É
PRECISO VIVER AQUI NA TERRA COMO NO CÉU: VIVER NO AMOR FRATERNO
Primeira
Leitura: Jr 17,5-10
5 Isto diz o Senhor: “Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto o seu coração se afasta do Senhor; 6 como os cardos no deserto, ele não vê chegar a floração, prefere vegetar-se na secura do ermo, em região salobra e desabitada. 7 Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor; 8 é como a árvore plantada junto às águas, que estende as raízes em busca da umidade, por isso não teme a chegada do calor: sua folhagem mantém-se verde, não sofre míngua em tempo de seca e nunca deixa de dar frutos. 9 Em tudo é enganador o coração, e isto é incurável; quem poderá conhecê-lo? 10 Eu sou o Senhor, que perscruto o coração e provo os sentimentos, que dou a cada qual conforme o seu proceder e conforme o fruto de suas obras”.
Evangelho:
Lc 16,19-31
Naquele
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É Preciso Enraizar-Se No Senhor Para Poder Produzir Bons Frutos Na Vida
“Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto o seu coração se afasta do Senhor”. Convém esclarecer que aqui não se fala do homem “como mediador” entre Deus e os homens, e sim se refere às qualidades, às forças e às seguranças humanas, aos meios humanos, sejam os meus, sejam os dos outros. No campo espiritual, o pôr a confiança unicamente nas “coisas humanas” termina em fracasso seguro. Por isso, o rico, o satisfeito, aquele que ri e aquele que é louvado é chamado “maldito” não porque seja rico, satisfeito e sim porque põe sua segurança em sua riqueza, em sua satisfação, em sua diversão, em seu louvor humano. Ou seja, confia em si em suas coisas e não em Deus que criou todas as coisas. Ele corre apenas atrás das coisas de Deus e não atrás do Deus das coisas, e por isso, acaba sendo perdido ou maldito. Igualmente, aquele que confia no homem ou em si mesmo é “como os cardos no deserto, ele não vê chegar a floração, prefere vegetar na secura do ermo, em região salobra e desabitada”, seco e sem fruto. Ou seja uma vida estéril, improdutiva para o Reino de Cristo. O homem jamais pode se esquecer que tudo o que ele é e tudo o que ele tem, menos o pecado, pertence a Deus. Infelizmente, o homem corre somente atrás das coisas criadas e se esquece do Criador das coisas. Quem está cheio somente de coisas é porque está vazio de Deus.
Quaresma nos propõe uma graça, um dom de Deus. Mas ela nos anuncia também juízo. Quando seguimos o bom caminho, ficamos muito felizes e nossa vida se torna fecunda. Quando desviamos nossa atenção e nos deixamos seduzir por outros caminhos (caminho do mal) que não eram os caminhos de Deus, nossa vida se torna estéril e seremos cruz para a convivência.
De forma simples, como no Salmo 1 que é posterior, se faz aqui (Primeira Leitura) uma contraposição entre os “dois caminhos”: o caminho que os justos seguem e o caminho dos ímpios.
Os ímpios são uns néscios que põem sua confiança somente nos homens e na debilidade da carne. A vida deles é igual a um deserto onde nada se produz de bom. Por isso, sobre eles recai a maldição de Deus, segundo o profeta Jeremias. Mas Deus bendiz os que põem n´Ele toda sua confiança. Os justos são como árvore plantado à beira do rio que produz seus bons frutos permanentemente. Deus é como um rio para as raízes de uma árvore ou como a rocha para os fundamentos de uma casa. Aderir-se a Deus, à Verdade viva, é crer n´Ele, confiar n´Ele, amá-Lo sobre todas as coisas. É algo muito distinto a um conhecimento teórico.
Nossa confiança deve apoiar-se no Senhor e não na força humana (cf. 2Crônicos 32,8). Quem em si mesmo confia, encontra-se com a maldição porque os homens, inclusive os nobres e os inteligentes, não podem se salvar (cf. Sl 1171/18),8; 145/146),3). Seu fim é a morte, como a morte dos cardos no deserto. Por contraposição, é elogiado o homem que põe sua confiança e se refugia no Senhor (Sl 2,12; 33/34,9; 39/40,5; 145/146,5) e n´Ele põe seu apoio. Seu fim é a vida, a salvação, como a árvore plantada junto à corrente de água que permanece verde. O homem feliz e que dá fruto é aquele cuja vida está enraizada numa firme confiança em Deus. Contrapõe-se a atitude orgulhoso e prepotente de confiar em si mesmo ou nos homens débeis e propensos ao pecado (carne).
