar com a própria vida aquilo que se fala e se professa e no que se acredita, assumindo todas as conseqüências.        

Mas não se trata de testemunhar uma idéia, um conjunto de verdades; o conteúdo do anúncio não é teoria nem sistema, mas trata-se de testemunhar o próprio Jesus Cristo Ressuscitado. Por isso, o anúncio pode ser feito por todos e para todos, porque não pressupõe nem culturas nem diplomas. Sendo o próprio Jesus Cristo, é suficiente tê-Lo encontrado como aquele quesentido a toda a vida. Para anunciar Jesus Cristo Ressuscitado não se requerem qualidades específicas, mas uma fidelidade. Testemunhar Jesus é provar com a própria vida que é ele o sentido profundo de nossa vida e da vida do mundo. Cada cristão, através da vivência dos valores ensinados por Cristo, deve ser uma resposta de Deus na história humana para aqueles que perguntam sobre Deus. Se Jesus é a última palavra do Pai, o cristão deve ser a expressão ou palavra de Jesus para os outros, como na criação do universo, o homem é a última palavra de Deus, palavra que a tudo completou (cf. Gn 1,26-30). Somente assim acontecerá na história humana o surgimento de um mundo novo. 

Trabalhar Pela Dignidade Humana Também É A Expressão De Nossa Vigilância       

Quem não quer trabalhar, também não deve comer” (2Ts 3,10).        

O homem trabalha para viver e não vive somente para trabalhar, sendo escravo da própria atividade ou fazendo os outros escravos da mesma. O trabalho enobrece o homem por mais simples que ele seja. Com ou pelo trabalho, o homem toca Deus e reproduz a imagem de Deus que trabalha seis dias (cf. Gn 2,1ss). Para a Bíblia, o trabalho tem uma função sagrada porque mantém a vida do homem. Por isso, a Bíblia não tem uma única palavra de louvor para o preguiçoso, e a pobreza, quando é conseqüência da preguiça, pois a preguiça nunca é considerada como virtude. Mas um mundo que valoriza segundo o critério de desempenho não pode ser considerado um mundo humano, mas um mundo mecanizado. O trabalho pode embotar a mente e oprimir o espírito, fazendo o homem colocar sua confiança nas obras de suas mãos, convertendo assim o trabalho numa espécie de ídolo. É o homem quevalor ao seu trabalho ou à função que desempenha, e não o contrário. Ninguém pode colocar o ouro e a prata acima de Quem os criou: Deus. O trabalho perderá seu potencial enobrecedor quando ameaçar escravizar o homem. Todos condenam a preguiça, mas nem todos se conscientizam dos perigos do excesso de trabalho.        

Como seres criados por Deus que confiamos na vinda do Senhor, a melhor maneira de nos mantermos vigilantes na nossa cotidiana é através de nosso trabalho que não é somente fonte da realização pessoal, mas também com o fruto de nosso trabalho somos chamados a ser solidários com os outros que são carentes de tudo, partilhando o que temos. Quando nos aproximarmos do homem carente, viveremos uma ocasião privilegiada de relação pessoal com Jesus Cristo (cf. Mt 25,36ss).       

Na celebração eucarística oferecemos a Deus para Eletransformar” (transubstanciar) em Corpo e Sangue do Senhor, o pão e o vinho, fruto do trabalho do homem recebidos da generosidade do Deus-Criador. E que por nossa vez devemos nos transformar em pessoas generosas ao partilharmos tudo que temos para os que nada têm para a sobrevivência.

Pe. Vitus Gustama,SVD

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