CHAMADOS
À CONVERSÃO
E AO AMOR FRATERNO
III DOMINGO DO ADVENTO
DO ANO “C”
Naquele tempo, 10as multidões perguntavam a João: “Que devemos fazer?” 11João respondia: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” 12Foram também para o batismo cobradores de impostos, e perguntaram a João: “Mestre, que devemos fazer?” 13João respondeu: “Não cobreis mais do que foi estabelecido”. 14Havia também soldados que perguntavam: “E nós, que devemos fazer?” João respondia: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!” 15O povo estava na expectativa e todos perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. 16Por isso, João declarou a todos: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. 17Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga”. 18E ainda de muitos outros modos, João anunciava ao povo a Boa Nova.
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Lc 3,1-6 se encontra
no complexo literário
de Lc 3,1-4,13 que relata a primeira atividade
de João Batista e a de Jesus. Nesta seção (3,1-4,13) encontramos novamente
a mesma técnica
utilizada por Lucas no relato da infância (Lc 1,5-2,52). Em
primeiro lugar
relata-se a atividade de João Batista até o momento de sua prisão por Herodes (Lc
3,1-20). Uma vez que
João Batista desaparecer
da cena , logo
se iniciará o ministério de Jesus (Lc
3,21-4,13). Esta separação nos mostra claramente a concepção
de Lucas sobre a história
da salvação. Para Lucas João Batista
é a última testemunha
da Antiga Aliança
(Lc 616,16), enquanto que Jesus é o centro
do tempo . O aparecimento
de João Batista marca
a plenitude dos tempos
e o fim do Antigo
Testamento . E a missão
principal de João Batista ,
no evangelho de Lucas é introduzir
Jesus, preparando o povo para
a mensagem da Boa Nova .
Tendo recebido Jesus a efusão do Espírito
no Batismo e tendo sido proclamado como Filho pela voz divina (Lc 3,21-22), é inserida a continuação
da história de Israel e do mundo através
de sua genealogia
(Lc 3,23-28). E antes de iniciar
sua atividade ,
Jesus opta pelo caminho
de Messias de Israel, porém
abandona os modelos
de prestígio e de poder
para assumir o modelo de serviço e
da fidelidade ao Pai
(Lc 4,1-13).
O evangelho
deste domingo é a continuação
do trecho do domingo
anterior . No trecho
anterior se falou da conversão . O evangelho
deste domingo exemplifica como se realiza concretamente
a conversão . Em
outras palavras , quais
são as provas
de que uma pessoa
realmente se converteu? A verdadeira conversão sempre
traz a alegria . Certamente
este terceiro
domingo é conhecido
como Domingo
de alegria .
Das multidões
que acorriam para
serem batizadas, João vai reclamar um “fazer ” que deve ir muito além do ato ritual do batismo . Os homens
são chamados a um
fazer participativo na obra
de Deus . Para
João a conversão não
é apenas uma atitude
interior , uma espécie
de sentimento religioso
desligado da vida
concreta . A conversão
tem que ter
conseqüências nos
campos econômico ,
político e social .
Nesses versículos (3,8-14) o verbo “fazer ” aparece não menos de seis vezes . Dos
candidatos ao batismo
ele exige que
“façam frutos conformes
à conversão ” (v.8), e os ouvintes (multidão ,
cobradores e soldados ),
como mais
tarde os de Pedro no Pentecostes (cf. At 2,37), perguntam três vezes : “Que devemos fazer ?”.
A conversão ,
mudança de mentalidade ,
deve traduzir-se por mudança de vida
muito concreta ,
e não é fazer
uma teoria . Uma coisa
é definir os verdadeiros conceitos
da vida , outra ,
é viver conforme
a verdade . Uma coisa é aprender um conceito de felicidade ,
uma outra , é ser
feliz . O que
pode determinar a experiência
não é o conceito ,
mas a experiência
deve determinar o conceito ,
senão , frente
a puros conceitos
não poderíamos fazer
nenhuma experiência nova .
A primeira
categoria de pessoas
é a multidão .
