SER REFLEXO DE CRISTO
PARA OS OUTROS
Quinta-Feira Da III Semana Do Tempo Comum
30 de Janeiro de 2014
Primeira Leitura: 2Sm
7,18-19.24-29
Depois que Natan falara a Davi, o rei entrou no tabernáculo 18foi
assentar-se diante do Senhor, e disse: “Quem sou eu, Senhor Deus, que é a minha
família, para que me tenhas conduzido até aqui? 19Mas, como isto te
parecia pouco, Senhor Deus, ainda fizeste promessas à casa do teu servo para um
futuro distante. Porque esta é a lei do homem, Senhor Deus! 24Estabeleceste
o teu povo, Israel, para que ele seja para sempre o teu povo; e tu, Senhor, te
tornaste o seu Deus. 25Agora, Senhor Deus, cumpre para sempre a promessa
que fizeste a teu servo e à sua casa, e faze como disseste! 26Então o teu nome
será exaltado para sempre, e dirão: “O Senhor Todo-poderoso é o Deus de
Israel”. E a casa do teu servo Davi permanecerá estável na tua presença. 27Pois
tu, Senhor Todo-poderoso, Deus de Israel, fizeste estas revelação ao teu servo:
‘Eu te construirei uma casa’. Por isso o teu servo se animou a dirigir-te esta
oração. 28Agora, Senhor Deus, tu és Deus e tuas palavras são
verdadeiras. Pois que fizeste esta bela promessa a teu servo, 29abençoa,
então, a casa do teu servo, para que ela permaneça para sempre na tua presença.
Porque és tu, Senhor Deus, que falaste, e é graças à tua bênção que a casa do
teu servo será abençoada para sempre”.
Evangelho: Mc 4,21-25
Naquele tempo, Jesus disse à
multidão: 21 “Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote,
ou debaixo da cama? Ao contrário, não a põe num candeeiro? 22 Assim, tudo o que
está escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá
ser descoberto. 23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça”. 24 Jesus dizia
ainda: “Prestai atenção no que ouvis: com a mesma medida com que medirdes,
também vós sereis medidos; e vos será dado ainda mais. 25 Ao que tem alguma
coisa, será dado ainda mais. Do que não tem, será tirado até mesmo o que ele
tem”.
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1. Uma Palavra de
Esperança
As palavras que se cruzam no texto
do evangelho de hoje são muito significativas. Os termos usados: lâmpada,
caixote (vasilha), cama e candeeiro explicam o caminho que a lâmpada acesa
evita para alcançar seu objetivo: estar no candeeiro, iluminar, fazer visível o
que está escondido.
Da reflexão sobre a lâmpada brota
naturalmente a reflexão sobre o versículo 22: “Assim, tudo o que está
escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser
descoberto”. Aqui Jesus fala para seus discípulos e lhes explica que todo o
escondido, se manifestará ou se revelará inclusive para os que estão fora do
círculo dos seguidores de Jesus. A revelação da força salvadora de Deus em
Jesus, que até então permanece escondida para quem não se converte, um dia será
descoberta ou posta em claro. Em outras palavras, um dia Deus, com um ato de
Sua força fará visível e será revelada aos que estão de fora Sua força que
salva.
“Assim, tudo o que está
escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser
descoberto”. Estas palavras, lidas no contexto da vida terrena de Jesus,
recusadas pelo seu povo, ressoam como um ato de esperança. E para nós hoje os
três primeiros versículos do texto do evangelho de hoje (vv.21-23) ressoam como
o convite de Jesus: “Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça”. Isto quer
nos dizer que somos convidados a viver a mesma esperança de Jesus. “A esperança é o sonho do homem acordado”,
dizia o filósofo Aristóteles. “A esperança seria a maior das forças
humanas, se não existisse o desespero” (Victor Hugo).
2. Ser Luz Que Se
Consome Para Iluminar a Vida Dos Demais
“Quem é que traz uma lâmpada
para colocá-la de baixo de um caixote ou em baixo da cama? Ao contrário, não a
coloca num candeeiro?”.
Jesus é um observador do real. Nada
escapa do seu olhar e de sua observação. É um homem atento em todo momento e em
qualquer lugar. Sem dúvida, ele via a sua Mãe, Maria, na casa acendendo a
lâmpada ao anoitecer para colocá-la, não de baixo da cama onde resultaria
inútil e sim no centro da sala, sobre um candeeiro a fim de iluminar o mais
possível a casa.