E nós, em quem pomos nossa confiança? No poder de nossa força, do poder do partido político, na força da guerra?
Em Jr 17,5-11 encontramos três oráculos sapienciais. O primeiro, Jr 17,5-8 nos alerta para não basearmos nossa vida e salvação sobre o homem mortal. O segundo, Jr 17,9-10 nos relembra que o homem é capaz de enganar-se e enganar os outros. Mas somente o Senhor pode entrar no coração de cada homem. Por isso, é preciso confiar totalmente no Senhor que conhece o coração de cada homem. E o terceiro, Jr 17,11: ninguém pode se apoiar nas riquezas, pois trata-se de uma base enganadora. As coisas materiais, mesmo necessárias para a vida do homem, pertencem ao mundo e por isso, vão ser deixadas aqui neste mundo, assim que terminar nossa peregrinação nesta terra.
Na
Primeira Leitura encontramos os dois oráculos sapienciais. Estes dois oráculos
convidam os homens a confiarem no Senhor ou a enraizar-se no Senhor. Estes dois
oráculos contrapõe o justo ao ímpio numa série de comparações muito sugestivas
como a da árvore.
A corrente sapiencial utiliza muitas vezes o tema da árvore da vida, visando sob essa imagem a vida moral do homem, produtora de frutos de longa vida e de fidelidade: “O fruto do justo é uma árvore de vida; o que conquista as almas é sábio” (Pr 11,30; cf. Pr 3,18; 13,12; 15,4).
A corrente profética aplica o tema da árvore e de seus frutos a todo o povo, na medida de sua fidelidade à Aliança, e Deus destrói a árvore que não dá bons frutos (cf. Is 5,1-7; Jr 2,21; Ez 15; 19,10-14; Sl 79/80,9-20; veja Mt 3,10).
Na evolução dessas diversas correntes, o Justo é comparado, por sua vez, a uma árvore que dá frutos saborosos como lemos no Sl 1: “Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores... Ele é como a árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende, prospera” (Sl 1, 1.3; Cf. Sl 91/92, 13-14; Ct 2,1-3 etc.).
Ao personalizar este tem o evangelista João faz do próprio Cristo a árvore que dá fruto (Jo 15,1-6). Todo aquele que se enraizar em Cristo ou que permanecer no tronco (Cristo) vai poder produzir bons frutos. E os frutos que podemos produzir, ao nos ligar à árvore da vida que é o próprio Cristo, são os “frutos do Espirito Santo”: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio (Gl 5,22-23).
Vale a pena cada um perguntar-se: Que tipo de árvore sou eu? Que frutos tenho produzido? Ou sou uma árvore estéril? Se for assim já chegou o momento oportuno para voltar a enraizar-se em Cristo através da conversão para voltar a produzir bons frutos.
A Riqueza Mal Usada Fecha a Porta Do Céu
Estamos acompanhando Jesus no seu Caminho (êxodo) para Jerusalém onde ele será crucificado, morto e ressuscitado (Lc 9,51-19,28). Na passagem do evangelho deste dia Jesus fala sobre o perigo da riqueza/bens materiais ou de dinheiro. Este tema é repetido no evangelho de Lucas para enfatizar o peso do conteúdo que quer se passar para os ouvintes para que tenham consciência disso.
A narrativa (parábola) sobre o rico e o pobre Lázaro coloca o além (o Céu) como horizonte do aquem (aquilo que se vive neste mundo). a colheita depende daquilo que se planta. Presente e futuro não se negam. Eles (presente e futuro) estão em continuidade ou em contraposição, como a semente a colheita. Aqueles que querem o Céu devem viver aqui neste mundo como no Céu, isto é, viver por, para, com e no amor fraterno, pois “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16).
