quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

III Domingo Da Quaresma Do Ano "B",03/03/2024

JESUS É O NOVO TEMPLO DE DEUS NO QUAL ENCONTRAMOS A SALVAÇÃO  

III DOMINGO DA QUARESMA ANO “B”

Primeira Leitura: Êx 20,1-17

Naqueles dias, 1 Deus pronunciou todas estas palavras: 2 ”Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão. 3 Não terás outros deuses além de mim. 4 Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que existe em cima, nos céus, ou embaixo, na terra, ou do que existe nas águas, debaixo da terra. 5 Não te prostrarás diante destes deuses nem lhes prestarás culto, pois eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento. Castigo a culpa dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração dos que me odeiam, 6 mas uso da misericórdia por mil gerações com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos. 7 Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não deixará sem castigo quem pronunciar seu nome em vão. 8 Lembra-te de santificar o dia de sábado. 9 Trabalharás durante seis dias e farás todos os teus trabalhos, 10 mas o sétimo dia é sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu gado, nem o estrangeiro que vive em tuas cidades. 11 Porque o Senhor fez em seis dias o céu e a terra, o mar e tudo o que eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso o Senhor abençoou o dia do sábado e o santificou. 12 Honra teu pai e tua mãe, para que vivas longos anos na terra que o Senhor teu Deus te dará. 13 Não matarás. 14 Não cometerás adultério. 15 Não furtarás. 16 Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. 17 Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença”.

Segunda Leitura: 1Cor 1,22-25

Irmãos: 22 Os judeus pedem sinais milagrosos, os gregos procuram sabedoria; 23 nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos. 24 Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, esse Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus. 25 Pois o que é dito insensatez de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.

Evangelho: Jo 2,13-25

13Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém.14No Templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados.  15Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. 16E disse aos que vendiam pombas: “Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” 17Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”.  18Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para agir assim?” 19Ele respondeu: “Destruí este Templo, e em três dias eu o levantarei”. 20Os judeus disseram: “Quarenta e seus anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias?” 21Mas Jesus estava falando do Templo do seu corpo. 22Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele. 23Jesus estava em Jerusalém durante a festa da Páscoa. Vendo os sinais que realizava, muitos creram no seu nome. 24Mas Jesus não lhes dava crédito, pois ele conhecia a todos; 25e não precisava do testemunho de ninguém acerca do ser humano, porque ele conhecia o homem por dentro.

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  O relato da “purificação do Templo” (sinóticos) ou da “substituição do Templo” (evangelho de João) se encontra também nos evangelhos sinóticos (cf. Mc 11,15-19; Mt 21,10-17; Lc 19,45-48). Mas o quarto evangelho (Evangelho de João) tem suas próprias acentuações. Os sinóticos colocam este episódio na última semana da atividade de Jesus em Jerusalém, antes de sua crucificação. O quarto Evangelho (evangelho de João) coloca o mesmo episódio logo no início da vida pública de Jesus. Isto quer nos dizer que para o quarto evangelho este episódio é um gesto programático que, como tal, deve figurar ao princípio da atividade de Jesus (compare Lc 4,16-30).          

O episódio é introduzido mediante a afirmação sobre a proximidade da festa judaica da Páscoa: “Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém”.  A expressão “a Páscoa dos judeus” não é usual, pois no Antigo Testamento se falava sempre de “Páscoa do Senhor(Ex 12,11-48; Lv 23,5; Nm 9,10.14). Esta expressão já mostra para os leitores que a Páscoa nas mãos do clero (autoridades religiosas em Jerusalém) não é mais a festa da libertação da escravidão, mas uma Páscoa em benefício dos “judeus” (“Páscoa dos judeus”), dos chefes religiosos que, para manter seu poder, tentarão de todas as formas impedir o êxodo de Jesus. Para Jesus, o próprio culto é uma forma de injustiça, um meio de exploração do povo.

Os cordeiros, que deviam apresentar determinadas carcaterísticas e ser sem defeitos (Ex 12,5), eram comprados no mercado situado aos pés do monte das Oliveiras, de propriedade da família do sumo sacerdote, o poderoso Ananias, que detinha também o aluguel dos abatedouros de Jerusalém: mais que o cordeiro, a verdadeira vítima sacrifical era o pobre peregrino, obrigado a compar este tipo de animal para o sacrifício (não tinha como trazer de tão longe um cordeiro para ser sacrificado em Jerusalém). A festa da Páscoa era, então, ocasião de enriquecimento por parte do clero e de exploração do povo, vítima e cúmplice de um sistema de poder que se considerava procedente de Deus e, portanto, imutável e indiscutível. O profeta Amos denuncia todo este tipo de sacrifício como inútil diante de Deus (cf. Am 5,21-23). 

Esta forma de mencionar a festa principal dos judeus (Páscoa dos judeus) indica a distância e a separação entre o objetivo da festa e a prática atual dos chefes judeus da época. A Páscoa era uma festa de libertação. Ela evocava o passo da escravidão à libertação (cf. Ex 12,17;13,10). Em tempos de opressão, o pensamento da libertação se acentuava mais. Mas ao desviar-se do próprio objetivo da festa (não é mais uma festa de libertação), surgia inevitavelmente a idéia de uma nova libertação, o novo êxodo.

Nesse ambiente Jesus comparece, como verdadeiro santuário de Deus (Jo 1,14) e verdadeiro Cordeiro Pascal (Jo 1,29: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo), e imediatamente, surge o conflito. De fato, o Messias, o próprio Cordeiro de Deus, tendo entrado no Templo, não encontra pessoas em oração e sim comércio e interesses: vendedores de bois e ovelhas e pombos e os cambistas instalados (Jo 2,14). 

A reação de Jesus é inesperada e violenta: “Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas” (Jo 2,15).

O “Chicote” era símbolo das dores que teriam acompanhado os tempos do Messias, representado com uma vara para fustigar os pecadores (Is 10,26). Jesus se apresenta com o chicote na mão, porém não para fustigar aqueles que eram considerados pelo sistema como pecadores, os excluidos do Templo, e sim aqueles que são a própria alma do santuário. A ação de Jesus é dirigida contra o sistema econômico do Templo (que explora o povo), considerado naquela época o maior banco de todo o Oriente Médio cujo valor era incalculável (veja 2Macabeus 3,6). Jesus expulsa “todos” do Templo, não somente os comerciantes, mas também aqueles que compram (cf. Mt 21,12; Mc 11,15).

A ação de Jesus, no evangelho de João, não está voltado para a purificação do lugar do culto (para os sinóticos, sim), e sim para a sua eliminação. Na nova Aliança inagurada por Jesus, não é mais o homem quem deve oferecer ao Senhor, mas o Pai que oferece o Filho para a salvação da humanidade (Jo 3,16).  Deus não pede sacrifício e sim a acolhida do seu amor (Os 6,6; Jr 7,22). As palavras e gestos de Jesus recordam os do profeta Jeremias, o profeta que ousou definir o santuário como “espelunca ou caverna de bandidos” e anunciava a sua destruição (Jr 7,11.14). O Templo (de Jerusalém), que é o símbolo e a síntese do sistema religioso, a partir de agora será “substituído” ou suplantado pela presença de Jesus. No Reino de Deus, que Jesus veio realizar, não há lugar para “nenhum Templo, porque o Senhor, Deus onipotente, e o Cordeiro são o seu Templo” (Ap 21,22). Não é por acaso que este episódio se coloca logo depois do primeiro sinal, no início da vida pública de Jesus, (Jo 2,1-11: a água foi trasnformada em vinho muito bom) que simboliza as núpcias de Deus com sua comunidade no tempo final. No evangelho de João, Jesus elimina o Templo.

E desde início de sua atividade Jesus é o “lugar santíssimo” de Deus. Jesus é Deus; Ele é a Palavra de Deus feita carne; Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; Ele é o Pão da Vida; Ele tem palavras de vida eterna; Ele é o Bom Pastor e Porta das Ovelhas; Ele é a Ressurreição e a Vida; Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida; Ele é a verdadeira Videira; Ele é “Meu Senhor e Meu Deus”. Jesus é tudo para qualquer homem que queira viver uma vida com sentido e uma vida que terminará na ressurreição. Ou na linguagem de são Paulo na segunda leitura de hoje: “...para os que são chamados, tanto judeus como gregos, esse Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Cor 1,1,24). E como “hálitos de Deus” e seguidores de Jesus somos templos vivos de Deus (1Cor 3,16-17; 6,19) no Templo maior que é o próprio Cristo.

