domingo, 12 de janeiro de 2014

 
AUTORIDADE POSSIBILITA O CRESCIMENTO

Terça-feira da I Semana do Tempo Comum
14 de Janeiro de 2014


Primeira Leitura: 1Sm 1,9-20

Naqueles dias 9 Ana levantou-se, depois de ter comido e bebido em Silo. Ora, o sacerdote Eli estava sentado em sua cadeira à porta do templo do Senhor. 10 Ana, com o coração cheio de amargura, orou ao Senhor, derramando copiosas lágrimas. 11 E fez a seguinte promessa, dizendo: “Senhor Todo-poderoso, se olhares para a aflição de tua serva e te lembrares de mim, se não te esqueceres da tua escrava e lhe deres um filho homem, eu o oferecerei a ti por todos os dias de sua vida e não passará navalha sobre a sua cabeça”. 12 Como ela se demorasse nas preces diante do Senhor, Eli observava o movimento de seus lábios. 13 Ana, porém, apenas murmurava; os seus lábios se moviam, mas não se podia ouvir palavra alguma. Eli julgou que ela estivesse embriagada; 14 por isso lhe disse: “Até quando estarás bêbada? Vai curar essa bebedeira!” 15 Ana, porém, respondeu: “Não é isso, meu senhor! Sou apenas uma mulher muito infeliz; não bebi vinho, nem outra coisa que possa embebedar, mas desafoguei a minha alma na presença do Senhor. 16 Não julgues a tua serva como uma mulher perdida, pois foi pelo excesso da minha dor e da minha aflição que falei até agora” 17 Eli então lhe disse: “Vai em paz, e que o Deus de Israel te conceda o que lhe pediste”. 18 Ela respondeu: “Que tua serva encontre graça diante dos teus olhos”. E a mulher foi embora, comeu e o seu semblante não era mais o mesmo. 19 Na manhã seguinte, ela e seu marido levantaram-se muito cedo e, depois de terem adorado o Senhor, voltaram para sua casa em Rama. Elcana uniu-se a Ana, sua mulher, e o Senhor lembrou-se dela. 20 Ana concebeu e, no devido tempo, deu à luz um filho e chamou-o Samuel, porque – disse ela – “eu o pedi ao Senhor”.


Evangelho: Mc 1,21b-28

21b Estando com os seus discípulos em Cafarnaum, Jesus, num dia de sábado, entrou na sinagoga e começou a ensinar. 22 Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei. 23 Estava então na sinagoga um homem possuído por um espírito mau. Ele gritou: 24 “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus”; 25 Jesus o intimou: “Cala-te e sai dele”! 26 Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu. 27 E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: “Que é isso? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” 28 E a fama de Jesus logo se espalhou por toda parte, em toda a região da Galileia.

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Começou-se a vida publica de Jesus. Ele e seus seguidores chegaram a Cafarnaum, numa população ao redor do lago Galiléia. Esta região vai se converter em centro da atividade de Jesus.  Num Sábado entrou numa sinagoga e teve oportunidade de comentar as leituras do dia.


Sem dúvida, Jesus apóia seu ensinamento nos fatos, dá uma nova dimensão à lei e valoriza as pessoas diante das instituições dominantes de seu tempo para que sejam reconhecidas a dignidade e a vocação de cada pessoa para a vida comunitária (sem exclusão). As regras são feitas para valorizar mais as pessoas e não para oprimi-las. O foco da atividade de Jesus são as pessoas. Por isso, surgiu o comentário: “Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ele ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da lei” (Mc 1,22).


“Jesus ensinava como quem tem autoridade e não como os mestres da Lei”. A nova forma de ensinar de Jesus “com autoridade” apela para os valores e atitudes fundamentais do ser humano: para a capacidade de convivência, para o reconhecimento respeitoso e tolerante do outro e da outra, e para o desenvolvimento da autoestima como condições para uma autêntica libertação da situação da marginalização em que vivia a grande maioria do povo. Por isso, o ensinamento de Jesus desperta uma grande admiração da parte do povo na sinagoga: “Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ele ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da lei”. A autoridade de Jesus não está a serviço de uma instituição, mas está a serviço do ser humano para que este reconheça sua própria dignidade, sua vocação à vida comunitária e ao mútuo respeito, pois todos tem a mesma dignidade e a mesma substância como ser humano. Onde não houver um mútuo respeito, não haverá espaço para a mútua admiração.


