TESTEMUNHAR JESUS COM HUMILDADE COMO JOÃO BATISTA
11 de Janeiro de 2014
(Sábado)
Primeira Leitura: 1Jo 5,14-21
Caríssimos, 14 esta é a confiança
que temos no filho de Deus: se lhe pedimos alguma coisa de acordo com a sua
vontade, ele nos ouve. 15 E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que lhe
pedimos, sabemos que possuímos o que havíamos pedido. 16 Se alguém vê seu irmão
cometer um pecado que não conduz à morte, que ele reze, e Deus lhe dará a vida;
isto, se, de fato, o pecado cometido não conduz à morte. Existe um pecado que
conduz à morte, mas não é a respeito deste que eu digo que se deve rezar. 17
Toda iniquidade é pecado, mas existe pecado que não conduz à morte. 18 Sabemos
que todo aquele que nasceu de Deus não peca. Aquele que é gerado por Deus o
guarda, e o Maligno não o pode atingir. 19 Nós sabemos que somos de Deus, ao
passo que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno. 20 Nós sabemos que veio
o Filho de Deus e nos deu inteligência para conhecermos aquele que é o
Verdadeiro. E nós estamos com o Verdadeiro, no seu Filho Jesus Cristo. Este é o
Deus verdadeiro e a Vida eterna. 21 Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.
Evangelho: Jo 3,22-30
Naquele tempo, 22Jesus
foi com seus discípulos para a região da Judeia. Permaneceu aí com eles e
batizava. 23Também João estava batizando, em Enon, perto de Salim,
onde havia muita água. Aí chegavam as pessoas e eram batizadas. 24João
ainda não tinha sido posto no cárcere. 25Alguns discípulos de João
estavam discutindo com um judeu a respeito da purificação. 26Foram a
João e disseram: “Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão e do qual tu
deste testemunho, agora está batizando e todos vão a ele”. 27João respondeu: “Ninguém pode receber alguma coisa, se não lhe for
dada do céu. 28Vós mesmos sois testemunhas daquilo que eu disse: ‘Eu
não sou o Messias, mas fui enviado na frente dele’. 29É o noivo que
recebe a noiva, mas o amigo, que está presente e o escuta, enche-se de alegria
ao ouvir a voz do noivo. Esta é a minha alegria, e ela é completa. 30É
necessário que ele cresça e eu diminua”.
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A última das manifestações de Jesus
na semana da Epifania (ultimo dia do tempo do Natal) nos é apresentada através
do evangelho de hoje: o testemunho de João Batista.
Os discípulos de João Batista
sentem zelos porque Jesus está batizando: “Rabi, aquele que estava contigo
além do Jordão e do qual tu deste testemunho, agora está batizando e todos vão
a ele”. Será que os discípulos de João acham que se trata de uma
rivalidade, de um conflito entre duas escolas, de uma batalha entre dois
batismos, de uma concorrência entre dois pregadores celebres?
Mas João Batista, seguro e rápido,
toma uma atitude nobre de um homem que sabe olhar para Deus e não para si
mesmo: “Ninguém pode receber alguma coisa, se não lhe for dada do céu”.
João Batista manifesta a grandeza de seu coração e a coerência com sua postura
de Precursor. Ele recorda aos seus discípulos: “Eu não sou o Messias” nem o
“Esposo” e sim apenas “amigo do Esposo”. E acrescenta: “É necessário que Ele
cresça e eu diminua” e “Ninguém pode receber alguma coisa se não lhe for dada
do céu”. Tudo o que há de bom em mim e no outro vem de Deus. Tudo o que há de
amoroso em mim e no outro vem de Deus. É preciso saber reconhecer a bondade e o
amor em mim e no outro, pois são sinais próprios da presença de Deus.
“Ninguém pode receber alguma coisa
se não lhe for dada do céu”. “É necessário que Ele cresça e eu diminua”. São palavras cheias de fé da boca de João
Batista. Na expressão de João Batista encontram-se humildade, veracidade e
serenidade. João Batista é um santo por excelência. Ele mesmo define sua
santidade através desta frase: “Eu sou o amigo do Esposo”. Uma santidade cheia
de alegria e de amor que o põe em seu lugar e que o faz humilde e ao mesmo
tempo grande. “Amigo de esposo” são termos de bodas e de amor, de comunhão e de
vida. Por isso, não há concorrência entre João Batista e Jesus.
“É o noivo que recebe a noiva,
mas o amigo, que está presente e o escuta, enche-se de alegria ao ouvir a voz
do noivo”, disse João batista. Uma longa e admirável tradição do Antigo
Testamento apresentava Deus como o Esposo da humanidade (cf. Os 2,21; Ez 16,8;
Is 62,4). E essa tradição continuou no Novo Testamento (cf. 2Cor 11,2; Ef 5,25;
Ap 21,2; 22,17). Deus-Esposo. Deus-Amor. Deus-Aliança. Trata-se de uma
realidade misteriosa que temos que viver meditar.
João Batista prepara as pessoas
para o encontro com o Cristo chamando-as à conversão e pregando a verdade. São
João Batista foi testemunha da verdade até a morte. Morreu por causa da
verdade.
