sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

14/02/2017
 
ARCA_NOE
SER BONS FERMENTOS DO SENHOR VIVENDO DE ACORDO COM SUA PALAVRA

Terça-Feira Da VI Semana Do Tempo Comum

Primeira Leitura: Gn 6,5-8; 7,1-5.10

6,5 O Senhor viu que havia crescido a maldade do homem na terra, e como os projetos do seu coração tendiam sempre para o mal. 6 Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem na terra e ficou com o coração muito magoado, 7 e disse: “Vou exterminar da face da terra o homem que criei; e com ele, os animais, os répteis e até as aves do céu, pois estou arrependido de os ter feito!” 8 Mas Noé encontrou graça aos olhos do Senhor. 7,1 O Senhor disse a Noé: “Entra na arca com toda a tua família, pois tu és o único homem justo que vejo no meio desta geração. 2 De todos os animais puros toma sete casais, machos e fêmeas, e dos animais impuros, um casal, macho e fêmea. 3 Também das aves do céu tomarás sete casais, machos e fêmeas, para que suas espécies se conservem vivas sobre a face da terra. 4 Pois, dentro de sete dias, farei chover sobre a terra, quarenta dias e quarenta noites, e exterminarei da superfície da terra todos os seres vivos que fiz”. 5 Noé fez tudo o que o Senhor lhe havia ordenado. 10 E, passados os sete dias, caíram sobre a terra as águas do dilúvio.

Evangelho: Mc 8,14-21

Naquele tempo, 14os discípulos tinham se esquecido de levar pães. Tinham consigo na barca apenas um pão. 15Então, Jesus os advertiu: “Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes”.
16Os discípulos diziam entre si: “É porque não temos pão”. 17Mas Jesus percebeu e perguntou-lhes: “Por que discutis sobre a falta de pão? Ainda não entendeis e nem compreendeis? Vós tendes o coração endurecido? 18Tendo olhos, não vedes, e tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais 19de quando reparti cinco pães para cinco mil pessoas? Quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?” Eles responderam: “Doze”. 20Jesus perguntou: E quando reparti sete pães com quatro mil pessoas, quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços? Eles responderam: “Sete”. 21Jesus disse: “E ainda não compreendeis?”

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Deus Está Em Busca De Novos Noés Para Salvar a Humanidade e a Criação

O relato do dilúvio pertence a uma lenda popular muito estendida no Oriente Médio, originada, talvez, por alguma inundação em Mesopotâmia, entre os rios Tigris e Eufrates. Usando esta lenda, o autor sagrado do Gênesis interpreta este dilúvio em sentido religioso. A idéia fundamental é que foi o pecado que causou esta lacuna cósmica como também originou a grave desordem do assassinato do irmão (Caim e Abel).

O relato sublinha o protagonismo de Deus como poderoso e por isso, tudo da natureza Lhe obedece. Mas a humanidade não obedece a Deus: “O Senhor viu que havia crescido a maldade do homem na terra, e como os projetos do seu coração tendiam sempre para o mal”. Por isso, Deus envia o dilúvio, como juízo contra o pecado e a maldade, que progressivamente levou a humanidade a uma deterioração extrema: salvar apenas a família de Noé.

Não sabemos por que Deus, em seu plano de purificação cósmica e da humanidade, conserva a família de Noé para começar novamente a aventura da história.  Não nos são relatados os méritos de Noé. O relato simplesmente coloca na boca de Deus estas palavras dirigidas a Noé: “... tu és o único homem justo que vejo no meio desta geração”. É mais um exemplo da gratuidade surpreendente de Deus que vai escolhendo os que Ele quer e não os que parecem mais fortes ou santos ou importantes no olhar da sociedade. O relato nos transmite que Deus purifica, mas também anuncia a salvação.

O relato do dilúvio é uma grande lição para nós. Os sinais preocupantes que notamos na história de hoje não serão também um “dilúvio” para que Deus possa repurificar a humanidade, a sociedade e a Igreja da corrupção e de todo tipo de maldade?