Podemos ordenar tudo isso nas seguintes reflexões:

1. O Que o Templo de Jerusalém representa Para Os Judeus?

No Templo, Jesus encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas”.          

Ao presenciar o ato de Jesus expulsar os vendedores, os judeus, com muita raiva, lançam a seguinte pergunta: “Que sinal nos mostras para agir assim?”

Para entender a raiva das autoridades em Jerusalém sobre o ato de Jesus de expulsar os vendilhões do Templo, precisamos saber a função do Templo de Jerusalém.       

Em primeiro lugar, o Templo de Jerusalém era considerado como lugar da presença de Deus. Era o único templo que os judeus tinham no mundo todo para prestar culto a Deus. A fé na presença de Deus em seu Templo é a razão do culto que aí é celebrado e das iniciativas dos fiéis. A certeza de que Deus habita no Templo se expressa, especialmente nos Salmos (cf. Sl 27,4;42,5;76,3;84 inteiro;122,1-4;132,13-14;134inteiro, etc.). Além disto, o Deuteronômio destaca a eleição do lugar que Deus escolheu entre todas as tribos para aí colocar seu nome (Dt 12,5). Como tal, o Templo era o centro do poder religioso onde os sumos sacerdotes controlavam a fé e a religiosidade de todos os judeus que iam ao Templo (para: rezar, levar as primícias dos animais e frutos da terra, oferecer sacrifícios diários para expiar os pecados, pagar os impostos, e participar das festas principais). O Templo de Jerusalém era, também, o centro de estudos religioso, teológico e jurídico do judaísmo.          

Em segundo lugar, o Templo de Jerusalém era o centro do poder econômico, pois funcionava como o maior banco, empresa importadora e casa de câmbio. Lá aconteciam o comércio dos animais sacrificados, o pagamento de imposto e dos votos e promessas, o câmbio de moeda estrangeira (a moeda estrangeira era considerada impura. Mas os cambistas ficavam com a moeda impura!) etc.     

Em terceiro lugar, o Templo era o centro político. O Templo era a sede do Sinédrio que tinha em suas mãos o governo político e religioso de Israel. O Sinédrio (composto de 70 membros pertencentes a três grupos: a aristocracia sacerdotal, a aristocracia leiga e os doutores da Lei) era presidido pelo sumo sacerdote desde o tempo de Anás (ano 4 a . C). Ao Sinédrio competia o poder ordinário, religioso e civil em tudo que se referia à Lei judaica(Mc 14,53), a responsabilidade, em parte, pela ordem pública(Jo 7,32;18,3.12), a administração do Templo, a legislação para toda a Judéia, inclusive explicitação das leis religiosas obrigatoriamente para todos os judeus e julgar as causas extraordinárias(funciona como o tribunal supremo).          

Estes três aspectos (religioso, econômico e político) estavam intimamente relacionados entre si e com toda a vida de Jerusalém e do país. Por isso, questionar um deles significava atacar os outros dois. 

2. Jesus Questiona O Que O Templo Representa       

Jesus foi educado a respeitar o Templo (Lc 2,22.41-42.46), subiu a Jerusalém para celebrar a Páscoa (Jo 2,13), pagou seu tributo ao Templo (Mt 17,23-26)etc..          

O evangelho diz que Jesus vai ao Templo por ocasião da festa da Páscoa (Jo 2,13). A Páscoa judaica é uma festa que celebra a libertação do povo de Deus do Egito: o fim da escravidão e a origem de Israel como povo de Deus, povo da Aliança. Por isso, é uma festa principal para os judeus. A Páscoa também era uma festa familiar, celebrada na casa de família, na qual a parte principal cabe ao pai (Ex 12,1-11).          

Ao ver os negociantes de bois, ovelhas e pombas e os cambistas no Templo Jesus faz um chicote para expulsá-los e diz: “Tirai tudo isto daqui;  não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio” (v.16).          

O que tem por trás do gesto de Jesus?       

Em primeiro lugar, a Páscoa que era uma festa familiar e festa de libertação se transforma numa festa da maior exploração. Os peregrinos que vêm de longe não podem trazer consigo os animais para ser sacrificados. Eles compram os animais no próprio Templo. E dono dos animais são os latifundiários pertencentes à elite religiosa. A Páscoa para eles é o momento de lucro, pois eles aumentam o preço dos animais exageradamente. E os peregrinos não têm outra opção a não ser comprar esses animais apesar do preço alto. A Páscoa não é mais um momento de celebrar e de reviver a libertação, mas se torna uma festa de exploração. As elites religiosas exploram o povo por meio do culto. O “deus” do Templo, para estas elites religiosas, é o dinheiro. Mas a relação com Deus como Pai não se estabelece por meio de dinheiro. A religião se transforma num instrumento que acoberta a injustiça e exploração. Por isso já não é mais “a casa de meu Pai”, e sim um mercado. Como se vive a religião hoje em dia?        

Em segundo lugar, quem pode comprar os animais maiores (como boi, ovelhas) são os ricos. Surge aqui outra mentalidade. O sacrifício se torna como que uma moeda pela qual compra-se de Deus a salvação. A salvação não mais depende de dois lados simultaneamente (de Deus que oferece sua graça e do homem que corresponde à graça a ele oferecida), mas somente do homem que a compra. Isto quer dizer que quem não for capaz de comprar a salvação, ficará fora dela. E os pobres e miseráveis?                 

A salvação não se compra nem com dinheiro, nem com promessas, nem com devoções, pois Deus não é um comerciante, mas é um Pai e Mãe ao mesmo tempo. Pai ou mãe faz tudo pelos filhos não pelo merecimento, mas porque quer o bem deles(querer ou sem querer, em determinados lugares ou paróquias usa-se a expressão “pagar a missa”, por ocasião de aniversário, casamento, sétimo dia etc.. Basta colocar outra intenção, quem marcou primeiro a intenção ficará bravo: “Esta missa é minha. Por que colocou outra intenção?” Será que o valor da missa pode ser medido pelo valor pago em dinheiro? E o dito famoso dos vendedores da graça de Deus: “Quanto mais você der, mais você receberá de Deus”? E como está a vida de quem não tem nada para dar, nunca receberá nada de Deus a partir deste “critério”?). O que se pede de cada crente é a convivência fraterna e uma vivência da fraternidade universal, pois Deus é o Pai de todos. Duas coisas se exigem do crente, por isto: viver a filiação divina pela participação na filiação divina de Jesus(viver como filhos(as) diante de Deus) e viver a fraternidade(viver como irmãos e irmãs diante dos outros). E tudo isto se vive dentro do amor gratuito cuja origem está em Deus, pois Deus nos ama gratuitamente.                        

No quarto Evangelho, o que nos chama atenção é o fato de Jesus se dirigir somente aos vendedores de pombas. Para eles é que Jesus diz: “Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio(v.16). Porque a pomba era o animal sacrificado nos holocaustos (Lv 1,14-17) e nos sacrifícios (Lv 12,8;15,14.29) oferecidos especialmente pelos pobres, por meio dos sacerdotes, para reconciliar-se com Deus e para purificar-se (Lv 5,7;14,22.30-31; cf. Lc 2,44: José levou um par de pombinhas). Os vendedores de pombas são os que, por dinheiro, oferecem aos pobres a reconciliação com Deus, e representam os sacerdotes do Templo que fazem comércio com a graça de Deus. Em outras palavras, a hierarquia sacerdotal explora especificamente os pobres, oferecendo-lhes por dinheiro para ganhar favores ou benefícios de Deus. Eles apresentam Deus como um comerciante, pois convertem a casa de Deus num mercado.          

Na verdade, os profetas já tinham denunciado um culto em união hipócrita com a injustiça e opressão do pobre por ação ou omissão (Is 1,11-17; Os 5,6-7;8,13; Am 5,21-24;Eclo 34,18-20;35,14-20) e propunham transformações.          

O gesto de Jesus de expulsar os comerciantes do Templo suscita duas reações. Os discípulos reagem pensando que Jesus seja um grande reformador da instituição. Somente após a ressurreição eles entenderão que Jesus não é um reformador do Templo, mas aquele que o substitui (v.22).          

E os que sentem o seu lucro ameaçado, os dirigente pedem de Jesus uma explicação da origem de sua autoridade: “Que sinal nos mostras para agires assim?”(v.18). O homem gosta de exibir poder. Deus não é assim. Se Jesus faz milagres, especialmente para os simples e pobres, é para mostrar que Deus está sempre ao lado deles, e não para exibir poder. O poder de Deus consiste em amar o ser humano sem medida (Jo 3,16).          

