sábado, 4 de fevereiro de 2017

07/02/2017

Resultado de imagem para Façamos o homem à nossa imagem e segundo a nossa semelhança
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O HOMEM, IMAGEM DE DEUS, DEVE VIVER DE ACORDO COM O CORAÇÃO RETO E INDIVISÍVEL


Terça-feira Da V Semana Do Tempo Comum


Primeira Leitura: Gn 1,20–2,4a


20 Deus disse: “Fervilhem as águas de seres animados de vida e voem pássaros sobre a terra, debaixo do firmamento do céu”. 21 Deus criou os grandes monstros marinhos e todos os seres vivos que nadam, em multidão, nas águas, segundo as suas espécies. E Deus viu que era bom. 22 E Deus os abençoou, dizendo: “Sede fecundos e multiplicai-vos e enchei as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra”. 23 Houve uma tarde e uma manhã: quinto dia. 24 Deus disse: “Produza a terra seres vivos segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais selvagens, segundo as suas espécies”. E assim se fez. 25 Deus fez os animais selvagens, segundo as suas espécies, os animais domésticos segundo as suas espécies, e todos os répteis do solo segundo as suas espécies. E Deus viu que era bom. 26 Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e segundo a nossa semelhança para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra”. 27 E Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou: homem e mulher os criou. 28 E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu e sobre todos os animais que se movem sobre a terra”. 29 E Deus disse: “Eis que vos entrego todas as plantas que dão semente sobre a terra, e todas as árvores que produzem fruto com sua semente para vos servirem de alimento. 30 E a todos os animais da terra, e a todas as aves do céu, e a tudo o que rasteja sobre a terra e que é animado de vida, eu dou todos os vegetais para alimento”. E assim se fez. 31 E Deus viu tudo quanto havia feito, e eis que tudo era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia. 2,1 E assim foram concluídos o céu e a terra com todo o seu exército. 2 No sétimo dia, Deus considerou acabada toda a obra que tinha feito; e no sétimo dia descansou de toda a obra que fizera. 3 Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, porque nesse dia descansou de toda a obra da criação. 4aEsta é a história do céu e da terra, quando foram criados.


Evangelho: Mc 7,1-13


Naquele tempo, 1os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus. 2Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. 3Com efeito, os fariseus e todos os judeus comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. 4Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre. 5Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” 6Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. 7De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. 8Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. 9E dizia-lhes: “Vós sabeis muito bem como anular o mandamento de Deus, a fim de guardar as vossas tradições. 10Com efeito, Moisés ordenou: ‘Honra teu pai e tua mãe’. E ainda: ‘Quem amaldiçoa o pai ou a mãe deve morrer’. 11Mas vós ensinais que é lícito alguém dizer a seu pai e à sua mãe: ‘O sustento que vós poderíeis receber de mim é Corban, isto é, Consagrado a Deus’. 12E essa pessoa fica dispensada de ajudar seu pai ou sua mãe. 13Assim vós esvaziais a Palavra de Deus com a tradição que vós transmitis. E vós fazeis muitas outras coisas como estas”.
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Tudo O Que Deus Cria É Bom


Continuamos a acompanhar o relato sobre a criação do universo e a humanidade através do Livro de Gênesis que foi iniciado no dia anterior.


A ideia bíblica de “criação” se expressa com o verbo “bara” (em hebraico), que denota não somente a ação de dar princípio à realidade, mas também a ação restauradora (recriadora) e consumadora dessa mesma realidade. Ao dizer que Deus cria, o Gênesis quer nos dizer que, em primeiro lugar, Deus chama à existência os seres que não existem. Em segundo lugar, Deus sustenta as criaturas na existência (providência) e escolhe um grupo humano para que se converta em seu povo e refaz a criação degradada pelo pecado (ganância, egoísmo, exploração desenfreada da natureza a ponto de destruir a própria natureza, e consequentemente o caos primordial voltará). Em terceiro lugar, Deus conduz essa mesma criação redimida à plenitude do ser e de sentido que é a salvação. Dizer que Deus é Criador significa que Ele dá à criatura o ser e inspira à criatura a pulsão para o ser-mais.


Além disso, a ideia de criação implica uma relação de dependência absoluta da criatura em relação ao Criador, pois nada existe por conta próprio. A criação é um puro e gratuito amor divino. Por isso, cada criatura não tem em si a razão de sua existência; a criatura não existe por ou para si mesma e sim para esse amor que lhe deu graciosamente o ser. A criação é vista como expressão do amor gratuito, benevolente do Criador. A onipotência de Deus está no amor e não na exibição do poder. Por isso, o ser humano é chamado e despertado para louvar a Deus, Criador de tudo que é bom (cf. Sl 8).


