DEUS NOS AMA NO NOSSO
HOJE
TEMPO
DO NATAL-EPIFANIA
09 de Janeiro de 2014
(Quinta-feira)
Primeira
Leitura: 1Jo 4,19–5,4
Caríssimos, 19 quanto
a nós, amamos a Deus porque ele nos amou primeiro. 20 Se alguém disser: “Amo a
Deus”, mas entretanto odeia o seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama o
seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. 21 E este é o
mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão. 5,1
Todo o que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus, e quem ama aquele que gerou
alguém amará também aquele que dele nasceu. 2 Podemos saber que amamos os
filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. 3 Pois
isto é amar a Deus: observar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são
pesados, 4 pois todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que
venceu o mundo: a nossa fé.
Evangelho:
Lc 4,14-22
Naquele tempo, 14Jesus voltou para a Galileia,
com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. 15Ele
ensinava nas suas sinagogas e todos o elogiavam. 16E veio à cidade
de Nazaré onde se tinha criado. Conforme seu costume, entrou na sinagoga no
sábado e levantou-se para fazer a leitura. 17Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus achou
a passagem em que está escrito: 18“O Espírito do Senhor está sobre
mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres;
enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da
vista; para libertar os oprimidos 19e para proclamar um ano da graça
do Senhor”. 20Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Todos
os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21Então
começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes
de ouvir”. 22aTodos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras
cheias de encanto que saíam da sua boca.
-----------------------
1. Uma Epifania Messiânica
O texto do evangelho de hoje nos apresenta outra epifania
de Jesus, sua manifestação em Nazaré, como Messias esperado, para o povo de sua
infância e de sua juventude. Jesus se revela muito diferente, longe daquilo que
seus vizinhos imaginavam. Trata-se de uma cena programática e cheia de
significado, de sua manifestação messiânica aos de seu povo.
Jesus como bom judeu vai à sinagoga cada Sábado. Desta vez
ele é encarregado a ler um texto do Livro do profeta Isaias, e que em seguida
faz seu comentário (homilia).
A passagem de Isaias é central: o futuro Messias, cheio do
Espírito de Deus, é enviado a cumprir sua missão para os pobres, a dar
liberdade/libertação aos oprimidos e a anunciar o ano da graça do Senhor. Mas o
que o evangelista Lucas quer sublinhar é o inicio da homilia de Jesus: “Hoje
se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Jesus se
apresenta, portanto, aos de seu povo, como o Messias esperado. E num princípio
consegue a admiração e o aplauso de seus ouvintes.
A missão de Jesus, como o Messias esperado, é dar liberdade
aos cativos, dar vista aos cegos, libertar os oprimidos e inaugurar um “Ano de
Perdão de Dívidas” (por isso se chama um “Ano de Graça” que se proclama em nome
de Deus): “O Espírito do
Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa
Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos
a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça
do Senhor”.
Para chegar a fazer isso na sociedade pressupõe a mudança
de suas estruturas: da apatia para a solidariedade, da opressão para a
liberdade, da vingança para o perdão e a reconciliação, do privilégio de poucos
para a igualdade, da exploração para a justiça, da exclusão para a inclusão, da
ganância para a partilha, e instruir os outros para enxergarem melhor a vida e
a realidade a fim de ter consciência da missão de cada um neste mundo.
Para ter essa mudança há uma condição indispensável: Conversão
de pessoas e de estruturas. Por isso, podemos entender a exigência de João
Batista e de Jesus para a necessidade de conversão: “Convertei-vos porque o
Reino de Deus está próximo! Convertei-vos e credes no Evangelho!
2. Deus Nos
Ama e Amamos a Deus No Próximo
Deus envia o Messias porque nos ama. Jesus, Deus-Conosco,
exige de nós a conversão porque nos ama. Deus se fez homem porque nos ama. Deus
se encarnou em Jesus para que não fiquemos desanimados, pois Jesus tem a mesma
substancia de um ser humano como nós.
O amor com que Deus nos ama é o primeiro: “Nisto consiste o amor: não fomos
nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como
vítima de reparação pelos nossos pecados” (1Jo 4,10). Trata-se do amor
radical e fundante. É ativo, difusivo e criativo. Constitui o melhor rosto de
Deus. Deus se revela e se realiza em nós como o Deus de amor (1Jo 4,8.16).
Constitui uma história de amor para nós e conosco.
A iniciativa desse amor suscita e espera resposta de cada
um de nós. Essa resposta é dada em dupla direção: horizontal e vertical.
