O PARAÍSO COMEÇA
A PARTIR DA CONVERSÃO
POR
AMOR AO REI DO
UNIVERSO
Primeira Leitura: 2Sm 5,1-3
Naqueles dias, 1todas as tribos de Israel vieram encontrar-se com Davi em
Hebron e disseram-lhe: “Aqui estamos. Somos teus ossos e tua carne. 2Tempos
atrás, quando Saul era nosso rei, eras tu que dirigias os negócios de Israel. E
o Senhor te disse: ‘Tu apascentarás o meu povo Israel e serás o seu chefe’”.
3Vieram, pois, todos os anciãos de Israel até ao rei em Hebron. O rei Davi fez
com eles uma aliança em Hebron, na presença do Senhor, e eles o ungiram rei de
Israel.
Segunda Leitura: Cl 1,12-20
Irmãos: 12Com alegria dai graças ao Pai, que vos tornou capazes de
participar da luz, que é a herança dos santos. 13Ele nos libertou do poder das
trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado, 14por quem temos a redenção,
o perdão dos pecados. 15Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda
a criação, 16pois por causa dele foram criadas todas as coisas no céu e na
terra, as visíveis e as invisíveis, tronos e dominações, soberanias e poderes.
Tudo foi criado por meio dele e para ele. 17Ele existe antes de todas as coisas
e todas têm nele a sua consistência. 18Ele é a Cabeça do Corpo, isto é, da
Igreja. Ele é o princípio, o Primogênito dentre os mortos; de sorte que em tudo
ele tem a primazia, 19porque Deus quis habitar nele com toda a sua plenitude
20e por ele reconciliar consigo todos os seres, os que estão na terra e no céu,
realizando a paz pelo sangue da sua cruz.
Evangelho: Lc 23,35-43
Naquele tempo, 35os chefes zombavam de Jesus
dizendo: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de
Deus, o Escolhido!” 36Os soldados também caçoavam dele; aproximavam-se,
ofereciam-lhe vinagre, 37e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti
mesmo!” 38Acima dele havia um letreiro: “Este é o Rei dos Judeus”. 39Um dos
malfeitores crucificados o insultava, dizendo: “Tu não és o Cristo? Salva-te a
ti mesmo e a nós!” 40Mas o outro o repreendeu, dizendo: “Nem sequer temes a
Deus, tu que sofres a mesma condenação? 41Para nós, é justo, porque estamos
recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal”. 42E acrescentou:
“Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”. 43Jesus lhe
respondeu: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.
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O texto do evangelho
deste dia pertence
ao relato lucano da paixão de Jesus (Lc 21,1-23,56). O texto lido neste
domingo nos apresenta a realeza de Jesus, princípio de salvação. Do alto do seu
trono que é a Cruz, o Senhor cumpre o julgamento de Deus sobre os inimigos:
perdoa e doa o Reino também aos malfeitores. É um Rei que exercita a sua liberdade
no servir até a morte. O Senhor mostra até o fim, até a morte na Cruz, que seu único
poder é amar e perdoar. A realeza do Senhor revela a graça e a misericórdia de
Deus que não julga nem condena, mas perdoa e doa a vida pelos irmãos (cf. jo
15,13). A sua Cruz é revelação e proximidade de um Deus que é amor gratuito,
que em sua misericórdia se torna próximo para o homem pecador. Com sua morte,
Jesus é Cristo e Filho de Deus, Messias e Senhor, Salvador de todos. Na verdade,
Ele está próximo de todo perdido. Exatamente lá onde tememos a solidão
absoluta, descobrimos um Deus que nos oferece a sua solidariedade e a comunhão
com Ele que é a vida: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu Reino”,
disse um dos malfeitores crucificados ao lado de Jesus. A solidão é o único mal
do qual ninguém pode se salvar por si mesmo.
“Salva-te a ti mesmo” é o refrão
repetido no Gólgota. Esta expressão representa a suprema aspiração do homem
que, movido pelo medo da morte, procura se salvar desta a todo custo,
utilizando a estratégia do ter, do poder e de fama que são as tres tentações
iniciais do deserto (Lc 4,1-11). Mas exatamente esta “Salva-te a ti mesmo” com
sua ânsia de vida sem freio gera o egoismo, verdadeira morte do homem como
filho de Deus. Trata-se do falso modo de entender a vida e a morte. Por isso, o
nosso mal radical é o querer salvar a nos mesmos. Jesus, perdendo-se por nós a
fim de nos salvar, o vence. É preciso sair da armadilha da própria expectativa,
que pode termina na frustração, para colher a perspectiva de Deus a exemplo do
bom ladrão que foi salvo no último minuto de sua vida. O bom ladrão é um
malfeitor agraciado pela Cruz de Jesus.
