O4 de Janeiro
BUSCA DO ESSENCIAL
Texto
de Leitura: Jo 1,35-42
No evangelho deste dia João Batista
é apresentado como uma figura estática. Está no mesmo lugar do dia anterior:
“... estava lá de novo”. Isto significa que ele permanece no seu posto enquanto
dura sua missão, o que indica a fidelidade, compromisso e responsabilidade. Só
se retira quando começa a missão de Jesus. Jesus é, pelo contrário, apresentado
em movimento. Não se sabe de onde vem nem é dito para onde vai. Mas João
Batista, que sabe da origem de Jesus, volta a olhá-lo e repete seu testemunho:
“Eis o Cordeiro de Deus”.
João Batista “fixa o olhar em
Jesus” e diz: “Eis o Cordeiro de
Deus”. Saber olhar faz parte da fé. O olhar do coração ou o olhar da fé
ultrapassa a realidade sensível em que penetra. O olhar superficial, ao
contrário, jamais enxerga alguém, pois ele somente quer se olhar e quer ser
olhado. Quem se olha somente para si, jamais percebe a presença do outro nem a
de Deus. O olhar superficial reflete, na verdade, a nossa pobreza espiritual.
João Batista que vê Jesus que vem não guarda para si como propriedade privada o
que viu. Ele quer que os outros vejam o que ele vê. Ele indica aos outros o
Messias e aceita desaparecer, pois João Batista é apenas uma “voz” que prepara
o caminho do Messias (Jo 1,23). “Essa é a minha alegria e ela é completa. É
necessário que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,29-30), afirma João Batista com
toda a humildade e com a plena consciência.
Toda vez que participamos da
Eucaristia ouvimos ou contemplamos a frase de João Batista: “Eis o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo”. Quem comunga o Cordeiro de Deus deve estar
consciente da missão de se identificar com o Cordeiro que se doa por amor para
salvar os irmãos. Quando a missa era celebrada em latim ouvia-se esta frase,
certamente, no fim da mesma: “Ite, missa est!”, “Ide, sois enviados!”.
Enfatiza-se, assim, o compromisso de cada participante como enviado de Deus ao
sair da igreja ou templo depois que comungou o Cordeiro de Deus. Em cada
Eucaristia da qual participamos ouvindo a Palavra do Senhor, nós sempre recebemos
alguma missão a ser cumprida. A pergunta é a seguinte: “O que é que a Palavra
de Deus, proclamada em cada Eucaristia da qual eu participo, quer que eu
cumpra?”. Cada Palavra de Deus proclamada sempre tem uma palavra para mim para
que eu leve adiante.
O testemunho de João Batista
provoca uma inversão no rumo da vida dos seus dois discípulos. Eles começam a
seguir Jesus. “Seguir” Jesus é uma maneira bíblica de dizer “tornar-se
discípulo”; e Jesus será chamado de Rabbi, Mestre.
Ao perceber que os dois estão O
seguindo, Jesus os interroga: “O que
estais buscando?”. São as primeiras palavras de Jesus no quarto Evangelho.
É uma pergunta ao mesmo tempo existencial e essencial. Esta pergunta é dirigida
a pessoas que estão em busca, que andam inquietas, que se interrogam sobre o
essencial nesta vida tanto para os religiosos como para os leigos, tanto para
os jovens como para os adultos. Afinal, o que você está procurando nesta vida?
Que sentido tem sua vida? Para onde a vida vai levá-lo? O homem, enquanto
estiver vivo, permanecerá um perguntador. Ninguém pode dar sentido à própria
vida a não ser interrogando-se sobre o seu estar no mundo e ser interrogado
pelos outros sobre o modo de viver, pois o homem não somente vive, mas convive.
Nossa vida está cercada por outras vidas. Viver significa completar-se,
desenvolver-se e crescer por meio de “algo outro”. Mas paradoxalmente na hora
de buscar respostas para suas perguntas, o homem acaba encontrando novas
perguntas. Nascer é vir ao mundo, ver o mundo; é manifestar-se e abrir-se. Cada
porta aberta somos acompanhados por uma serie de perguntas e o desejo de ter
respostas, embora, no fim, acabemos encontrando novas perguntas. Diante da
pergunta de Jesus “O que estais procurando”, em vez de responder, os dois discípulos
lançaram uma pergunta: “Mestre, onde moras?”. É uma pergunta que é respondida
por uma pergunta.
No fundo, todos nós estamos sempre em busca de
algo mais e por isso sempre insatisfeitos. Consciente ou conscientemente somos
todos garimpeiros à procura do diamante da felicidade, andarilhos à procura da
pérola preciosa, pela qual estamos dispostos a “vender”, com alegria, tudo o
que possuímos (cf. Mt 13,44.46). Jesus conhece nossos desejos mais profundos e
sabe muito melhor das nossas necessidades fundamentais mais do que nós mesmos
sabemos. Quando nos interpela com a pergunta essencial, “o que estais
procurando?”, é para obrigar-nos a expressá-lo. Jesus quer que seus seguidores
explicitem, diante dele, os motivos da sua busca e do seu seguimento. Esta
explicitação é necessária porque as motivações nossas podem ser equivocadas,
precipitadas, imaturas ou ilusórias.
A busca pela vida mais
significativa e satisfatória é um dos temas mais antigos do homem e de qualquer
religião. Ela continua válida para qualquer tempo e tempo e para qualquer
pessoa que vive profundamente seu ser. No fundo percebemos que nossa vida não
está sedenta de fama, de conforto, de propriedades ou de poder. Estes supostos
valores criarão muitos problemas assim que os alcançarmos. Nossa vida tem fome
do significado da vida: o que é vida ou a vida? Por que e para que estamos
vivos”Que sentido tem minha vida? O que é essencialmente estou procurando nesta
vida? Para onde a vida vai me levar, enfim? O que nos frustra e rouba a alegria
de viver é a ausência do significado de nossa vida ou de nossa presença neste
mundo. Percebemos, pela experiência, que não passamos a ser felizes perseguindo
ou caçando a felicidade. Nós nos tornamos felizes vivendo e partilhando uma
vida que signifique alguma coisa. As pessoas mais felizes geralmente são
pessoas que se esforçam para ser generosas, prestativas, prontas para ajudar os
outros na sua necessidade. A melhor maneira de ser feliz e de conservar a
felicidade é partilhá-la. Quem ama, partilha. “Creio que os homens que vivem para os outros,
chegarão um dia a reconstruir o que os egoístas destruíram” (Martin
Luther King).
Se neste momento Jesus lhe
perguntar: “O que estais procurando nesta vida e por quê?”, qual será sua
resposta?
P. Vitus Gustama,svd
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