Para a multidão ,
a conversão consiste em uma exigência
de solidariedade que
consiste na partilha dos bens elementares necessários
à vida para
os necessitados; entre eles vestes e alimento (v.11); repartir o que se tem com aqueles que nada têm. Muitas vezes
acontece que o que
sobra para um , faz falta para o outro . Quantas
pessoas estão com
roupas demais
até nem
chegam a usar todas, enquanto
o pobre não
tem nada para
se vestir . Quantas pessoas
têm alimento em
abundância , enquanto
muitos morrem de fome .
Por isso ,
para a multidão ,
João Batista dá este
conselho : “Quem
tiver duas túnicas , reparta-as com aquele que não tem, e quem tiver o que
comer , faça o mesmo ”
(v.11b). Essa atitude pressupõe o desapego dos bens
materiais ou
ser pobre em espírito (Mt
5,3) e a vivência do amor fraterno . Enquanto existem no mundo
desigualdades e riquezas escandalosas ao
lado da miséria
e da fome , é inútil
esperar que o
Senhor , nosso
Salvador , possa, manifestar-se na nossa vida .
A segunda
categoria é os cobradores de impostos . Eles
são os judeus
agentes de alfândegas
ou arrecadadores de impostos .
Para os fariseus ,
eles eram pecadores .
Na verdade , pode-se distinguir
duas classes : 1).Os chefes do sistema de arrecadação de impostos .
São pessoas
muito ricas, geralmente
chefes de famílias
da alta sociedade
de Jerusalém. Uma das coisas que faziam era tomar em forma de aluguel muitos postos
de alfândegas . Para
cada posto
de alfândega estipulavam um piso de arrendamento que
era necessário
entregar ao poder romano . Os ingressos
superiores a esse
piso ficavam com
o arrendatário como
ganho pessoal .
Tudo isso
fomentava a exploração e a fraude . Geralmente
uns e outros ganhavam às custas do povo .
2). Os publicanos ou
os cobradores locais .
A maior parte
dos que faziam esse
trabalho eram pobres
ou escravos
empregados por
“uma agência de arrecadação” de algum grande arrendatário , que
os mandava embora ao menor problema .
O povo devia pagar
direitos de alfândega
e de pedágio à entrada
dos povoados nas pontes ,
vaus e encruzilhadas
dos caminhos . Para
sobreviver , os publicanos tinham de exigir uma quantidade superior à tarifa
oficial .
Os cobradores
de impostos , então ,
são representantes daqueles que compram e vendem ou
fazem seus negócios
sem qualquer
escrúpulo , só
pensando em suas
próprias vantagens ; de quem sonega impostos ;
de quem trama
negociatas em
prejuízo do Estado ;
de quem se aproveita da ingenuidade dos humildes para explorá-los para se enriquecer . Para essas pessoas
existe a misericórdia de Deus se voltarem ao caminho
do Senhor ou
se converterem-se de tudo que elas
cometeram.
Aos olhos
de todo sacerdote
e fariseus , os cobradores
de impostos eram “pecadores ”,
não só
porque muitas vezes
se mostravam gananciosos por sua cobiça , mas também porque ,
constituindo agentes do poder
romano , eram considerados traidores da pátria e inimigos
de Deus . Visto
que para os judeus o único imposto legítimo é o que se paga ao Templo . Por isso , podemos entender o motivo de João Batista
em dizer-lhes: “Não deveis exigir nada
além do que
foi prescrito” (v.13). João Batista
se levanta contra uma forma
escandalosa de enriquecimento de uns mediante o abuso
de seu poder sobre os outros .
A conversão exigia deles apenas o cumprimento honesto de sua profissão e não
abusem do próprio cargo para explorar os mais pobres e indefesos . João Batista
mostra que
também para eles , cobradores
de impostos , há misericórdia
e possibilidade de salvação. Única condição requerida é a prática
da justiça na sua
tarefa profissional .
Dentre eles
Jesus irá escolher um
apóstolo , Mateus- Levi(5,27), e não desdenhará a sua
companhia (Lc 5,29-32;19,1-10).
A terceira
categoria , que
procura João Batista
sobre o que deve-se fazer , é os soldados .