De modo muito
simples e com
algumas peculiaridades em comparação com
os outros evangelhos,
Lucas relata a crucificação de Jesus, o sacrifício supremo
para a salvação da humanidade.
Através do seu
relato Lucas quer nos
dizer que
Jesus é o mártir, o justo
perseguido iniquamente e Aquele que se mostra misericordioso até o fim. Por isso, Lucas
sublinha bastante a inocência
de Jesus no processo de sua
condenação, no contexto
do processo romano,
para dizer que a responsabilidade
pela condenação
de Jesus recai sobre os ombros dos dirigentes.
Por esta razão
no relato de Lucas quatro vezes Pilatos declara publicamente a inocência de Jesus (Lc 23,4.14.20.22), como também o centurião faz ao pé
da cruz: “Realmente
este homem
era um
justo!” (Lc 23,47). Apesar disso, por
causa de sua bondade, por ser justo, Jesus se
oferece como fonte
de salvação para todos
aqueles que
O encontram no caminho da cruz. A sua inocência leva um dos malfeitores
à conversão total:
“Jesus lembra-te de mim quando entrares
no teu reinado”
(Lc 23,42).
Quantos inocentes,
quantas famílias, quantas pessoas são vítimas de uma calúnia, de um poder, de um interesse político e econômico!
Jesus continua sendo crucificado nestas pessoas.
A cruz de Jesus é uma lembrança permanente
de nossa crueldade
contra todos
os inocentes da sociedade.
Ao relatar a inocência
de Jesus com o reconhecimento
oficial da não-culpabilidade de Jesus,
Lucas quer eliminar
as suspeitas que
haviam contra as comunidades
cristãs que viviam dispersas no Império romano.
Além disto, com
a firmeza de Jesus na prática
da bondade até
o fim e aceita a morte
como justo
sem pactuar com a maldade,
Lucas pretende animar os cristãos
e todos os leitores
a fazerem o mesmo no seguimento
de Cristo. Lucas pretende educar
os cristãos e seus
leitores a serem testemunhas
valorosas de sua fé
a exemplo do supremo
Justo, Jesus Cristo.
Os cristãos devem estar
conscientes de que
a força para levar a cabo sua missão de testemunha começou a habitar
dentro dele a partir
do momento em
que aceitou Cristo
no Batismo.
No relato da Paixão e morte de Jesus havia também
dois outros
crucificados naquela ocasião. Lucas diz apenas que eram
malfeitores, enquanto
Mateus e Marcos
dizem que eram ladrões.
Todos os quatro
evangelistas nos
dizem que Jesus foi crucificado entre outros dois, evidentemente seu modo de ressaltar o fato de que ele foi
crucificado como se fosse um criminoso
(cf. Lc 22,37).
Lucas relata o povo em geral simplesmente observando. Execuções
eram funções populares
e sem dúvida
havia muitas pessoas presentes nesta. Mas,
nesse relato, eram as autoridades e não o povo, que zombavam de Jesus (cf. Sl 22,6-8). Elas empregam dois epítetos: O Cristo
de Deus e o Eleito/Escolhido. Essas duas
expressões indicam o favor
especial de Deus
e sem dúvida
estas pessoas estavam contrastando palavras que
falavam de favor com
a triste situação
real de Jesus ali
na cruz. Por
isso, a inscrição
“Este é o Rei
dos Judeus” que
foi colocada no alto da cruz era como um insulto final.
No entanto, há ironia
aqui, porque
embora Jesus não
fosse rei nos
termos da expectativa
popular, ele
era, apesar
de tudo, Rei
de Israel (leia o pedido de um dos crucificados no v. 42: ele
usa a expressão
“com teu
reino/
no teu reinado”). A existência do reinado
supõe a existência de um rei. Também é irônico
que essa inscrição
tenha sido o primeiro enunciado
que se escreveu a respeito
de Jesus e, provavelmente, a única coisa que se escreveu
a respeito de Jesus, em toda a sua vida terrena.