Em segundo lugar, devemos depositar nossa confiança e esperança em Deus que dirige a história para que possamos captar Seus sinais na nossa vida a exemplo de Noé atento para o alerta de Deus e se salvou. Deus continua procurando os novos Noés para salvar a humanidade e toda a criação da corrupção. No dia do Batismo fomos salvos através da água como foram salvos os oito membros da família de Noé (cf. 1Pd 3,20). Fomos incorporados ao Novo Noé, Jesus Cristo que atravessou a morte e passou para a nova existência na Arca que é a Igreja. A partir do Batismo devemos nos tornar novos Noés da humanidade e de toda a criação. Todo ato verdadeiro de justiça, de santidade, de amor contribui para a salvação da humanidade.

Em terceiro lugar, lemos na Primeira Leitura: “O Senhor viu que havia crescido a maldade do homem na terra, e como os projetos do seu coração tendiam sempre para o mal”. Atualmente, percebemos que a maldade do homem continua crescendo sobre a terra com um modo de pensar e de viver perversos. Milhares de inocentes são vítimas da perversidade de muitas pessoas que usam até o nome de Deus para agir perversamente. A maioria da população deixa de ter pão na mesa porque muitos roubam e praticam a corrupção. Trata-se de uma perda total da sensibilidade humana. O mais violento é aquele que não tem mais a sensibilidade humana, pois ele não sente nem quer sentir o que o outro sente e nem quer saber o que se passa na vida dos outros.

Mas estejamos atentos porque essas pessoas das quais falamos poderão ser nós mesmos. Daí a necessidade da conversão permanente. Que Deus não nos repita a palavra dita no texto da Primeira Leitura de hoje: “O Senhor arrependeu-se de ter feito o homem (coloque seu nome para sentir o peso da frase de Deus) na terra e ficou com o coração muito magoado, e disse: “Vou exterminar da face da terra o homem que criei”. Temos nos esforçar em buscar e encontrar aqueles que alcançam o favor de Deus como Noé, o justo ou como Abel que não deixa crescer a maldade no seu coração como Caim, seu irmão. Fica a pergunta: Será que Deus se arrependeu por ter me criado? Ou será que Deus encontra em mim algo de Noé que me torna alguém para salvar a humanidade e a criação ao meu redor?

Em quarto lugar, o relato quer nos afirmar que Deus quer o bem e a felicidade do homem. Deus vai contra o mal e a desgraça. Ao enviar seu Filho para a salvação do mundo, Deus se mostra fiel a Si mesmo. Jesus, o Único verdadeiro justo, será quem salvará a humanidade da perdição total com a colaboração dos seus seguidores. O homem é quem salva a natureza ou a destrói. Esta “arca de salvação”, este barco de salvamento cheio de seres vivos tão dispares é uma imagem da Igreja. Porque finalmente, Deus não quer destruir e sim salvar. O mal não terá a última palavra como continua repetindo a Bíblia. A última palavra sempre será a Palavra de Deus.

Evitar o Fermento Da Hipocrisia

A partir de um episódio de pouca importância, isto é, o esquecimento de os discípulos levarem pães suficientes no barco, Jesus aproveita a ocasião para dar uma lição sobre o fermento que eles devem evitar. “Cuidado! Guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes”.

O fermento é um elemento pequeno, simples, humilde, mas que é capaz de fermentar para o bem ou para o mal toda a massa de farinha de trigo. Ele trabalha silenciosamente e imperceptível, mas o resultado é bem notável.

No AT a festa da Páscoa implicava, entre outras coisas, o rito de comer pães não fermentados. O fermento era considerado como sinal e causa de corrupção. A Páscoa era a festa da novidade, da renúncia ao velho, da busca de um Deus que se revela no novo. O NT aprofunda este sentido da novidade e vê em Jesus o homem novo diante do homem velho (1Cor 15,20-23; Rm 6,1-11). Assim fica patente como o fermento se põe em relação com a maldade e a bondade (cf. 1Cor 5,7-8).

Na literatura judeu-helenista a metáfora do fermento se aplicava freqüentemente não a qualquer “corrupção” moral e sim muito concretamente ao orgulho/à arrogância, à soberba, à hipocrisia. Na passagem paralela o evangelista Lucas acrescenta expressamente: “Acautelai-vos do fermento, isto é, da hipocrisia dos fariseus” (Lc 12,1).