Se nos primeiros quatro dias Deus criou a luz, as águas, o dia e a noite (Primeira Leitura do dia anterior), agora o relato do Gênesis nos relatou, com sua linguagem particular, sobre como nasceu a vida na terra. Primeiro, a vida nas águas marinas. Logo, na terra, com todo tipo de animais, e finalmente, o casal humano.


Neste último dia, não diz mais “Deus viu que era bom” e sim “Deus viu que era muito bom” (Gn 1,31). Através da expressão “era bom” e “era muito bom” o redator sacerdotal quer proclamar Deus como o artista por excelência e o mais cuidadoso dos artesãos. O bom ou o muito bom reflete a própria perfeição de Deus.


Com estas duas expressões o texto quer nos ensinar que nada na criação é mau ou defeituoso. Nenhum poder contrário (poder do mal) é capaz de limitar o poder divino. O poder de Deus torna tudo bom ou muito bom. Quem aceita o poder de Deus sobre ele, tornar-se-á bom e pratica a bondade. A bondade é a própria perfeição possuída por um ser. É também a capacidade que possui um ser de dar a outro a perfeição que lhe falta. É a inclinação a fazer o bem, a ser benigno, indulgente.


O Homem Pertence a Deus e Não a Si Próprio


O relato da criação (Gn 1) nos informa que Deus terminou Sua obra pondo à frente dela o ser humano, sua imagem, para que em Seu nome a presida, governe e conduza à consumação. O homem e a mulher aparecem, então, como o cume da criação. Todo o mais: animais, plantas, estava previsto ao serviço do ser humano. “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou: homem e mulher os criou”. “O homem é maneira finita de ser Deus e Deus é maneira infinita de ser homem” (Juan Luis Ruiz de la Peña). Ou segundo J. Pépin: “O homem é o diminuitivo da divindade, a divindade é o superlativo de homem”. O homem é a imagem de Deus.


Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou: homem e mulher os criou”. Com esta frase afirma-se a dignidade e a igualdade do homem e da mulher. Os dois são criado nada menos que a imagem do ser e da vida do mesmo Deus.


A vida do homem é sagrada em sua origem, em sua duração e destino. Embora faça parte da ordem natural, ela participa da vida divina (cf. Gn 2,7). O homem pertence a Deus. Quando o homem se esquecer de sua origem, ele se perderá neste mundo e perderá o sentido de sua presença aqui neste mundo. O reconhecimento de sua origem em Deus torna o homem feliz. Eu sei de quem sou; não sou solitário, pois pertenço a Deus. Esta consciência torna-me solidário com os demais e me faz viver com sentido.


É Preciso Ter Um Coração Puro Para a Imagem de Deus Em Nós Seja Mantida


Lendo o texto do evangelho de hoje logo percebemos qual foi a situação por trás do texto. O evangelista Marcos sente a necessidade de explicar quais eram os costumes dos fariseus e quase de todos os judeus (Mc 7,3-4). Isto nos mostra que Marcos escreveu seu evangelho para cristãos que não eram da origem judaica. Marcos está falando para uma comunidade cristã a fim de comunicar um ensinamento muito importante de Jesus.


O ensinamento parte da pergunta dos escribas e dos fariseus vindos de Jerusalém: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?”.


Jesus, colocando-se na linha dos antigos profetas, cita o profeta Isaias e depois, Moises para rebater seus adversários: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos”.


Na expressão de Jesus há antíteses: “lábios- coração”, “render culto- preceitos humanos”. Na primeira antítese se descreve a exterioridade, a aparência. Trata-se de uma vida não vivida na intimidade ou na profundidade do coração. Este tipo de vida é chamada de vida hipócrita, pois o externo não corresponde com o que há no coração e nas aspirações humanas. Na segunda antítese descreve-se um culto hipócrita porque está regido pelos preceitos humanos que abandonam (Mc 7,8), anulam (Mc 7,9) e esvaziam (Mc 8,13) os mandamentos de Deus.


Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim”. Com esta afirmação Jesus quer colocar em destaque a moral do coração e não somente a moral das ações. Somente de um homem devidamente ordenado, de um homem de coração limpo é que podem proceder ações morais e éticas. Uma pessoa íntegra, de coração indivisível sabe se governar e se controlar, sabe ser justo e honesto.  Aquele que não é capaz de governar a si mesmo não será capaz de governar os outros (Mahatma Gandhi). É uma chamada para a retidão de intenção ou a retidão do coração. Quando o coração está em desordem, então a conduta se torna cega. Nisto consiste um esforço contínuo de purificação. Para Jesus o primeiro dever do homem é ter a consciência limpa ou o coração puro. “Faz de teu coração um tribunal e senta-te nele como juiz de ti mesmo. Tua memória seja o promotor, tua consciência a testemunha, e o temor de Deus, o juiz” (Santo Agostinho: Serm. 351, 4,7). Portanto, não se trata somente de fazer as coisas de coração e sim de fazer coisas que procede do coração reto e limpo. Para Jesus o coração tem que estar limpo para que possa estar em disposição para captar a vontade de Deus, uma vontade que não é simplesmente letra escrita. Não basta superar a hipocrisia e o formalismo; a interiorização pede algo mais que sentimento de sinceridade.


O coração reto do qual fala Jesus não é feito somente de coragem, de fidelidade e de boa memória sobre todos os ensinamentos. O coração é feito de disponibilidade, entendendo com isso a liberdade e a intuição. Trata-se de criar uma situação interior capaz de conhecer a Deus, ao verdadeiro Deus, capaz de ler de novo a vontade de Deus. O coração é o lugar onde Deus se revela, não simplesmente o lugar onde se percebe a obrigatoriedade de um esquema existente e onde se encontra a coragem de repeti-lo.


Assim no texto do evangelho de hoje Jesus reprova o espírito farisaico: a confusão entre o rigorismo minucioso na observância da moral e da fidelidade a Deus. A minuciosidade nem sempre é sinal da fidelidade. Jesus também reprova artimanhas casuísticas na interpretação dos deveres morais, um defeito que leva a um duplo desequilíbrio: complicar a observância da lei especialmente para a gente simples e tranquilizar a consciência dos astutos que intentam salvar o esquema da lei descuidando de sua substância. Jesus também critica a confiança nas próprias obras acima do amor de Deus que nos chega gratuitamente. Aquele que se gloria pelas próprias obras, e não pelo amor gratuito de Deus e pela sua misericórdia, tem pretensão inútil de ser Deus para si próprio.


Para tudo isto, o evangelho assume uma dupla tarefa: pôr em evidência qual é o centro da lei: é a caridade. “Atente para que a sua prática religiosa não seja mais importante do que seu Deus e seu próximo” (René Juan Trossero). O egoísmo devora o que o outro tem; o amor oferece ao outro o que lhe falta. Segundo, considerar a obediência do homem à lei como resposta ao gesto salvífico e gratuito de Deus e não a lei por lei. A lei ou as normas devem me ajudar a me aproximar de Deus.  Em outras palavra, não são as normas que produzem a graça de Deus e sim a graça de Deus é que produz disciplina e normas para o homem. A graça de Deus ordena minha vida e me coloca em uma disciplina. Atrás de tudo isto há uma advertência fundamental de Jesus que serve de fio condutor para todo o capitulo 7 de Marcos: todas as formas de legalismo são sempre uma forma de recusar a Deus. O legalismo farisaico nasce de uma incompreensão de Deus e oferece uma razão para recusá-Lo; de fato foi um motivo para recusar a Jesus.


Os homens verdadeiros e autênticos podem ser aplaudidos ou condenados, amados ou odiados, mas sempre despertam nossa admiração. Quem vive na retidão tem como critério a verdade e a caridade. A verdade dita com caridade convence até os ateus em tudo. A verdade dita com caridade humaniza nossa maneira de falar e de tratar dos assuntos mais complicados. “O amor e a verdade estão tão unidos entre si que é praticamente impossível separá-los. São como duas faces da mesma medalha” (Mahatma Gandhi). É preciso ter um coração indivisível e íntegro para ter uma ação ética.


Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens, disse Jesus citando o profeta Isaías. Através desta afirmação Jesus quer nos dizer que o mandamento de Deus e as tradições dos homens têm que ser considerados como duas coisas distintas. Os dois não estão no mesmo plano e por isso, não podem ser colocados no mesmo patamar, pois o mandamento de Deus é perene e as tradições dos homens são provisionais.


Para ser lembrado:


Somente de um homem devidamente ordenado e de coração puro é que podem proceder ações morais e éticas. É uma chamada para a retidão de intenção e ação.


P. Vitus Gustama,svd

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