De acordo com
Mc 15,32, os criminosos que foram crucificados com
Jesus também o ridicularizaram. A versão de Lucas, entretanto,
é singular pelo
fato de apresentar
a conversa entre
Jesus e um dos malfeitores
e o insulto do outro.
Para esse outro malfeitor,
um Messias que morre na cruz
e não salva
a si mesmo
nem aqueles
que lutaram pela
sua causa,
representa uma insanável contradição. Merece tão-somente ironia
e desprezo. O verbo
escolhido pelo evangelista
é “insultar”,
que tem simultaneamente o sentido do escárnio e da irreverência.
Como sempre,
diante do escárnio,
Jesus não profere nenhuma palavra. Ao contrário,
o malfeitor que
vai fazer algum
pedido a Jesus (conhecido
popularmente como
Dimas ou “bom
ladrão” embora
nenhum ladrão
seja bom) repreendeu o outro pelo fato de este aderir aos insultos a
Jesus e diz a seu colega
que suas
sentenças eram justas,
mas a de Jesus, não.
Assim, outra
vez o leitor
recebe a informação de que Jesus é inocente.
“Nem sequer
temes a Deus?”, disse o “bom ladrão” (Lc
23,40). Para a Bíblia,
“não temer
a Deus” é a atitude
do estulto e do ímpio.
“Nem sequer”
parece introduzir um
agravante em
relação aos escárnios
dos chefes e dos soldados.
Diferentemente do primeiro malfeitor, esse
“bom ladrão”
confessa, sem atenuantes,
a sua culpa,
reconhece a inocência de Jesus e a ele faz uma oração
sincera: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares
no teu reinando” (Lc 23,42).
“Lembra-te de mim” é uma oração que, na tradição religiosa
bíblica e judaica, os moribundos e os homens
perseguidos pela desgraça
dirigem a Deus.
Portanto, através
das leituras deste dia
somos convidados a refletir
sobre a realeza
de Cristo. O Reino
de Cristo não
é constituído sobre a força, a violência,
e a imposição. A realeza
de Cristo se exerce no amor, no serviço,
no perdão e no dom
da vida, mesmo
que sofra injustamente
por causa de tudo isto. É o Reino de amor. Onde há amor,
há a paz, a alegria,
a fraternidade, o respeito
mútuo, o perdão
mútuo, enfim,
há o paraíso. Por
isso, quando
o homem ama,
vai ouvir a afirmação de Jesus: “Hoje tu estarás
comigo no Paraíso”.
O Paraíso é o estado
em que
todos se amam como
irmãos, pois Deus é o Pai
(Mt 6,9-13) e Amor (1Jo 4,8.16). Lucas quer, certamente,
nos relatar
uma vida gasta
de Jesus, até o fim
de sua “Caminhada”
terrena, ao serviço
do bem de todos,
ao serviço da construção
do Reino de amor.
Estendamos nossa meditação sobre
algumas mensagens do texto do evangelho
lido neste dia.
1. Jesus Cristo É O Nosso Amigo Em Qualquer Situação; É Aquele
Que Nos Compreende E Nos Perdoa
“Jesus, lembra-te de mim,
quando vieres com
teu Reino”
(Lc 23,42)
O “bom ladrão” chama Jesus pelo nome: “Jesus”. Ele sabe que com Jesus pode usar esta intimidade; sente-o como
amigo, pois chamar alguém pelo nome significa intimidade, amizade
e confiança. Diante
do amigo, ele
se sente seguro apesar
de seu sofrimento. Tão
grande é a humildade
do bom ladrão
arrependido que nem
tem coragem de pedir de
Jesus a salvação. Ele já se confessou culpado dos atos
pelos quais
estava sendo crucificado. O que agora quer é ser lembrado por
Jesus. Ele não
sabe orar bonito
com palavras
poéticas. Ele
pede a Jesus apenas para
ser lembrado: “Lembra-Te de mim
quando vieres no Teu
Reino”. Ele
considera Jesus como amigo que
compreende seu sofrimento. A única pessoa que reconhece em
Jesus o Rei esperado é este bom ladrão. Ele
sabia que sua
condenação pela
Corte Romana não seria seu último julgamento. Pois
ele reconhecia que
teria que prestar
contas a Deus
por seus
atos (cf. 1Cor
5,10). Por isso,
ele chamou a atenção
do seu colega
ao lado: ”Nem
ao menos temes a Deus?
Recebemos o castigo merecido. E este, nenhum mal fez”. Aqui,
através de sua
honesta confissão
de culpa é que
ele deu seu
primeiro passo
em direção à
salvação. Foi este o ponto
de partida para
a vida eterna.
Com uma solenidade Jesus abriu a boca somente para
o bom ladrão:
“Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo
no Paraíso” (Lc 23,43). O bom ladrão foi
praticamente o único que Jesus canonizou nesta terra.
Com este
gesto de solidariedade,
Jesus dá a salvação a quem crê e se
converte. Sofrendo e morrendo como homem, sentindo a dor
dos pregos e a humilhação
da nudez, na qualidade
de Filho de Deus,
Ele dirige uma promessa
solene ao ladrão
arrependido: em verdade.
Depois desta expressão
“em verdade”
Jesus sempre diz algo
muito importante.
Jesus também dá segurança
a esse ladrão
arrependido: “Eu te digo”. Aqui,
Jesus não reza, não
pede a Deus, ele
garante: “Eu te
digo”. Já que
o ladrão arrependido confia em Jesus prontamente:
“Jesus, lembra-te de mim”, Jesus também
responde com a sua
pessoa, assegurando-lhe uma vida
de comunhão com
ele: estarás comigo, e logo: “hoje”. A
um pedido
que remetia ao futuro:
“quando entrares
no teu reino”,
Jesus responde, remetendo ao presente: “hoje”. Tudo isto quer nos dizer que não há situação humana
de miséria e de pecado
que exclua alguém
da salvação; também para
o malfeitor que
morre por causa
de seus delitos
há esperança de futuro.
O Paraíso começa
a partir do momento
em que
alguém se converter.
Seu passado
se torna, assim,
como as letras
na areia: “Não
relembreis coisas passadas,
não olheis para
fatos antigos.
Eis que
eu farei coisas
novas, e que
estão surgindo; acaso não as reconheceis?” (Is 42,18-19b). Jesus na cruz não salva a si mesmo, mas os pecadores que
se convertem e confiam nele.
2. Contemplar A
Realeza De Cristo É Contemplar O Amor Vivido Até As Suas Últimas Conseqüências
“Jesus
lembra-te de mim quando
entrares no teu
reinado” (Lc 23,42).
O Reino de Deus é
um serviço
divino ao homem.
A bondade de Deus
tem como objetivo
a libertação total
do homem. Quem
entra neste Reino conhece o que é a liberdade.
E por isso,
este Reino
pede a mudança de coração
e que por
ela desemboca na libertação.
Este Reino
nos oferece a liberdade
do orgulho, da mentira
e do ódio; nos
ensina o caminho
do amor e da verdade;
nos convida para
a luta gozosa
a favor dos irmãos.
Neste Reino nos
é dado o Espírito
Santo que
muda as coisas
impossíveis. Entrar
no Reino de Deus,
que Jesus nos
trouxe, significa entrar no movimento
do amor de Cristo.
Onde há o amor,
reinam a justiça, a paz
e a alegria: “O Reino
de Deus não
consiste em comida
e bebida, mas
é justiça, paz
e alegria no Espírito
Santo” (Rm 14,17).
O evangelista Lucas quer dirigir um apelo aos cristãos das suas
e das nossas comunidades para
contemplarmos o nosso Rei pregado na cruz.
Diante d’Ele
torna-se ridículo qualquer
ambição de glória
de nossa parte,
qualquer vontade
de domínio, qualquer
desejo de alcançar
os primeiros lugares,
de receber aplausos,
elogios e títulos
honoríficos. Do alto
da cruz Jesus indica a todos que quem é o rei que Deus
escolhe: é aquele que
sabe que a única
maneira de dar
glória a Deus
é descendo ao último lugar
para servir o pobre, o excluído,
o abandonado; rei é aquele
que ama
a todos, inclusive
aqueles que
o combatem; rei é aquele
que perdoa sempre,
que salva
e que se deixa
derrotar por amor; rei é aquele serve ao bem e não ao interesse
próprio. A onipotência de Deus
não é a de domínio.