Acolher e entender o presente de amor de Deus inclui o amor fraterno. Somente
com o amor fraterno se corresponde à iniciativa amorosa de Deus. Não se pode
amar verdadeiramente a Deus que é amor sem amar aos filhos de Deus. A vertical
assinala a autenticidade da horizontal: “Podemos
saber que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus
mandamentos. Pois isto é amar a Deus: observar os seus mandamentos” (1Jo
5,2-3). Através do amor fraterno vivenciado nós tocamos o centro da vida
humana, da vida cristã e o próprio Deus. Simples e unificante! Dessa maneira é
que embelezamos nossa mente e nosso espírito de discípulos de Jesus Cristo.
Por isso, o texto da Primeira Carta de são João que lemos
hoje nos apresenta uma nova e maior “verdade fundamental”, e contundente. São
João nos apresenta a contradição entre um amor a Deus (invisível) junto a um
desamor ao próximo (visível): “Se alguém
disser: ‘Amo a Deus’, entretanto odeia o seu irmão, é um mentiroso; pois quem
não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é
o mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão”.
Há gente que pensa que Deus é um ente separado do mundo,
dos seres humanos; um Deus que está lá nas nuvens e que poderia ser pensado ou
amado com independência de qualquer referencia aos seres humanos. Os deuses
gregos eram assim, por exemplo; eram deuses que viviam no Olimpo, em outro
mundo. Por isso, é possível amar este tipo de Deus sem amar o próximo.
Mas o Deus do qual João fala é o Deus cristão. O Deus
cristão é o Deus encarnado que se identifica com todos os homens, especialmente
com os mais humildes e pequeninos (cf. Mt 25,31ss). Logo, não é possível amar a
Deus e não amar ao próximo: “Este é o
mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão”.
3. O Hoje
de Deus e Meu Hoje
Na sua homilia, que tem toda sua programação messiânica de
seu ministério, Jesus usa a expressão: “Hoje
se cumpriu...”. A mesma expressão será usada nos momentos importantes do
ministério de Jesus: no nascimento de Jesus (Lc 2,11), na conversão de Zaqueu
(Lc 19,5.9), na resposta de Jesus ao pedido do criminoso convertido (Lc 23,43).
Com essa expressão Jesus quer enfatizar que o Reino de Deus não é questão
futura e sim já é de hoje. Ele já está presente nos corações abertos a ele.
Jesus faz sua reflexão/homilia usando a expressão “hoje se cumpriu...” ao comentar a
leitura que acabou de ler. Isto quer nos dizer que a Liturgia da Palavra não é
uma simples lição moral de catecismo, nem a afirmação da esperança escatológica
fomentada pelos profetas, e sim proclama o cumprimento do desígnio do Pai no
Hoje da vida e da assembléia reunida. Já não se contempla um passado cumprido
ainda que seja de uma época de ouro ou de caída, já não se sonha mais num
futuro extraordinário; vive-se o tempo presente como momento privilegiado, pois
o tempo da graça (Kairós) se confunde com o tempo cronológico (Kronos)
porque Deus, através de sua encarnação, decidiu entrar no nosso tempo por amor
a nós para transformá-lo em tempo da graça. Este é o próprio princípio da
homilia, cuja tarefa essencial é a de aplicar a Palavra Eterna e intemporal
para o dia de hoje dos homens.
“Hoje se cumpriu...”! Em cada momento contém
a eternidade, o Hoje de Deus. Hoje devemos decidir nossa salvação. Hoje devemos
fazer aquilo que deve ser feito. Hoje mesmo devemos visitar quem deve ser
visitado. Hoje mesmo devemos perdoar e dar o perdão a quem deve ser perdoado.
Hoje mesmo devemos mudar o mutável, corrigir o corrigível, carregar o
carregável, abandonar o abandonável. Hoje mesmo devemos nos converter. Amanha
talvez seja tarde demais! O Hoje de Deus nos faz vivermos acordados. O desafio
é estar permanentemente acordados, atentos. A todo o momento surgem fatos e
ocasiões, ideias e caminhos novos, novas descobertas que podem ser uma
oportunidade valiosa para quem está em prontidão para o Hoje de Deus. É estar
de mãos livres e vazias para receber algo valioso de Deus; estar de olhos
abertos e de coração aberto para receber o Senhor que vem nos visitar; estar de
pés calçados para tomar o caminho. A vida é feita de momentos e os momentos
oferecem oportunidades dadas por Deus. Quem fica adormecido perde muitas
oportunidades de Deus. Quem vive sentado ou deitado pode perder esses momentos.
“Hoje se cumpriu...”! O que você faz com o
seu Hoje? De que maneira você acolhe o Hoje de Deus neste momento? O que Deus
fala neste momento para o seu Hoje?
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário