VIVER NO
Primeira
Leitura: Is 1,10.16-20
10 Ouvi a palavra do Senhor, magistrados de Sodoma, prestai ouvidos ao ensinamento do nosso Deus, povo de Gomorra. 16 Lavai-vos, purificai-vos. Tirai a maldade de vossas ações de minha frente. Deixai de fazer o mal! 17 Aprendei a fazer o bem! Procurai o direito, corrigi o opressor. Julgai a causa do órfão, defendei a viúva. 18 Vinde, debatamos — diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, tornar-se-ão brancos como a neve. Se forem vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como lã. 19 Se consentirdes em obedecer, comereis as coisas boas da terra. 20 Mas se recusardes e vos rebelardes, pela espada sereis devorados, porque a boca do Senhor falou!
Evangelho:
Mt 23,1-12
Naquele
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A Verdadeira Conversão Consiste Na Prática Do Bem e Da Justiça
O texto da Primeira Leitura é um dos oráculos do profeta Isaías.Este oráculo remonta aos primeiros anos do ministério do profeta Isaías e ataca, no colorido estilo de Amós (Am 5, 14-21), contra a hipocrisia religiosa do povo, isto é, contra a religião formalista, externa e vazia, sem amor fraterno, contra o culto sem justiça. O culto legítimo não pode coexistir com a injustiça. O culto verdadeiro tem a ver com a prática da justiça. É aquela religião que caiu no culto literal da fórmula, do rito e do sinal vazios, sem fé e sem amor. Além disso, essas fórmulas religiosas eram usadas para oprimir os necessitados. Do mesmo modo, no Evangelho de hoje, Jesus condena duramente os fariseus que “dizem e não fazem” (hipocrisia religiosa). Trata-se da condenação pronunciada por Jesus uns séculos depois do profeta Isaías. Dai a importância da conversão. E o convite à conversão não é só e simplesmente a palavra de um homem. Tampouco é uma pregação de ordem moral. O convite à conversão procede de Deus. Os comportamentos ou as condutas interessam a Deus.
“Ouvi a palavra do Senhor, magistrados de Sodoma, prestai ouvidos ao ensinamento do nosso Deus, povo de Gomorra. Lavai-vos, purificai-vos. Tirai a maldade de vossas ações de minha frente. Deixai de fazer o mal! Aprendei a fazer o bem! Procurai o direito, corrigi o opressor. Julgai a causa do órfão, defendei a viúva”. Uma das características da Quaresma é penitencial (conversão). Qando se fala da conversão é porque há pecado cometido por nós. Este tema sempre aparece nas leituras durante a Quaresma, como lemos nas leituras de hoje.
O pecado é sempre um afastamento; é um desandar. Com o pecado se estabelecem distâncias, se abandona a casa paterna. A conversão, a oração e as obras de caridade elevam, ao contrário, a terra ao céu. Por Jesus sabemos que o Pai continua nos esperando nossa volta: conversão, como o pai que espera a volta do filho pródigo. A conversão implica um duplo movimento. O movimento do pecador que se volta para Deus. Este movimento cria a liberdade. E o movimento de Deus que abre o caminho do retorno. O movimento de Deus que possibilita nossa volta chama-se a Graça. É voltar a fazer o bem e viver conforme a justiça de Deus que consiste no amor mútuo como irmãos.
A Primeira Leitura de hoje nos enfatiza que fazer o bem e buscar a justiça, tornando a própria a causa do pobre são manifestações de que o homem realmente deseja retornar ao Senhor, arrependido de seus pecados. A conversão profunda faz nascer um amor libertador. O amor que se libera para o bem dos outros é o amor que se mantém.
Este oráculo, que lemos na Primeira Leitura de hoje, remonta aos primeiros anos do ministério do profeta Isaías. Neste oráculo, o profeta Isaías ataca a hipocrisia religiosa do povo e de seus dirigentes. O povo pensa que vai dar muito prazer a Deus quando lota de gente os átrios de seu templo com oferendas tão opulentas. Mas a impureza moral daqueles que oferecem os sacrifícios é tão repugnante/nojenta que Deus não pode tolerar essa religião sem fé. Trata-se de um oráculo contra a religião formalista, externa e vazia, sem amor. Este povo podre é representado por duas cidades, Sodoma e Gomorra, que se aproveitam das fórmulas religiosas para oprimir e explorar os necessitados.
O profeta exorta o povo a mudar de conduta e assinala em que consiste a verdadeira religião: em obras de amor sincero que se expressa na prática do bem e da justiça, e na defesa do oprimido, como lemos nos textos de Isaías nos dias da semana de Cinzas: “Lavai-vos, purificai-vos. Tirai a maldade de vossas ações de minha frente. Deixai de fazer o mal! Aprendei a fazer o bem! Procurai o direito, corrigi o opressor. Julgai a causa do órfão, defendei a viúva”, assim escreveu o profeta. A verdadeira penitência consiste na procura do bem e da justiça. Caso contrário, o culto careceria de sentido. A boa relação com Deus se mede pela boa relação com o próximo. O meu tratamento com o próximo será usado como critério para o meu julgamento final (cf. Mt 25,31-46). Por isso, há uma possibilidade de Deus aceitar o culto: que o povo se converta acolhendo os pobres nas suas necessidades que são representados pelos órfãos e viúvas.
Não estamos longe da atitude do povo da época do profeta Isaías. Temos o perigo de que nosso culto a Deus pode se situar apenas no plano de um religião sem fé. O rito, o culto deve traduzir sempre a conversão pessoal e a da comunidade.
A prática do amor fraterno é a essência da religião ou o espírito da religião. Uma religião sem o compromisso com o amor fraterno e sem o compromisso de uma conduta coerente é um ópio que adormece a própria consciência e um instrumento que engana os outros. Deus se importa menos com a religião que seus adeptos praticam do que com o amor fraterno que eles vivem (cf. Mt 25,31-46). Fiquemos atentos para que nossa prática religiosa não seja mais importante do que o próprio Deus e nosso próximo.
É
Preciso Ter Coerência Entre Fé e Vida
“Os escribas e os fariseus estão sentados na cátedra de Moisés. Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam”, disse Jesus.
A “cátedra de Moisés” é o lugar onde os profetas se sentavam para ensinar segundo aparece em Dt 18,15.18. Este símbolo da tradição judaica, de onde foram dadas as leis que o povo assumiu como mandadas por Deus, foi usurpado pelos poderosos para acomodar as regras à própria vontade e não conforme a vontade de Deus. O que menos importava para os manipuladores da Lei era a vida do povo.
Será que os nossos governantes também menos importam a vida do povo para pensar somente na defesa do próprio interesse egoísta? Será que os escribas e os fariseus da época de Jesus continuam vivendo entre nós? Quem pode, como Jesus, gritar em nome do povo sofredor para os manipuladores da vida do povo?
No evangelho de hoje, Jesus condena duramente os fariseus “que dizem e não fazem”. Nossas palavras não podem ultrapassar nossa vida ou nossas ações para não nos tornarmos hipócritas. O que menos importava para os manipuladores da Lei (os escribas e fariseus) era a vida do povo. A grandeza na nova forma de vida inaugurada por Jesus se baseava no serviço, especialmente aos pobres, aos simples e aos que não tinham nenhum privilegio, pois deles não se esperava nada de troca: “O maior dentre vós deve ser aquele que vos serve”. “Prestar serviço sem humildade é, ao mesmo tempo, egoísmo e egocentrismo” (Mahatma Gandhi). O objetivo da crítica de ambos (Isaias e Jesus) é provocar a conversão nos seus ouvintes. Uma religião sem fé e sem amor não leva ninguém para o céu.
Uma
A
É
A
A
A Palavra de Deus proclamada hoje nos chama à conversão que se traduz no serviço despretensioso. Viver em estado permanente de conversão é a lei de crescimento para qualquer pessoa que acredita em Deus. “Quem não reconhecer seus pecados ata-os às costas como uma mochila e põe em evidência os pecados dos outros. Não por diligência, mas por inveja. Acusando o próximo, procura esquecer a si mesmo” (Santo Agostinho. In ps. 100,3). O móvel da conversão não é tanto a ameaça de castigo ou de perder a salvação, quanto a fascinação de penetrar na vida do amor trinitário divino. A conversão conduz as pessoas juntas à maturidade espiritual, que se reflete em sua aversão ao mal e sua atração pelo bem.
Se quisermos mostrar nossa fé aos outros não digamos em quantas verdades acreditamos; precisamos mostrar aos outros como vivemos o amor fraterno. Não nos transformamos em crentes ou fieis quando mudamos apenas nossa forma de pensar, e sim quando mudamos nossa forma de viver na fraternidade. Quando deixamos de acreditar em Deus com nossa forma de viver, começaremos a venerar muitos ídolos e explorar e oprimir os mais fracos da sociedade.
Se nosso Deus só vende
seguros para depois da morte e não tem respostas para esta vida, muitos não vão
querer partilhar de nossa fé. Creio que muitos ateus não se opõem a Deus e sim
se opõem às caricaturas de Deus que os crentes ou fieis lhes mostram.
P.
Vitus Gustama,svd
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