João Batista nos ensina a cumprirmos
nossa missão que adquirimos no dia de nosso batismo: ser testemunha de Cristo
vivendo na verdade de Sua Palavra e transmitir esta verdade a quem não a tem,
por meio de nossa palavra e exemplo de vida. Ele nos ensina a reconhecermos
Jesus como o mais importante, como diz o próprio João Batista: “Que Ele
cresça e eu diminua”. Ele renuncia a qualquer ambição pessoal sem amargura.
Nisto consiste a alegria de João Batista. Ele nos ensina a reconhecermos Jesus
como a própria verdade que devemos seguir (cf. Jo 14,6). Ele nos ensina a
vivermos na humildade e sensatez para ficarmos longe da vaidade e dos aplausos
das massas. Ele nos ensina a vivermos na sinceridade e na honradez para afastar
qualquer tipo de falsidade: “Eu não sou Messias. Eu sou apenas uma voz”,
confessou ele. Trata-se de uma humildade, veracidade e serenidade. Não há
nenhuma concorrência entre João Batista e Jesus. João Batista tem plena
consciência de sua missão de Precursor. O Messias é o próprio Jesus e não João
Batista. Ele sabe dar lugar para Aquele que é mais importante do que ele. Ele
nos ensina a vivermos na justiça e no amor como frutos de uma verdadeira
conversão. Através do testemunho de sua vida, João Batista nos ensina que ser
cristão é ser testemunho de Jesus Cristo, ser honesto, justo e sem se deixar
subornar. A vida de união com Deus não tapa nossos olhos. Ao contrário nos faz
mais atentos a tudo. É ser lúcido para detectar o mal, o egoísmo e a falta de
amor em nós.
O Tempo de Natal termina. O Natal
que é a experiência do amor que Deus nos tem e a convicção de que somos Seus
filhos em Jesus, de que somos irmãos de Cristo e irmãos uns dos outros deve nos
deixar como conseqüência uma atitude mais positiva e uma opção mais clara por
esses valores cristãos. Precisamos nos empenhar em lutar contra a falta de
fraternidade por causa do mal em nossa vida. “Uma verdadeira fraternidade
entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do
reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou
seja, aquele fazer-se ‘próximo’ para cuidar do outro”, disse Papa Francisco
na sua mensagem para o XLVII DIA MUNDIAL DA PAZ de 2014. Precisamos nos
empenhar para que o mal não avance. É preciso que os bons não se silenciem para
que o mal não se torne gritante ensurdecendo nossa consciência.
Para refletir: Oração e Pecado
A seção conclusiva da Primeira
Carta de são João, que serve como a Primeira Leitura deste dia, volta a falar
de dois temas já tratados em outra parte de sua Carta: o tema sobre a confiança
na oração (1Jo 5,14-15) e o tema sobre a condição do crente: a impecabilidade
(1Jo 5,18-21).
Segundo são João, a oração é como o
sinal de nossa “comunhão” com Deus. É o testemunho de que estamos em “unidade”
com Deus, de que “vivemos em conformidade com a vontade de Deus”. Este é o
convite de Jesus no Pai Nosso: “Seja feita a Vossa vontade assim na terra como
no céu” (Mt 6,10b).
O segundo tema é o do pecado. No
texto há afirmações que fazem referência ao “pecado que leva à morte” e que se contrapõe
ao “pecado que não leva à morte”. Não se trata de o pecado venial e de o pecado
mortal.
Dentro do pensamento joanino, o
pecado que verdadeiramente leva à morte é o pecado de homicídio: “Quem odeia
seu irmão é assassino. E sabeis que a vida eterna não permanece em nenhum
assassino” (1Jo 3,15). Quem odeia “permanece na morte”, não “passa da morte
para a vida”. Da mesma forma que o amor leva à vida, o ódio leva à morte (cf. 1Jo
3,11-12.14-15). Para o homem da Bíblia, pecado e morte estão sempre juntos ou
unidos (os primeiros capítulos do Genesis nos recordam, entre outras coisas, a união
entre pecado e morte). A morte que está ligada ao pecado é a morte espiritual. A
morte espiritual é a separação de Deus ou da comunhão com Deus. Portanto, da salvação.
Dentro do pensamento de são João surge
a seguinte pergunta: Será que temos plena consciência da grave consciência do ódio
que é a separação de Deus que significa a exclusão da salvação? Ainda somos
teimosos em permanecer no ódio? Não nos pede o Senhor para que haja sempre o
espaço para o perdão sem limite: setenta vezes sete? (cf. Mt 18,21-22). Ser verdadeiro
cristão é difícil, de fato!
Há um elemento que impregna estes
versículos: o “nós sabemos”. Trata-se da certeza profundamente arraigada na fé.
Nos escritos joaninos, a fé comporta uma profundidade no conhecimento do
mistério que nos é revelado em Jesus. O
verbo “conhecer” quer dizer “com-nascer, nascer com, fazer-se um com outro.
Somente conhecemos o outro, entregando-nos a ele e aceitando que ele se
entregue a nós. Trata-se de uma relação existencial. A profundidade dá firmeza
para a convicção do crente. A profundidade do conhecimento dá muita segurança
para o crente. Para são João, fé e conhecimento são inseparáveis e quase se
identificam. O conhecimento só, ao contrário, leva o homem à auto-suficiência
fechada sobre si mesma. Sem fé não há verdadeiro conhecimento. O ideal é a união
do conhecimento com a espiritualidade. Jesus crescia na sabedoria e na graça
diante de deus e dos homens (cf. Lc 2,52).
P. Vitus Gustama,svd
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