Ele é onipotente
porque ele
ama a todos
imensamente e se coloca sem limites e sem condições a
serviço do homem.
E vimos isso em
Jesus Cristo que
se inclina para lavar os pés dos discípulos
(Jo 13,1-20). Este é o autêntico semblante
do Deus onipotente,
o Rei do Universo.
Por isso,
religião e política
são chamadas
a dialogar, porque
a vida é única
e o homem, religioso
e político, é o mesmo.
É preciso resgatar
o homem de uma vida
sem futuro,
de uma vida sem
amor. Frente
às estruturas que
intentam reduzir o homem
a um produto
em série,
Jesus deixa bem
claro que
leis e estruturas
estão a serviço do homem
e não o contrário.
Diante da escravidão
de buscar o êxito
fácil, tão
freqüente em
nosso tempo,
Jesus propõe buscar o único
êxito que
merece a pena: o do Reino
de Deus; diante
da possibilidade de converter pedras
em pão, Jesus
recorda que não
somente de pão vive o homem, mas também da Palavra
de Deus (Mt 4,3ss).
“Lembra-te de mim” é uma oração que, na
tradição religiosa bíblica e judaica, os moribundos e os homens perseguidos
pela desgraça dirigem a Deus. A única pessoa que reconhece em
Jesus o Rei esperado é este bom ladrão. Ele sabia que sua condenação pela Corte
Romana não seria seu último julgamento. Pois ele reconhecia que teria que
prestar contas a Deus por seus atos (cf. 1Cor 5,10). Por isso, ele chamou a
atenção do seu colega ao lado: ”Nem ao menos temes a Deus? Recebemos o castigo
merecido. E este, nenhum mal fez”. Aqui, através de sua honesta confissão de
culpa é que ele deu seu primeiro passo em direção à salvação. Foi este o ponto
de partida para a vida eterna.
3. Somos Alertados Sobre A Outra Face
Da Misericórdia Divina
“Em
verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo
no Paraíso” (Lc 23,43). “’Hoje’, que rapidez!; ‘comigo’,
que companhia!;
‘no Paraíso’, que
descanso!” (Bossuet).
Diante da gozação
feita por um dos malfeitores
Jesus ficou calado. Mas
diante do pedido
de salvação do outro malfeitor: “Jesus lembra-te de mim
quando entrares
no teu reinado”,
Jesus abriu a boca e disse: “Em verdade eu te digo: ainda hoje tu estarás comigo
no Paraíso”. É em
Jesus em quem
se realiza o Hoje definitivo,
o dia da salvação. É verdadeiramente Boa
Notícia, a da salvação. É
verdadeiramente o anúncio da salvação por meio da cruz e da promessa que faz um Rei crucificado. O ministério
de Jesus está em função
do Reino de Deus
desde o início:
“O Reino de Deus
está próximo” (Lc 10,9) até
o final: “Hoje
mesmo tu
estarás comigo no Paraíso”
(Lc 23,43). O diálogo de Jesus na cruz com os dois malfeitores mostra que o arrependimento humano
e o perdão de Deus
são condições
fundamentais do Reino
de Deus. O bom
ladrão foi o último
em reconhecer
o senhorio de Jesus e o primeiro
a entrar no Reino.
Seu reconhecimento
da condição messiânica de Jesus é uma autêntica profissão
de fé.
Porém a partir deste fato,
estaríamos equivocados se, no episódio
dos dois malfeitores,
realçássemos somente a misericórdia
de Deus. Na verdade,
está fortemente presente
também o juízo,
que é a outra
face da misericórdia.
Um pecador
olha para
Jesus na cruz, pede perdão
e é acolhido no Seu reino.
Um outro
pecador olha
o mesmo Jesus na cruz
e o insulta. Por
que um
sim e o outro
não? Este
é o mistério do amor
de Deus e da liberdade
do homem, que
importa sempre recordar,
mas que
não se pode sondar,
a não ser cada um no interior de si mesmo. Diante
da cruz, como
de qualquer outro
gesto de Deus,
os êxitos possíveis
são dois: com o primeiro, para recordar que a misericórdia
de Deus está sempre
disponível; e com
o segundo, para
não esquecer
jamais aquele
santo temor
que nos
torna humildes
e vigilantes permanentemente.