Diante da estrutura civil e religiosa dos judeus centrada no Estado do Templo, Jesus anuncia o fim dos templos: “Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei” (v.19; cf. Jo 4,20-21) para começar o novo culto “ao Pai em espírito e verdade” (Jo 4,23-24). Jesus mostra que a verdadeira habitação de Deus entre os seres humanos é Ele mesmo. Ele deve ser adorado “em espírito e verdade” (Jo 4,23). A pessoa de Jesus substitui o Templo, pois nele o Pai está presente (Cl 1,19). E as pedras vivas deste edifício espiritual são os que pertencem ao novo povo de Deus. Deus habita no próprio ser humano, e não em edifícios (2Cor 6,16). Cada cristão é ele próprio templo de Deus enquanto membro do Corpo de Cristo (1Cor 3,16). Assim quem desrespeita o ser humano está desrespeitando o próprio Deus e toda a pessoa humana, chamada a ser templo de Deus (1Cor 3,17).          

Jesus não é indiferente frente ao culto do templo. É necessário construir templos ou igrejas ou capelas para neles podemos celebrar o Senhor e a vida que vivemos. Mas a nossa oferenda cultual terá sua validade, se tudo isto for uma expressão do serviço fraternal, se não há separação entre o culto e a vida. O culto não vale pela observância de preceitos nem pela oferta de objetos. O culto verdadeiro consiste na mais profunda união do homem ao divino, na mais pura e incondicional entrega à vontade de Deus. O culto do cristão é um culto de Espírito (Jo 4,23). O templo não santifica o nosso culto, e sim o nosso culto santifica o lugar e a comunidade.                 

Por isso, a limpeza do templo é um gesto de profundo simbolismo. O homem deve limpar sempre a morada de Deus que é ele mesmo de todo tipo de “sujeira” através de uma conversão contínua todos os dias de sua vida.          

Infelizmente, o homem- templo, onde Deus habita, é uma grande idéia que o homem de hoje perdeu. Consequentemente, ele perdeu o respeito ao outro, ao corpo do homem, à liberdade do homem e aos direitos do homem. Onde Deus for excluído, entrará a ditadura, a opressão, o crime, as torturas e injustiça institucionalizada. Como é importante para os homens de hoje recordarem a sua dignidade nascida da realidade de Deus, de um Deus que habita em cada um, pois esta recordação fundamenta o respeito que devo a mim mesmo como templo de Deus e o respeito que eu devo aos outros que são também templo de Deus.        

O evangelho deste domingo, por isso, nos traz de volta a consciência de sermos templo de Deus e de respeitar novamente, como Deus sempre quer, aos outros como habitação de Deus. Além disto, este evangelho nos leva ao arrependimento de tudo que cometemos em relação à dignidade humana desrespeitada, que se expressou através de violência moral- verbal e física, difamação etc. E este arrependimento deve ser tornar em conversão sem fim, pois o homem velho dentro de nós sempre tenta nos levar ao passado pecador.

Palavras De Alguns Padres Da Igreja a Respeito Do Episódio No Evangelho de hoje. Fonte: Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea, Exposição Contínua Sobre Os Evangelhos. Vo. 4: Evangelho de São João, Ed. Ecclesiãe, Campinas, SP, 2021 pp. 112ss).

·        Santo Agostinho: “Esse vendedores figuram aqueles que, na Igreja, buscam os próprios interesses e não aos de Jesus Cristo. Estes têm quanto há no mundo por venal, porque não almejam senão lucrar: assim pensava Simão, que desejou comprar o Espírito Santo para que pudesse, de seguida, vendê-lo (cf. At 8,18-24)”.

·      São Beda: “Aqueles que não distribuem gratuitamente as graças recebidas do Espírito Santo, como Deus ordena, mas buscam vendê-las, esses são vendedores de pombas”.

·      Santo Agostinho: “Aqueles que se servem das Escrituras para enganar a multidão, levados a tanto por um desejo de boa fama, estão como a vender bois e ovelhas, isto é, os próprios fiéis. E a quem os vendem senão ao Diabo? Porque todo aquele que se aparta da unidade da Igreja, de quem se torna presa senão daquele leão que ruge buscando a quem devorar (1Pd 5,8)?”

P. Vitus Gustama, SVD

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