Ao contra a parábola sobre o rico e Lázaro, Jesus não faz um julgamento, mas um ato de correção fraterna para com os ricos, antes que seja tarde demais, pois Jesus veio não para julgar e sim para salvar. O sentido dessa narrativa corresponde ao de Mt 25,31-46 ( sobre julgamento final). São Tiago, na sua Carta, nos alerta: “O julgamento vai ser sem misericórdia para quem não praticou misericórdia; a misericórdia, porém, triunfa sobre o julgamento” (Tg 2,13; cf. Tb 12,9). O Livro de Tobias nos sugere: “Mais vale dar esmola do que acumular tesouros de ouro” (Tb 12,8). Dar esmola ou praticar a caridade faz parte do programa da quaresma, que foi colocado logo na Quarta-feira de Cinzas, o início de nossa caminhada quaresmal.
O homem é sempre tentado a buscar sua salvação nos bens, a pôr nas riquezas sua segurança. O cristão deve estar vigilante contra essa tentação insidiosa /cheia de ciladas. Os bens não asseguram nem a mesma vida, menos ainda a salvação. A riqueza é capaz de converter quem a tem em uma pessoa autossuficiente com o coração fechado à chamada de Deus para viver o amor fraterno e a justiça social. O apego aos bens passageiros faz qualquer um perder o sentido de Deus na sua vida, o sentido do homem (indiferença) e o sentido da própria liberdade. Jesus quer nos advertir que se agora o coração for incapaz de viver a conversão que se traduz na vivência do amor fraterno e da justiça social, também será incapaz de receber a felicidade da glória eterna. Somos donos de nossa própria história, mas não temos a última palavra sobre a nossa história. É Deus quem tem a última palavra. O juízo é dele.
Quem põe a mão sobre o dinheiro, põe sua mão sobre as pessoas. Podemos tomar o dinheiro e usá-lo para ajudar as pessoas, podemos também usá-lo para que as pessoas estejam sob o nosso domínio.
Os bens materiais por si, não são bons nem maus. Mas eles se fazem maus quando os transformamos no objetivo da vida, no único bom. Toda a história humana nos mostra como as riquezas e o poder endurecem o coração do homem e o fazem sensível diante da dor do próximo, inclusive dos próprios pais, familiares e amigos. O ter muito pode endurecer o coração e anestesiar a memória e os bons desejos.
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Em vez da ganância e do consumismo egoísta das coisas deste mundo somos chamados a nos vestir de despojamento e de solidariedade. Saber ajudar os outros com o que temos e somos é a expressão de nossa riqueza interior. “Posso dizer que as alegrias mais belas e espontâneas, que vi ao longo da minha vida, são as alegrias de pessoas muito pobres que têm pouco a que se agarrar. Recordo também a alegria genuína daqueles que, mesmo no meio de grandes compromissos profissionais, souberam conservar um coração crente, generoso e simples. De várias maneiras, estas alegrias bebem na fonte do amor maior, que é o de Deus, a nós manifestado em Jesus Cristo” (Papa Francisco: Evangelii Gaudium no.7). Uma das piedades cristãs que devemos praticar principalmente durante a Quaresma é a caridade fraterna: solidarizar-se com os necessitados.
O rico da parábola que representa outros ricos do seu tipo quer nos dizer que o egoísmo de muitos ricos, sua falsa segurança, sua irreligiosidade, o fechamento de seu coração acabam por fazer todos eles incapazes de ler os sinais de Deus. A morte não lhes diz nada; nem a ressurreição de um morto chegaria a convencê-los. Perderam o hábito de ver os sinais que Deus lhes mostra em sua vida cotidiana. O fato de reclamar sinais é apenas um falso pretexto: “Se não escutam a Moises, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos”.
Na vida terrena o rico não via o pobre Lázaro ou fingia não ver. Quem não vê o pobre, não será visto por Deus. Quem não estende a mão para o pobre a fim de ajudá-lo, também para ele não será estendida a mão de Deus para abençoá-lo. “O inferno é o sofrimento de não poder mais amar” (Dostoievski).
Senhor, que nenhuma riqueza material, espiritual, intelectual feche meu coração para captar os sinais que me emite diariamente. Conserve-me aberto e disponível diante do seu apelo cotidiano. Que eu seja pobre no espirito. Que eu não feche meu coração diante da necessidade do meu próximo. Dê-me, Senhor, um coração solidário! Assim seja!
P.
Vitus Gustama,svd
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