Trata-se dos judeus mercenários
a serviço de Herodes Antipas ou do corpo policial que
assessorava na arrecadação de impostos . Eles eram mal
remunerados. Eles eram dispensados do serviço militar romano desde o tempo de Júlio César. Eles
foram, também , movidos pelo
apelo de João Batista
e procuravam o batismo de conversão . Também
os soldados eram para
os fariseus considerados como pecadores em virtude de sua profissão . Porque a grande
tentação do homem
com poder na mão era querer enriquecer por meio da violência e da opressão contra a pessoa humana . João Batista
não exige deles que
abandonem a sua profissão .
Eles devem, porém ,
evitar toda
espécie de violência ,
e as acusações falsas com o intuito
de extorquir dinheiro . Para João Batista o fruto da conversão
sincera consiste no agir
honesto e humano
na situação concreta
da vida social
e profissional .
O terceiro
domingo do Advento
é conhecido como
Domingo Gaudete
(alegria ). Na segunda
leitura , São
Paulo nos convida a sermos alegres no Senhor : “Irmãos , alegrai-vos sempre
no Senhor ; eu
repito, alegrai-vos!” (Fl 4,4). Os cristãos
devem saber que
a Boa Nova da salvação é uma mensagem de alegria
e que a chamada
à conversão é uma mensagem
de alegria , pois
somente através
da conversão pode acontecer
a libertação , e a libertação
é sempre uma alegria .
Quem passou anos
em uma prisão
experimentou profundamente a importância da libertação
que traz consigo
a alegria . A alegria
cristã está fundada na vitória de Cristo sobre a morte , e não uma alegria qualquer .
A alegria do Evangelho
é uma alegria que
vem do Alto , mas
que ao mesmo
tempo deve brotar
de um coração
de homem . Por
isso , apesar
das dificuldades e contradições
aparentes , o futuro
de quem acredita em
Cristo está garantido. A alegria , a princípio ,
é reservada aos pobres
e aos pecadores que
se convertem, pois somente
eles podem vislumbrar
a natureza da salvação que Jesus traz consigo
e que concede a alegria .
E a Eucaristia
da qual participamos é e deve ser sempre a celebração da verdadeira alegria ,
pois a Eucaristia
é o céu aqui
na terra . Quem
for à missa ou
participar da mesma ,
ele estará indo para
o céu logo
aqui na terra .
Ela é o banquete
celeste na terra . Os cristãos devem descobrir que em sua diversidade ,
são constituídos irmãos
e irmãs pela graça
de Cristo , pois
eles estão reunidos por
acreditarem no mesmo Cristo e viverem o mesmo
ideal de Cristo
que faz desmoronar
os muros de separação
entre os homens .
Por isso ,
ela deve ser
celebrada alegremente e os participantes
devem sair alegremente
e contagiar os outros
com a mesma
alegria : uma alegria
partilhada. Se não a Eucaristia carecerá de sentido
e se tornará uma obrigação de participá-la por medo de cometer
pecado , se não
for à missa . Quem
se preocupa com regras ,
ama pouco
e vive sem alegria
na vida .
A exemplo
de João Batista , também
somos chamados, através do batismo , a ser precursores de Jesus Cristo .
O nosso aparecimento
não deve nem
pode diminuir a grandeza
de Jesus. A nossa missão
é levar as pessoas
para Jesus e não
para nós . Isto exige muito
esvaziamento. Será um grande erro se deixarmos que fiquemos na frente
de Jesus, embora dure apenas por alguns minutos (cf.
Mt 16,23). A nossa tarefa
é apontar para Jesus para que as pessoas possam vê-Lo sempre
e não para elas nos verem.
Para isso ,
precisamos nos converter
diariamente e voltar para
o nosso próprio
lugar , pois
somos apenas seguidores
de Jesus, o nosso Mestre .
Quando ocuparmos o nosso
lugar , a paz
vai reinar a nossa
vida . Como
dizia Santo Agostinho: “A paz
é a tranqüilidade de ordem ”.
P. Vitus Gustama,svd
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