Através deste simples gesto
familiar, já belo humanamente, Jesus viu um “símbolo”. Cada realidade material
evoca para Ele o invisível. Jesus se experimentou como uma lâmpada que se
consumiu entregando-se no serviço de uma causa para os demais a fim de salvá-los
das trevas da morte. Como uma vela, sua vida terrena foi acabando iluminando a
humanidade para que essa pudesse encontrar o caminho da verdadeira vida (cf. Jo
8,12).
A Palavra de Deus não foi feita
para ser guardada para si. Ninguém recebe a Palavra de Deus verdadeiramente se
não comunicá-la para os demais. Toda vida cristã que se fecha em si mesma no
lugar de irradiá-la não é querida por Jesus. Crer em Jesus Cristo significa
aceitar em nós Sua luz e por nossa vez temos que ser reflexos da verdadeira Luz
comunicando essa mesma luz aos outros com nossas palavras e nossas obras.
Na celebração do Batismo, e logo em
sua anual renovação na Vigília Pascal, a vela de cada um, acendida do Círio
Pascal é um formoso símbolo da Luz que é Cristo, que se comunica a nós e que se
espera que logo se difunda através de nós aos demais. Não podemos escondê-la.
Segundo Santo Tomás de Aquino, o ser humano está ordenado à felicidade
sobrenatural pelos princípios do entendimento e pela tendência natural de sua
vontade ao bem. Ao não obedecer à sua tendência natural para o bem o homem
ficará longe da felicidade e ainda fará os outros infelizes, pois o ser humano
não somente vive, mas convive.
3. Medida De Deus Sobre
Nós
“Prestai atenção no que ouvis:
com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos; e vos será dado
ainda mais. Ao que tem alguma coisa, será dado ainda mais. Do que não tem, será
tirado até mesmo o que ele tem”.
Qual é a medida do amor que Deus
usou para nós? Para saber disso, precisamos contemplar Cristo morto e
ressuscitado por nós. Em Jesus conhecemos o amor que Deus tem por nós. São João
expressa esse amor com a seguinte frase: “Deus amou tanto o mundo que
entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha
vida eterna” (Jo 3,16).
É importante compreender que
Cristo, ao pagar por pura misericórdia o que não devia na justiça, fez da misericórdia
Sua lei fundamental e a condição indispensável para poder aproveitar o dom
gratuito que a redenção significa, essa redenção sem a qual todos estaríamos
irremissivelmente perdidos para sempre.
Sendo portadores de Cristo, pois
somos chamados de cristãos, devemos ser um sinal claro de seu amor para todos
os homens. Para isso, Jesus nos alimenta constantemente, na Eucaristia, com Seu
Corpo entregue por nós e com Seu Sangue derramado para o perdão de nossos
pecados. Ao celebrar a Eucaristia, fazemos nosso o compromisso de deixar que o
Senhor nos converta num sinal claro, nítido, brilhante de Seu amor no mundo.
Quem participa da Eucaristia não
pode passar a vida como destruidor do próximo. Não pode viver uma fé intimista,
de santidade personalista. Deus nos encheu de sua própria vida (Gn 2,7)
fazendo-nos filhos seus para que convivamos como irmãos e irmãs, filhos e
filhas do mesmo Pai celeste. Por isso, os que fazem parte da Igreja de Cristo
devem ser os primeiros em ser luz para os demais, em lutar pela paz; os
primeiros em trabalhar por uma autêntica justiça social. Se somente professamos
nossa fé nos templos e depois vivemos como ateus, então não temos direito de
voltar a Deus para escutá-Lo somente pelo costume. Os cristãos fazem parte e devem
fazer parte dos responsáveis por um mundo que seja cada vez mais justo e
fraterno.
Por isso, resta para nós estas
perguntas: Será que iluminamos e comunicamos fé e esperança aos que estão ao
nosso redor? Será que somos sinais e sacramentos do Reino em nossa família, em
nossa comunidade e em nossa sociedade? Será
nossa vida, nossas escolhas de cada dia assinalam para o Reino de Deus? Nenhum
cristão se anula no testemunho de uma vida digna de um filho de Deus nesta
terra. O testemunho é a entrega da própria vida para que outro viva;
consumir-se ajudando outros para que tenham vida, não escondendo-se e sim
entregando sua vida por uma causa digna. Se não há entrega não se pode pedir a
outro que se entregue, porque o Reino de Deus se faz com a entrega de uns aos
outros. Quem não se entrega, se empobrece e se anula por si só.
P. Vitus Gustama, SVD
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