“Em verdade
te digo, hoje
tu estarás comigo
no Paraíso”. Quando
começa o Paraíso?
Onde está ele?
O Paraíso começa
no dia, no momento
em que
o homem se arrepender
e receber o perdão
dos seus pecados.
Não pense que
o paraíso existe tão-somente após a morte. O Paraíso é a promessa que Deus faz a quem confessa Jesus Cristo
como seu
Senhor e a quem
se converte. Onde está este Paraíso? Em qualquer lugar onde
Jesus está, oferecendo seu perdão a quem o
pede.
Ouçamos esta palavra de Jesus na cruz: “Hoje
estarás comigo no paraíso”.
O novo nascimento é o início
de uma vida nova.
É necessário nascer de novo pela fé em Jesus Cristo como nosso Senhor e Salvador. Jesus é a nova
esperança para
quem perdeu a esperança.
Veja a condição do ladrão
arrependido: morrendo por causa
de seus pecados,
e sem ninguém
para ajudá-lo a sair de sua angústia. Ninguém, a não ser Jesus Cristo, o Senhor, o Único é capaz de socorrer o
condenado.
“Jesus, lembra-te de mim, quando entrares
no teu reino”.
É uma oração simples,
mas profunda
porque sai do fundo
do coração. Muitas vezes
nos preocupamos demais
com a forma
de orarmos, como se pelo
fato de usarmos uma linguagem
mais burilada é que
seremos ouvidos por
Deus. Deus
ouve é o coração, não
as palavras. Quando
o pobre publicano orou dizendo: ”Senhor Deus, tem piedade de mim,
pecador”, suas
palavras comoveram o Senhor.
A história do ladrão arrependido é a mesma
de cada um
de nós: quem
de nós não
foi malfeitor algumas vezes? Quem,
alguma vez, não
truncou a vida de algum
irmão: com
o ódio, as calúnias,
as maledicências, as injustiças, as fofocas,
os comentários maldosos?
Quem de nós
não provocou pequenos
ou grandes
desastres na sociedade,
na comunidade e na família,
na Igreja? Se estivéssemos sozinhos, o nosso
caminho nos
conduziria ao desespero. Mas está presente Jesus Cristo que nos acompanha e, por
isso, o nosso
caminho terminará com
certeza no paraíso.
E feliz qualquer
um de nós
que confessa que
Jesus Cristo é o seu
Senhor, o seu
Rei. Ele
está no Paraíso.
4. O Bom Ladrão
Nos Ensina A Olharmos Para Cristo Com Esperança
O ladrão arrependido é um bom modelo. Ele nos ensina a olhar para o Cristo
com olhos
profundos, inspirados pelo
Espírito de Deus,
com a convicção
de que esse
Cristo Jesus nos
está abrindo o caminho do Reino e todos nós que nos incorporamos a Ele
somos chamados a seu mesmo destino de vida e de realeza.
No Pai-nosso podemos dizer
hoje com
maior expressividade as palavras que
tantas vezes repetimos: “Venha a nós o Vosso Reino!”.
Olhando para a Cruz
entendemos o que quer
dizer que ele nos
precedeu, que ele
é nosso Caminho
e nossa Vida.
Deixemo-nos invadir pelo amor de Jesus para podermos
passar de nossa
pequena vida
ao Paraíso.
Somos chamados a crer profundamente
nesse Rei crucificado. Porém, crer não consiste unicamente em
afirmar que Deus existe. Crer significa
seguir a Jesus como
Senhor, comunicar e edificar seu Reino, acompanhá-lo nos
sofrimentos, reconhecê-lo como
crucificado entre malfeitores
e ressuscitado no Paraíso definitivo. O poder, ter e prazer são ídolos de todos os tempos.
Mas o Rei
crucificado nos convida a transformarmos
o poder em vocação de serviço,
o ter em
uma convocatória à solidariedade, e o prazer em uma chamada ao amor
gratuito, preferencialmente
aos mais necessitados. Se o Reino de Deus
estiver dentro de nós
e nos deixarmos inspirar
por ele,
sem dúvida
nenhuma, nossos pés,
nossas mãos, nosso
pensar e sentir serão atraídos pelos
gritos e silêncios
da humanidade.
P. Vitus
Gustama,SVD
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