Por isso, o episódio do homem possuído por um espírito impuro, mais do que demonstrar autoridade de Jesus sobre as forças do mal, quer mostrar como Jesus integra ao seio da comunidade aquele que era excluído e recusado como muitos outros em nome de um poder que desumaniza. Na verdade, Mc coloca aqui o possuído como representante dos fanáticos pelo poder. Para assinalar o fanatismo Mc usa a expressãoestar possuído por um espírito impuroem oposição ao Espírito Santo quevida, que anima, que capacita o ser humano a amar. A força que despersonaliza o homem e impede todo espírito crítico é uma ideologia contrária ao plano de Deus.


O possuído não pode negar a autoridade de Jesus (profeta), mas não admite que sua autoridade se oponha à instituição religiosa e a sua doutrina que despersonaliza o ser humano. Para o possuído a autoridade de Jesus deve estar a serviço do sistema. Apesar de sua resistência, Jesus o liberta de seu fanatismo ou convence este possuído do erro de sua postura. Ao aceitar o Espírito de Deus o homem se liberta de suas escravidões.


A autoridade está ligada ao crescimento. A própria palavra vem do latim “augere”, que quer dizercrescer”. Por isso, exercer a autoridade é sentir-se realmente responsável pelos outros e por seu crescimento, sabendo que eles não são nossa propriedade, nossos objetos, mas pessoas que têm um coração, nas quais existe a Luz de Deus, e que são chamadas a crescer na liberdade da verdade e do amor. O maior perigo para aquele que tem autoridade é manipular as pessoas e dirigi-las para seus próprios objetivos e sua necessidade de poder. Se for assim, ele deixará de ser uma pessoa com autoridade.


Jesus fala como quem tem autoridade. Há palavras que nos aproximam de Jesus. Quais são estas palavras? Sempre que pronunciarmos uma palavra viva, aquela que não é fingida, aquela que sabe detectar em cada momento o que o outro está necessitando, aquela que faz o outro melhorar e crescer, aquela que não semeia a discórdia, a palavra que humaniza, estaremos falando com autoridade. Sempre que pronunciarmos uma palavra compassiva, aquela que consola nos momentos de dificuldade, a palavra que anima quem está desesperado, a palavra sincera de querer ajudar, estaremos falando com autoridade. Sempre que pronunciarmos uma palavra solidária, aquela que coloca as coisas no seu devido lugar, aquela que sai do coração para aliviar a dor do outro, aquela que serena, estaremos falando com autoridade. Sempre que pronunciarmos uma palavra de esperança que diz que nem tudo está perdido, que o melhor está para vir porque Deus está conosco, estaremos falando com autoridade.


É bom cada um fazer um exame de consciência para saber se fala com autoridade como Jesus ou não? Se esta próximo de Jesus no modo de viver e de tratar os demais?


Para Refletir:


1.    Depois de chamar dois pares de irmãos para serem seus discípulos, Jesus entra na sinagoga e se põe a ensinar. O que nos surpreende é que dentro da sinagoga que é “o lugar dos puros” se encontra um homem possuído por um espírito imundo. O lugar onde as Sagradas Escrituras são lidas, comentadas e estudadas habita paradoxalmente a imundícia. Será que nossos oratórios, nossas igrejas, e capelas, onde é guardado o santíssimo Sacramento são invadidos pela imundícia de nossa vida carente de ética e moral? Deus não se cansa de perdoar, mas não podemos parar de nos converter.


2.    O que chama mais a atenção é que quando Jesus entra na sinagoga, o homem com o espírito imundo começa a gritar em plural como se fosse porta-voz de todos os que ali estavam: Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir?”.   O “nós” é o ensinamento dos letrados com que aquele homem se identifica: ensinamento que conduz ao fanatismo afirmando o sentimento de superioridade. Esse homem grita porque seus interesses são afetados e por isso, quer defendê-los. Ele reage negativamente porque tem algo a perder ou algo a defender. Jesus veio para libertá-lo, mas ele resiste diante da própria libertação. Quem grita, neste contexto, é porque tem necessidade de esconder a insegurança.  Quantas vezes consideramos como problema aquilo que, na verdade, é uma solução para nossa vida de mesquinhez. Por causa de nossos interesses resistimos diante de uma solução para nossa vida e nosso crescimento. Somos porta-vozes do bem comum ou dos interesses mesquinhos que não nos fazem crescer?

P. Vitus Gustama,svd

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