Jesus alerta, então, a todos os seus seguidores sobre o perigo do orgulho e da soberba. O orgulhoso/arrogante não se preocupa em conhecer a verdade, mas apenas em ocupar uma posição em que ele possa ser o centro de atenção e a norma para o resto. O orgulhoso tem todos os vícios como o egoísmo, a injustiça, a ingratidão, a imoralidade, a hipocrisia. Normalmente o orgulho encontra o abrigo nas pessoas desequilibradas ou de pouca personalidade. A arrogância é uma forma de não aceitar as próprias fraquezas e defeitos.

É preciso que estejamos conscientes de que somos criaturas dependentes da graça de Deus para viver e conviver em harmonia com os demais, com a natureza e com o próprio Criador. Por isso, são Paulo diz: “Eu sou o que sou pela graça de Deus” (1Cor 15,10). A graça é a razão principal de nossa alegria e de nossa coragem: “Basta-te a minha graça”, responde o Senhor quando são Paulo se queixa do aguilhão em sua carne (2Cor 12,9).

Há fermentos e fermentos. O bom fermento faz crescer a massa e a converte em pão, alimento básico. Na época de Jesus era difícil entender a vida diária sem o pão feito com trigo ou com cereais. Para fazer o pão é necessário o fermento. Uma pequena quantidade de fermento é suficiente para transformar uma quantidade maior de farinha de trigo. Mas existem outros fermentos, capazes de estragar a massa, de empobrecê-la. O bom fermento transforma a massa de trigo em pão saboroso. Mas o mau fermento estraga a massa e o pão já não será fonte de vida, mas será fonte de enfermidade e de morte.

Um fermento bom ou mau dentro de uma comunidade pode enriquecê-la ou destruí-la. Jesus quer que todos os seus seguidores evitem o fermento dos fariseus e de Herodes isto é, o orgulho/arrogância, a soberba, a hipocrisia.

O orgulhoso não se preocupa em conhecer a verdade, mas apenas em ocupar uma posição em que ele possa ser o centro e a norma. Ele pretende que tudo esteja sujeito a si próprio. O orgulhoso gosta de desprezar, maltratar e colocar os outros na parede. Seus atos não precisam respeitar moral nenhuma, mas impõe aos outros normas morais e éticas.

Um hipócrita gosta de simular virtudes, sentimentos nobres e boas qualidades que não existem nele, com o intuito de conquistar a estima dos outros e obter louvores. Ele julga seus atos a partir da aprovação dos outros e não a partir do valor moral e ético. Ele é tão habilidoso em camuflar-se a ponto de nós o admirarmos. O hipócrita não tem consciência de que a dignidade da pessoa humana não consiste em parecer bom e sim em ser bom. “Foge por um instante do homem irado, mas foge sempre do hipócrita”, dizia Confúcio, sábio chinês.

Estes fermentos têm uma força suficiente para destruir uma comunidade por dentro. Uma atitude interior de vaidade, de hipocrisia e do legalismo (como os fariseus), de rancor, de egoísmo, de arrogância, de superficialidade interesseira e de sensualismo (como Herodes), pode destruir nossa própria vida e a vida de uma comunidade.

Mas quando dentro de nós e de uma comunidade há fé e amor fraterno tudo se transforma em fermento bom. Nossos atos visíveis têm sua raiz em nossa mentalidade e em nosso coração. O coração é de cada um de nós, mas o nosso rosto é dos outros, isto é, aquilo que tem no nosso coração passa a ser visível no nosso rosto e no nosso comportamento. Por isso, São Paulo nos dá o seguinte conselho: “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os pães não fermentados de pureza e de verdade” (1Cor 5,6-8).


O fermento bom transforma a massa de trigo em pão saboroso, alimento básico para o ser humano. O fermento mau/ruim estraga a massa de trigo e o pão se torna fonte de enfermidade e de morte. Que tipo de fermento sou eu na minha comunidade, no meu grupo ou na minha família? O que tem na sua mão diante da “massa” da comunidade: fermento bom ou fermento mau/ruim? “O espírito se enriquece com aquilo que recebe; o coração com aquilo que dá” (Victor Hugo).
 
P. Vitus Gustama,svd

 

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